quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Teatro de Ontem e de Hoje (Na Solidão nos Campos de Algodão)

Estréia, no Brasil, da peça de Bernard-Marie Koltès, encenada por Gilberto Gawronski, que encontra na economia de meios e na secura expressiva uma via de valorização do texto e da tensão dramática.

Em Na Solidão dos Campos de Algodão, o autor francês, como em outras obras, tematiza a solidão. Não há uma ação evidenciada - o texto é construído a partir de extensos monólogos e o conflito se estabelece até o final pela contraposição desses discursos que subentendem dois lados complementares de uma situação. São dois homens sem nome e sem referências passadas explícitas, que expõem, por meio da palavra, um jogo feito apenas de sugestões ao longo de cada monólogo. Tráfico de droga ou de sexo, o texto não explicita as motivações nem o local onde se dá o encontro.

As qualidades poéticas do texto são ressaltadas pela tradução de Jacqueline Laurence. Na montagem de Gilberto Gawronski, o cenário trata apenas de circunscrever o espaço e neutralizá-lo, enquanto que a iluminação cria áreas de sombra e favorece o clima ermo. Não há divisão entre palco e platéia. O espetáculo é encenado para poucos espectadores que se sentam sobre caixas espalhadas pela pequena sala, onde os dois personagens se encontram. O diretor consegue imprimir ação ao texto por meio da sugestão, estabelecendo este jogo de gato e rato, de compra e venda, trabalhado apenas na voz e na atitude, com quase nenhum deslocamento e economia de gestos. Segundo o crítico Macksen Luiz, a montagem "pulsa com a virulência de um enfrentamento, ao mesmo tempo que leva o espectador a um universo provocantemente poético" e "procura ser aliciante, quando a força dramática da peça não está naquilo que sugere ação, mas naquilo que encobre a falta de ação".1

Os dois atores trabalham em vias quase opostas. Ricardo Blat busca a interiorização e um tempo dramático emocional enquanto Gilberto Gawronski compõe uma figura socialmente nítida, com um humor ácido e uma tonicidade que sustentam o clima de tensão do espetáculo.

Notas
1. LUIZ, Macksen. A solidão pulsante. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 30  nov. 1996.

Fonte:
Enciclopédia Itaú Cultural

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