sexta-feira, 20 de novembro de 2009

José Neres (O “boom” da Literatura Maranhense”)


Não é nenhum exagero afirmar que até a terceira década do século XIX não se pode falar em literatura maranhense, embora haja registros históricos de produção poética no Maranhão, principalmente em São Luís. Tudo, porém, feito de forma assistemática, sem o mínimo interesse de atingir as demais regiões brasileiras.

Data de 1832 o poema que oficialmente dá início ao “boom” da literatura maranhense. Trata-se de “Hino à Tarde”, de autoria de Odorico Mendes. Sílvio Romero, declara sobre tal poema que nunca o pôde “ler sem boa e saudosa emoção”. A partir daí, o Maranhão, que era aparentemente uma terra sáfara para as letras começa a produzir uma boa quantidade de escritores de grande talento, chegando sua capital a receber o honroso epíteto de Atenas Brasileira, em homenagem à quantidade e à diversidade de valores intelectuais surgidos em tão pouco tempo.

Tão importante é a produção literária do Romantismo maranhense na vida literária brasileira que José Veríssimo, um dos mais exigentes críticos da literatura nacional, dedica todo o décimo primeiro capítulo de seu mais importante livro ao estudo dos valores artísticos do Maranhão, tecendo elogiosos comentários às publicações de Gonçalves Dias, João Lisboa, Sotero dos Reis, Odorico Mendes, Lisboa Serra e Franco de Sá. O título do referido capítulo não poderia ser mais sugestivo: “Gonçalves Dias e o Grupo Maranhense”.

Na mesma época, Sílvio Romero, em sua História da Literatura Brasileira, não poupa páginas ao escrever sobre os românticos maranhenses, tratando de forma especial a produção de Joaquim Serra, Trajano Galvão, Gentil Braga e Sousândrade, além de também estudar os nomes já assinalados por José Veríssimo. O ilustre crítico sergipano chama mesmo a afirmar que “ o Maranhão é uma de nossas províncias onde o espírito popular é mais vivaz”, mas reconhecendo também a diversidade cultural e intelectual da província, já que os escritores eram tão diferentes que “o laço que os prende é terem nascido na mesma terra e vivido quase todos no mesmo tempo”.

Mas não foram apenas os escritores citados acima que mereceram destaque dentre os tantos que participaram do Grupo Romântico Maranhense. Merecem citação também Maria Firmina dos Reis, nossa primeira escritora, autora do, infelizmente, quase desconhecido romance Úrsula; Antônio Henriques Leal, brilhante biógrafo, a quem se deve farto material sobre a vida e a obra dos principais intelectuais do século XIX; José Cândido de Morais, o Farol, combativo jornalista que, dono de um estilo vibrante, desafiou os poderosos da época; Joaquim Gomes de Sousa, um dos maiores matemáticos do Brasil; Belarmino de Matos, o famoso tipógrafo que imprimiu grande parte das obras de seus contemporâneos; e tantos outros intelectuais, que não se limitavam à arte literária, mas sim compunham um verdadeiro quadro cultural de múltipla abrangência.

Desse belo momento da história literária do Maranhão não restaram apenas saudades, mas também inúmeras obras que continuam despertando o interesse tanto dos que lêem por diversão como dos que pesquisam as letras nacionais. Além dos Cantos de Gonçalves Dias, do Guesa (de Sousândrade), do Pantheon Maranhense (de Henriques Leal), do Jornal de Timon (de João Lisboa) e das eruditas traduções de Odorico Mendes, muitas outras obras merecem leituras e estudos. É o caso de, por exemplo, de A Casca da Caneleira, novela organizada por Joaquim Serra, mas que foi escrita a 22 mãos, contando com capítulos escritos por Gentil Braga, Raimundo Filgueiras, Marques Rodrigues, Trajano Galvão, Sotero dos Reis, Henriques Leal, Dias Carneiro, Sabbas da Costa, Caetano Cantanhede, e Sousândrade, além do organizador do volume; do romance Úrsula, que marca um novo modo de abordar o negro na ficção e dos poemas sertanejistas de Trajano Galvão e Gentil Braga.

Também devem ser lidas as peças teatrais de Gonçalves Dias, principalmente Leonor de Mendonça, reconhecida por Décio de Almeida Prado como uma das melhores produções da dramaturgia nacional.

Aquele áureo período não mais voltará. Vale a pena, porém, como resgate do momento áureo do Maranhão, reproduzir algumas das palavras de José Veríssimo, ao comparar os poetas maranhenses do Romantismo com os fluminenses do mesmo período literário. O crítico paraense, após enumerar os cinqüenta e dois membros do nosso Grupo Romântico diz:”O que o situa e o distingue na nossa literatura e o sobreleva a essa mesma geração é a sua mais clara inteligência literária, a sua maior largueza espiritual. Os maranhenses não têm os blocos devotos, a ostentação patriótica, a afetação moralizante do grupo fluminense, e geralmente escrevem melhor que estes.”

Fonte:
José Neres. Literatura Maranhense. Disponível em http://joseneres.sites.uol.com.br/

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