quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 21

Edgard Rezende
Sem indicações biográficas.

" ÊXTASE "


Se eu pudesse falar, eu te diria
entre outras coisas, que te adoro tanto,
que são teus olhos todo o meu encanto,
a beleza, o clarão do próprio dia;

que és no meu céu a nuvem de alegria
a força animadora do meu canto,
a luz que as minhas noites alumia,
o lenço que me enxuga o eterno pranto !

Se eu pudesse falar (vencido o medo
e, certo, nos teus olhos de veludo
lendo que para tal não era cedo)

muito mais te diria, talvez tudo:
- se não me transformasse num rochedo,
- se te fitando eu não ficasse mudo...
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Edison Moreira
(Édison Crisóstomo Moreira)
(São Francisco da Glória/MG, 1919)

" SONETO I "


Chega-me, às vezes, o pressentimento
de que em função de algum encontro existo,
e é para mim o encontro já previsto,
mais que um encontro: um reconhecimento.

Do promontório de mim mesmo assisto
na madrugada de outro nascimento,
aproximar-se alguém que reconquisto
pelo infinito mar do esquecimento

Eu venho pressentindo de era em era
que esse alguém que me busca e em cuja espera
a vida de meu ser se concentrou,

será na doce condição de esposa,
o retorno feliz de alguma cousa
que há milênios de mim se separou.

" SONETO II "

Bem sei que existes - rosa prometida
que na existência me completará.
Não prolongues a espera aborrecida,
se um dia tens de vir, que venhas já.

Na poesia, no luar, na luz, na vida;
no azul do céu, n'água do mar - sei lá! -  
aonde mais te busquei, desconhecida,
que a noite densa me iluminará..

Por que não vens? Meu coração te espera,
tenho sede de amor e de carinho  
e já partiu de novo a primavera.

Entra bem de mansinho à minha porta,
antes que meu amor pelo caminho
tombe esquecido como folha morta.

" SONETO IX "

O amor, quando tocado de amargura,
pela ausência do clima que o comporte,
desce ao fundo do ser e lá perdura
adormecido - mas intenso e forte.

Fecha em si tal reserva de ternura,
tal poder de renúncia, de tal sorte
que ao se evadir da vida que o enclausura
se expande, às vezes, para além da morte.

Malgrado a sua própria contingência
e a areia movediça da alma humana,
nos escuros subsolos da consciência

- como um veio sonoro e transparente,
ele - através do tempo - corre, mana
tranqüilo e oculto - mas eternamente…
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Edson Pinheiro
Sem Dados Biográficos

" SONETO "
(composto com versos de 14 sonetos de Olavo Bilac)


Tinhas o coração ermo e fechado:
a teus pés como pássaro ferido,
passo a passo a seguir teu vulto amado,
assim por largo tempo andei perdido.

Hermann que cisma, pálido, embebido,
buscando a extinta chama do passado,
hoje quero em teus braços acolhido,
ter nos braços teu corpo delicado.

Inda hoje, o livro do passado abrindo,
aqui demore o olhar, vendo e medindo
o ermo de um bosque tenebroso e frio;

piedoso céu, que a minha dor sentiste!
Meu coração que palpitava triste
possa dormir sereno como o rio…
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Eduardo Nazareno
(Eduardo Pedro Nazareno de Souza)
(Niterói/RJ, 1880 )

" ASPIRAÇÃO "


Possa um dia cantar o teu passado,
como cantei, outrora, o teu futuro;
ver-te sempre através daquele puro
prisma por que te via no noivado.

Se pela vida incerta eu me aventuro
com ar assim tranqüilo e confiado,
é que por este excelso amor levado,
sinto o caminho agora mais seguro.

Esperanças me impelem para a frente,
ambições me conduzem na torrente,
por mim desfilam mágicas visões.

Mas tu ficas em todas as mudanças:
és a maior das minhas esperanças
é a mais pura das minhas ambições.
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Elmo Elton
(Vitória/ES, 15 fevereiro 1925 – 24 janeiro 1988)

" VOSSAS MÃOS "


   Vossas mãos de alabastro, ágeis e puras,
são para mim objetos de respeito:
- delas, em prece, todo bem que aceito
concede á minha vida mais venturas.

Vossas mãos, - delicadas esculturas,
em nada mostram o menor defeito,
e, unidas, lembram um jasmim perfeito
sempre cheio de aromas e canduras...

Vendo-as assim, tão leves como um sonho,
temo beijá-las, pois até suponho
ser um crime cruel, - e sem perdão

macular, com a volúpia de meu beijo,
umas sagradas mãos que apenas vejo
voltadas para Deus, em oração...
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Elóra Possolo
(Rio de Janeiro,1905)

" PARASSE O TEMPO "


Parasse o tempo, as horas! Não andasse
o sol! E não houvesse oriente, poente.
E não morresse a flor que feliz nasce
e abre a corola ao dia, alegremente.

Não seguisse o seu curso, estacionasse
o rio. Fosse tudo permanente.
Parasse a terra! E sempre a mesma face
oferecesse ao sol, eternamente.

Parasse a vida, mas parasse agora
neste momento, em que - divina aurora –
o teu viril desejo impera e quer,

e em que eu, pequena coisa tremulante,
a este teu beijo sôfrego de amante
meu frágil corpo, entrego, de mulher!
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Emilio Kemp
(Niterói/RJ, 9 outubro 1874 – Porto Alegre, 9 outubro 1955)

" ROMPIMENTO "


Já que é preciso haver um rompimento
acabe o nosso amor, acabe tudo...
E eu, perturbado, inconsolável, mudo,
retorne à solidão e ao sofrimento.

De mim não ouvirás nem um lamento
pois de sofrer, meu peito ficou mudo.
Nem um gemido, nem um ai! Contudo
te seguirá meu triste pensamento...

Que desgraçado que me vejo agora!
Quem me ampara? Quem esta mágoa sabe
acalmar? Quem me cura esta ferida?

Para teu próprio alívio, - ó alma, chora!
E assim, por entre lágrimas, acabe
o romance melhor da minha vida!
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Enedina Chiesa Beltrame
(Santa Maria/RS, 19 maio 1922)

" CONFISSÃO "


Amo-te! Que bem que esta sinceridade me faz!
Poder dizer-te assim, que te amo!
Com que ternura penso sempre em ti,
com quanto amor o teu amor reclamo!

Vejo-te sempre! Estás no meu café, nos discos
que ouço, estás em toda parte onde estou
- tudo me fala de ti, tudo ao redor
de mim me faz lembrar-te!

O sol queima-me as faces - são teus beijos
que eu sinto, são teus braços, são teus olhos,
- me envolvem transbordantes de desejos!

Amo-te! Com violência e embriaguez,
com carinho, com ciúme, com volúpia,
amo-te, como se ama uma só vez!

" FEITIÇO "

O que me prende a ti é um sortilégio
um feitiço cruel que me atormenta,
é fragor de tambores que me excita,
é canção de ninar que me acalenta.

É uma força inaudita e poderosa
que me arrasta sem tréguas aos teus braço,
e transforma teu ser no paraíso
para onde convergem os meus passos.

Nem que eu queira esquecer-te, nem que eu queira
deixar de te querer, são para ti
as ilusões da minha vida inteira . . .

Hei de te amar, até quedar exangue,
de tal maneira estás na minha carne,
de tal maneira vives no meu sangue!

Fonte:
– J.G . de  Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963

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