terça-feira, 8 de abril de 2014

Marcelo Spalding (O Desafio de Publicar um Livro)

  
  Publicar um livro ainda é o grande sonho de quem gosta de escrever, mas, para muitos, um tortuoso caminho.

    De forma simples, podemos identificar três processos depois do ponto final em um texto. Primeiro, descobrir a dificuldade que é publicar, especialmente pela primeira vez. Segundo, entender o porquê dessa dificuldade (excesso de escritores, escassez de leitores, mercado com leis capitalistas e alto custo do papel são algumas pistas).

    Terceiro, encontrar uma solução para superar tais entraves.
   
Uma dica importante é não desistir tão fácil. Melhor do que desistir seria tomar a consciência do tamanho da literatura, muito superior a qualquer outra arte, e reescrever mil vezes o texto, melhorando-o cada vez mais antes da publicação apressada. Porque só a literatura compete de forma tão evidente com toda a sua história, uma história milenar. Na mesma prateleira de um romance estará Dom Quixote e Madame Bovary, na mesma estante de um teatro estarão os de Shakespeare e Ibsen. Um conflito, aliás, muito bem representado por Carlos Henrique Schroeder em A Rosa Verde (tema da próxima coluna): “eles continuam ali, rindo, me ameaçando com suas obras grandiosas, criativas, geniais, me reduzindo, intimidando”. Se a intimidação servir de estímulo para a releitura, para a visão crítica do que se produziu ótimo, estamos no caminho certo.

    E então o texto está pronto e relido, aí há três caminhos:

    É evidente que qualquer escritor começará pela primeira, mas raramente terá sucesso. As editoras comerciais são mais comerciais que editoras. E nós não somos (ainda) o Pedro Bial biografando a vida do chefe. Então passaremos para a segunda. Conheço muita gente que começou por um concurso ou financiamento público, pode ser uma alternativa. Mas requer, além de qualidade, muita paciência.

    O terceiro caminho é o mais traiçoeiro e viável. Antes, vale ressaltar que sempre se pagou para publicar (de Augusto dos Anjos a James Redfield). A auto-publicação não é errada e se existe preconceito é pela quantidade de lixo que se publica por conta própria. O que torna traiçoeira esta alternativa são as falsas editoras que mal fazem o papel de gráfica, diagramando e imprimindo o livro para o jovem escritor por um preço muito superior ao que se conseguirá pelas vendas. Especialmente porque, depois do ponto final e do cheiro de papel, há outro problema, a distribuição.

    Mas voltando à publicação, ela não atribui, por si só, qualidade a um texto. A gente pensa que publicar trará reconhecimento, mas não basta ver nossa história eternizada em papel. É preciso ter boas histórias, acima de tudo. E bem contadas. As que forem realmente boas acabarão no papel. Porque o mercado editorial tem lá suas regras, parecidas com as de um banco, uma loja ou um canal de televisão. Ele está atolado no mercado, nas leis liberais deste, e só de vez em quando estica os olhos para a novidade, para a arte. Cabe a nós, iniciantes aventureiros malucos escritores em busca de espaço, aprimorar nossos textos para que se aproximem desta tal arte. E assim sejam percebidos nessas esticadas de olhos do mercado.

    Dicas para quem tem um original pronto e não sabe o que fazer com ele:


        Procure um bom primeiro leitor, de preferência algum escritor, professor ou leitor exigente que aponte mais defeitos do que qualidades;

         Envie o texto para uma revisão, preferencialmente profissional;

        Registre seu texto na Biblioteca Nacional (clique aqui);

         Se você quiser enviar para editoras e concursos, mapeie quais estão adequadas ao perfil do livro. É importante conhecer a editora, pois você tem mais chances de publicar um livro de contos na Cia. das Letras do que na Sextante, por exemplo;

        Prepare um original sem erros de digitação, diagramado com fonte de boa legibilidade e espaço no mínimo um e meio entre as linhas; acrescente antes do texto uma breve carta de apresentação sua e, depois, uma sinopse do livro que seja curta e eficiente;

         Entregue o livro pessoalmente ou, se não for possível, envie pelo correio. E não hesite em enviar para mais de uma editora ao mesmo tempo. Mas se você for aceito por alguma, é no mínimo elegante avisar as demais;

        Se você optar por uma edição paga, vá adiante, mas cuidado, principalmente, com a editora que vai escolher. Tente se informar sobre suas obras anteriores, converse com autores da editora, procure saber o que ela oferece em contrapartida e sua reputação no mercado;

        Se você quiser fazer uma edição do autor, tenha em mente que pode ser importante o código de barras e a ficha catalográfica para a colocação em livrarias e até alguns prêmios literários;

        Cuide, no caso de livros publicados por conta própria, com os custos de impressão em relação a tiragem e com a divulgação e distribuição da obra. Devido ao fotolito, é sempre mais barato o custo unitário do livro para tiragens maiores;

        Não deixe de continuar produzindo e, especialmente, participando da comunidade literária enquanto seu livro não é aceito por nenhuma editora. Infelizmente ter um nome (re)conhecido é tão importante quanto um bom texto.

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