sábado, 9 de fevereiro de 2013

Soares de Passos (Um Eco no Cativeiro)

Que tristeza quando penso
Nos povos em servidão!
Nos povos, gigante imenso
Rugindo humilde no chão!
Ao pensar assim comigo,
Quantas vezes eu maldigo
Essa campa de jazigo
Que pesa sobre as nações!
Quantas vezes eu deploro,
Quantas estremeço e choro,
Ouvindo o ranger sonoro
De seus pesados grilhões!

Ouvindo tão tristes queixas
Retumbando por esse ar,
Tantas sentidas endechas
Sobre a terra a suspirar;
Ouvindo-te, humanidade,
Esse gemer de saudade,
Que soltas na imensidade
Sem que te escute ninguém;
Ouvindo-te, ó malfadada,
De teus filhos rodeada,
Suspirar abandonada
Como suspira uma mãe!...

É triste a cena que vejo,
É triste, mas ei-la aí...
Aquém sofismas, sem pejo,
Férreas algemas ali;
Dum lado povos traídos,
Pelos seus escarnecidos,
Soltam queixas e gemidos
Que ninguém quer acolher;
Doutro povos humilhados,
Sob um jugo avassalados,
Por um peso recalcados
Quase nem ousam gemer...

Pobre raça deserdada
Que aí suspiras em vão,
Quando hás-de ter entrada
Na terra da promissão?
Quando hás-de resgatar-te?
Quando é que em toda a parte
Há-de o mundo contemplar-te
Semelhante a um homem só?
Quando raiará o dia
De cessar tua agonia?
Quando terás alegria
Erguendo a fronte do pó?

Hás-de tê-la, que o desterro,
Eia, ó triste, acabará,
Que esse jugo vil de ferro
Em pedaços cairá!
Esgota o cálice inteiro
De teu duro cativeiro;
Porém do solo estrangeiro
Fita ao longe a redenção!...
Esta crença, força e vida
Nos corações mal contida,
Pode acaso ser retida?
Acaso pode?... pode? – Não!

Debalde tentam detê-la
Porque a corrente caudal
Hão-de majestosa vê-la
Transpor o dique afinal...
Tudo no mundo descansa,
Nada progredindo avança,
Tudo avante se abalança
Num eterno caminhar...
Fitai o sol, as estrelas;
Vede se podeis sustê-las,
Se podeis, loucos, fazê-las
Ao vosso aceno parar...

Quem me dera a mim agora
Ter do fogo lá do céu,
Daquele fogo que outrora
Trouxe à terra Prometeu!
Oh! que se eu pudera tê-lo,
Eu havia de vertê-lo
Nessa montanha de gelo
Que inda dos seios não cai...
Sobre a raça amortecida
Dos homens soprara a vida,
E com voz, do mundo ouvida,
Lhes bradaria: – Acordai! –

Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

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