sábado, 9 de fevereiro de 2013

Cacaso (1944 – 1987)

Mineiro de Uberaba, o poeta Antonio Carlos Ferreira de Brito (1944-1987), conhecido como Cacaso, viveu desde os onze anos no Rio de Janeiro. Cacaso estudou filosofia e lecionou teoria literária na PUC-RJ. Foi também ensaísta e letrista de música popular. Nesse último gênero foi parceiro de compositores como Edu Lobo, Francis Hime, Sueli Costa e Maurício Tapajós.

Para os mais jovens, que talvez não saibam identificar letras de Cacaso, basta citar duas: "Face a Face" (São as trapaças da sorte / são as graças da paixão); e "Lero-Lero" ("Sou brasileiro / de estatura mediana / gosto muito de fulana / mas sicrana é quem me quer"). A primeira tem música de Sueli Costa. A outra, de Edu Lobo.

Na poesia, Cacaso estréia em 1967 com o livro A Palavra Cerzida. Nos anos 70, ele se destaca como um dos expoentes da chamada "geração mimeógrafo", que criaria a "poesia marginal". Os poetas "marginais" retomam alguns procedimentos do modernismo de 1922, a exemplo do coloquialismo, a crítica social e o poema-piada.

Alguns estudiosos fazem restrições à poesia marginal apontando sua falta de rigor. Eles vêem o movimento como uma imagem invertida das vanguardas originárias dos anos 50 (concretismo e afins). Enquanto estas são acusadas de formalistas, o pessoal da poesia marginal recebe a pecha de ter relaxado os procedimentos formais da poesia.

A poesia marginal ganhou especial divulgação após a publicação da coletânea 26 Poetas Hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, em 1976. Além de Cacaso, estão nessa antologia poetas como Francisco Alvim, Torquato Neto, José Carlos Capinan, Ana Cristina César e Waly Sailormoon.

Durante os anos 70, Cacaso lançou os livros Grupo Escolar (1974), Segunda Classe (1975), Beijo na Boca (1975) e Na Corda Bamba (1978). Em seguida, publicou ainda Mar de Mineiro (1982) e Beijo na Boca e Outros Poemas (1985), que reunia toda a sua produção até então. Em 2002 saiu, postumamente, sua poesia completa, que inclui todos os títulos citados aqui, mais poemas inéditos.

Um recurso muito praticado por Cacaso (e herdado do modernismo) é a paródia, com referências bem-humoradas a outros poetas. Em "Há Uma Gota de Sangue no Cartão Postal", por exemplo, o título lembra o livro de Mário de Andrade Há uma Gota de Sangue em Cada Poema. No mesmo poema há também citações da música popular — "Luar do Sertão", de Catulo da Paixão Cearense, e "Tropicália, de Caetano Veloso —, além da "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias, e ainda do poema "Amor e Medo", de Casimiro de Abreu.

"Ex (3)" é o típico poema-piada. "Jogos Florais" esboça uma crítica ao chamado milagre econômico dos anos 70 e retorna à "Canção do Exílio". O espírito da paródia e da gozação estão em toda a obra de Cacaso. O poema que originou o título da coletânea Mar de Mineiro — um título que, por si só, anuncia um conteúdo jocoso — chama-se "Fazendeiro do Mar", uma óbvia brincadeira com o Fazendeiro do Ar, de Carlos Drummond de Andrade. 

Fonte:
Carlos Machado, in http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet199.htm

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