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sábado, 1 de novembro de 2025
Chafariz de Trovas * 35 *
Autor desconhecido (Clementine)
(recolhi este texto do facebook, intitulado “Vivendo na Baixada”, mas não consegui localizar o nome do/a autor/a para lhe dar o devido crédito)
Ela estava deitada quieta na beira da calçada, sua cabeça gentilmente assentada no concreto frio, seus olhos meio fechados, como se o sono tivesse finalmente alcançado com ela.
Mas ela não dormiu. A verdade era muito mais cruel - ela estava exausta de tentar sobreviver por muito tempo.
Seu pequeno corpo, embora marcado por belos pontos pretos, alaranjados e brancos, não podia mais esconder a extensão de seu sofrimento.
Cada carro que passava fazia o chão ao lado dela tremer – mas ela não se movia.
Ela compreendeu há muito tempo que o mundo não fica parado para gatos como ela.
As pessoas passavam, davam-lhe um vislumbre e continuavam o seu caminho.
Para ela era apenas mais um gato de rua - mais uma sombra na imagem de um mundo apressado e indiferente.
Mas algo nela me fez parar.
Talvez fosse a maneira como ela se encolhia - como se quisesse proteger algo que não estava por perto há muito tempo.
Ou o sopro quieto, como se ela tivesse medo de que mesmo sua existência fosse demais.
Eu me ajoelhei ao lado dela, com muito cuidado para não assustá-la. Ela não se moveu.
Seus olhos se abriram, apenas um pouco.
Um estava preso, o outro olhou para mim sem medo – Não porque ela confiava em mim, mas porque ela não tinha mais nada a temer.
Sussurrei em silêncio e perguntei se ela estava bem, mesmo sabendo a resposta.
Ela não miou. Ela não ronronou. Ela piscou lentamente, como se dissesse:
– Onde você estava quando eu ainda tinha esperança?
Ao olhar mais de perto, vi suas costelas salientes sob o pelo emaciado.
Suas patas estavam rachadas e doloridas. Ela provavelmente não tinha comido nada por dias.
Mas pior que a fome era a solidão.
Ela não era apenas um gato abandonado - ela era uma alma esquecida.
Um ser vivo esperando por uma bondade que nunca veio.
Ofereci-lhe um pedaço de frango do meu almoço.
Ela sentiu o cheiro, olhou para mim.
Ela levou um minuto inteiro para ousar – não por ganância, mas por dúvida.
Ela sequer se lembrou de como era a ternura?
Quando ela finalmente começou a comer, foi lento e hesitante. Como se seu corpo tivesse esquecido o que era receber comida.
Fiquei com ela por uma hora ali mesmo sem tocar nela, sem forçar a confiança.
E quando me levantei para sair, ela levantou a cabeça.
Ela não me seguiu. Ela não chorou.
Mas seu olhar me fez uma pergunta que nunca esquecerei:
– Você está indo agora também?
Não consegui dormir bem naquela noite. A foto dela não me deixou ir.
Na manhã seguinte voltei.
Ela ainda estava lá - no mesmo lugar, na mesma posição, inclinando a cabeça contra a pedra fria como se fosse tudo o que lhe restasse.
Mas desta vez ela levantou a cabeça quando me viu.
Desta vez ela se levantou - fracamente - e deu alguns passos cambaleantes em minha direção.
Embrulhei-a numa toalha e levei-a para casa.
O veterinário disse que ela estava desidratada e anêmica, presumivelmente de frio e fome. Tudo o que precisava era tempo, comida e amor – algo que ela tinha sido negada por muito tempo.
Eu a chamei de Clementine, por causa da gentileza que ela mantinha apesar de toda sua dor.
As semanas passavam. Seu pelo tornou-se macio novamente.
Seus olhos recuperaram seu brilho.
E quando ela ronronou pela primeira vez, eu chorei.
Ela tinha sobrevivido ao abandono, as noites geladas, a fome, a dor. Mas agora ela tinha algo que nunca tinha tido: Uma razão para viver.
Então, se um dia você ver um gato amontoado na beira da estrada, não olhe para longe. Porque às vezes eles não dormem. Às vezes eles silenciosamente suplicam que alguém reconheça que eles ainda estão vivos.
Fonte:
Nilto Maciel (Pândegas e peripécias)
Fazíamos bagunça o tempo todo. Até durante as aulas. Turma maravilhosa, alegre, inteligente: Severiano, Edinardo, Jonas, Vicente, Célio, Osvaldo e outros. O primeiro, apesar de baixinho, moreno, narigudo, magrinho, exercia sobre os colegas grande influência. Parecia o mais experiente: fumava, bebia, conhecia mulheres, cantava e, sobretudo, viera de outra cidade. Vivia na casa de uma irmã casada com o gerente do Banco do Brasil, e isso lhe dava mais ares de superioridade. Meu irmão morreu aos 32 anos, num acidente automobilístico, em Salvador. O terceiro enlouqueceu. Desde menino já falava rindo, articulava mal as palavras, não queria estudar. Vicente, seu irmão mais novo, tornou-se militar. Célio ria de tudo, sem nunca brigar com ninguém. Um de seus irmãos, Lívio, que estudara conosco, morreu ainda adolescente, afogado, num rio. Osvaldo, magrelo, cabeçudo, falava macio e baixo.
Nossa vida parecia uma contínua pândega. Não ouvíamos os professores. Ora coaxávamos, ora cricrilávamos, ora urrávamos. E lançávamos bolotas de papel às cabeças dos mestres. Um dos castigos consistia na expulsão do insubordinado da sala. Não só isso: deveria permanecer de pé, até o término das aulas do dia, diante de uma das colunas internas do edifício.
Certa feita recebemos castigo mais enérgico. Fomos proibidos de frequentar as aulas durante uma semana. Ou praticamos travessuras em demasia, ou o professor e o diretor quiseram dar um basta naquilo.
Durante toda a semana agimos como se nada tivesse acontecido. Acordávamos à mesma hora de sempre, vestíamos o uniforme, pegávamos livros e cadernos, e seguíamos rumo à escola. Diante do portão, despedíamo-nos dos colegas e seguíamos para cá e para lá. Íamos ao Potiú, o bairro das prostitutas, às Lajes, ao cemitério, aos arredores da pequena cidade. No terceiro dia, já não havia mais para onde ir. Além disso, a qualquer momento seríamos reconhecidos. E nossos pais não poderiam saber daquilo.
Num desses dias, resolvemos subir a serra. Ir aos Jesuítas, como chamávamos o sítio onde se situava a antiga Escola Apostólica dos Jesuítas de Baturité. Só assim passaríamos mais facilmente outra manhã. Pois andávamos então feito fugitivos, amedrontados, vendo "inimigos" por todos os lados. No meio do caminho tivemos a sorte de encontrar um ônibus. Pedimos carona. Nele iam estudantes conhecer a escola jesuítica. Contamos algumas mentiras e, assim, passamos mais uma manhã.
Levando vida tão voltada para o descaso pelos estudos, nenhum de nós poderia ter sido aprovado. Porém, eu lia tudo, adorava as fábulas latinas, gostava de francês. É dessa época minha dedicação aos livros, à literatura. Por mais que parecesse um garoto estroina. Ora, enquanto ria da cara do professor de geografia, lia com sisudez trechos de Garret, Herculano, Camilo e outros. E compunha sonetos líricos.
É também desse tempo as noitadas num banco da Praça de Santa Luzia. Reuníamo-nos três ou mais amigos, após o jantar, para conversar e cantar. Organizava esses encontros Severiano. Cantávamos, sobretudo, as canções gravadas por Nelson Gonçalves. Especialmente, "A flor do meu bairro". Severiano morria de paixão por uma garota que morava num bangalô bem diante daquele banco. Ela, porém, nunca aparecia à janela. Parecia viver prisioneira na casa. Como as princesas dos contos de fadas, presas em castelos, nas torres.
Quando as portas e janelas das casas iam se fechando e só restavam nossas vozes na rua, voltávamos para nossas casas. Na noite seguinte, voltávamos ao banco da praça, para recordar as peripécias do dia no colégio, planejar outras maluquices e cantar sambas-canções e boleros.
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Nilto Maciel nasceu em Baturité/CE em 1945. Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Em parceria com outros escritores, no ano de 1976 criou a revista Saco. Transferiu-se no ano seguinte para Brasília, trabalhando na Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Justiça do DF. Em 2002 foi para Fortaleza/CE onde residiu até a sua morte em 2014. Venceu inúmeros concursos literários, e escreveu diversos livros, tendo contos e poemas publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês. Além de contos e romances publicados, também Panorama do Conto Cearense, Contistas do Ceará, Literatura Fantástica no Brasil. Alguns livros publicados: Contos Reunidos vol. I, são os 66 contos escritos por Nilto em seus livros Itinerário (1974 a 1990), Tempos de Mula Preta (1981 a 2000) e Punhalzinho cravado de ódio (1986). O volume II conta com 122 contos dos livros As Insolentes patas do cão (1991), Babel (1997) e Pescoço de Girafa na Poeira (1999).
“Nilto possui esta capacidade de fazer com que nossas almas percorram desde um estado de profunda tristeza ao de êxtase. Não é apenas um escritor, são muitos escritores dentro de um só. A cada conto terminado, aflora o anseio pelo próximo. Aonde Nilto nos conduzirá agora? Cada conto é um conto, que faz com que nossa imaginação nos leve às vezes a adentrar dentro dele e participar, deixando que nos levemos pelo seu encanto, pela sua linguagem simples e deliciosa.” (José Feldman, em Nilto Maciel o mago das almas, 18/12/2010)
Fontes:
http://www.niltomaciel.net.br/226.htm (site desativado)
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
Gabriele Sapio (livro "Wyna, daqui a três estrelas")
A estória narrada neste livro trata acerca de uma sucessão notável e singular de belíssimas e sublimes experiências oníricas vividas e experimentadas no decorrer de toda a sua vida por um terráqueo que foi escolhido e preparado por seres muito evoluídos espiritualmente dos mais altos planos cósmicos, em virtude de suas qualidades especiais e pelo fato de possuir uma mente cósmica, para o contato com uma belíssima, encantadora, magnética e fascinante mulher alienígena cujo planeta natal se encontra no sistema estelar de Antares, a qual se chama Wyna. No decorrer da trama o terráqueo é preparado e treinado de forma gradual e cada vez mais intensa para o contato com a Wyna, com o fim último de ambos realizarem missão conjunta de grande importância para a garantia da ocorrência da linha do tempo do futuro positivo e brilhante da humanidade terrestre.
Aos interessados em adquirir o livro, ele está em formato físico, ebook e áudio-book nos sites: Editora Dialética, Amazon e Submarino.
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Gabriele Sapio (Peregrino de Antares) (56) italiano, radicado no Brasil, Aracati/CE. Pós-graduação na área de Direito, na Universidade Estadual do Piauí; Mestrado na Universidade Federal do Ceará; Doutorado em Ciencias Jurídicas y Sociales, na Universidad del Museo Social Argentino. Professor de Direito na Universidade Estadual do Piauí. Tradutor público na língua italiana. Tradutor simultâneo italiano-português-italiano em eventos acadêmicos e audiências judiciais.
Fonte:
Resumo, biografia e capa enviados pelo autor
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