sábado, 9 de fevereiro de 2013

Olivaldo Junior (Morangos Silvestres)

Sei que venho prometendo algo que não tenho feito. Os “morangos” de minha vida foram colhidos, e eu nem vi. Devo ausentar-me por um tempo. Segue – para quem se interesse – meu “morango” para Bergman.

Morangos Silvestres – Um poema*
Para Ingmar Bergman


Os morangos, silvestres ou não, jamais fenecem.
Nalguma parte de nós, no canto escuro da alma,
ensolarados apenas quando de nós se esquecem,
os morangos silvestres, na selva, em minhalma,
são vermelhos, enrubescem-se quando perecem,
pois nunca o fazem de todo.
Posso ser velho, posso ser jovem, que fascinam.
Os rubros da vida me ensinam que sou sanguíneo,
bem mais que eu descortino, pois ainda ensinam
mais ciência que poesia nas escolas: que declínio!
Os morangos, mofados, ou não, são os silvestres
que nasceram nos rupestres corações que trago,
como se eu fumasse algo, no “cinema sem testes”
que compreendo ao lado, alado pelo que afago
quando me lembro de tudo.
Antes que eu morra, mato este velho que mina,
que mata, que assassina quem eu fui: um menino,
talvez com melhor destino que o deste (ruína)
homem, o que se inclina sobre as águas do ensino
que só os sonhos tem, e colhe o fruto que mina
da boca o não-silvestre de morangos que rumino.

Moji Guaçu, SP, trinta e um de janeiro de 2013.
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* Morangos Silvestres (1957) é um filme do cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007), cujo enredo discute sobre a passagem do tempo ao retratar um dia na vida de um velho professor de Medicina, exatamente quando será condecorado pelo trabalho de toda uma vida. Se esse professor está contente pela honraria? Descubra assistindo ao filme e tire suas próprias conclusões.
O poema acima é em homenagem a Bergman, um poeta da escrita, do pensamento e da imagem.


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