segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Flávia Muniz (O Espelho e a Perua)

A confusão começou
Certa vez, no galinheiro,
Quando as aves encontraram
Um espelho no terreiro.
Uma galinha vaidosa
Logo quis contar vantagem:
— Com licença, galináceas,
Vim conferir minha imagem!
A pata, torcendo o bico,
Comentou com a vizinha:
— Não vale arrancar as penas
Pra parecer mais magrinha!
E qual não foi a surpresa
Das aves estabanadas:
No reflexo do espelho
Só tinha coisas erradas!
Quem era alta e bela
Viu-se feiosa e baixinha.
Quem era gorda e forte
Ficou magrela e fraquinha.
— Credo! — grasnou o marreco.
— Cruzes! — o pinto piou.
— Incrível! — cantou o galo.
E o papagaio berrou.
A galinha carijó
Foi quem depressa falou:
— Este espelho tem feitiço...
Foi a bruxa que o mandou!
— Mentira! — disse a perua,
Balançando as pulseiras.
— Li esse conto de fadas,
Vocês só dizem besteiras!
Estufou-se, bem danada,
Mostrando o papo vermelho.
E com pose de malvada
Fez a pergunta ao espelho:
— Espelho, espelho meu!
Responda se há no mundo
Outra ave mais bonita,
Mais charmosa e elegante,
Mais esperta e fascinante,
Mais incrível e imponente,
Mais formosa do que eu?
Diga logo, espelho meu!!
Os bichos, impressionados,
Ouviram com atenção
A resposta do espelho
A tamanha pretensão:
— Se você quer a verdade,
Vou dizê-la, nua e crua.
E mostrar a realidade
Para uma simples perua.
Você disse que é esperta,
Imponente e charmosa.
Mas parece antipática,
Falando assim, toda prosa.
Desfila o ano inteiro
Como se fosse a tal.
Mas foge do cozinheiro
Quando chega o Natal!

Fonte:
Revista Nova Escola: Contos

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