terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Valéria Polizzi (Fora do Normal)


Na sala de aula, Caio pediu a Aninha uma borracha emprestada. 

— Pode pegar aí dentro da minha mochila — disse ela e continuou seu papo com Alice.

Caio abriu a mochila e enfiou a mão procurando. Sentiu um objeto pequeno no meio dos livros. De plástico? Sim. Mas plástico mole, quadrado, fininho. Apalpou. Seria uma embalagem? E com um anel maleável dentro? Trouxe a mão ao alcance dos olhos. Ah, uma camisinha. Uma camisinha?!

Num gesto brusco, com as faces ruborizadas, voltou a mão lá para as profundezas da mochila. E atordoado pensou. "Minha nossa, o que isto está fazendo aqui, nas coisas da Aninha?! A mais novinha da classe, a menorzinha, meiga, boazinha?!"

— Achou, Caio?

— O quê?! Ah, a borracha, Aninha? Achei. Quer dizer, não! Mas deixa pra lá. O Pedro tem uma. E ele foi em direção ao melhor amigo. Que aliás, era apaixonado por Aninha. "Por Aninha? Da camisinha?! O Pedro precisa saber disso!", decidiu Caio. E baixinho para o companheiro segredou:

— Cara, uma bomba. A Aninha não é quem a gente pensa! E contou tudo a Pedro, que revoltado contou pro Juca, que pasmado deixou escapar pro Plínio, que por distração babou pra Nanda, que envergonhada avisou Aninha, que rindo contou à Déia, que uma fera berrou pra classe inteira:

— Quer dizer, moçada, que menino pode andar munido de camisinha, que é chique, bom pra prevenção. E nós, meninas, não?!

— Não vem com esse papo, Déia. Quem anda com camisinha na bolsa é porque tá a fim de transar!, berrou Pedro lá do fundo.

— Ué, e menina não pode ter vontade de transar?! — contestou Alice, firme.

— Eu nem tenho vontade ainda — emendou rápido Nanda — mas isso não me impede de carregar uma!

— Se eu pegar namorada minha com isso na bolsa, termino! — berrou Juca.

— Vai ver que é por isso que ninguém quer te namorar! — gritou Aninha.

— Que bagunça é essa, gente?!, reclamou a professora de Matemática, entrando na sala. E depois da explicação e de muito bate-boca de toda a turma, ela resolveu: 

— Chega! Vamos começar nossa aula! Aninha, me dê aqui a tal camisinha. E respirando fundo: — Hoje vamos ter uma aula diferente!

Fonte:
Revista Nova Escola: Contos

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