sábado, 21 de setembro de 2024

Recordando Velhas Canções (Chão de Estrelas)

(samba, 1937) 

Compositor: Sílvio Caldas e Orestes Barbosa

Minha vida era um palco iluminado
eu vivia vestido de dourado
palhaço das perdidas ilusões
cheio dos guizos falsos da alegria
andei cantando a minha fantasia
entre as palmas febris dos corações

Meu barracão no morro do salgueiro
tinha o cantar alegre de um viveiro
foste a sonoridade que acabou
e hoje, quando do sol, a claridade
forra o meu barracão, sinto saudade
da mulher pomba-rola que voou

Nossas roupas comuns dependuradas
na janela qual bandeiras agitadas
pareciam um estranho festival
festa dos nossos trapos coloridos
a mostrar que nos morros mal vestidos
é sempre feriado nacional

A porta do barraco era sem trinco
mas a lua furando nosso zinco
salpicava de estrelas nosso chão
tu pisavas nos astros distraída
sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, O luar e o violão.

A melancolia no samba de 'Chão de Estrelas'
A canção 'Chão de Estrelas', interpretada pelo icônico Silvio Caldas, é uma obra que transita entre a melancolia e a celebração da vida simples. A letra da música descreve a vida de um homem que, outrora parte de um espetáculo iluminado e vestido de dourado, vivia uma fantasia de alegria e aplausos. A metáfora do palhaço pode ser interpretada como uma crítica à falsidade das aparências e à efemeridade do sucesso e da felicidade construída sob os holofotes.

O cenário muda para um barracão no morro do Salgueiro, um lugar de vida simples, mas cheio de alegria e vivacidade, como um 'viveiro'. A saudade é um tema central, expressa pela ausência da 'mulher pomba-rola que voou', uma referência à perda de um amor que trouxe vida e sonoridade ao ambiente. A imagem das roupas penduradas, agitadas como bandeiras, evoca uma sensação de festividade e orgulho da identidade cultural dos morros, onde mesmo a pobreza é celebrada como um 'feriado nacional'.

Por fim, a música descreve uma cena poética onde a luz da lua, atravessando o zinco do barraco, cria um 'chão de estrelas'. A mulher amada, ao caminhar desatenta sobre esse chão iluminado, não percebe que a verdadeira felicidade está na simplicidade da vida cotidiana, simbolizada pela 'cabrocha, o luar e o violão'. A música é um retrato da vida nas favelas do Rio de Janeiro, com suas dificuldades e belezas, e um lembrete de que a felicidade muitas vezes reside nas coisas mais simples.

Numa visita ao poeta Guilherme de Almeida, em 1935, Sílvio Caldas mostrou-lhe uma canção inédita, intitulada "Foste a Sonoridade Que Acabou". Terminada a apresentação, a canção recebeu um novo nome: "Chão de Estrelas". Aconteceu a mudança por sugestão de Guilherme, tomado de súbito entusiasmo pelos versos, que eram de Orestes Barbosa.

Sobre o fato, ele escreveria trinta anos depois (em crônica incluída no livro Chão de Estrelas, de Orestes): "Nem de nome eu conhecia o autor. Mas o que então dele pensei e disse, hoje o repito: uma só dessas duas imagens - o varal das roupas coloridas e as estrelas no chão (... ) - é quanto basta para que ainda haja um poeta sobre a terra".

Mas não pãra em Guilherme de Almeida o fascínio despertado por "Chão de Estrelas" entre nossos poetas. Em 1956, numa crônica em louvor a Orestes, Manuel Bandeira terminava assim: "Se se fizesse aqui um concurso (...) para apurar qual o verso mais bonito de nossa língua, talvez eu votasse naquele de Orestes: ‘tu pisavas os astros distraída..."'.

Composto por Sílvio Caldas sobre um poema em decassílabos - que Orestes relutou em consentir que fosse musicado -, "Chão de Estrelas" é a obra-prima da dupla, que produziu um total de quinze canções, a maioria de muito boa qualidade ("Quase Que Eu Disse", "Suburbana", "Torturante Ironia" etc.). Essas composições cantam amores perdidos ou impossíveis, tratados do ponto de vista masculino e quase sempre localizados em cenários urbanos arranha-céus, apartamentos, cinemas... Embora tenha se destacado no seu lançamento em 1937, "Chão de Estrelas" só se tornaria um sucesso nacional na década de 1950, quando Sílvio Caldas a gravou pela segunda vez. 

Fontes: 

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Ademar Macedo (Ramalhete de Trovas) 25

 

A. A. de Assis (Olha o miúdo de porco…)

Fico pensando no como eram ao mesmo tempo simples e ingênuas as coisas naquele velho e bom tempo de pioneirismo

Era o cotidiano refrão do bucheiro desde bem cedinho pilotando sua carrocinha puxada a burro nas ruas da Maringá recém-nascida. Quem num por acaso me fez lembrar disso foi o mestre desenhista e cartunista Kaltoé. Ele era ainda um garotinho, mas diz que se lembra bem.

Fico pensando no como eram ao mesmo tempo simples e ingênuas as coisas naquele velho e bom tempo de pioneirismo. O bucheiro trazia não se sabe de onde sua vendinha ambulante, oferecendo bucho, tripa, fígado. Não só de porco, mas também de bode, carneiro e os de-dentro de galinha, pato, marreco, mais umas comidinhas várias: torresmo, tripa, linguiça, pastéis, bolinhos, biscoitos, cocadas. Ninguém perguntava quais os cuidados de higiene havidos no trato da mercadoria. O bucheiro embrulhava as porções num papel grosso, todo mundo comprava, cozinhava, punha no prato, mandava ver.

Era assim também com o pão e o leite. O padeiro atendia os clientes avulsos no carrinho e deixava o pão nas portas dos que pagavam por mês. O leiteiro trazia o “suco de vaca” numa barrica com uma torneirinha. Os fregueses traziam caneco, panela ou caçarola e levavam o produto para casa em estado natural – cruzinho e gordinho. Hoje algo assim seria inacreditável. No mínimo daria escândalo, com direito a virar notícia de rádio, jornal e tevê.

No entanto, até a primeira metade do século 20, isso era comum na maioria das cidades, principalmente nos lugares novos, como era o caso de Maringá. Ou as pessoas tinham maior dosagem de anticorpos ou os possíveis vírus e bactérias eram menos perversos.

Aqui (Maringá) começou a mudar nos meados de 1960, quando a população deu sinais de que era hora de botar ordem nesse tipo primitivo de comercialização. Afinal Maringá já era uma cidade bem crescidinha; não podia mais aceitar um atraso desses. Campanhas da imprensa, debates nos clubes de serviços, manifestações de médicos, pressão daqui, pressão dali, enfatizando a urgência de alguma medida proibindo a venda de leite cru.

Todavia, como de praxe acontece em toda mudança de costumes, havia também gente que não queria mudar coisa alguma, resultando daí um quiproquó que rendeu inclusive exaltadas discussões na Câmara de Vereadores.  

Produtores e vendedores de leite, no início, ficaram também meio divididos, porém acabaram chegando a um consenso. Reuniram-se, debateram, avaliaram os prós e os contras e por fim reconheceram a real necessidade de entrar na era moderna.

Criou-se a Cooperativa de Laticínios e o produto passou a ser pasteurizado e distribuído nos conformes do que a higiene exige. Primeiro em garrafas de vidro, depois em saquinhos e finalmente em caixinhas, como se faz ainda hoje.  

O bucheiro teve igualmente que aposentar sua carrocinha. Carnes e miúdos na rua, nunca mais. Só nos açougues e sujeitos à indispensável fiscalização oficial. 

(Crônica publicada no Jornal do Povo)

Dicas de Escrita (O uso de pseudônimos para o escritor)

texto de Marcelo Spalding
A escolha do nome para um escritor parece simples, mas não é. Muitos alunos entram em crise existencial na hora de escolher o nome para sua primeira participação em coletânea. Eu mesmo só adotei de vez o Marcelo Spalding no meu segundo livro (meu nome completo é Marcelo Spalding Perez, e meu pai não ficou muito feliz de eu ter aberto mão do nome Perez).

Mas há casos que são mais complicados do que uma simples escolha de sobrenome: quando a pessoa não quer ser identificada e escolhe usar um pseudônimo.

Eu diria que há dois casos de pseudônimos: o primeiro é quando a pessoa escolhe o pseudônimo por uma questão comercial, como uma marca. Ela acredita que o pseudônimo vai ser melhor do que usar o nome dela pessoal, às vezes até as pessoas ao redor já conhecem ela por esse pseudônimo. Tony Ramos, por exemplo, é o pseudônimo do grande ator chamado Antônio de Carvalho Barbosa. O nome de nascimento da Xuxa é Maria da Graça Meneghel. E por aí vai, são pessoas que adotam esse nome artístico como sendo seu. Caso ela vá criar uma rede social, vai criar com nome artístico, as pessoas do seu convívio social a conhecem com nome artístico, então este caso é um uso de pseudônimo em substituição ao nosso nome original.

Outro caso é quando a pessoa não quer ser identificada pelos leitores, quer usar um pseudônimo para não misturar sua carreira de escritora com sua vida pessoal, profissional ou acadêmica, pois acredita que terá prejuízo em caso de misturá-las. O caso mais famoso é o de Fernando Pessoa, que foi além e criou os heterônimos (personalidades próprias para cada pseudônimo que usava).

Hoje, em tempos de rede social e grande interesse pela figura do autor, por vezes maior do que pela obra, acredito que um autor iniciante só deve usar esta estratégia quando o trabalho que faz ou a vida que ela leva é incompatível com a produção literária que vai produzir. Por exemplo, uma professora de escola infantil que planeja publicar romances de literatura erótica. Ou uma pessoa que trabalha em uma posição vulnerável, como promotor de justiça ou repórter investigativo, e não costuma aparecer em redes sociais por questões de segurança. Mas são situações muito específicas, não é a regra.

Mais comum é que a pessoa opte por preservar sua identidade por medo da reação de colegas, amigos ou familiares a seu tipo de literatura. Sim, a pessoa pode em uma empresa, universidade ou até por questões familiares ou religiosas ficar pouco à vontade de tratar alguns temas que ela trataria na sua literatura, mas não no seu dia a dia. A pessoa pode estar disposta a escrever sobre sua sexualidade, por exemplo, mas não querer discutir esse tema em círculos pessoais, por exemplo. São casos em que criar um pseudônimo paralelo na nossa vida civil nos deixa mais confortáveis.

Não é uma decisão fácil porque não se trata apenas da escolha de um nome, vai afetar, por exemplo, a escolha do nosso perfil nas redes sociais (fundamental para divulgarmos nosso trabalho como escritor). Sempre digo que o ideal é usar o perfil do Instagram que a pessoa já tem, o ideal é usar o nome que a pessoa já é conhecida. Como essa escolha de Marcelo Spalding ou Marcelo Perez eu fiz com 16, 17 anos, estava começando, foi tranquilo escolher usar o Spalding e não usar o Perez. O meu irmão já é conhecido como Perez no banco onde ele trabalha há muitos anos, se de uma hora para outra ele quiser trocar o nome de Perez para Spalding, vai complicar a vida dele.

Então trocar esse nome no meio do caminho é confuso, mesmo que a pessoa não esconda seu rosto, mesmo que a pessoa não tenha algum desses dilemas mais sociais ou políticos envolvidos. Desde adolescente eu tenho gente que me deu aula quando era criança, que me acompanha em rede social, compra meus livros, então a gente traz uma história toda quando a gente começa a produzir literatura, e usar o nome pelo qual se é conhecido desde sempre ajuda muito. Especialmente, claro, quem tem algum nome forte para isso.

Há pessoas que têm nomes um pouco mais comuns. Eu tive uma aluna chamada Paula Fernandes, por exemplo. Quando ela colocava no Google o nome dela, só aparecia a cantora Paula Fernandes. Quem tem nomes que combinados funcionam como um nome específico, um nome sem tanta gente assim conhecida, um nome que no Google ainda consegue aparecer nas primeiras posições, com o qual no Instagram consegue ter um perfil, de preferência a ele.

Cuide apenas que você se sinta à vontade com esse pseudônimo, afinal o que se deseja é que sua carreira prospere e você precise lidar com ele por um longo tempo.

Recordando Velhas Canções (Ela é carioca)


(bossa nova, 1963) 

Compositor: Vinicius de Moraes

Ela é carioca, ela é carioca
Basta o jeitinho dela andar
E ninguém tem carinho assim para dar
Eu vejo na cor dos seus olhos
As noites do Rio ao luar
Vejo a mesma luz, vejo o mesmo céu
vejo o mesmo mar

Ela é meu amor, só me vê a mim
A mim que vivi para encontrar
Na luz do seu olhar, a paz que sonhei

Só sei que eu sou louco por ela
E pra mim ela é linda demais
E além do mais, ela é carioca
ela é carioca
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
A Essência do Rio de Janeiro em 'Ela É Carioca'
A música 'Ela É Carioca', composta por Vinicius de Moraes, é uma ode à mulher carioca e, por extensão, à cidade do Rio de Janeiro. A letra exalta a beleza, o charme e a singularidade da mulher nascida na cidade maravilhosa. A forma como ela anda, o carinho que ela oferece e a luz em seus olhos são descritos de maneira poética, refletindo a admiração e o amor do eu lírico por essa figura feminina. A mulher carioca é apresentada como um símbolo de tudo o que há de belo e encantador no Rio de Janeiro.

Vinicius de Moraes, um dos maiores poetas e compositores brasileiros, utiliza a mulher carioca como uma metáfora para a própria cidade. Através dos olhos dela, ele vê as noites do Rio ao luar, o mesmo céu e o mesmo mar. Essa visão romântica e idealizada do Rio de Janeiro é uma característica marcante na obra de Vinicius, que sempre buscou capturar a essência da cidade em suas composições. A música, portanto, não é apenas uma declaração de amor a uma mulher, mas também uma celebração da cultura e da paisagem carioca.

Além disso, a canção destaca a relação íntima e pessoal entre o eu lírico e a mulher carioca. Ele viveu para encontrá-la e encontra paz na luz do seu olhar. Essa conexão profunda e emocional reforça a ideia de que a mulher carioca, e por extensão o Rio de Janeiro, é uma fonte de inspiração e felicidade. A repetição da frase 'Ela é carioca' ao longo da música enfatiza essa identidade única e especial, tornando a canção um verdadeiro hino de amor à cidade e às suas mulheres.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

José Feldman (Versejando) 149

 

Wanda de Paula Mourthé (Trovas em preto e branco)


1
A realidade transponho
e vivo em mundo ideal...
Quero as mentiras do sonho,
não as da vida real!
2
– Barata em pinga?! Que horror!
E a garçonete “sensata”:
– Mas não pediu o senhor
a cachaça mais barata?
3
Chega bêbado… sequer
distingue um rosto e malogra:
dá alguns tapas na mulher
e muitos beijos na sogra!
4
Esta angústia indefinida,
que sempre à noite me invade,
são sombras próprias da vida
ou disfarces da saudade?
5
Forçada a escolhas na vida
- teatro que não domino
fui marionete movida
pelos cordéis do destino!
6
Gente que escolhe sem tino
as propostas da existência,
quando erra, culpa o destino
pela própria incompetência.
7
Meu diário! Em tuas folhas
morrem desejos sem fim...
Pago o preço das escolhas
que outros fizeram por mim.
8
Na feira de antiguidade,
ao ancião combalido
perguntam, não sem maldade:
-Vem comprar ou ser vendido? 
9
O destino traiçoeiro
separou-nos, sem piedade,
mas o amor fez do carteiro
o porta-voz da saudade.
10
Partiu... nem disse o motivo,
e eu, da saudade à mercê,
estou vivo, mas não vivo,
pois não vivo sem você.
11
Tanto amor e afinidade
entre nós dois, já se vê,
que perdi a identidade:
eu sou eu... ou sou você?
12
Volto à capela em que, um dia
me esperaste ao pé do altar...
E hoje a saudade, em magia,
me espera no teu lugar...

As Trovas de Wanda em Preto & Branco
por José Feldman

SIGNIFICADO DAS TROVAS; TEMÁTICA E RELAÇÃO COM LITERATOS DE DIVERSAS ÉPOCAS

Trova 1. Mundo Ideal vs. Realidade
A trovadora expressa um anseio por escapar das duras verdades da vida cotidiana, preferindo as ilusões e mentiras reconfortantes dos sonhos. Essa oposição entre o ideal e o real reflete uma busca por significado e felicidade em um mundo muitas vezes cruel.

Fernando Pessoa (Portugal): "Tabacaria" e "Autopsicografia" exploram a busca por realidades alternativas e a criação de personas.

Adélia Prado: "A Casa" e "Oração" refletem a busca por um sentido mais profundo na vida e a valorização do sonho.

Walt Whitman (EUA): "Song of Myself" celebra a liberdade e a individualidade, criando um mundo de possibilidades que contrasta com as limitações da vida cotidiana.

Charles Baudelaire (França): "A Une Passante" reflete sobre a efemeridade e a busca por beleza em meio ao desencanto da vida urbana, capturando a tensão entre ideal e real.

Trova 2. Humor e Crítica
A cena com a garçonete revela a ironia da situação com humor, destacando uma crítica social sobre as condições de vida e as expectativas de consumo. A pergunta retórica sobre a bebida mais barata expõe a absurdidade das escolhas feitas em momentos de necessidade.

Gregório de Matos: "Agradecimento" utiliza humor e crítica social.

Marcelino Freire: "Contos Negreiros" aborda a crítica social com um tom irônico.

T.S. Eliot (Inglaterra): "The Love Song of J. Alfred Prufrock" utiliza humor e ironia para criticar a sociedade e as expectativas, refletindo as absurdidades do cotidiano.

Dorothy Parker (EUA): Em seus poemas e contos, frequentemente satiriza as convenções sociais, abordando com humor as dificuldades da vida moderna.

Trova 3. Violência e Confusão
Trova humorística onde a embriaguez é um símbolo da confusão e do desespero nas relações. A imagem do homem que confunde a sogra com a esposa ilustra a desorientação emocional e a violência que pode surgir em ambientes familiares, sublinhando a fragilidade das dinâmicas pessoais.

Alberto de Oliveira: "O Último Beijo" fala sobre a confusão emocional e as consequências do amor.

Hilda Hilst: "A Obscena Senhora D" lida com a brutalidade nas relações.

Sylvia Plath (EUA/Inglaterra): "Daddy" explora a violência emocional e a confusão, trazendo à tona a complexidade das relações familiares e o impacto psicológico.

Charles Bukowski (EUA): "The Most Beautiful Woman in Town" retrata a brutalidade das relações e a autodestruição que pode surgir da embriaguez e da

Trova 4. Angústia e Saudade
A angústia é apresentada como uma presença constante, questionando se essas sombras são reflexos da vida ou da saudade. Essa dualidade sugere que a dor da ausência é intrínseca à experiência humana, revelando um estado emocional profundo.

Álvares de Azevedo: "Noite de Luar" fala sobre a melancolia e a saudade.

Marina Colasanti: "A Mulher que Aprendeu a Ver" reflete sobre a angústia e a memória.

Octavio Paz (México): "Piedra de Sol" explora a angústia e a busca por significado, ressoando com as inquietações presentes nas trovas de Mourthé.

Emily Dickinson (EUA): "I felt a Funeral, in my Brain" enfatiza a angústia e a introspecção, refletindo sobre a própria condição humana e a saudade da vida.

Paul Verlaine (França): "Chanson d'automne" expressa melancolia e saudade, capturando a passagem do tempo e a dor da perda.

Trova 5. Marionete do Destino
A metáfora da marionete sugere a falta de controle sobre os próprios destinos. A autora se sente movida por forças externas, o que gera um sentimento de impotência diante das escolhas que a vida impõe. Essa ideia ressalta a inevitabilidade das circunstâncias que moldam nossas vidas.

Luís de Camões (Portugal): "Os Lusíadas" lida com o destino e o controle sobre a própria vida.

Alice Ruiz: "A Bússola" explora o tema das escolhas e do destino.

Robert Frost (EUA): "The Road Not Taken" aborda a ideia de escolhas e como elas moldam nosso destino, refletindo a luta entre livre-arbítrio e destino.

Alfred Tennyson (Inglaterra): "The Charge of the Light Brigade" explora o tema do destino inevitável, onde os personagens são tragicamente levados a seguir caminhos que não escolheram.

Trova 6. Responsabilidade e Destino
A crítica à forma como as pessoas frequentemente culpam o destino por suas falhas revela uma reflexão sobre a responsabilidade pessoal. A autora destaca a tendência humana de transferir a culpa, sugerindo que a verdadeira competência reside na capacidade de reconhecer e aprender com os próprios erros.

Machado de Assis: "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e "Dom Casmurro" abordam a responsabilidade pessoal e suas consequências.

Fábio de Melo: "A Vida é uma Viagem" e "As Coisas que Perdemos" discutem a responsabilidade nas escolhas da vida.

Langston Hughes (EUA): "Harlem" questiona o que acontece com os sonhos não realizados, refletindo sobre a responsabilidade pessoal em relação ao destino.

John Keats (Inglaterra): "Ode to a Nightingale" reflete sobre a fragilidade da vida e a necessidade de aceitar as consequências de nossas escolhas.

Trova 7. Diário e Desejos
O diário se torna um espaço onde os desejos não realizados ganham vida, simbolizando a frustração e a influência das decisões alheias. A ideia de "pagar o preço" das escolhas de outros reflete a luta interna entre o desejo pessoal e as imposições externas.

Cecília Meireles: "Motivo" expressa a luta entre desejos e a realidade. "Romanceiro da Inconfidência" explora as escolhas e a busca por liberdade, semelhante ao discurso de Mourthé sobre o destino.

Jorge Luis Borges (Argentina): Em seus contos e poemas, frequentemente reflete sobre o destino, as escolhas e as consequências, alinhando-se com a crítica de Mourthé sobre a responsabilidade em relação ao próprio destino.

Anne Sexton (EUA): "The Awful Rowing Toward God" explora a confissão e os desejos não concretizados, abordando a busca por significado.

Trova 8. Antiguidade e Ironia
A feira de antiguidades provoca reflexões sobre o valor da vida e a transitoriedade das coisas. A pergunta sobre comprar ou ser vendido sugere uma crítica à condição humana, questionando o que realmente valorizamos e o que estamos dispostos a sacrificar.

Olavo Bilac: "O Caçador de Esmeraldas" discute a passagem do tempo e o que se perdeu.

Mário Quintana: "A Rua dos Cataventos" e "O Aprendiz de Feiticeiro" falam sobre a ironia da vida e suas transições.

Marcel Proust (França): "Em Busca do Tempo Perdido" Proust reflete sobre a memória e o valor do passado, dialogando com a ironia da vida e do que valorizamos.

Philip Larkin (Inglaterra): "An Arundel Tomb" aborda a transitoriedade da vida e a ironia do que permanece, questionando o valor das coisas.

Trova 9. Amor e Separação
A dor da separação é um tema central, onde o amor se transforma em saudade. A figura do carteiro como mensageiro da dor simboliza a comunicação da ausência, enfatizando como o amor pode persistir mesmo na separação física.

Vinícius de Moraes: "Soneto de Separação" e "Eu Sei Que Vou Te Amar" captura a essência da dor do amor perdido, refletindo a saudade presente em Mourthé.

W.H. Auden (Inglaterra): "Funeral Blues" expressa a dor da perda e a saudade, ressoando com a experiência do amor e da separação.

Trova 10. Saudade e Existência
A luta entre estar vivo e sentir-se vivo retrata a experiência de viver sem a presença do outro. Essa tensão entre a existência física e a conexão emocional ressalta a profundidade da saudade, que pode tornar a vida vazia.

Carlos Drummond de Andrade: "Quadrilha" e "No Meio do Caminho" abordam a saudade e a existência.

Alfonsina Storni (Argentina): Em poemas como "Peso Ancestral" fala da angústia existencial e a luta interna das mulheres.

Charles Dickens (Inglaterra): "A Tale of Two Cities" é sobre a vida e a morte, a saudade e a luta pela existência em tempos difíceis.

Robert Frost (EUA): Em "Stopping by Woods on a Snowy Evening" medita sobre a vida, a morte e o que significa realmente viver.

Trova 11. Identidade e União
A confusão entre as identidades dos amantes sugere uma união tão profunda que desafia a noção de individualidade. Essa identificação mútua reflete a intensidade do amor, onde os limites entre duas pessoas se tornam indistintos.

O Soneto de Luís de Camões "Amor é fogo que arde sem se ver" explora a fusão de identidades no amor.

Marcelino Freire, com "Luz" fala sobre a conexão entre as pessoas.

Clarice Lispector: Embora seja mais prosas, suas reflexões sobre a identidade e a subjetividade em obras como "A Paixão Segundo G.H." ecoam as preocupações de Mourthé sobre a busca por identidade nas relações.

Nicanor Parra (Chile): Com seu "antipoema," desafia conceitos tradicionais de identidade e amor, refletindo sobre a complexidade das relações.

John Donne (Inglaterra): "A Valediction: Forbidding Mourning" contém a ideia de que dois amantes são um só, refletindo a união e a fusão da identidade.

E.E. Cummings (EUA): Em "I carry your heart with me" a interconexão profunda entre amantes captura a essência da identidade compartilhada.

Trova 12. Memórias e Expectativas
O retorno à capela é carregado de nostalgia, simbolizando o espaço onde a saudade habita. A expectativa da saudade no lugar do outro sugere que a memória é uma forma de presença, onde o passado se torna um espaço emocional contínuo.

Braulio Tavares: "Inquietação" lida com a nostalgia e as memórias.

Adélia Prado: Em sua obra, explora a memória e a vida cotidiana, refletindo sobre como as experiências moldam a identidade e as relações, de maneira similar à abordagem sa trovadora.

César Vallejo: "Os Heraldos Negros" explora a dor da ausência e a memória.

Mario Benedetti (Uruguai): Em poemas como "Te Quiero" fala sobre amor e lembranças, abrangendo a essência da saudade. Suas reflexões sobre o passado se conectam com a nostalgia presente nas trovas de Mourthé.

Marcel Proust (França): Novamente, Proust é fundamental, com sua exploração da memória em "Em Busca do Tempo Perdido" onde a saudade é uma constante na reflexão sobre o passado.

Walt Whitman (EUA): Em "When Lilacs Last in the Dooryard Bloom'd" fala sobre memória e perda, refletindo a conexão entre passado e presente.

Gabriela Mistral (Chile): "Sonetos da Morte," aborda a perda e a saudade de forma tocante, semelhante à forma como Mourthé explora a ausência e a memória.

Esses poetas e suas obras ajudam a contextualizar as trovas de Wanda de Paula Mourthé, mostrando como temas universais de amor, saudade, identidade e a condição humana são explorados em diferentes tradições literárias. Essa interconexão destaca a riqueza da experiência poética e a relevância contínua de tais temas ao longo do tempo e das culturas.

INFLUÊNCIAS NAS TROVAS DE MOURTHÉ

A sensibilidade e a intensidade emocional da poesia romântica, especialmente de poetas como Álvares de Azevedo e Castro Alves, são evidentes nas suas trovas, que frequentemente abordam temas como amor, saudade e melancolia.

A ruptura com formas tradicionais e a busca por novas expressões poéticas, características do modernismo brasileiro, influenciam sua linguagem. Autores como Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade podem ser vistos como referências.

Poetas contemporâneos, como Adélia Prado e Hilda Hilst, também têm um papel significativo nas suas influências, especialmente em relação à exploração da subjetividade e das questões femininas.

A abordagem de temas de gênero e a busca por uma voz feminina forte em suas obras são influenciadas pelo movimento feminista, refletindo as lutas e experiências das mulheres na sociedade.

Elementos da música popular brasileira e do folclore influenciam a musicalidade de sua poesia, trazendo uma cadência lírica que ressoa com as tradições culturais do Brasil.

Suas vivências pessoais e emocionais, como a relação com a saudade, amor e a passagem do tempo, são fontes fundamentais de inspiração, tornando sua obra íntima e reflexiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As trovas de Wanda de Paula Mourthé constituem uma teia poética que explora as complexidades da experiência humana. Cada trova revela uma profunda introspecção sobre temas universais como amor, saudade, identidade, escolhas e a condição humana. Esses temas não apenas repercutem nas vivências individuais, mas também capturam as nuances das relações sociais e emocionais que permeiam a vida cotidiana.

As trovas abordam a dualidade entre o ideal e a realidade, revelando um desejo de escapar das duras verdades da vida por meio das ilusões do sonho. A ironia e a crítica social presentes em suas palavras lançam luz sobre os absurdos do cotidiano, enquanto a angústia e a saudade permeiam a obra, convidando o leitor a pensar sobre a passagem do tempo e as perdas inevitáveis. Também explora a vulnerabilidade humana ao se sentir controlada pelas circunstâncias, questionando a responsabilidade nas escolhas que moldam o destino.

As influências da trovadora podem ser vistas em diálogos com poetas brasileiros como Cecília Meireles e Adélia Prado, que também revelam a profundidade emocional e a experiência feminina. No contexto internacional, a obra de Mourthé encontra ecos em poetas como Pablo Neruda e Sylvia Plath, que abordam temas como amor e angústia de maneira intensa e pessoal. Esses diálogos intertextuais enfatizam a universalidade das emoções e experiências retratadas, tornando sua obra relevante e conectada a tradições poéticas mais amplas.

A relevância das trovas se estende além do âmbito literário; elas oferecem uma reflexão crítica sobre a realidade contemporânea. Em um mundo frequentemente marcado por incertezas e desconexões, suas palavras evocam a necessidade de introspecção e empatia. A forma como ela lida com a saudade, a identidade e as relações interpessoais ressoa profundamente com as experiências de indivíduos em busca de sentido e conexão.

Para as futuras gerações, a sua obra serve como um convite à exploração de emoções e à valorização da subjetividade. Em tempos de superficialidade e pressa, as trovas lembram a importância de refletir sobre a vida, as escolhas e os laços que formamos. Através de sua poesia, não apenas documenta a condição humana, mas também oferece um espaço para que leitores de todas as idades se conectem com suas próprias experiências, promovendo um diálogo contínuo entre passado, presente e futuro.

Em suma, as trovas de Wanda de Paula Mourthé são um testemunho da riqueza da experiência humana, uma obra que transcende o tempo e o espaço, convidando todos a uma profunda reflexão sobre o que significa viver, amar e lembrar.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. IA Open. vol.1. Maringá/PR: Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Trovadores Homenageados no Blog e suas trovas em preto & branco até 18 de setembro

01 – Arlindo Tadeu Hagen  
EXCLUÍDO
02 – A. A. de Assis
03 – Carolina Ramos
04 – Cézar Augusto Defilippo
05 – Domitilla Borges Beltrame
06 – Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
07 – Edmar Japiassú Maia
08 – Edy Soares
09 – Fabiano Wanderley
10 – Filemon Francisco Martins
11 – Flávio Roberto Stefani
12 – Jérson Brito
13 – Jessé Fernandes Nascimento
14 – Lucília Alzira Trindade Decarli
15 – Luiz Antonio Cardoso
16 – Mara Melinni
17 – Messias da Rocha
18 – Nemésio Prata Crisóstomo
19 – Professor Garcia
20 – Renata Paccola
21 – Renato Alves
22 – Rita Marciano Mourão
23 – Therezinha Dieguez Brisolla
24 – Vanda Fagundes Queiróz
25 – Wanda de Paula Mourthé

Ao todo são 50 trovadores. Após a publicação do último haverá um link para acessar o e-book com todos os trovadores, de distribuição gratuita.

Até lá, acesse no Blog, no link

Antonio Juraci Siqueira (Ela)

Não me pergunte seu nome, quem é, de onde veio nem para onde foi. Não posso precisar nem mesmo a primeira vez que Ela apareceu. Tampouco deixou, ao partir, qualquer coisa que pudesse identificá-la. Chegava sempre sem aviso trazendo a noite nos cabelos negros e o dia na concha dos olhos claros, repletos de mar e sol. Sua visita era inconstante. Às vezes vinha dia após dia para sumir por semanas, meses até. De repente chegava. Chegava sem-mais-porquê e ficava ali, diante de mim. Indiferente a tudo, sem dizer nada. Uma palavra sequer. Ou talvez dissesse tudo através dos olhos enormes e impenetráveis. E eu, então, quedava-me mofino. Sem ação. Mundiado. Impotente. Sem forças para esboçar a menor das atitudes. Apenas ficávamos. Os dois. Um espreitando o outro. Meio de tocaia, feito caça e caçador. Às vezes Ela parecia sorrir. Sorriso de Mona Lisa. Enigmático. Nem mesmo sei se era sorriso. Parecia escárnio, fingimento, mágoa, desprezo ou sei-lá-o-quê.

Depois começou furtivamente a surrupiar pequenas coisas de mim. Um dia pegava uma palavra que eu havia acabado de rabiscar ou um verso inteiro. Outra hora, por qualquer descuido, roubava um gesto, um trejeito, um grão de voz. Eu fazia que não via para não melindrá-la, irritá-la, sei lá. Com o passar do tempo Ela foi tornando-se audaciosa e passou a bulir nos meus sentimentos. A cavoucar minha alma. Mexer no baú das minhas intimidades: das emoções vividas às empoeiradas recordações. Chegou mesmo a apropriar-se de um punhado de sonhos que eu mantinha guardados a sete chaves. E isso à luz do dia e ante meus olhos estarrecidos. E eu ia deixando. Talvez por medo de uma inesperada reação ou porque, apesar de tudo, não quisesse perdê-la. Sem mais, nem menos, amanhecia festiva, radiante, olhos brilhantes e juvenis. Anoitecia assim para alvorecer com cara de inverno. Fechava-se em si mesma como se vida ali não existisse. Estátua banhada de sombra e luz. Tudo isso foi, pouco a pouco, minando minha alma, corroendo meus pensamentos, embaralhando meus sentimentos a ponto de não mais saber ao certo o que sentia por Ela: amor, ódio, pena, temor, mágoa, desejo... É, talvez fosse desejo. Um desejo louco de possuí-la. Desejo desabrochado na manhã que a vi despida através da porta entreaberta do meu delírio. Bela! Indescritivelmente bela! Ela conhecia minhas fraquezas e, maliciadamente, alimentava minhas fantasias com migalhas de concessões. Às vezes chegava aflorando o generoso decote para que eu pudesse devorá-lo com os olhos famintos. Gostava de sentar-se diante de mim cruzando e descruzando, maliciosamente as pernas enquanto corria a língua insinuante entre os lábios carnudos como num convite. Nunca a toquei. Em sua presença ardia em febre e cio mas uma força misteriosa, na mesma proporção da que me prendia a Ela, dela me repelia. Até que um dia, da maneira que chegara, começou a partir. Começou é o termo exato. A primeira coisa a desaparecer foi o seu sorriso. Em seguida seus olhos foram, lentamente, apagando, apagando até desaparecerem por completo. Seus lábios, rosadamente belos, esmaeceram até nada mais restar além da saudosa lembrança. Por último - meu Deus! - seu decote, qual translúcido fantasma também evaporarou ante minhas retinas desgraçadamente exaustas. E foi assim: da mesma maneira que chegou, inexplicavelmente se foi. Mas não se foi sozinha: afundou-se em seus mistérios levando consigo parte de mim.

À época não atinava o porquê de sua presença. Hoje, depois de perder-me no emaranhado matagal dos seus mistérios, talvez saiba mais dEla do que de mim. Ou do pouco que restou de mim. Mas, ao contrário do que você deve estar pensando, não enlouqueci. Nunca estive tão lúcido quanto neste momento em que mal traço estas linhas. Apenas me escondo entre metáforas para que não descubras toda a verdade que permeia estes escritos. É que a verdade nem sempre é agradável aos olhos e ao coração. Mas não duvides de tudo nem te deixes seduzir pelas imagens, por mais belas que sejam. Ou como disse o poeta: “Põe tento nas ardilosas/armadilhas dos caminhos /que há mentiras que são rosas, /verdades que são espinhos” Isso posto, um aviso: não cortes a leitura ao meio pois na esquina da próxima página ou na curva da linha seguinte poderás encontrar a resposta para tuas inquietações. Ou, quem sabe, o caminho por onde Ela fatalmente te encontrará. Num instante preciso, do nada ( ou de tudo) Ela poderá aparecer. Talvez esteja agora mesmo te espreitando por detrás de uma palavra mal dita ou na entrelinha final desta insólita viagem aos confins de mim.

Dicas de Escrita (Como escrever em primeira pessoa) – 4, final

texto por Stephanie Wong Ken


MÉTODO 4 =Polindo a narrativa em primeira pessoa

1. Leia a parte em voz alta. 
Depois de completar um rascunho da história em primeira pessoa, leia-o em voz alta. 

Ouça bem cada frase da narrativa. 

Veja se você está repetindo “eu” com muita frequência. 

Preste atenção na voz do narrador em primeira pessoa e veja se parece consistente ao longo do
texto.

Preste atenção também no tempo verbal da história. A história não pode mudar do passado para o presente e vice-versa. Ela deve se manter no mesmo tempo verbal sempre.

2. Refine a escolha de palavras e linguagem. 
Conforme revisa a sua história, veja se escolheu bem a linguagem e as palavras. 

Procure palavras que possam ser substituídas por sinônimos melhores. 

Verifique se tudo é contado de maneira concisa e clara. 

Confira se a escolha de palavras faz jus ao narrador da história.

3. Mostre sua história para outras pessoas. 
Peça para as pessoas lerem e darem uma opinião. Fale com amigos e colegas e peça para dizerem o que acham que pode deixar a história melhor.

Você também pode mostrar a história para um grupo de literatura para ver quais as opiniões e críticas deles. 

Esteja aberto aos comentários para melhorar cada vez mais a sua narrativa. 

Referências
1. http://thewritepractice.com/filter-words/
2. http://thewritepractice.com/filter-words/
3. https://owl.english.purdue.edu/owl/resource/560/15/
4. http://www.nownovel.com/blog/first-person-narrative-7-tips/
5. http://thewritepractice.com/filter-words/
6. http://www.helpingwritersbecomeauthors.com/most-common-mistakes-series-isyour-2/#
7. http://examples.yourdictionary.com/examples-of-writing-in-first-person.html
8. http://www.nownovel.com/blog/first-person-narrative-7-tips/
9. http://www.nownovel.com/blog/first-person-narrative-7-tips/
10. http://www.nownovel.com/blog/first-person-narrative-7-tips/
11. http://www.nownovel.com/blog/first-person-narrative-7-tips/

Fonte: Wikihow. Acesso em 13.09.2024

Recordando Velhas Canções (Serenata do Adeus)


(canção, 1958) 

Compositor: Vinícius de Moraes

Ai, a lua que no céu surgiu
Não é a mesma que te viu
Nascer dos braços meus
Cai a noite sobre o nosso amor
E agora só restou do amor
Uma palavra: Adeus

Ai, vontade de ficar
Mas tendo que ir embora
Ai, que amar é se ir morrendo pela vida afora
É refletir na lágrima
Um momento breve
De uma estrela pura, cuja luz morreu

Ah, mulher, estrela a refulgir
Parte, mas antes de partir
Rasga o meu coração
Crava as garras no meu peito em dor
E esvai em sangue todo amor
Toda a desilusão

Ai, vontade de ficar
Mas tendo que ir embora
Ai, que amar é se ir morrendo pela vida afora
É refletir na lágrima

Um momento breve de uma estrela pura
Cuja luz morreu
Numa noite escura
Triste como eu

A Melancolia do Fim em 'Serenata do Adeus'
A música 'Serenata do Adeus', escrita pelo poeta e compositor Vinicius de Moraes, é uma obra que transborda melancolia e a dor do término de um amor. A letra utiliza a imagem da lua, um elemento recorrente na poesia lírica para falar de mudanças e ciclos, para simbolizar que o amor que existia entre os amantes já não é mais o mesmo. A lua que 'não é a mesma que te viu nascer dos braços meus' sugere uma transformação que ocorreu tanto no relacionamento quanto nos próprios indivíduos envolvidos.

A canção prossegue com a expressão da inevitabilidade da despedida, mesmo havendo o desejo de permanecer juntos ('vontade de ficar, mas tendo que ir embora'). Vinicius de Moraes explora a ideia de que amar é um processo de constante sofrimento, uma morte lenta 'pela vida afora'. A metáfora da estrela que brilha por um momento e depois morre é uma poderosa imagem para representar a efemeridade do amor e a intensidade do sentimento que, embora forte, está fadado a se extinguir.

Por fim, a música termina com uma súplica dolorosa, onde o eu-lírico pede que a amada, comparada a uma estrela, parta, mas que antes deixe uma marca indelével de dor e desilusão. A 'Serenata do Adeus' é, portanto, um lamento pela perda, uma aceitação do fim e um reflexo sobre a natureza passageira do amor, tudo isso embalado na suavidade e na profundidade lírica características de Vinicius de Moraes.

"Esta é uma das raras composições em que o Poetinha Vinícius assina também a melodia. Foi composta em 1953, quando ele trabalhava na embaixada brasileira em Paris, capital da França. Em 1958, "Serenata do adeus" surgiu em dois registros: o de Elizeth Cardoso, pela Festa, no histórico LP "Canção do amor demais", e este, de uma cantora que então estreava em disco: a paulistana Isolda Corrêa Dias (1934-2000), que, inicialmente, adotou o pseudônimo de Morgana Cintra, depois reduzido para Morgana.

Sua gravação saiu pela Copacabana, em junho de 58, no 78 rpm , com sucesso absoluto, e também abriu seu primeiro LP, "Esta é Morgana". O maestro Osmar Milani (não Oscar!), que a acompanha com sua orquestra, pertenceu durante anos ao "staff" de Sílvio Santos" (Samuel Machado Filho).

Fontes:
Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. Vol. 1. Editora 34, 1997.