quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Jaqueline Machado (Isadora de Pampa e Bahia) – Capitulo 23: Questionamentos, Amor e Maçãs

Isadora, belamente vestida com um esvoaçante vestido branco, sentada debaixo de seu Ipê amarelo que ficava ao lado da casa, admirando as borboletas que bailavam ao seu redor, se perdeu em reflexões sobre os paradoxos da vida...

“A vida é uma mulher cujo essência chama-se mistério. Ela é poderosa, simples, e ao mesmo tempo, caprichosa... Em meio a belos jardins, de flores e doces frutos, surgem serpentes, e o sonho da existência, de repente, vira pesadelo. E nos força a viver de apelos, campanhas por dias melhores..." 

Mas todos os dias deveriam ser bons. Caso contrário, qual seria o sentido dos desejos que brotam espontaneamente dentro da gente, assim, inocentemente, quase sem querer? Mas o ser humano é parte de tudo isso. Fruto extraído dessa mulher poderosa. Ela é esposa de Deus. Sim, porque Ele é masculino. E suas feições não são encontradas nas pétalas das flores, todavia, o espírito das feições femininas existentes no mundo é sua companheira de missão.    

Ai, esses pensamentos que me vêm não sei de onde, descoordenadamente me perturbam. Será que sou louca? Não. Não sou. Os loucos não possuem consciência de suas insanidades mentais. Mas minha alma precisa entender o porquê do bem e do mal. Se o bem fala sobre o que é certo, por que tenho que deixar o amor verdadeiro para unir-me ao amor que é de mentira? 

Nesse momento, seus questionamentos são interrompidos pela voz amorosa de Genuíno:

- Isadora...

Ela se move com agilidade olhando para trás.

- O que fazes aqui? 

- Desculpa, prenda! Tinha que te ver. Ficamos de dar continuidade à nossa conversa.

- Sim. Mas não aqui...

- Se ofereço riscos à tua paz, posso ir embora. 

- Não. Só as mulheres estão em casa. Senta aqui comigo.

Eles ficam frente a frente, e antes que a coragem se esvaísse de suas veias, Isadora disparou:

- Vou me casar com outro.

- Mentira - disse Genuíno meio sem saber o que pensar...

- Verdade. Tenho um noivo. Não o amo, mas infelizmente sou obrigada a casar com ele. 

- Por quê? O que posso fazer para livrar-te dessa situação sem sentido? 

- Nada.

- O que te prende a essa pessoa? 

Isadora faz as revelações e, aos prantos, eles se abraçam. 

Depois de um longo abraço, e de deixarem, o pranto rolar, trocam um beijo cheio de sentimentos... 

Num impulso Genuíno puxou Isadora pela mão.

- Onde vamos? - perguntou ela.

- Vamos terminar o que iniciamos debaixo daquele doce pé de macieira. 

- Queria eu, ser um homem branco, fazendeiro, para livrar-te desta situação – disse ele acariciando a face de sua amada, olhando profundamente em seus olhos ao retornarem ao local do primeiro encontro.

- Tu és perfeito. Um sonho de ser humano.

- Tu que és uma flor de perfeição. Estás a fazer um grande sacrifício por honra e amor à tua mãe. Isso é muito nobre. 

- Eu te amo tanto...

- Eu também. E já que não podemos ficar juntos, quero te amar pelo menos uma vez para levar junto de mim a lembrança de teus carinhos, de teu sabor, de teu perfume...

- Sinto o mesmo desejo, mas temo, sem querer, estar me comportando de forma desonrosa como meu pai.

- Não há desonra alguma em se entregar por amor. Teu pai, sim, desonra, não apenas a família, mas todas as outras mulheres que são usadas por ele. Não sinta raiva delas. Elas também são vítimas de uma sociedade hipócrita. E em sua maioria, não são felizes. Nem teu corpo nem tua alma pertencerão a esse tal de Fábio. Somos um do outro. Para sempre...

A natureza, protetora dos amantes, preparou o cenário para que o amor pudesse acontecer... 

O entardecer se aproximou de mansinho pintando um céu de horizonte rosado e fundo vermelho paixão! Vermelho coração... 

Com elegância, o sol se debruçou sobre a terra reverenciando e consagrando o amor daquele casal perfeito. Os pássaros não querendo atrapalhar, se recolherem em seus ninhos. E assim, em meio a toda aquela beleza, sentindo o cheiro das maçãs, Genuíno e Isadora, sem medos, sem preconceitos, sem pensar no depois, se entregaram ao amor... 
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continua…

Fonte: Texto enviado pela autora

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Filemon Martins (Aquarela de Trovas) 26

 

Mensagem na Garrafa – 48 -


Machado de Assis
(Joaquim Maria Machado de Assis)
Rio de Janeiro/RJ,  1839 - 1908

UM ANJO

(À Memória de minha irmã)

FOSTE A ROSA desfolhada
Na urna da eternidade
Pr'a sorrir mais animada,
Mais bela, mais perfumada
Lá na etérea imensidade.

Rasgaste o manto da vida,
E anjo subiste ao céu
Como a flor enlanguecida
E pouco a pouco morreu!
Que o vento pô-la caída

Tu'alma foi um perfume
Erguido ao sólio divino;
Levada ao celeste cume
C'os Anjos oraste ao Nume
Nas harmonias dum hino.

Alheia ao mundo devasso,
Passaste a vida sorrindo;
Derribou-te, ó ave, um braço,
Mas abrindo asas no espaço
Ao céu voaste, anjo lindo.

Esse invólucro mundano
Trocaste por outro véu;
Deste negro pego insano
Não sofreste o menor dano
Que tu'alma era do Céu.

Foste a rosa desfolhada
Na urna da eternidade
Pra sorrir mais animada
Mais bela, mais perfumada
Lá na etérea imensidade.

Milton S. Souza (Banho de espuma)

Amanhecia, mas ainda estava escuro. Nenhum vento. A calmaria era total na beira do mar naquela manhã de março. O sol, preguiçosamente, banhava seu rosto no horizonte sem ondas. E as ondas calmas vinham, em procissão, beijar meus pés semi-enterrados na areia molhada, como que querendo saudar o raro veranista naquela solidão de pós-verão. Foi então que avistei, ao lado de uma grande pedra, um verdadeiro colchão de espumas. O mar, durante a noite, por certo, deveria ter depositado carinhosamente aquela espuma na beira da praia, bem assim como a insônia, que me fizera sair a caminhar tão cedo, depositara uma grande quantidade de saudade tua no meu coração. 

Com os pés, comecei a abrir sulcos na espuma. Sem querer querendo, terminei escrevendo o teu nome, deixando as letras marcadas na areia, cercada de espuma. A primeira estrela da manhã chegou mais perto para ler o meu poema-espuma. Seus raios cintilaram nas gotas brilhantes, tingindo de prata aquele nome que um sonho quase impossível havia gravado, bem forte, no meu coração.

Sentei na pedra molhada e tentei desenhar mentalmente, na neblina da manhã, o teu rosto que tanto me fascina. Uma gaivota passou voando, atravessando com suas asas brancas o teu sorriso imaginário. Uma leve brisa começou a soprar quando a saudade quis brincar de transformar em lágrimas o nó que eu trazia preso na garganta. Aos poucos, o vento foi ficando mais forte, fazendo a espuma voar e despedaçando as letras do teu nome. Os flocos de espuma subiram no ar e foram se chocar contra o meu rosto e com meu corpo semi-despido. Em poucos segundos, meus ombros e meus braços nus ficaram tomados por pedaços de espuma gelada. A gaivota voltou, piando alto, como que zombando dos soluços que brotavam de dentro de mim.

Chorei naquele exato momento, porque entendi a mensagem que a natureza estava me passando. Entendi que o sentimento que eu sinto por ti é do tamanho daquele mar que, calmo ou violento, não para nunca de se agitar, exatamente como o meu coração. Entendi também que o aquilo que sentias por mim era como a espuma que esvoaçava: algo frágil, inconstante e facilmente levado pelo vento da tua vontade para qualquer lado. Talvez por isso, tantas vezes, inventavas desvios para teus passos não cruzarem com os meus. Outras vezes, porém, parecendo querer brincar comigo, atiçavas perigosamente o fogo que ardia dentro de mim.

O sol até resolveu despontar mais rápido, quando sentiu as lágrimas deslizando pelo meu rosto. Carinhosamente, fez com que seus raios deslizassem até mim, secando com o seu calor as minha lágrimas salgadas. O mar, avançando rapidamente, destroçou o resto das espumas que ainda mantinham alguns pedaços das letras do teu nome. E, depois, voltou a beijar levemente os meus pés, completando aquele conforto que eu estava necessitando. Não sei por quanto tempo fiquei fazendo parte daquele belo quadro composto por Deus. Só sei que, aos poucos, fui me acalmando e fazendo aquela saudade doída voar ao lado daquela gaivota errante. Lentamente, segui caminhando pela beira do mar, mas sempre mantendo os olhos presos no horizonte, na esperança inútil de ver o teu vulto surgindo, como numa miragem, naquela faixa de areia tingida de dourado pela luz do sol…

Fonte: Recanto das Letras do autor
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/68473

Caldeirão Poético LXXIII


Nilo Aparecida Pinto
Caratinga/MG, 1915-1974, Rio de Janeiro/RJ

CASA GRANDE

A Casa Grande, na fazenda, eu via
abrindo ao sol, com modos patriarcais,
o alpendre, onde meu pai lia e relia
"A Morgadinha dos Canaviais"...

Ficava ao pé da serra, em que eu ouvia,
naqueles dias calmos e rurais,
a cachoeira que, a saltar, gemia,
como eu a dor do que não volta mais.

Meu pai envelheceu. Desfez-se a casa.
Nem ele mais sua bondade expande,
porque a morte o levou, num rufio de asa...

Mas, se o procuro — o seu amor me atrai —,
parece ainda maior que a Casa Grande
a sepultura estreita de meu pai!…
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Nilo Bruzzi
Pomba/MG, 1879 – 1978, Rio de Janeiro/RJ

A VOZ AMIGA

— “Tu que passaste a vida sem roseiras
que dessem flores para perfumá-la;
tu que tiveste sombras agoureiras
que emudeceram sempre a tua fala;

tu que desceste mudo as cordilheiras
de teu sonho — gigante cor de opala;
que sozinho choraste horas inteiras
por entre a pompa, a graça, o brilho, a gala;

toma o meu braço carinhoso e amigo
e caminhemos com tranquilidade,
toma o meu braço e eu morrerei contigo...”

— Parei diante da sombra triste e esguia...
Era a voz compassiva da Saudade
que estas palavras mansas me dizia...
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Octávio Venturelli
Rio de Janeiro/RJ, 1937 – 2019

MINHA LEI

Venho de Zambi, Pai Onipotente,
e de Oxalá, o Rei maior da Umbanda,
e de meu Pai Xangô, do sol nascente,
da pedreira, e dos raios que comanda.

Sou filho dessa Oxum bela e potente,
faz do amor as armas da demanda.
Senhora universal da água corrente
sentada está no trono de Aruanda!

Para seguir tranquilo a minha estrada,
levo também a proteção firmada
da Orixá do trovão, lansã querida.

A todos querer bem é minha sorte!
E assim eu hei de ser até que a morte
venha mostrar-me o rumo de outra vida...
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Osório Dutra
Vassouras/RJ, 1889 – 1968

TAPIR SELVAGEM

Deve correr dentro das minhas veias
o sangue puro de um tapir selvagem:
amo a tranquilidade das aldeias
e a música do vento na ramagem.

Indiferente às intenções alheias,
bebo a luz policroma da paisagem,
e durmo sobre a colcha das areias,
tendo a lua, que sonha, por miragem.

Bendito seja este rincão fecundo,
que põe, assim, dentro de cada planta,
toda a harmonia de um pequeno mundo!

Sei que sou rude. A minha voz espanta,
mas o meu coração guarda no fundo
a doçura de um córrego que canta.
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Palmira Wanderley de França
Natal/RN, 1894 – 1978

PITANGUEIRA

Termina Agosto... A pitangueira flora...
A umbela verde cobre-se de alvura;
e, antes que de Setembro finde a aurora,
enrubesce a pitanga... Está madura.

Da flor, o fruto é de esmeralda, agora...
Num topázio, depois, se transfigura,
e, pouco a pouco, um sol de estio a cora,
dando a cor dos rubis à carnadura.

A pele é fina, a carne é veludosa,
vermelha como o sangue, perfumosa
como se humana a sua carne fosse...

Do fruto, às vezes, roxo como o aspargo,
a polpa tem um travo doce-amargo,
— o sabor da Saudade, amargo e doce...
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Rodrigues Crespo
Campos/RJ, 1896 –  1976, Belo Horizonte/MG

A INCÓGNITA DO SER

Viver, ou não viver? Que mais importa?
Que tem por fim a vida? A própria vida?
Entramos, ao nascer, por uma porta,
e só na morte achamos a saída...

Viver só por viver não nos conforta.
Falta-nos uma causa mais subida.
Mas, o que fica da carcaça morta?
Restará algo da expressão perdida?

Consola-nos a hipótese da alma.
Mas, por que sobrevive? Por que existe?
Só tem por meta uma existência calma?

Corpo ou alma, afinal, em que consiste
sua razão de ser? E sua palma?
Ah! Como a vida, na incerteza, é triste!

Fonte: Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.

Contos das Mil e Uma Noites (O Belo adolescente triste)

Fica sabendo, ó meu irmão, que eu também sou filho de rei, e minha história é tão incomum que se fosse escrita com uma agulha no canto interno dos olhos serviria de lição a toda pessoa que gosta de se auto aperfeiçoar. 

Nasci na terra de Kabul onde meu pai, Tigamos, é rei. Ao mesmo tempo poderoso e justo, ele tem sob sua suserania sete reis tributários. Desde a minha infância, meu pai cuidou que fosse instruído nas ciências, nas artes e nos esportes, de maneira que aos quinze anos já era considerado um dos cavalheiros mais finos do reino. Dirigia as caçadas e as corridas, sentado no meu cavalo, mais veloz que um antílope. 

Certo dia, durante uma caçada, ao crepúsculo, vi a poucos passos uma gazela airosa que, ao me ver, fugiu como uma flecha. Segui-a com meus sete mamelucos até que chegamos a um rio caudaloso onde esperávamos acuá-la e prendê-la. Ela, porém, se jogou no rio e nadou com velocidade até a outra margem. Apeamos sem demora, confiamos nossos cavalos a um dos mamelucos, saltamos num barco de pescar que estava lá e fomos em perseguição à gazela. Mal atingimos o meio do rio, perdemos o comando da embarcação e fomos levados pela correnteza. Passamos assim aquela noite e o dia seguinte, incapazes de controlar a violência da água e do vento, receosos, a cada minuto, de bater contra alguma rocha e morrer afogados. 

Foi só na manhã do segundo dia que conseguimos desembarcar numa terra coberta de árvores e atravessada por um córrego. Mas um homem refrescava os pés no córrego. Quando nos viu, pulou, e seu corpo dividiu-se em dois na altura da cintura. Somente a metade superior veio a nós. De repente, de todos os cantos do jardim, apareceram outros homens iguais a ele.

Jogaram-se sobre três mamelucos e começaram a comê-los vivos. Eu e os três outros pulamos no barco, preferindo ser engolidos pela água do que por aqueles monstros. Dois dias depois, desembarcamos novamente numa terra coberta de árvores frutíferas e flores aromáticas. Percorrendo este novo asilo, chegamos a um palácio vazio, com pavilhões de cristal. Entramos. 

Na sala principal, havia um trono de ouro. Sentei-me nele. Mas logo ouvimos um barulho parecido com o tumulto do oceano e vimos uma procissão entrar no palácio, composta de emires, vizires e outros notáveis, todos eles macacos. Uns eram anões; outros, gigantes. O vizir, um macaco de estatura enorme, veio até mim, inclinou-se respeitosamente e informou me, numa voz humana, que seu povo me reconhecia como rei e meus três mamelucos como comandantes do exército. Informou-nos também que estavam prestes a atacar seus vizinhos e inimigos, os Ghuls. Não tínhamos escolha. Montamos em três cães enormes que nos trouxeram e encabeçamos a marcha das forças armadas. E chegamos logo à terra dos Ghuls, os seres mais horrendos que já vira. Alguns tinham cabeças de touro e corpos de camelo. Outros eram como hienas. Outros tinham formas tão estranhas que não se assemelhavam a nada que conhecêssemos. 

Quando os Ghuls nos viram, arremessaram sobre nós uma chuva de pedras, às quais nosso campo respondeu da mesma forma numa batalha terrível. Eu e meus mamelucos usamos nossos arcos e matamos muitos Ghuls, o que nos assegurou a vitória e encantou meus novos vassalos. Incompreensivelmente, esses vassalos me abandonaram após a vitória. E, montado no meu cão, recomecei a errar naquela terra desconhecida.

Um dia, cheguei à cidade dos judeus, que viviam lá desde o tempo de Soleiman. Ao entrar, ouvi um pregoeiro gritar: “Quem quiser ganhar mil libras de ouro e uma jovem escrava, trabalhando apenas uma hora, que me siga.” Segui-o. Na realidade, era o único a segui-lo. Levou-me a um velho judeu que me recebeu com muita simpatia, deu-me um saco contendo mil peças de ouro e me apresentou a uma jovem de grande beleza. - Fica com ela três dias e três noites, disse-me. Depois, irás fazer o trabalho pelo qual estás sendo pago. 

A moça era virgem. Passei com ela as únicas horas felizes de minha vida. No terceiro dia, o velho judeu deu-me uma mula e uma faca e disse-me: “Mata esta mula e separa-lhe a pele do corpo.” Obedeci. Então, disse-me: “Deita sobre esta pele e junta-a em volta de teu corpo. Um abutre gigante vai levar-te no seu bico até o cume de uma montanha. Deixa-te levar sem esboçar um movimento - senão serás morto na hora.”

No alto da montanha para onde o abutre me levou, encontrei um palácio suntuoso e alguém esperando por mim na porta. “Descansa e diverte-te neste palácio, entrando nos aposentos que quiseres com uma única exceção: o aposento que abre com esta chave de ouro,” disse-me o homem. E partiu. 

Passei dias naquele palácio vazio, lutando contra a tentação de abrir a porta proibida. No fim, minha curiosidade prevaleceu. Abri a porta proibida. Havia lá uma piscina e quatro moças nuas tomando banho, como se quatro luas se estivessem refletindo na água. Apaixonei-me por uma delas, denominada Chams, Sol. Esperei até que estivessem todas dentro da piscina e, correndo mais rapidamente que a luz, apanhei a roupa da jovem que amava. Disse-me: “Adolescente bonito, como ousas apoderar-te do que não te pertence?” 

Respondi: “Minha pomba, sai da água e vem falar comigo.” 

Respondeu com suavidade: “Luz de meus olhos, se fizer o que me pedes, estarei plantando uma faca no meu próprio coração.”

Assim mesmo, consegui pegá-la e levá-la até o trono de rubi que estava lá. Vendo que não poderia escapar, cedeu a meus desejos e, pondo seus braços em volta de meu pescoço, deu-me beijo por beijo e carinho por carinho, enquanto suas irmãs sorriam para nós e vigiavam para que não fôssemos surpreendidos.

Momentos depois, meu velho protetor abriu a porta e entrou. Levantamo-nos em sua homenagem. E ele dirigiu a cada um de nós dois palavras carinhosas e incentivou-nos a nos casar, dizendo a Chams: “Minha filha, este moço que te adora é de ilustre linhagem. Seu pai é um rei. Farás bem em aceitá-lo por esposo e eu persuadirei teu pai, rei Nasr, a abençoar-vos.” 

- Ouço e obedeço, disse a moça. 

No dia seguinte, apresentou-me ao pai, o rei Nasr, dono dos gênios, o qual me abraçou e ordenou grandes festas para celebrar o casamento. Mandou também confeccionar um trono tão vasto que, nos seus degraus, podiam ficar em pé duzentos gênios machos e duzentos gênios fêmeas. Sabendo que meus pais estavam ansiosos por minha volta, mandou um exército inteiro de gênios levantar o trono em que minha mulher e eu estávamos sentados e carregá-lo através do espaço até o palácio de meu pai em Kabul. 

A viagem, que leva normalmente dois anos, foi feita em dois dias. Meus pais regozijaram-se e celebraram minha volta e meu casamento com festas mais suntuosas que tudo que tinha sido visto até então. No fim do ano, que passou como uma primavera, minha mulher quis rever seu pai e mãe. Concordei alegremente; mas, para minha infelicidade, foi uma viagem azarenta. Subimos em nosso trono e nossos Afarit carregaram-nos. 

Viajávamos de dia e descansávamos de noite. Uma noite, Chams quis tomar banho num belo rio onde paramos. Tentei dissuadi-la, mas insistiu. Estava no meio da água com suas escravas como a lua no meio das estrelas quando lançou um grito lancinante e caiu morta. Uma serpente das águas, particularmente venenosa, a mordera no calcanhar. Vendo Chams morta, desmaiei. E fiquei tanto tempo desmaiado que julgaram-me morto. Mas, ai de mim, eu devia sobreviver à minha amada para chorá-la e construir-lhe o túmulo que vês. 

Quanto a esse  segundo túmulo, é o meu próprio. Aqui vivo, chorando e rememorando com nostalgia os anos que passamos juntos enquanto se esgota o tempo insuportável que me separa do dia em que dormirei para sempre ao lado de Chams, longe do reino a que renunciei, longe do deserto deste mundo. 

Nasceste de barro e viraste  homem. E aprendeste a retórica e as ciências. Depois, morreste e voltaste à terra como se tivesses sido sempre barro.

Fonte: As Mil e uma noites. (tradução de Mansour Chalita). Publicadas originalmente desde o século IX. Disponível em Domínio Público.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Adega de Versos 116: Washington Daniel Gorosito Pérez

 

Mensagem na Garrafa – 47 -


Vinicius de Moraes
(Marcus Vinicius da Cruz de Melo Moraes)
Rio de Janeiro/RJ, 1913 - 1980

O bom pastor

Amo andar pelas tardes sem som, brandas, maravilhosas
Com riscos de andorinhas pelo céu.
Amo ir solitário pelos caminhos
Olhando a tarde parada no tempo
Parada no céu como um pássaro em voo
E que vem de asas largas se abatendo.
Amo desvendar a vaga penumbra que desce
Amo sentir o ar sem movimento, a luz sem vida
Tudo interiorizado, tudo paralisado na oração calma…
Amo andar nessas tardes…
Sinto-me penetrando o sereno vazio de tudo
Como um raio de luz.
Cresço, projeto-me ao infinito, agitando
Para consolar as árvores angustiadas
E acalmar os pinheiros moribundos.
Desço aos vales como uma sombra de montanha
Buscando poesia nos rios parados.
Sou como o bom-pastor da natureza
Que recolhe a alma do seu rebanho
No agasalho da sua alma…E amo voltar
Quando tudo não é mais que uma saudade
Do momento suspenso que foi…
Amo voltar quando a noite palpita
Nas primeiras estrelas claras…
Amo vir com a aragem que começa a descer das montanhas
Trazendo cheiros agrestes de selva…
E pelos caminhos já percorridos, voltando com a noite
Amo sonhar…

Geraldo Pereira (Uma Sereia no Timbó)

 
Aqui, às margens do Timbó, onde as águas do rio se entregam à enormidade maternal dos mares, a madrugada pariu o dia e a manhã ganhou os ares nos braços do astro que é rei, depois a tarde embalou a noite, trazendo outra vez a negritude das trevas. E a noite se foi, parindo outro dia! Eis a metamorfose do tempo! 

Um pescador muito velho, de barbas longas e brancas, tomou a jangada bem usada e se fez ao mar, jogando, seguidamente, a rede, de cujo conteúdo há de alimentar a família. Outro, pisando as areias cálidas da praia, tão alvas quanto a pureza do lírio, de tarrafa à mão, reunia no samburá já surrado as espécimes que podia, de tainhas fresquinhas, fresquinhas. 

O forasteiro, sentado ao largo, vestido à moda urbana, de camiseta estilizada, com inscrição posta na língua lá de fora e de sandálias cobrindo os pés, assistia a tudo isso. Via as mudanças e as transformações, qual observador do cotidiano, anotando vivências e convivências, com as águas sobretudo. Nos dedos contou os barcos e passou de dez nesse exercício, contabilizou gente que ia adentrando as águas, cumprindo o desiderato milenar de buscar nessas intimidades o pão de cada dia. Aceitou o cumprimento respeitoso do caçador de lagostas, de ferro afiado pendendo do indicador e com o apetrecho destinado à sua própria flutuação: “Bom Dia!” E o imaginário soltou-se, libertou-se das amarras que a intelectualidade pode trazer, para rever o tudo e o todo, dali e de fora, do presente e do passado, permitindo-se indagações sobre o futuro.

Como era diferente ele – o forasteiro –, daquele povo simples e aparentemente sem complexos e sem neuroses que por ali passava, livre das injunções sociais, de preceitos e de preconceitos! Ficou filosofando assim ou matutando apenas, sentado como estava, mantendo a sua condição de invasor daquele ambiente tão sagrado e tão puro. Com o calor da manhã e com o sol a pino, viu as lanchas sofisticadas roubarem as águas alheias, provocando ondas no mar, querendo repetir espumas que na beira da praia beijam as areias, deixando telúricos ósculos. 

Assistiu o desfilar de outros forasteiros, veranistas também, de coloridos trajes, falantes e desinibidos, com intenções modernas de relax e de outras práticas. Furtam, na verdade, os ares que desses nativos sempre foram!

Passaram e sujaram, fizeram de seus luxos os lixos daquele canto, um recanto, ainda, das reflexões de Deus. Vieram das paragens sulinas, a tirar pelo sotaque de todos e pelas conversas que vão fiando, trouxeram a fadiga internalizada na bagagem e largaram por cá esses restos de civilização, contaminando o tempo e maculando o espaço. Promoveram no povo daqui mudanças de hábitos, desusados dantes. Pescadores transformados em guias de turismo, carregando pra lá e pra cá gente de fora, em passeios à Ilha de Itamaracá ou à Coroa do Avião. Homens mais velhos com os barcos ancorados, oferecendo passeios, à prainha dizem, seduzindo os outros, como se faz na cidade.

Mas, é do mister de quem observa, anota e vai se permitir a criação do texto, no transbordar do coração diante da inspiração, como agora, madrugada quase de um sábado, aproveitar-se de um cumprimento e fiar conversa, de logo. Como estava o movimento de turistas mandados de São Paulo e do Rio, de outros lugares também? Ruim, respondeu o homem, pescador por profissão e guia por precisão! Depois que fechou o hotel, fugiram daqui os viajantes, foram parar noutros lugares, explicou, justificando! E ficamos a ver navios, disse, fazendo metáfora com as coisas do mar. Tocou a falar de suas experiências, depois que a civilização aportou nessas bandas e o simplesmente nativo foi se adaptando ao inteiramente novo, uma figuração do desenvolvimento emergente. Vira de um tudo por cá, do comum ao inusitado, gente que vai chegando e se deslumbrando com a paisagem do mar, cujo horizonte beija as águas ou com a beleza do coqueiral, no balanço mais do que cadenciado das folhas, ao sabor lúdico dos ventos de janeiro. O coqueiro é a árvore do adeus, as suas palhas se despedem, o tempo todo, do viandante que se vai, entrando nas águas em direção às funduras do mar! 

E o que mais lhe impressionara  nesse tempo das novidades? Confessou, então, a sua perplexidade quando nas águas do rio Timbó viu, depois de trinta anos se pouco, a sereia de seus devaneios e de seus sonhos emergindo, sorrindo para o mundo. Não se falaram, complementou, porque perderam a intimidade, sem precisar aludir a Fernando Veríssimo, mas filosofando à sua maneira!

Entreolharam-se, somente, nada mais!

E para findar a crônica no melhor dos estilos, passou Vando, que da peixaria é o dono, esquipando no alazão tupiniquim, manga-larga da periferia, deixando um dourado aqui e outro ali, um serra para o irmão Getúlio e uma cioba para o escriba. E para Capiba, conterrâneo de Surubim, a prece a Maria Betânia, entoada sob a sonoridade das ondas! E Beto da Goiabeira, que do frágil arbusto caiu em seu primeiro alumbramento, sem invocar o poeta do rio das capivaras, aprendeu de Bandeira os versos cantados na Várzea, dos encantamentos primeiros!

Fonte: Geraldo Pereira. Fragmentos do meu tempo. Recife/PE. Disponível no Portal de Domínio Público

Baú de Trovas LXXIII


Tão pão-duro é o sujeitinho,
que até para dar risada
pede ao bondoso vizinho
a dentadura emprestada!…
A. A. de Assis
Maringá/PR
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Divide aquilo que tens
com quem tem fome e padece.
A partilha dos teus bens
tem mais valor que uma prece!
Alba Helena Corrêa
Niterói/RJ
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O meu melhor agasalho
é o colo de minha amada,
pois quando nele me encalho
não temo o frio ou geada!
Amilton Maciel Monteiro
São José dos Campos/SP
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Sonho um mundo sem arenas,
mais justo, mais solidário,
onde a paz não seja, apenas,
três letras no dicionário.
Antonio Juraci Siqueira
Belém/PA
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Se na memória eu não falho,
o poeta, qual todo artista,
é alguém que não dá trabalho
ao doutor cardiologista...
Antônio Mário Manicardi
Maringá/PR
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Não temas portas fechadas,
nem mesmo fracassos temas;
há sempre forças guardadas
para as conquistas supremas.
Carolina Ramos
Santos/SP
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Quanto mais a idade avança,
no longo tempo a correr,
eu tenho mais esperança
e mais prazer em viver...
Cônego Benedito Vieira Telles +
Maringá/PR
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Carimbar no coração
o dom - autenticidade -
é levar à multidão
um selo de qualidade!
Cristina Cacossi
Bragança Paulista/SP
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Esse aroma ...tentação,
que deixaste...traiçoeiro,
abala meu coração,
dormindo em meu travesseiro!
Cynira Antunes de Moura
Santos/SP
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Por mais que a vida se oponha,
traze os sonhos junto a ti,
porque, aos olhos de quem sonha,
o Infinito...é logo ali!
Edmar Japiassú Maia
Nova Friburgo/RJ
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Eu vejo a noite indo embora
com seu véu de negros laços...
Deus acende a luz da aurora
e traz o sol em seus braços!
Edna Gallo
Santos/SP
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Abro a janela, e a neblina
lacrimeja na vidraça...
A saudade dobra a esquina,
entra em meu quarto e me abraça.
Eduardo A. O. Toledo
Pouso Alegre/MG
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Sobreviver, nesta vida,
é travar uma batalha;
--chora-se a cada partida...
- vibra-se a cada medalha!
Eulinda Barreto
Bauru/SP
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Entre os sonhos e a lembrança,
veja a vida, em seus compassos,
colher versos de esperança
na herança dos próprios passos!
Eva Garcia
Caicó/RN
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Quando a seca nos acossa
e o rio mostra seu leito,
a tristeza que há na roça
roça com força em meu peito!
Francisco José Pessoa
Fortaleza/CE, 1949 - 2020
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Aquele casebre pobre,
lodo em palha ornamentado,
oculta um coração nobre
que o tempo deixou marcado!
Francisco Maia
Caicó/RN
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Alvorada dos meus dias
teus olhos - luzes pagãs
acendem com poesias
o céu de minhas manhãs...
Gilvan Carneiro da Silva
São Gonçalo/RJ
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No cais da vida, a distância,
eu vislumbrei, na verdade,
a acenar-me a doce infância,
com o lenço azul da saudade!
Giselda Medeiros
Fortaleza/CE
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Se o coração de quem ama
fosse capaz de compor,
o eletrocardiograma
seria um hino de amor!
Jaime Pina da Silveira
São Paulo/SP
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Escrava do teu olhar
quis fugir... mas que surpresa!
Tentando me libertar,
cada vez fico mais presa.
Janske Niemann Schlenker
Curitiba/PR
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A minha Mãe natureza,
que nada deixa faltar,
me faz saber, com certeza
que vale a pena sonhar…
Jaqueline Machado
Cachoeira do Sul/RS
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O murmúrio deste rio
plangente, triste a passar,
às vezes eu desconfio:
É pra meu sono embalar.
João Alfredo P. de Lima Neto
Natal/RN
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Minha fonte de alegria,
meu amor, minha paixão...
Tu és, ó doce poesia,
da minha vida a razão!
Jota de Jesus
Itabaiana/SE, 1947 – 2017, Saquarema/RJ
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Se as águas banham meu rosto,
refletindo o meu cansaço,
entrego a Deus meu desgosto
e ganho D'Ele, um abraço.
Karla Cristiane Bitencourt
Colombo/PR
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Nesta rua, onde moro,
passa a vida em liberdade;
mas não passa quem adoro
nem, de mim, passa a saudade.
Lairton Trovão de Andrade
Pinhalão/PR
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Em parte da minha essência
já nem sei mais quem sou eu…
quando choro pela ausência
de um sonho que já morreu!
Lucélia Santos
Patu/RN
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Na saudade intransigente,
o coração se revolta;
a estrada diz: – Segue em frente;
o coração pede: - Volta!
Luiz Poeta
Rio de Janeiro/RJ
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Eu tenho razão de sobra
ao chorar o amor perdido.
Minha face sempre mostra
um vazio refletido.
Luiza Nelma Fillus
Irati/PR
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Ele cai... não retrocede!...
Continua... até sozinho...
que a fibra também se mede
pelas quedas no caminho…
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ, 1916 -1977, Santos/SP
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Busquei tanto a liberdade,
e hoje, no Bar da Ilusão,
me embriago de saudade
na taça da solidão!…
Maria de Lourdes Ouverney
Pindamonhangaba/SP
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Na caminhada da vida,
nos momentos mais festeiros,
nessa dureza da lida,
os livros são companheiros.
Maria Luiza Walendowsky
Brusque/SC
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“Sem uma “prova de amor”
sumo de vez e te esqueço!”
-“Pois some logo: - É um favor,
porque esse truque ... eu conheço!!!“
Maria Madalena Ferreira
Magé/RJ
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Bandolim, meu amigão,
sai de dentro do baú,
vem tocar uma canção
pra gente de Tambaú!
Mário Beltrame
São Paulo/SP, ??? – 2007
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De esperas fiz meu passado…
E compondo a vida assim,
tornei-me um barco ancorado
no cais do porto de mim…
Marisa Olivaes
Porto Alegre/RS
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Eu peço ao Deus da bondade:
– Não me tire a fantasia,
pois viver só realidade
é impossível, noite e dial
Nilsa Alves de Melo
Maringá/PR
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O meu palácio encantado
onde o ano todo é Natal,
é um quadradinho, alugado,
chamado caixa-postal.
Nilton Manoel Teixeira
Ribeirão Preto/SP
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Se quiser ser campeão,
nesta guerrilha de amor,
leve a paz no coração
e da luz, todo o esplendor!
Olga Maria Dias Ferreira
Pelotas/RS
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Faço versos e no entanto
aquele amor, que é loucura,
só deixa meu peito em pranto,
ao sentir que me tortura!
Sarah Rodrigues
Belém/PA
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Amar; dar educação.
Amor com sabedoria
enriquece o coração
e enche a vida de alegria,
Sônia Regina Rocha Rodrigues
New Westminster, BC/ Canadá
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Era um sonho, tão bonito!
Nas estrelas se escondeu.
Quis voltar lá do infinito,
mas na volta, se perdeu.
Sônia Sobreira
Rio de Janeiro/RJ
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Teu retrato até rasguei
para fugir à verdade...
"Sem lembranças"... eu pensei,
mas ninguém rasga a saudade.
Thereza Costa Val
Viçosa/MG, 1933 – 2014, Belo Horizontes/MG 
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Garota que, muitas vezes,
com jantares se tapeia,
vai, durante nove meses,
“chorar... de barriga cheia!”
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo/SP
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Contadora de meus casos
dos bons tempos que vivi!…
Saudade não marca prazos
para me ver por aqui.
Wagner Marques Lopes
Pedro Leopoldo/MG
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