quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ernest Hemingway (1899 - 1961)

Ernest Miller Hemingway (Oak Park, Illinois, 21 de Julho 1899 — Ketchum, Idaho, 2 de Julho 1961) foi um escritor dos Estados Unidos da América.

Trabalhou como correspondente de guerra em Madrid durante a Guerra Civil Espanhola e a experiência inspirou uma de suas maiores obras, Por Quem os Sinos Dobram. Ao fim da Segunda Guerra Mundial se instalou em Cuba.

Biografia

Segundo dos seis filhos de Grace Hall e Clarence Edmonds Hemingway, um clínico geral de Illinois que incutiu na criança o gosto pela caça e pesca. já na infância demonstra suas inclinações futuras. Ele gosta de ler e de passar os verões em uma casa de campo em Michigan, caçando e pescando. A família, de classe média – o pai é médico e a mãe, professora de Música – garante-lhe uma vida confortável.

Hemingway licencia-se na primavera de 1917 e, ao contrário do que seus pais esperavam, inicia-se como repórter no Kansas City Star, num trabalho "arranjado" pelo tio Tyler, amigo próximo do chefe de redação do jornal. Durante o tempo que ali permanece, adquire o estilo de escrita que mais tarde viria a influenciar sua ficção. Como jornalista, aos 18 anos, em Kansas City, o momento da despedida do pai, que o acompanha até a estação de trem, é reproduzido em uma passagem do clássico Por Quem os Sinos Dobram.

Hemingway era parte da comunidade de escritores expatriados em Paris, conhecida como "geração perdida", nome inventado e popularizado por Gertrude Stein. Levando uma vida turbulenta, Hemingway casou quatro vezes, além de vários relacionamentos românticos. Em 1952 publica "O Velho e o Mar", com o qual ganhou o prêmio Pulitzer (1953), considerada a sua obra-prima. Hemingway recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1954.

A vida e a obra de Hemingway tem intensa relação com a Espanha, país onde viveu por quatro anos. Uma breve passagem, mas marcante para um escritor americano que estabeleceu uma relação emotiva e ideológica com os espanhóis. Em Pamplona, meados do século XX, fascinado pelas touradas, a ponto de tornar-se um toureiro amador, transporta essa experiência para dois livros: O sol também se levanta (1926) e Por quem os sinos dobram (1940). Ao cobrir a Guerra Civil (1937) – como jornalista do North American Newspaper Alliance, não hesitou em se aliar às forças republicanas contra o fascismo.

Ainda muito jovem, decidiu ir à Europa pela primeira vez, quando a Grande Guerra assombrava o mundo (1918). Tentou alistar-se, mas foi preterido por ter um problema na visão. Decidido a ir à guerra, conseguiu uma vaga de motorista de ambulância na Cruz Vermelha. Na Itália, apaixonou-se pela enfermeira Agnes Von Kurowsky, sua inspiração na criação da heroína de Adeus às armas (1929) – a inglesa Catherine Barkley. Atingido por uma bomba, retornou para Oak Park que, depois do que viu na Itália, tornou-se monótona demais.

A obra de Hemingway é, em parte, autobiográfica. Ele escreve sobre sua infância e juventude usando um alter-ego chamado Nick Adams; fala dos pais, do lugar onde nasceu, da convivência com os índios – tudo isso nos primeiros livros.

Hemingway retrata com maestria a história da qual também foi protagonista. Como combatente na Primeira Guerra Mundial, ativista na Guerra Civil Espanhola, viaja pela Europa no período entreguerras, vive em Cuba e, no fim da vida, faz safáris pela África. Nesse percurso, não apenas participa de guerras, como conhece de perto a vida artística da Europa das vanguardas, em plena efervescência da década de 20.

Com o fim da guerra, vai para os Bálcãs e para o Oriente Médio como correspondente de jornais norte-americanos. Essa experiência lhe serve de inspiração para um de seus contos mais obscuros, No Cais de Esmirna.

Recebe o Prêmio Pulitzer em 1950 e, em 1954, ganha o Nobel de Literatura. Nessa época, reside em Cuba, onde mora por 22 anos. É lá que escreve a obra-prima O Velho e o Mar. Em 1956, após a ascensão de Fidel Castro, Hemingway tem de deixar a ilha. Volta para a cidade natal, já com o quarto casamento desfeito, e o alcoolismo se agrava.

Muito do que se sabe da vida do escritor norte-americano é fruto de exageros e invenções do próprio Hemingway, preocupado em criar um mito ao redor de sua imagem. Encorpado, com 1,80 m de altura, foi caçador, pescador e até boxeador nas horas livres. Dizia que preferia beber e falar de touradas a conversar sobre literatura e costumava chamar para a briga críticos que o contrariavam.

Como disse Burgess, "Hemingway era, tanto quanto seus livros, uma criação, e uma criação bem inferior a eles". Algumas das histórias que contava eram mentiras deslavadas, como a de ter sido amante de Mata Hari durante a Primeira Guerra Mundial.

Outras, menos exageradas, foram construídas em cima de eventos reais. Ao sair de um avião em chamas na África, por exemplo, ele teria gritado, com uma garrafa de gim e um cacho de bananas nos braços: "Ando tendo muita sorte" (o acidente ocorreu em 1954 e lhe valeu ferimentos e queimaduras graves pelo corpo).

Casamentos

Volta à Europa (Paris), em 1921, recém-casado com Elizabeth Richardson, seu primeiro casamento, com quem teve um filho. Na ocasião, trabalhava para o Toronto Star Weeky. Para um escritor em início de carreira, a Paris dos anos 20 era o lugar certo. Hemingway se aproximou de outros principiantes: Ezra Pound (1885 – 1972), Scott Fitzgerald (1896 – 1940) e Gertrude Stein (1874 – 1940).

O seu segundo casamento (1927) foi com a jornalista de moda Pauline Pfeiffer. Com ela teve dois filhos. Em 1928, o casal decidiu morar em Key West, na Flórida. O escritor sentiu falta da vida de jornalista e correspondente internacional. O casamento com Pauline era instável. Nessa época conhece Joe Russell, dono do Sloppy Joe’s Bar e companheiro de farra. Já na década de 30, resolveu partir com o amigo para uma pescaria. Dois dias em alto-mar que terminaram em Havana, capital cubana, para onde voltava anualmente na época da corrida do agulhão (entre os meses de maio e julho). Hospedava-se no hotel Ambos Mundos, em plena Habana Vieja, bairro mais antigo da cidade que se tornava o lar do escritor, e os cenários que comporiam sua história e a da própria ilha pelos próximos 23 anos. Duas décadas de turbulências que teriam como desfecho a revolução socialista e o suicídio do escritor.

Em Cuba, o escritor se apaixonou por Jane Mason, casada com o diretor de operações da Pan American Airways e se tornaram amantes. Em 1936, novamente se apaixona, desta feita pela destemida jornalista Martha Gellhorn, motivo do segundo divórcio, confirmando o que predisse seu amigo, Scott Fitzgerald, quando eles se conheceram em Paris: “Você vai precisar de uma mulher a cada livro”. Assim, Hemingway partiu para a Espanha, onde Martha já estava e, em meio à guerra, os dois viveram um romance que resultou no seu terceiro casamento. Quando a república caiu e a Europa vivia o prenúncio de um conflito generalizado, Hemingway retornou para Cuba com Martha.

Em 1946, o escritor casa-se pela quarta e última vez com Mary Welsh, também jornalista, mas tímida e disposta a viver ao lado de um Hemingway cada vez mais instável emocionalmente.

Suicídio

Ao longo da vida do escritor, o tema suicídio aparece em escritos, cartas e conversas com muita freqüência. Seu pai suicidou-se em 1929 por problemas de saúde (diabetes) e financeiro (havia perdido muito dinheiro em especulações na Flórida). Sua mãe, Grace, dona de casa e professora de canto e ópera, o atormentava com a sua personalidade dominadora. Ela enviou-lhe pelo correio a pistola com a qual o seu pai havia se matado. O escritor, atônito, não sabia se sua mãe estava querendo que ele repetisse o ato do pai ou que guardasse a arma como lembrança.

Aos 61 anos e muito doente (hipertensão, diabetes, arteriosclerose, depressão e perda de memória) Hemingway acabou com a própria vida, assim como fizera seu pai.

Todas as personagens deste escritor se defrontaram com o problema da "evidência trágica" do fim. Hemingway não pôde aceitá-la. A vida inteira jogou com a morte, até que, na manhã de 2 de julho de 1961, em Ketchum (Idaho), tomou do fuzil de caça e disparou contra si mesmo.

Influenciou a escrita no século 20, com seu estilo econômico e direto. "Foi a fusão do artista sensível e original com o musculoso homem de ação que transformou Ernest Hemingway num dos maiores mitos internacionais do século 20", disse o escritor inglês Anthony Burgess (1917-93) em biografia a seu respeito.

"O Velho e o Mar", de 1952, é o último trabalho que Hemingway publicou em vida. Para muitos, é também a sua obra mais importante. Ela lhe valeu o Prêmio Pulitzer em 1953 e, no ano seguinte, foi decisiva para que o escritor ganhasse o Prêmio Nobel.

O livro é sobre Santiago, um pescador cubano, idoso e pobre. Seus companheiros acreditam que sua carreira está perto do fim. A única pessoa que ainda confia em suas habilidades é um garoto que o ajudara em outras ocasiões, mas que havia sido proibido pelos pais de o acompanhar em novas pescarias.

Disposto a recuperar a sorte e o prestígio, Santiago parte sozinho para o alto-mar, onde trava uma luta de três dias na caçada a um peixe. "Como o matador com seu touro, sente-se atraído por aquela criatura magnífica, de tal modo que, embora um tenha que matar o outro, não importa quem matará quem", escreve Burgess.

A caçada de Santiago aborda dois temas centrais de sua obra. A bravura, na luta do homem com a natureza, e a honra, que permanece intacta mesmo na hora da derrota. "O homem não foi feito para a derrota", escreve Hemingway, em um dos momentos mais importantes do livro. "Ele pode ser destruído, mas não derrotado."

Curiosidades

• Spruille Braden, que concordou em apoiá-lo. O escritor, então, reuniu um grupo de delatores (informadores) e passou a coordená-lo. Para o governo dos Estados Unidos, ele era o "agente 08". Washington ainda providenciou fundos para que ele reformasse seu iate, o Pilar, e navegasse pelos mares caribenhos à procura de submarinos alemães.

• A primeira vez em que um lote de documentos veio à luz, com informações sobre as atividades de Hemingway como agente secreto, foi em 1983. O biógrafo Jeffrey Meyers desentranhou dos arquivos do FBI um dossiê detalhado a respeito do escritor, mostrando que o poderoso órgão de inteligência, comandado na época por Edgar Hoover, tinha conhecimento das iniciativas de Hemingway – e as desaprovava, por considerá-lo simpatizante do comunismo. São relatórios assinados pelo agente Robert Leddy, com detalhes sobre o funcionamento da rede de espiões de Hemingway: "Em 30 de setembro de 1942 fui informado de que ele agora tem quatro homens operando em tempo integral e catorze colaboradores, entre eles barmen, garçons e outros. O custo é de 500 dólares por mês".

• O desejo de “escrever o que realmente aconteceu na vida real” sobre assuntos de relevância para a condição humana levou Hemingway aos mais diversos lugares do planeta: à Itália, durante a primeira guerra mundial; a Paris, quando a capital francesa era o centro literário e cultural do mundo; à Espanha, durante a guerra civil; à África; a Cuba; à China, durante a invasão japonesa; e à Inglaterra, durante a Segunda Guerra Mundial. Nestes lugares ele teve a oportunidade de tecer relatos de estilo jornalístico que se desdobram sobre temas centrais para a experiência humana no século vinte: a guerra, o crime, o medo da morte, o amor, a perda. Traçou assim um esboço do que preocupava e afligia as pessoas de sua geração e descreveu um mundo moderno que pode ser perigoso e muitas vezes nocivo e amoral.

Obras publicadas

Romances
• 1925 The Torrents of Spring
• 1926 The Sun Also Rises (O Sol Também Se Levanta)
• 1929 A Farewell to Arms (Adeus às Armas)
• 1937 To Have and Have Not (Ter e Não Ter)
• 1940 For Whom the Bell Tolls (Por Quem os Sinos Dobram)
• 1950 Across the River and Into the Trees (Do Outro Lado do Rio e Entre as Árvores)
• 1952 The Old Man and the Sea (O Velho e o Mar)
• 1962 Adventures of a Young Man(Aventuras de um Homem Jovem)
• 1970 Islands in the Stream (As Ilhas da Corrente)
• 1986 The Garden of Eden (O Jardim do Éden)

Não-ficção
• 1932 Death in the Afternoon
• 1935 Green Hills of Africa
• 1960 The Dangerous Summer
• 1964 A Moveable Feast (Paris é uma Festa)
• 2003 Ernest Hemingway Selected Letters 1917-1961
• 2005 Under Kilimanjaro

Contos e pequenas histórias
• 1923 Three Stories and Ten Poems
• 1925 In Our Time
• 1927 Men Without Women
• 1932 The Snows of Kilimanjaro
• 1933 Winner Take Nothing
• 1938 The Fifth Column and the First Forty-Nine Stories
• 1947 The Essential Hemingway
• 1953 The Hemingway Reader
• 1972 The Nick Adams Stories
• 1976 The Complete Short Stories of Ernest Hemingway
• 1995 Collected Stories

Fontes:
Revista História Viva, nº 46, pp. 28 a 33, Editora Duetto (2006)
http://www.klickescritores.com.br/pag_mundo/eua_ernest00.htm
FERRONI, Marcelo. Bravura e honra embalam "O Velho e o Mar". In http://biblioteca.folha.com.br/1/noticias/2003081601.html
Foto: http://www.jornallivre.com.br/

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