segunda-feira, 28 de maio de 2018

Malba Tahan (O amor e o velho barqueiro)

Chegando, afinal, à margem do grande rio, o Amor avistou três barqueiros que se achavam indolentes, recostados nas pedras.

Dirigiu-se ao primeiro: 

— Queres, meu bom amigo, levar-me para a outra margem do rio?

Respondeu o interpelado, com voz triste, cheio de angústia:

— Não posso, menino! É impossível para mim!

O Amor recorreu, então, ao segundo barqueiro, que se divertia em atirar pedrinhas no seio tumultuoso da correnteza.

— Não. Não posso — recusou secamente.

O terceiro e último barqueiro que parecia o mais velho, não esperou que o Amor viesse pedir-lhe auxílio. Levantou-se, tranqüilo, e, estendendo-lhe, bondoso, a larga mão forte, disse-lhe:

— Vem comigo, menino! Levo-te sem demora para o outro lado.

Em meio da travessia, notando o Amor a segurança com que o velho barqueiro barquejava, perguntou-lhe:

— Quem és tu? Quem são aqueles dois que se recusaram a atender ao meu pedido?

— Menino — respondeu, paciente, o bom remador — o primeiro é o Sofrimento; o segundo é o Desprezo. Bem sabes que o Sofrimento e o Desprezo não fazem passar o Amor!

— E tu, quem és, afinal?

— Eu sou o Tempo, meu filho — atalhou o velho barqueiro. — Aprende para sempre a grande verdade. Só o Tempo é que faz passar o Amor!

E continuou a remar, numa cadência certa, como se o movimento de seus braços possantes fosse regulado por um pêndulo invisível e eterno.

Sofrimento, desprezo... Que importa tudo isso ao coração apaixonado? O Tempo, e só o Tempo, é que faz passar o Amor.

Fonte:
Malba Tahan. Minha Vida Querida.

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