quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Selene de Medeiros (Poesias Avulsas)

DA AGONIA

Sim, tudo morre em mim violáceo o pensamento
Tudo que fui se esvai. o que andei se anuvia
Sol de âmbar, trigo e noite, ave e sombra, errasia
imagem do que amei, nudez e alumbramento,

e em vão me apego à vida e a permanência tento.
Oh!, regatos de ouvir, intangível poesia,
sonhos em migração, lampejo de alegria,
para tão curto andar tão fundo desalento.

Esperança, onde estás? Eu mesma não socorro
esta ânsia de ir-me e vai comigo o tempo e morro
- Tão triste o desprender dos dias que eram teus!

Só vivo o amor e sempre e mais dilacerante . . .
Que silêncio, Deus meu, neste undécimo instante,
que enorme solidão neste chorar de adeus!

DA SOLIDÃO

Ninguém para esperar. Ninguém! abrir a porta
e encontrar o silêncio, o frio, a sombra espessa . . .
Ausente a voz que indaga, o gesto que conforta,
o peito onde pousar ao menos a crença.

Ninguém para esperar, voltar quando amanheça
ou não voltar talvez. E nada, nada importa!
Chorar rebelde e só . . . ninguém que se enterneça
Apenas o ermo, a sombra, o frio, e a casa morta . . .

E entanto ansiar se alguém . . . e o silêncio tão denso
que só na treva pode o desepero imenso
Como sinistro oceano em vadas e entornar . . .

E acabar esta noite, a noite íntima e pura,
com tanta entrega, tanto amor, tanta ternura,
chorando sobre a mesa escondida de um bar . . .

FOLHAS SECAS

Folhas secas . . . Pisai-as , namorados . . .
Ei-las em roda alígera, veloz,
quando estendeis os lábios despertados
para o primeiro beijo dado a sós.

Estais num bosque, em tudo a doce voz
do amor nos ramos altos e abraçados.
E as folhas vêm qual se velhice atroz
as tangesse à quietude dos relvados.

Também elas na seiva e albor de outrora
sentiram beijos quentes noite afora
responer-lhes às ânsias vegetais . . .

Hoje gostam de ouvir beijos de amantes,
e vêm tombar macias, hesitantes,
atapetando o solo que pisais . . .

Fonte:
http://cantoepalavras.blogspot.com.br/2009/06/072-os-eternos-momentos-de-poetas-e.html

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