APENAS
Você
pode alcançar
o inatingível
mas não quer correr riscos
e não sabe gerenciar o tormento
ou se alegrar com pequenos gestos
apática
aguarda a sua hora
fosse o estopim e a corda
ao redor do pescoço
ou a espoleta sob a pedra
a espera desglorifica o sentido
e a consciência cede ao impulso
em quase nada.
TERRAS
A terra entre mãos desperta
a forma e a fome. Sintetiza
e reserva o espaço ao vazio.
Escorre a terra na conquista
e reconhece na placa
o nome antepassado.
A terra sobre o corpo em mortalha
na batalha vencida pelo cansaço
e desistência na indolência
do corpo
superficial
da entrega.
A terra morta é abandono
em ávidas carícias.
FEITOS
Feito aço: a lâmina assusta
o corpo indefeso.
O olhar perdido em divagação
ao remoer o espaço
zune a lâmina atravessada
na distância do corpo trespassado.
Feito espaço: o aço é remetida
vida em cansaço.
PREFERIR
A preferência se apresenta
na alteração das cores
e traços:
destroços do navio
casco submerso
boias
e botes
mulheres
crianças
e ratos.
DESENREDO
Chovo
o tempo
dedicado
à seca.
Seco a hora enredada.
Falam em catástrofes: finalizo
o inexistente.
Na esterilidade do planeta
aposto verdes plantas
e azuis marítimos: dói
a água derramada sobre o solo
castigado em vazios. O relógio desperta
o sono irreparável da espécie.
FUGIR
Onde passado
tenso passo
cadenciado
botas sobre pedras
na infância esquecida
em pés n'água
e mãos na árvore
rito e coragem
risco
a vida no mais e menos
da escadaria íngreme
da baixada
pesado passo com que foge
de sua vida passada.
REPETIÇÕES
gestos se repetem
na lenta agonia
do olhar sobre a pessoa
que passa ereta e fria
não há o cumprimento formal
no esquecimento e no desânimo
fossem inimigos ou estrangeiros
desconhecidos em árido abrigo
loucos assumidos em praças
de assustados ladrões
entre árvores
gestos repetidos em adeus
prenunciam a chegada imprópria
e o saber-se longe: é longa
a despedida antes do embarque
CRESCIMENTO
A criança
chave do crescimento
hormônio da sempre vida
no orgasmo em que o pai
personagem
deposita em sua mãe
fúlgida companheira
das primeiras horas
em todas as noites
no acelerado infinito
a criança cresce problemas
no desabrochar adulto isento
de culpas
na robotização das letras
inconsumidas em regras
e regulamentos
o pai insiste no momento do espasmo
e a mãe se esconde sob o corpo
na entrega da razão
e na fé dos cometas
ao filho resta remediados efeitos
no tédio da presença em frentes
de batalhas onde se iguala
em arrependimentos.
LOUCURA
estranhos anúncios
mal feitos na execução
da ilusão - extrema -
da possibilidade
de mudanças
nada muda: o fogo
e a violência cristalizam
o fim em resultado
inconsistente
o animal se aferra
na derrubada da última
esperança de convivência
FIM
Retorcido o ferro
obedece e sustenta
estrutura maiores
oxidado desmancha
no que se deforma
enferrujado corpo
em finas partículas
na dor de quem sabe
que tudo acaba.
PASSADO
Onde armazeno as coisas
desprovidas de matéria: acode ao cego
a bengala
o cachorro
acorre ao surdo
em sinais e gestos
escondo na criança o crescer e a seriedade
em gavetas trancadas
o mistério transparece
na mão conduzida em chaves
apelo ao senso
o desuso e a catraca
arrepia o sujo
a água e a macela
ausentam o corpo
a matéria e a ilusão
roubam do portador a entrada
forço a gaveta
minha mão é forte
e avanço lerdo o caminho no instante
atravessado ao mundo
a conversa e o barulho
acendem o fogo
na imagem e gosto
jogados aos mortos
a ventura recupera meu medo
em conversas baixas
o silêncio impera.
AMAR
Sou o castigo
em postiça forma
culpada na tipicidade do ato
amo
como amam os insanos
- como os vejo amando -
em inimagináveis fases
de fragmento e enlevo
torço o rosto ao desgosto
da lâmina brilhante sobre a face
no assalto concluído em fuga
fuga de sentimentos
irrealizados em ondas
deletérias de paixão
retoco a tinta no sentido
do vento a balançar a flor
sobre a amurada
da minha ausência
amo
sendo o amor
agora.
Você
pode alcançar
o inatingível
mas não quer correr riscos
e não sabe gerenciar o tormento
ou se alegrar com pequenos gestos
apática
aguarda a sua hora
fosse o estopim e a corda
ao redor do pescoço
ou a espoleta sob a pedra
a espera desglorifica o sentido
e a consciência cede ao impulso
em quase nada.
TERRAS
A terra entre mãos desperta
a forma e a fome. Sintetiza
e reserva o espaço ao vazio.
Escorre a terra na conquista
e reconhece na placa
o nome antepassado.
A terra sobre o corpo em mortalha
na batalha vencida pelo cansaço
e desistência na indolência
do corpo
superficial
da entrega.
A terra morta é abandono
em ávidas carícias.
FEITOS
Feito aço: a lâmina assusta
o corpo indefeso.
O olhar perdido em divagação
ao remoer o espaço
zune a lâmina atravessada
na distância do corpo trespassado.
Feito espaço: o aço é remetida
vida em cansaço.
PREFERIR
A preferência se apresenta
na alteração das cores
e traços:
destroços do navio
casco submerso
boias
e botes
mulheres
crianças
e ratos.
DESENREDO
Chovo
o tempo
dedicado
à seca.
Seco a hora enredada.
Falam em catástrofes: finalizo
o inexistente.
Na esterilidade do planeta
aposto verdes plantas
e azuis marítimos: dói
a água derramada sobre o solo
castigado em vazios. O relógio desperta
o sono irreparável da espécie.
FUGIR
Onde passado
tenso passo
cadenciado
botas sobre pedras
na infância esquecida
em pés n'água
e mãos na árvore
rito e coragem
risco
a vida no mais e menos
da escadaria íngreme
da baixada
pesado passo com que foge
de sua vida passada.
REPETIÇÕES
gestos se repetem
na lenta agonia
do olhar sobre a pessoa
que passa ereta e fria
não há o cumprimento formal
no esquecimento e no desânimo
fossem inimigos ou estrangeiros
desconhecidos em árido abrigo
loucos assumidos em praças
de assustados ladrões
entre árvores
gestos repetidos em adeus
prenunciam a chegada imprópria
e o saber-se longe: é longa
a despedida antes do embarque
CRESCIMENTO
A criança
chave do crescimento
hormônio da sempre vida
no orgasmo em que o pai
personagem
deposita em sua mãe
fúlgida companheira
das primeiras horas
em todas as noites
no acelerado infinito
a criança cresce problemas
no desabrochar adulto isento
de culpas
na robotização das letras
inconsumidas em regras
e regulamentos
o pai insiste no momento do espasmo
e a mãe se esconde sob o corpo
na entrega da razão
e na fé dos cometas
ao filho resta remediados efeitos
no tédio da presença em frentes
de batalhas onde se iguala
em arrependimentos.
LOUCURA
estranhos anúncios
mal feitos na execução
da ilusão - extrema -
da possibilidade
de mudanças
nada muda: o fogo
e a violência cristalizam
o fim em resultado
inconsistente
o animal se aferra
na derrubada da última
esperança de convivência
FIM
Retorcido o ferro
obedece e sustenta
estrutura maiores
oxidado desmancha
no que se deforma
enferrujado corpo
em finas partículas
na dor de quem sabe
que tudo acaba.
PASSADO
Onde armazeno as coisas
desprovidas de matéria: acode ao cego
a bengala
o cachorro
acorre ao surdo
em sinais e gestos
escondo na criança o crescer e a seriedade
em gavetas trancadas
o mistério transparece
na mão conduzida em chaves
apelo ao senso
o desuso e a catraca
arrepia o sujo
a água e a macela
ausentam o corpo
a matéria e a ilusão
roubam do portador a entrada
forço a gaveta
minha mão é forte
e avanço lerdo o caminho no instante
atravessado ao mundo
a conversa e o barulho
acendem o fogo
na imagem e gosto
jogados aos mortos
a ventura recupera meu medo
em conversas baixas
o silêncio impera.
AMAR
Sou o castigo
em postiça forma
culpada na tipicidade do ato
amo
como amam os insanos
- como os vejo amando -
em inimagináveis fases
de fragmento e enlevo
torço o rosto ao desgosto
da lâmina brilhante sobre a face
no assalto concluído em fuga
fuga de sentimentos
irrealizados em ondas
deletérias de paixão
retoco a tinta no sentido
do vento a balançar a flor
sobre a amurada
da minha ausência
amo
sendo o amor
agora.
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Fonte:
O Autor
Um comentário:
Caro Feldman, mesmo com todo o atraso - pelo que me desculpo, gratíssimo pela divulgação dos poemas. Abraços. Pedro.
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