A MEU DIÁRIO
Mais que meu companheiro: confidente
dos momentos felizes e infelizes;
meu jardim de palavras, recônditas raízes.
O que penso tu pensas, o que dizes
é o que te diz minha ama, é o que ela sente,
por isso, em ti percebo as cicatrizes
que vão marcando o coração da gente
Em ti me ajoelho: és meu confessionário;
aqui desnudo a minha vida, e sinto
que és o espelho em que posso me rever;
arca de tantos sonhos, meu diário
a ti me entrego sem pudor, não minto,
se és pedaço do meu próprio ser!
AOS MEUS LEITORES
Para você, amigo ou amiga,
que encontraram a minha poesia na rua,
pouca e pobre, e a adotaram,
e a recolheram ao coração...
Todo o meu reconhecimento
por essa louca e nobre ação.
Em nome da minha poesia
Mais que meu companheiro: confidente
dos momentos felizes e infelizes;
meu jardim de palavras, recônditas raízes.
O que penso tu pensas, o que dizes
é o que te diz minha ama, é o que ela sente,
por isso, em ti percebo as cicatrizes
que vão marcando o coração da gente
Em ti me ajoelho: és meu confessionário;
aqui desnudo a minha vida, e sinto
que és o espelho em que posso me rever;
arca de tantos sonhos, meu diário
a ti me entrego sem pudor, não minto,
se és pedaço do meu próprio ser!
AOS MEUS LEITORES
Para você, amigo ou amiga,
que encontraram a minha poesia na rua,
pouca e pobre, e a adotaram,
e a recolheram ao coração...
Todo o meu reconhecimento
por essa louca e nobre ação.
Em nome da minha poesia
agradeço-lhes a pura alegria,
muito mais que alegria
muito mais que alegria
Comunhão!
Que é Comunhão ou alegria
encontrar quem nos compreenda
quem nos estende a mão
quem partilhe conosco
pão e música na mesma canção.
A DOR MAIOR
Não quis julgar-te fútil nem banal
e chamei-te de criança tão-somente,
- reconheço, no entanto, infelizmente,
que, porque te quis bem, julguei-te mal.
Pensei até, ( e o fiz ingenuamente...)
ter encontrado a companheira ideal...
Quis julgar-te das outras diferente,
e és como as outras todas afinal...
Hoje, uma dor estranha me consome
e um sentimento a que não sei dar nome
faz-me sofrer, se lembro o amor perdido...
A dor maior... A maior dor, no entanto,
vem de pensar de ter-te amado tanto
sem que ao menos tivesses merecido!…
À ESPERA
Ela tarda... E eu me sinto inquieto, quando
julgo vê-la surgir, num vulto, adiante,
- os lábios frios, trêmula e ofegante,
os seus olhos nos meus, linda, fitando...
O céu desfaz-se em luar... Um vento brando
nas folhagens cicia, acariciante,
enquanto com o olhar terno de amante
fico à sombra da noite perscrutando...
E ela não vem...Aumenta-me a ansiedade:
- o segundo que passa e me tortura,
é o segundo sem fim da eternidade...
Mas eis que ela aparece de repente!...
- E eu feliz, chego a crer que igual ventura
bem valia esperar-se eternamente!…
A LENDA QUE A BÍBLIA ESQUECEU...
Quando Deus modelou em estátua a mulher
com a argila dos barrancos,
fez seus seios, morenos,
ou brancos,
sem uma mancha sequer...
Esses cumes ousados, cor-de-rosa
dois alvos para o meu beijo,
ficaram como as manchas da primeira boca
faminta de desejo...
Porque o teu corpo (como o de todas as mulheres)
já trazia
muito antes de ser beijado,
as manchas indeléveis do primeiro dia
de pecado...
A LUZ
Ela veio... (E a minha alma tinha a porta
aberta, e ela entrou... Casa vazia
e estranha, esta que em plena luz do dia
lembrava a tumba de uma noite morta...)
Que ela havia chegado, eu nem sabia...
Mas, pouco a pouco, e a data não importa,
minha alma, por encanto, se conforta,
e há risos pela casa...E há alegria...
Quem abrira as janelas? Quem levara
o fantasma da dor sempre ao meu lado?
Os antigos retratos, quem rasgara?
E acabei por fazer a descoberta:
- ela espantara as sombras do passado
e a luz entrara pela porta aberta!
Não quis julgar-te fútil nem banal
e chamei-te de criança tão-somente,
- reconheço, no entanto, infelizmente,
que, porque te quis bem, julguei-te mal.
Pensei até, (e o fiz ingenuamente...)
ter encontrado a companheira ideal...
Quis julgar-te das outras diferente,
e és como as outras todas afinal...
Hoje, uma dor estranha me consome
e um sentimento a que não sei dar nome
faz-me sofrer, se lembro o amor perdido...
A dor maior... A maior dor, no entanto,
vem de pensar de Ter-te amado tanto
sem que ao menos tivesses merecido!...
A OUTRA VOZ...
"Se te pertence a vida, se em verdade
muito mais do que andaste ainda terás,
se com a esponja da tua mocidade
apagas tudo o que deixas atrás,
- esquece essa tristeza e as horas más,
crê na alegria e na felicidade..."
E eu apenas falei:- pensa e verás
que essa tua alegria é falsidade...
Confesso que a tristeza me apavora,
- mas para que de mim se desintegre
só matando a minha alma, onde ela mora...
E... tristeza maior, sei que ainda existe,
é essa tristeza de fingir-se alegre
numa alegria duplamente triste!
A ÚLTIMA ESTRELA
Voltaste as folhas, uma a uma, e agora
vais fechar este livro: a noite é finda...
O "meu céu interior..." já se descora
à luz de um dia que não vive ainda...
Não sei se achaste a minha noite linda,
se sentiste, como eu, o vir da aurora...
Vai a luz aumentando...A noite é finda
O "meu céu interior..." já se descora!...
Cada folha voltada, foi assim
como um raio de luz, a mais, brilhando...
- como uma estrela que encontrou seu fim...
Esta folha - é da noite, o último véu...
E este verso que lês, e vai findando,
a última estrela a se apagar no céu!...
A VIDA
I
"...Mudarás, todos mudam, e os espinhos
com surpresa verás por todo lado,
- são assim nesta vida os seus caminhos
desde que o homem no mundo tem andado...
Não hás de ser o eterno namorado
com as mãos e os lábios cheios de carinho,
- hoje, juntos os dois... tudo encantado!
- amanhã, tudo triste... os dois sozinhos!...
E sentindo o teu braço então vazio,
abatido verás que não resistes
à inclemência do tempo úmido e frio!
Rolarás por escarpas e barrancos:
sobre o epitáfio dos teus olhos tristes
trazendo a campa dos cabelos brancos!"
II
" … Tem sido assim e assim será... Mais tarde
o que hoje pensas chamarás: - quimera!
E esse esplendor que nos teus olhos arde,
será a visão de extinta primavera...
Escondido à traição, como uma fera,
bem em silêncio, e sem fazer alarde,
o Destino que é mau e que é covarde,
naquela sombra adiante já te espera!
E num requinte de perversidade
faz de cada ilusão, de cada sonho,
a ruína de uma dor... e uma saudade...
E se voltares, notarás então
desesperado, ao teu olhar tristonho
que em vão sonhaste... e que viveste em vão!..."
III
"...A vida é assim, segue e verás, - a vida
é um dia de esperança, um longo poente
de incertezas cruéis, e finalmente
a grande noite estranha e dolorida...
Hoje o sol, hoje a luz, hoje contente
a estrada a percorrer suave e florida...
- amanhã, pela sombra, inutilmente
outra sombra a vagar, triste e perdida...
A vida é assim, é um dia de esperança
uma réstia de luz entre dois ramos
que a noite envolve cedo, sem tardança...
E enquanto as sombras chegam, nós, ao vê-las,
ainda somos felizes e encontramos
a saudade infinita das estrelas!..."
IV
"...A vida é assim, uma ânsia... feito a vaga
que se ergue e rola a espumejar na areia,
- a por esse bem que a tua mão semeia
espera o mal que ainda terás por paga!
A essa hora boa que te agrada e enleia
sucede uma outra torturante e aziaga,
- a vida é assim... um canto de sereia
que à morte nos convida, e nos afaga...
O teu sonho melhor bem pouco dura,
e há sempre "um amanhã" cheio de dor
para "um hoje" nem sempre de ventura...
Toma entre as mãos o búzio da alegria
e surpreso verás que no interior
canta profunda e imensa nostalgia!..."
V
Isso tudo nos dizem, - entretanto
nós dois seguimos braços dados,
creio que se tu sabes que te adore tanto
do que ouviste talvez não tens receio...
A vida, - é o nosso amor, o nosso encanto!
Nem a podemos mais parar no meio...
Chorar? - bem sei que choras, mas teu pranto
é a alegria que canta no teu seio...
O mundo é bom e nós o cremos, basta!
E se um amor tão grande nos enleva
e pela vida unidos nos arrasta,
- que eu te abrace e te apoies sempre em mim,
e desafiando o mundo envolto em treva
sigamos juntos para um mesmo fim !
Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou. vol. 1. SP: Ed. Theor, 1965.
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