quarta-feira, 23 de junho de 2010

Paraná Poético I

Apollo Taborda França
UM "FLASH" SERTANEJO

Pelos confins do sertão,
vive lá ZÉ SERESTEIRO...
Sempre com viola na mão:
- Perto um riacho e um pinheiro.
Seu rancho feito de palha,
o chão de terra batida...
Nele ZÉ bem se agasalha:
- No roçado a sua lida.

Beldades da Redondeza
faziam coro com ZÉ...
Ambiente de singeleza:
no terreiro um garnisé.
E do grupo a mais catita
que do ZÉ tinha atenção...
A lindeza da ZURITA:
- lábios da cor do tição.

Faces lisas, cor-de-rosa,
os olhos verdes dos campos...
ZURITA, a mais formosa:
- Lua cheia, pirilampos.
Se passarem muitas tardes,
ZÉ casou com a ZURITA...
Petizada, seus alardes:
- Choupana toda de fita.

ZURITA E ZÉ SERESTEIRO
levam a vida dourada...
Horta, feijão no celeiro:
- Cada noite nova toada.
Pelos ermos, pela mata,
o chilrear dos passarinhos...
Um sussurro se desata:
- Nas veredas, nos caminhos.

Tem coruja na vivência,
pica-pau e saracura...
João-de-barro, eficiência:
Quero-quero, com fartura.
Essa a vida sertaneja,
nos rincões do Paraná...
Tamanha beleza enseja:
- Se há outra, qual será?

ZURITA E ZÉ SERESTEIRO,
um casal bem ajustado...
Juntinhos o dia inteiro:
- Ó que amor tão sublimado!

Ceres de Ferrante
CREDO AO HOMEM

Segue,
não há razão
para parar.
Há mais caminhos
a percorrer.
Indômita é a vontade
dos que acreditam
no hoje e no amanhã.
Segue,
há uma força maior
guiando teus passos,
por isso vencerás o espaço
e encontrarás novos mundos
em outras galáxias
ou dentro de ti mesmo.

Horácio Ferreira Portella
RISONHO NASCIMENTO

Dourado, o sol desponta no horizonte,
a dissipar das brumas a cortina.
Ouve-se o manso murmurar da fonte,
que desce pela encosta da colina.

disseminando seu poder planctonte
na verdejante mata e na campina,
para ensejar que a Vida assim desponte
em plenitude mágica, Divina.

As borboletas colorindo a festa,
As flores espargindo seu perfume.
Os pássaros em mística seresta,

após o parto, que a Natureza espera
por nove meses para dar a lume
a deslumbrante filha: Primavera!

Ivo de Angelis
TRÊS QUADRAS

De lânguida flor, que murchasse
o suave perfume, dolente,
é qual a saudade que nasce,
quando morre o sonho na gente.

Nada transpassa a ferida
de um coração que padece,
como a lembrança perdida,
que cai de dentro da prece.

Mostra teu brilho e fulgor,
ao mundo que te fascina,
e nutre o teu esplendor,
na mágoa que me domina.

Janske Niemann Schelenker
UM PEQUENO TÚMULO

Lá na campina, queria ser flor
para que tua mão me colhesse,

ou ser o capim,
para que pudesses descansar em mim,

ou ser o caminho
por onde voltasses a ser meu,

our ser um pequeno túmulo
- sem nome e sem data -
á beira da tuda estrada
... e só tu saberias onde estou...

Orlando Woczikosky
ÁGUA

Quem se afunda na bebida,
para afogar sua mágoa,
descobre, no fim da vida,
que a melhor bebida é água.

Beba água mineral
e viva despreocupado,
porque água só faz mal
para quem morre afogado.

Fonte:
Revista do Centro de Letras do Paraná - n.53 - agosto 2009.

Artur de Azevedo (O Ingrato)


Vieira havia levado a vida inteira remando contra a maré. Por fim conseguiu reunir algum dinheiro, não se sabe como, e abriu uma modestíssima loja de cigarros na Rua dos Ourives. Dava para viver, mas, como se sabe, não se precisa de muita coisa para viver. Morava com a mulher num quartinho ao lado da modesta loja, e Dona Maricota cozinhava, lavava e passava a roupa do marido e de alguns conhecidos, pois não tinham filhos.

Pensando na vida e esperando os clientes, Vieira estava certo dia encostado no balcão da loja enquanto a mulher preparava o almoço, como de costume, quando entrou apressadamente um velho, meio congestionado, quase sem poder falar. Sentou-se num banquinho que ali havia, queixando-se silenciosamente e apenas murmurando algumas palavras. O traje do recém-chegado indicava pessoa de boa posição social. Solícito, Vieira indagou:

— Que tem o senhor, cavalheiro? O que aconteceu?

O velho levantou os olhos e só conseguiu dizer, com voz apagada:

— Água!

Vieira foi imediatamente buscar um copo d’água, que o velho bebeu, reanimando-se um pouco. E perguntou de novo:

— O que aconteceu?

— Não sei... Uma coisa que me deu de repente... Mas felizmente não foi nada, como o Sr. pode ver. Bastou esse copo d’água para sentir-me bem.

— Não quer alguma outra coisa? Talvez um pouco de água com limão...

— Não, nada. Muito obrigado.

O velho permaneceu ainda ali uns vinte minutos, conversando amistosamente com Vieira, perguntando-lhe sobre seus negócios, sua família, sua vida. Quando saiu, apertou-lhe com vigor a mão, renovando seus agradecimentos.

Dois dias depois apareceu novamente, sentou-se no banquinho e fez novas demonstrações de agradecimento, conversando amigavelmente durante meia hora.

Voltou no dia seguinte, e Vieira lhe apresentou Dona Maricota, com quem simpatizou bastante. Inteiraram-se então de que o assíduo visitante era o Comendador Matos, negociante aposentado, solteiro e sem filhos, que vivia de rendas, sem outra ocupação além da cobrança dos aluguéis e da renda dos altos negócios. Quando o Comendador saiu, Vieira disse à esposa:

— Parece que esse sujeito está disposto a vir aqui todos os dias, para entreter-se em conversa.

— É uma amizade que não devemos desprezar — respondeu a mulher, de espírito prático.

— Por quê?

— Que pergunta! Pode ser que encontremos nesse homem um protetor...

— Que protetor coisíssima nenhuma! Um passatempo aborrecidíssimo, é o que você deve dizer. Não percebeu que ele nem sequer fuma? Não comprou até agora nem uma caixa de fósforos...

Entretanto, quando o Comendador voltou no dia seguinte, encontrou uma cadeira, no lugar do banquinho. Precisamente nesse dia ficaram estabelecidas definitivamente as relações de amizade. A partir desse momento o velho foi infalível, sempre chegava na mesma hora. Não se passou muito tempo, e começou a ser-lhe oferecida durante a visita uma xícara de café, que se tornou um hábito durante os seguintes cinco anos.

Quando não aparecia na hora de costume, Dona Maricota se inquietava:

— O Comendador não veio. Estará doente? Por que não vais à casa dele? Pode ser que esteja doente, não acha?

Afinal o velho entrava, e Vieira avisava à mulher:

— Já está aqui o Comendador, Maricota. Traga já o cafezinho...

As relações chegaram a ser tão estreitas, que uma vez Vieira queixou-se da falta de freguesia. O velho lhe disse:

— É natural, pois você tem uma casa que não inspira confiança. Isto aqui não é uma verdadeira loja, é apenas um cubículo.

— Mas muitos começaram como eu, e acabaram ficando ricos.

— Isso foi antigamente. Hoje em dia as lojas de cigarros têm que estar bem instaladas, com pelo menos duas portas, boas estantes, tudo bem ordenado e bem sortido.

— É bem verdade, mas tudo isso custa dinheiro, e não vejo como possa consegui-lo.

— Não se preocupe por questões de dinheiro. Procure uma casa melhor, em pleno centro, e deixe o resto por minha conta.

Com efeito, Vieira não demorou a encontrar um local apropriado. Alugou-o, tendo o próprio Comendador como fiador. Um mês depois o novo estabelecimento estava funcionando. Não faltava nada, havia até um acendedor de cigarros constantemente ligado, que os clientes podiam usar.

O casal mudou-se para o segundo andar do mesmo imóvel, e o Comendador emprestou o dinheiro para a compra dos móveis. Quando foi assinar os papéis, Vieira perguntou se o Comendador tinha interesse em ser seu sócio.

— Nada disso! Eu me aposentei por completo dos negócios, e não tenho o menor desejo de voltar a eles. Serei simplesmente seu credor. Basta você assinar umas quinze promissórias, com juros muito reduzidos e prazos folgados.

Assim foi. Vieira resgatou as letras uma por uma, nos prazos estipulados. Sem esforço, pois a loja prosperava de maneira satisfatória. Dona Maricota já se entregava aos afazeres domésticos com mais parcimônia. Um dia notou que ia ser mãe, portanto uma nova felicidade em perspectiva.

— Quero ser o padrinho! — indicou o Comendador quando foi informado.

O excelente homem já era considerado pessoa da casa, seguindo sempre o seu próprio ritmo, tomando o cafezinho sentado no mesmo local, já agora numa cadeira estofada, para mais comodidade.

A pontualidade com que foram pagas as quinze promissórias fez aumentar a amizade do velho, pois colocava acima de tudo a probidade comercial, a honra da firma. Quando o menino foi batizado, o padrinho deu-lhe um bonito enxoval e fez para ele um seguro de vida. Desde então era raro a criança não receber todos os dias um presente ou um agrado. De vez em quando, Vieira e Maricota também eram obsequiados.

— Comendador, por que tantos cuidados? O senhor não deve incomodar-se tanto conosco.

— Não me incomodo, absolutamente. Vocês são minha única família. Não tenho ninguém mais no mundo, a não ser vocês.

— Bendito aquele copo de água! — dizia Dona Maricota, sempre que o velho tinha algum rasgo de generosidade.

— Graças àquele copo d’água mudou nossa sorte — acentuava o marido, — e espero que com o tempo ainda viremos a ser ricos.

Não sabendo como manifestar seu reconhecimento por tão inverossímil proteção, Vieira mandou pintar a óleo um retrato do Comendador, que colocou na sala de visitas.

Mas tudo se acaba. Um dia o comendador deixou de aparecer na loja, que tão assiduamente visitava durante tantos anos. Vieira correu imediatamente à casa onde morava, e o encontrou seriamente doente. Quis levá-lo para sua casa, onde seria tratado com desvelo familiar, mas o comendador resistiu. Era seu propósito recolher-se a um asilo para idosos, e foi necessário respeitá-lo. A doença se agravou. Embora não lhe faltasse nenhum dos recursos da medicina, morreu depois de quinze dias.

Vieira e Dona Maricota imaginavam — era natural — que ambos e o pimpolho seriam os únicos herdeiros, já que o velho não tinha família. Enganaram-se. O testamento, o único que apareceu entre os papéis do velho, e que foi divulgado depois do enterro, só contemplava no benefício o afilhado, com dez contos de réis. O resto era dividido entre hospitais e asilos. Nem o próprio Vieira tinha um único centavo no testamento.

— Estranho! — bramiu Dona Maricota. — Nunca imaginei que aquele homem não nos deixasse ricos. Por que nos dizia então que éramos os únicos membros de sua família? Que mal empregados os oitenta mil réis da coroa que lhe mandamos!

— Tenho intenção de não aceitar os dez contos que deixou ao nosso filho — confessou Vieira —. Dez contos! Que miséria!

— Seria melhor não haver deixado nada! Nosso filho não precisa de esmolas!

— Tenho até vontade de destruir o retrato — disse indignado o marido.

— Não! Não vale a pena. Esse retrato pode ser comprado por alguma das instituições que herdarão o dinheiro desse velho tacanho.

Lançou um olhar severo sobre o retrato do Comendador, que sorria compassivamente, enquanto exclamava decepcionada:

— Este mundo está cheio de ingratos!...

Fontes:
http://contosbemcontados.blogspot.com/

terça-feira, 22 de junho de 2010

Apollo Taborda França (O Nosso Alfabeto)


A na ordem é a primeira
Do ALFABETO, original;
Tem presença costumeira,
Vai num texto sem igual.

B se mostra importante,
Dentre as letras principais;
BRASIL a leva confiante,
É o país dos mananciais.

C tem ritmo completo,
Colorindo o seu CÉU;
Se sublima, som dileto,
Vale mais do que um troféu.

D é letra favorita,
DECISIVA e dá apogeu;
Valoriza toda escrita,
Replicando: estou no meu.

E é letra da ESPERANÇA,
Enriquece o fraseado;
E o sentido, de antemão,
Fica firme e bem postado.

F é uma letra mágica,
Que impressiona de saída;
FORTALECE a trova sáfica
E as demais, a toda brida.

G está em geralmente,
Tem GRANDEZA, é muito usada;
É importante integralmente
Sua presença numa toada.

H mostra ter talento,
Vem no nome de HEITOR;
O seu som é de acalento,
Sustentando o seu valor.

I é aquela letra base,
Que INSPIRA muito afeto;
Se impõe em qualquer frase,
É destaque no alfabeto.

J brilha em toda linha,
Joga o JOGO na jogada,
Tem sua verve, sempre tinha,
No alfabeto é a bem bolada.

K é letra motivada
É de uso bem correto;
Em KARDEC é badalada,
Mas sacaram do alfabeto.

L vai em LIBERDADE,
É o que todo mundo quer;
Sendo letra sem vaidade,
O servir é seu mister.

M tem a sua marca,
De letra sublimação;
Em MARIA bem abarca
O sentido da oração.

N nunca desfalece,
Lembrando a NATIVIDADE,
Calorosa como a prece,
É uma letra de verdade.

O é letra sintonia,
OPULENTA como o Sol;
Muito pura, sem mania,
Se repete em rouxinol.

P dispensa comentário,
Letra forte do PERDÃO;
Se mantém no itinerário
Do alfabeto, é bridão.

Q garante o rijo som,
É QUERIDA em qualquer texto,
Na poesia dá seu tom,
Na palavra é cabresto.

R é letra principal,
Ao ROSÁRIO dá estesia;
Tem um som monumental,
Flui no texto e na poesia.

S é um tanto sibilante,
SILVA a torto e a direito;
Mas, mantem-se firme e estuante:
É uma letra de respeito.

T é uma letra ponderável.
Que TEMPERA nossa língua;
Seu emprego é inumerável
E o pensar não fica à míngua.

U vogal maravilhosa
É de UNIÃO e de argumento;
Se diz muito caudalosa,
Na palavra é um sustento.

V tem som inimitável,
Ajuda muito no verso;
Em VITÓRIA é bem notável
Nos idiomas do universo.

W tem a sua saga,
É rejeitada por muitos;
Em WESTPHALEN afaga,
Da tradição, os seus mitos.

X é a base do problema
No mundo da Matemática;
Em XANGÔ é um emblema
De influência carismática.

Y era antiga
Letra assim convencional;
Na YOGA é muito amiga,
Com seu talhe bem sensual.

Z é a letra derradeira,
De nosso falar gentil;
ZODIACAL, é uma bandeira
No idioma do Brasil!...

Fonte:
Apollo Taborda França. O Nosso Alfabeto. Curitiba: Gráfica Vitória, 1982.

Literatura Brasileira (Parte 1 = Origens)

A pedidos, inicio um apanhado sobre a Literatura Brasileira, em várias partes.
--------------


O estudo sobre as origens da literatura brasileira deve ser feito levando-se em conta duas vertentes: a histórica e a estética. O ponto de vista histórico orienta no sentido de que a literatura brasileira é uma expressão de cultura gerada no seio da literatura portuguesa. Como até bem pouco tempo eram muito pequenas as diferenças entre a literatura dos dois países, os historiadores acabaram enaltecendo o processo da formação literária brasileira, a partir de uma multiplicidade de coincidências formais e temáticas.

A outra vertente (aquela que salienta a estética como pressuposto para a análise literária brasileira) ressalta as divergências que desde o primeiro instante se acumularam no comportamento (como nativo e colonizado) do homem americano, influindo na composição da obra literária. Em outras palavras, considerando que a situação do colono tinha de resultar numa nova concepção da vida e das relações humanas, com uma visão própria da realidade, a corrente estética valoriza o esforço pelo desenvolvimento das formas literárias no Brasil, em busca de uma expressão própria, tanto quanto possível original.

Em resumo: estabelecer a autonomia literária é descobrir os momentos em que as formas e artifícios literários se prestam a fixar a nova visão estética da nova realidade. Assim, a literatura, ao invés de períodos cronológicos, deverá ser dividida, desde o seu nascedouro, de acordo com os estilos correspondentes às suas diversas fases, do Quinhentismo ao Modernismo, até a fase da contemporaneidade.

Duas eras - A literatura brasileira tem sua história dividida em duas grandes eras, que acompanham a evolução política e econômica do país: a Era Colonial e a Era Nacional, separadas por um período de transição, que corresponde à emancipação política do Brasil. As eras apresentam subdivisões chamadas escolas literárias ou estilos de época.

A Era Colonial abrange o Quinhentismo (de 1500, ano do descobrimento, a 1601), o Seiscentismo ou Barroco (de 1601 a 1768), o Setecentismo (de 1768 a 1808) e o período de Transição (de 1808 a 1836). A Era Nacional, por sua vez, envolve o Romantismo (de 1836 a 1881), o Realismo (de 1881 a 1893), o Simbolismo (de 1893 a 1922) e o Modernismo (de 1922 a 1945). A partir daí, o que está em estudo é a contemporaneidade da literatura brasileira.

Fonte:
http://www.vestibular1.com.br/

Fomento e Incentivo à Cultura em Minas Gerais



A Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais é um instrumento que tem possibilitado a realização de importantes projetos culturais no Estado.

Por meio de seus mecanismos, a lei tem mediado a interlocução entre o empreendedor e o incentivador, aproximando produtores, artistas, investidores e público e contribuído para dinamizar e consolidar o mercado cultural em Minas Gerais.

Os projetos são analisados pela Comissão Técnica de Análise de Projetos (CTAP), que considera desde os critérios técnicos – pré-requisitos quanto ao empreendedor e enquadramento de seu projeto, viabilidade técnica e exeqüibilidade, detalhamento orçamentário, efeito multiplicador e benefício social – até o fato de possuírem caráter estritamente artístico-cultural e interesse público.

Empresas contribuintes do ICMS, que estejam em situação regular, podem patrocinar projetos culturais por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Empresas inscritas em Divida Ativa, até 31 de outubro de 2007, também podem ser patrocinadoras.

É muito fácil Investir em Cultura

O processo é muito simples, a maior parte das providências é tomada pelo responsável pelo projeto, a empresa patrocinadora só fica encarregada de preencher a Declaração de Incentivo-DI, documento que oficializa o patrocínio junto à Secretaria de Estado de Fazenda e que, depois de homologado, possibilita o repasse dos recursos para a conta bancária, específica, do projeto incentivado. Esse repasse pode ser parcelado em até 12 vezes.

Investir é lucro

A empresa patrocinadora pode deduzir 80% do valor total investido no projeto, na forma de desconto do imposto devido de ICMS, mês a mês. Os 20% restantes são repassados, sem dedução, a título de contrapartida.

O investimento é, acima de tudo, um compromisso com a sociedade. Ao incentivar um projeto cultural a empresa está escolhendo uma nova forma de se comunicar, de ampliar e agregar valor à sua marca, de contribuir para o desenvolvimento da comunidade na qual está inserida e, ainda, de reforçar o seu compromisso com a cultura e o bem estar social.

Escolha o projeto

O patrocinador pode escolher um ou mais projetos, a lista dos aprovados para captação de recursos em 2010 pode ser consultada. Para isso é só entrar em contato com a diretora da Lei de Incentivo, Sônia Valadares, por telefone (31)3269-1128 ou e-mail: leiestadual@cultura.mg.gov.br

Fonte:
Colaboração da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais.

Silviah Carvalho (O Dia Perfeito)


Para mim será quando acordar
De manhã e te ver ao meu lado,
Poder te preparar um café,
Voltar e te ver ainda deitado,

Poder segurar sua mão e,
Andar livremente pelas ruas da cidade,
Saber que és totalmente meu e,
Que nunca mais sofrerei a saudade.

O dia perfeito
Para mim será lembrar que fiz uma oração
Te pedindo como milagre,
E poder tocar em ti, e ver na viração do dia
Este milagre em sua totalidade,

Pode um construtor, não amar
A obra que construiu com tanta dificuldade,
Olhar e não sentir-se feliz vendo que o
Que era sonho tornou-se realidade?

Pois eu tenho medo que isto um dia aconteça,
Que o dia perfeito chegue e eu, talvez não mereça,
Que diante de ti, eu fique extasiada,
E ao invés de amar, para sempre adormeça,

Que não suportes meu tremor,
A força do meu amor e
Em meus braços, desfaleça.

O dia perfeito
Para mim será tê-lo ao meu lado
Sem que haja para isso juramento,
Que tudo aconteça livremente,
Que tudo se revele e que seja lindo,

E para o que não foi dito,
Que haja perdão e caia no esquecimento.

O dia perfeito
Para mim será quando o amor esconder nossos defeitos
E nos deixar viver o momento,

Pois para mim este amor vem sendo construído
Através de tempos... Eternidade até,

O dia perfeito
Para mim será ver concretizado
Aquilo que um dia era apenas fé.

Fonte:
Colaboração de Silviah Carvalho.

André Czarnobai no Projeto Autores & Idéias, do SESC Paraná




O Sesc Paraná promove o Projeto Autores & Ideias, evento que discutirá os mais variados temas da literatura, tendo como ponto de partida suas relações com o ciberespaço. Ao longo de 2010, o Autores & Ideias percorrerá cinco cidades paranaenses com atividades que pretendem ampliar o debate em torno da literatura, leitura e letramento na sociedade digital.

De maio a novembro, a cibercultura será a temática principal de mesas-redondas, workshops e oficinas, oferecidas nas unidades do Sesc em Curitiba, Londrina, Maringá, Pato Branco e Cascavel. Uma oportunidade única de trazer para o mundo real um bate-papo essencialmente virtual.

Neste ciclo de Autores & Ideias, que acontece em junho de 2010, serão abordados alguns veículos de comunicação com foco em literatura e artes em geral surgidos exclusivamente na internet, sua viabilidade em comparação com os meios impressos e algumas vantagens da publicação virtual, como maior interatividade com o leitor, baixo custo de implementação, versatilidade de formatos e a garantia de factualidade.

MESA REDONDA

Tema: Arte e informação na Rede

Autores Convidados:

André Czarnobai – Rio Grande do Sul (escritor e fundador do Cardoso Online, o mais famoso fanzine digital distribuído no Brasil)

Julio Daio Borges- Digestivo Cultural -São Paulo

Mediação : Jornalista - Marcelo Bulgarelli

DATA - 24/06/2010
HORÁRIO- 20:00
LOCAL - SESC

Público: estudantes de jornalismo, letras, artes, artistas, jornalistas, escritores.

Quem é CARDOSO? . Ficcionista e não-ficcionista, jornalista, roteirista, consultor criativo, webdesigner autodidata, desenhista, tradutor, intérprete, produtor musical, DJ, MC, demonstrador e vendedor de aparelhos de monitorização vital, pior fotógrafo do mundo, bon-vivant e modelo.

André Felipe Pontes Czarnobai nasceu no dia 27 de maio de 1979 em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

Autor de Cavernas & Concubinas (2005, coleção Risco:Ruído, DBA Editora).

Participou das coletâneas Oficina 32 (2004, Org. Luis Antonio de Assis Brasil), Troco (2005, Type), Dentro de um Livro, (2005, Casa da Palavra), Contos de bolso (2005, Casa Verde), Contos do Novo Milênio - Os melhores contistas gaúchos dos últimos 25 anos (Org. Charles Kiefer, Instituto Estadual do Livro, 2006), Ficção de Polpa 3 (Não Editora, 2009) e Desacordo Ortográfico (Não Editora, 2009)

Publicou contos na Revista Ficções (2003, 7Letras), no site da Revista Trip; no especial Feira do Livro do ClicRBS; nos jornais Zero Hora e Brasil Econômico; e nas revistas Aplauso, F, Bravo! e Gloss.

Participou da segunda edição do projeto Na Tábua, de Paulo Scott e Fábio Zimbres, ao lado de Marçal Aquino.
---------------

Quem é Julio Daio Borges?

Julio Daio Borges é, por extenso, Julio Dário Revollo Porfírio Borges. Nasceu em São Paulo Capital, no dia 29 de janeiro de 1974. Formou-se em Engenharia de Computação, pela Escola Politécnica da USP, em dezembro de 1997. Foi "redação nota dez" da Fuvest, em 1992. Escreve diariamente desde então.

Quais os "antecedentes" do Digestivo Cultural?

Em dezembro de 1997, Julio Daio Borges, assinando "J.D. Borges", compõe "A Poli como Ela é...", uma crítica à Politécnica da USP, que vai parar na Folha de S. Paulo, na coluna de Luís Nassif. Começa uma atividade de "colunista independente" a partir de 1998 (por e-mail) e, em 1999, funda seu próprio site. Em 2000, esboça a newsletter que se tornará, de 2001 em diante, a revista eletrônica Digestivo Cultural.

Quais as suas atribuições no Digestivo Cultural?

Redação de Digestivos e esporadicamente Colunas e Entrevistas (perguntas). Supervisão dos Colunistas, Ensaios e Comentários. Elaboração dos Releases e Editoriais. Concepção dos Especiais. Postagem diária no Blog. Veiculação dos Anúncios. Programação do site. Administração da JDB Editora e Participações LTDA. (empresa que abriga o Digestivo, desde 2003Com que outros projetos se ocupa Julio Daio Borges?

Organização de eventos culturais a partir do Digestivo Cultural, especialmente em conjunto com a Casa Mário de Andrade, onde aconteceram três séries Palavra na Tela (2007, 2008 e 2009) e uma nova série denominada Encontros de Literatura, sempre com curadoria, planejamento e realização do Digestivo Cultural. Com intenção, ainda, de formar um arquivo em áudio desses eventos (Podcast). Além disso, otimização da arquitetura do site para entregar, mensalmente, mais de 1 milhão de páginas.

O que mais além de textos?

Em novembro de 2009, Julio Daio Borges participou do evento Oxigênio, ao lado de Ana Paula Sousa da "Ilustrada" da Folha. Em setembro de 2009, participou do "III Seminário Tendências Conectadas nas Mídias Sociais" da Faculdade Cásper Líbero (Palestra/Perguntas). Em maio de 2008, deu uma aula sobre Web 2.0 no curso de "Jornalismo na Internet" do Espaço Cult. Em dezembro de 2007, participou de uma mesa com outros "editores de publicações independentes", nos Encontros de Interrogação do Itaú Cultural, em Buenos Aires. Em outubro de 2007, participou ainda da mesa sobre "Literatura Digital" na Flip de Porto de Galinhas; e, no mesmo mês, proferiu uma palestra sobre "Jornalismo Cultural na Internet", no II Encontro de Comunicação e Letras, da Universidade Mackenzie.


A PROGRAMAÇÃO É GRATUÍTA, VAGAS LIMITADAS.

PARA SE INSCREVER ENCAMINHE E-MAIL COM NOME E TELEFONE E OU DIRETAMENTE NO SESC.

O SESC FORNECERÁ CERTIFICADO DE PARTICIPAÇÃO.

maringa@sescpr.com.br
laidesousa@sescpr.com.br

Fonte:
Laíde Cecilia de Sousa
Assistente de Atividades
SESC- Maringá

6a. Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Cecy Barbosa Campos (O Homem Transparente)

Desenho por Felipe Corsini
Recebi da autora o livro Recortes de Vida, onde estão reunidos diversos textos em prosa, muitos deles premiados em Concursos. Para o leitor que não conhece seus textos, coloco o texto que me chamou atenção entre os 28 que compõem o livro, o qual obteve Menção honrosa no 7. Concurso de Contos da A.D.L. Boa Esperança,MG, em 2008.
=========================================
Liberato não fazia jus ao próprio nome. Era um homem baixo, encolhido, parecendo estar sempre com medo e desconfiado, olhando de esguelha para um lado ou para o outro, às vezes, para trás. Não tinha nada de liberado, extrovertido ou comunicativo.

Sempre sozinho, não tinha amigos. Parecia não se interessar pelo convívio com outras pessoas e, até mesmo, teme-las, preferindo ser sua própria companhia. Em contrapartida, os “outros” também o ignoravam, e ninguém tentava aproximação com aquele homenzinho, que se sentia quase invisível.

Quando na repartição, trabalhava corretamente, cumprindo a sua função de maneira precisa, não deixando de realizar as tarefas que lhe competiam, mas nunca tomando a iniciativa para aumentar, num milímetro, as suas responsabilidades.

Quieto, entrava em sua sala; quieto saía. Tão quietamente, que numa tarde ficou esquecido e a repartição foi fechada com ele lá dentro. Como era uma sexta-feira, só foi encontrado na segunda, quando o homem da limpeza chegou antes do início do expediente. Assustado, deparou com Liberato no momento em que, abrindo todos os cômodos, ia dar início à faxina, animadamente, empunhando uma vassoura.

O homenzinho, sentado à sua mesa, tinha a cabeça apoiada nos braços cruzados. Dormia profundamente numa imobilidade que levou o faxineiro apavorado a pensar que tinha encontrado um defunto. Deixou cair a vassoura, e o barulho acordou Liberato que abriu um olho, depois outro e, sem nada dizer, levantou-se e saiu do recinto.

Acomodado com o que lhe tinha acontecido, Liberato tomou um café preto e, rotineiramente, voltou ao escritório para recomeçar um dia normal de trabalho como se nada tivesse acontecido. Na entrada, cruzou com o faxineiro, mas nao trocaram palavra. Com a fisionomia inalterada, assentou-se à sua mesa de trabalho, acomodando-se na mesma cadeira onde tinha sido encontrado naquela manhã, após as cinquenta horas em que permanecera no escritório.

Os colegas não observaram nada de diferente nele. Continuava silencioso, magro e pálido. Apenas, a barba por fazer trazia-lhe um aspecto descuidado que não lhe era habitual. O homem da limpeza passou o dia encafifado. Não entendia como o "seu" Liberato já se achava no escritório antes do início do expediente; estranhou a sua saída e na sua volta observara que ele parecia mais miúdo, mais branco, quase transparente.

Liberato não comentou com ninguém o que lhe acontecera. O faxineiro, que não queria saber de confusão para o seu lado, também não contou a estranha situação para o pessoal do escritório e nem para seus colegas de limpeza. Afinal, a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco, pensou ele, lembrando as sábias palavras de sua falecida mãe. No caso, como a parte mais fraca era ele próprio, melhor não falar nada.

Naquela semana, Liberato parecia mais silencioso do que nunca. Em alguns dias, não saiu do escritório para almoçar e, na sexta-feira, não teve ânimo para voltar à sua casa. Na segunda, o faxineiro tornou a encontrá-lo pela manhã e notou que ele parecia menor, mais branco, quase transparente.

A situação se foi repetindo, ignorada por todos, exceto pelo faxineiro que nada fazia além de observar Liberato, achando que, qualquer dia, ele ia desaparecer de tão magro, tão quieto, tão transparente.

Numa fria manhã de segunda-feira, quando o homem da limpeza chegou, notou apenas uma marca no assento da cadeira giratória da sala de Liberato e um fio de cabelo grisalho sobre os papéis um pouco amassados, talvez, pela pressão de braços cruzados. Liberato não estava lá. O que teria acontecido com ele não chegou a preocupar ninguém exceto, talvez o faxineiro, mas não por muito tempo.

Desaparecera, ignorado por todos e ignorado por um mundo no qual não encontrou o seu lugar.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes da Vida. Varginha,MG: Alba, 2009.

Cecy Barbosa Campos



Natural de Juiz de Fora (MG), Bacharel em Direito e licenciada em letras (inglês) pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestre em teoria da literatura pela mesma universidade. Professora de Literatura Inglesa e Norte-Americana, aposentada. Leciona nos cursos de graduação e pós-graduação do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora.

Entidades a que pertence
Academia Juiz-forana de Letras.
Academia Gran Beryense de Letras, Artes e Ciências.
Academia de Letras Rio-Cidade Maravilhosa;
Academia Rio Pombense de Letras, Ciências e Artes.
Clube de Escritores de Piracicaba.

Publicações:
- The Iceman Cometh: a carnavalização na tragédia e
- O Reverso do Mito e outros ensaios.
- Recortes da Vida.

Trabalhos em Congressos e Encontros Literários:
- Maya Angelou`s and Conceição Evaristo`s Social Poetry. São José do Rio Preto, 2009.
- O Teatro do Absurdo nos Estados Unidos: uma visão comparativa. Juiz de Fora, 2008.
- Escritores Afro-descencentes. Belo Horizonte, 2007.
- Conceição Evaristo e Toni Morrison: convergências e divergências.
- Toni Morrison`s Beloved: from novel to film. Fortaleza, 2005.
- O Teatro Inglês. Muriaé, MG, 2004.
- Preconceito em uma sociedade materialista: The Sculptor`s Funeral de Wila Cather. Divinópolis, MG, 2003.
- Good Country People, de Flannery O`Connor. 2002.
- A presença ausente de personagens femininas em peças de O`Neill. Londrina,PR, 2001.
- Women Characters in some of Flannery O`Connor`s short-stories: the reversal of the myth. Gadsden, Alabama, USA. 2000.

Participações:
- Coleção Prosa e Verso, do Grupo Sul-mineiro de Poesia e Academia Varginhense de Letras.
- Modernos Contos Brasileiros.
- Antologia da Academia Dorense de Letras.
- Antologia Letras Contemporâneas.
- Prêmio Missões.
- Antologia del`Secchi.
- Antologia da Academia Chapecoense de Letras.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes da Vida. Varginha,MG: Alba, 2009.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Balthazar de Godoy Moreira (Poemas Avulsos)


MATRIZ DE PINDAMONHANGABA

Sempre a contemplo com devotamento!
Entre os seus velhos muros abençoados,
Fechando os olhos, em recolhimento,
Sinto a presença dos antepassados!

Sinto-os tão perto que, por um momento
Quase os diviso junto a mim, parados:
Os que vieram para o casamento...
Os que vieram para os batizados...

Amo esta velha e veneranda igreja!
E peço a Deus que a poupe, exatamente
Assim como é, para que sempre seja

Como um símbolo vivo, onde se encerra
A fé singela e sã de minha gente
O espírito imortal de minha terra!

VELHO BOSQUE

Descendo-se depois, pela ladeira,
Acha-se o velho bosque. Um Deus amigo
Parece que aqui fez o seu abrigo
À sombra da ramada hospitaleira.

Eros ou Pan, arrasta-nos consigo
E entre uma lenda e uma canção brejeira
Nos entretem, durante a tarde inteira,
Na doce evocação de um sonho antigo!

Curvam-se os ramos para nos saudar!
Há em cada fresta o arco-íris de uma flor
E cada tronco que nos vê passar

Como um livro de poemas encantados
Conta a singela história de um amor,
Num par de corações entrelaçados!

O PARAÍBA

Vem de longe, dos vales nebulosos
Da Serra da Bocaina, derivando
Ora entre fráguas, em cachões ruidosos,
Ora em remansos, rebalsado e brando.

Casas, pontes e bosques retratando,
Choças de pobre e casarões suntuosas,
De longe vem, por estirões rolando
Ou traçando coleios preguiçosos.

Mas quando em meio do arrozal virente
Tendo a minha cidade descoberto,
O curso inclina caprichosamente,

Alheio à várzea marginal e a serra,
É só para poder ficar de perto
Namorando mais tempo a minha terra!

JARDIM DA CASCATA

Nos meus dias de infância, que saudade
Das reinações que por aqui fazia!
Então este jardim que parecia
O recanto mais lindo da cidade!

Anos depois, na flor da mocidade
Quando em sonhos minha alma se aprazia,
O Jardim da Cascata me sorria ...
E era o sítio mais lindo da cidade!

Agora velho, de cabelos brancos,
Vendo os jovens aos pares, ternamente
Noivando de mãos dadas, nestes bancos,

Eu penso ainda, com sinceridade,
Que o Jardim da Cascata é realmente
O recanto mais lindo da cidade!

BANDEIRA DE MINHA TERRA

Metro e meio de pano em cores vivas,
O rubro e o auri-verde nacionais,
Um cruzeiro de estrelas expressivas,
Um fulgente diadema ... nada mais.

No entanto, nestes símbolos banais,
Sinto cheio de enlevo, redivivas,
Na mensagem de nossos ancestrais,
Quantas, quantas lembranças emotivas!

E então, a escola, o templo em que rezamos
O rio, a serra, as várzeas de esmeraldas,
O lar a que com fé sempre voltamos,

E onde entre amigos nossa dor se acaba,
Tudo isso evoco quando te desfraldas
Nobre pendão de Pindamonhangaba!

Fontes:
http://www.pindavale.com.br/
http://www.portalpinda.com.br/

Festividades dos XVI Jogos Florais de Curitiba

Estamos em festa. Venha participar!

Nosso site está em construção: http://www.ubtcuritiba.com/

A UBT- Seção de Curitiba apresenta a programação de um dos mais importantes eventos culturais do Paraná em 2010:
"XVI Jogos Florais de Curitiba".
Convidamos e contamos com a sua presença!

Abraço fraterno,
Maria da Graça Stinglin de Araújo
Presidente

PROGRAMAÇÃO OFICIAL – XVI JOGOS FLORAIS DE CURITIBA - 2010

Dias 18, 19 e 20 de junho de 2010

Dia 18 de junho (sexta-feira)

17h45m – Saudação aos visitantes, no saguão do Hotel .Participação de Milton I. Fadel (cantor) e Manoel Moskalewski (músico).

18h15m - Saída para a Câmara Municipal de Curitiba, (a uma quadra do Hotel).

19h – Solenidade de abertura, na CÂMARA MUNICIPAL DE CURITIBA
* Premiação dos estudantes classificados no XVI Jogos Florais de Curitiba.
* Homenagens.
* Apresentação musical, Fabiano Crusara (tenor), Júlio Enrique Gómez (pianista).

Dia 19 de junho (sábado)

8h45m – Passeio turístico por alguns pontos da cidade. Ônibus apanhará os trovadores e convidados no Hotel.
* Almoço - Livre

14h30m – Solenidade de premiação dos trovadores classificados (âmbito internacional-nacional-estadual).
Local: Salão “PARANÁ”, nas dependências do Hotel.
* Apresentação musical: Coral “La Vie en Rose”, da Rede Feminina de Combate ao Câncer, sob a regência da maestrina Ellisana Gazda Kunn.

18h- Saída para o jantar na Chácara "Sapolândia" – ônibus para os visitantes (ida e volta).

19h – Jantar. (Sapolândia – chácara do Vereador João Claudio Derosso, Rua Antonio de Paula, 3695).
* Lançamento do livro "Paraná em Trovas”, organizado por Vânia Maria Souza Ennes .
* Roda de Samba do IEP, com os músicos: Aderli Santi, Cesar Basseti, Harry Korman, Kleber Humphreys, Manoel Moskalewski, Mário G. Damasceno, Milton Fadel, Nivaldo Gouvea Júnior, Orlando Dias e Paulo Dorsa.
* Revoada de trovas.

Dia 20 de junho (domingo)

9h15m: Embarque no hotel, dos visitantes.

10h - Missa em trovas, na Igreja São Francisco de Paula - Rua Desembargador Motta, nº 2.500
* Apresentação musical a cargo de Cirlei Donim (cantora lírica)

12h - Almoço de despedida (por adesão) no Restaurante do Hotel.
*************************************************************************
Hotel “Paraná Suíte” – Rua Lourenço Pinto, nº 456 –– próximo do Shopping Estação e da Câmara Municipal de Curitiba. Fone/fax (41) 3322-4242.

OBS:
Dia 17 de junho – Palestra com Antônio Augusto de Assis –
“A TROVA DE LUIZ OTÁVIO”,
Biblioteca Pública do Paraná, rua Cândido Lopes, nº 133, 3º andar.
Fonte:
UBT/Curitiba

Lançamento do livro "Paraná em Trovas”, organizado por Vânia Maria Souza Ennes

Fonte:
UBT/Curitiba

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Raimundo Nonato da Silva (Os Passarinhos)


Quem engaiola um canário
Um Graúna ou um vem-vem
Dê liberdade pro pássaro
Olhe escute e veja bem
Não faça do pássaro um réu
Ele não ofende ninguém

Eu tenho pena demais
Quando vejo um passarinho
No viveiro ou na gaiola
Sem liberdade e sozinho
Deus lhe fez para voar
Pra cantar e ter um ninho

A lua clareia a noite
De dia o sal é aceso
Mas quem prende um passarinho
Na consciência tem peso
Quem Deus fez para ser livre
Não era para estar preso

O passarinho parece
Um cantador de viola
O pássaro enfeita a floresta
Com a sua cantarola
Deus não gosta de quem prende
O pássaro numa gaiola

Se lembre que a floresta
Tem o ar mais belo e puro
Quem polui a natureza
Espere que no futuro
Deus vai cobrar sua conta
Com correção e com juro

Se a mata fosse minha
O rio, o lago e a fonte.
Talvez existisse hoje
Verde colorindo o monte
E todo mundo sonhava
Com um bonito horizonte

Se a mata fosse minha
Eu zelava até de mais
Mandava varrer a cama
Onde dorme os animais
Porque os brutos precisam
Dormir na cama da paz.

Se a mata fosse minha
Eu mandava alguém cercar
Com uma grande muralha
E mandava eletrificar
As paredes pra dar choque
Em quem quer lhe devastar

Não mate um sabiá
E nem outro passarinho
O cantador da floresta
Só quer amor e carinho
Não faz o mal pra ninguém
Mas alguém destrói seu ninho

Se a mata fosse minha
Lá tinha alegria e festa
Os animais tinham paz
Pássaro fazia seresta
E o homem sem coração
Não devastava a floresta

Se a mata fosse minha
E se eu mandasse nela
Se alguém pegasse um machado
Pra cortar uma árvore bela
Eu cortava os pés de quem
Quer cortar a raiz dela

Se a mata fosse minha
Não seria devastada
Ninguém destruía as árvores
Não existia queimada
Como a mata não é minha
Eu não posso fazer nada

Fontes:
Colaboração do poeta.
Imagem por Wilson Gorj.

Aparecido Raimundo de Souza (Consequências de um Esbarrão)

Imagem de Gutoliva (Guto de Oliveira)
Foi um encontro, aliás, uma trombada casual, muito ligeira, num dia em que faltou luz no prédio comercial onde o Eduardo e a Fernanda trabalhavam. Ela descia afoita, para um lanche de 15 minutos na padaria da esquina. Ele subia para o sexto piso, onde possuía um estúdio de fotografias.

Na pressa, Fernanda jogou longe uma caixa repleta de envelopes que o rapaz carregava com cuidado especial. Se sentindo culpada pela trombada inesperada e, conseqüentemente, vendo o desespero do moço para apanhar os invólucros que se espalharam, se abaixou, solícita, e o ajudou a recolher os pertences.

— Perdão, perdão. Nossa como sou desastrada. Não era intenção...

Eduardo, de cócoras, ia recebendo um a um os envoltórios e os colocando de volta na caixa, ao tempo que jogava a culpa para si próprio:

— Não há o que perdoar. Eu é que não olhava pra frente. Vinha com os pensamentos longe. Machuquei você?

Passando das palavras imediatamente à ação, depositou num canto os documentos — na verdade negativos de filmes — e acariciou o braço de Fernanda. Havia um minúsculo esfoladinho e brotava um filete pequeno de sangue.

—Está doendo?

Fernanda meneou a cabeça de modo negativo.

— Desculpe.

Os olhos de Eduardo, nesse instante, ficaram muito próximos da garota. Os lábios, perto demais, pareciam, na realidade, querer se juntar num beijo de intensidade voraz. Eduardo, contudo, era tímido para essas coisas do amor. Fernanda, por sua vez, nunca havia experimentado um trocar de salivas apaixonado, nem sentido um friozinho na barriga, como o que sentia naquele momento.

Não fosse um sujeito barrigudo com duas crianças pedir passagem, certamente os rostos de ambos teriam se unido no mesmo calor da emoção que os envolvia em cálida ternura.

— Você não me disse seu nome.

— Não! Sou o Eduardo.

Ela se abriu num sorriso largo e meigo.

— O meu é Fernanda. Qual é o seu andar?

— Sexto, 604.

— Décimo segundo, l.20l.

— O que você faz no 604?

— Sou fotógrafo. E você, no l.20l?

— Secretária de um consultório dentário.

Ficaram em silêncio por alguns minutos.

— Quer saber de um segredo? Estou precisando, não é de hoje, passar a mão em mim e fazer uma visitinha a uma cadeira de dentista. Meu sorriso anda meio desfalcado. Seu patrão por acaso é muito careiro?

— Não é patrão, é patroa. Boa de jogo. Faz qualquer coisa para segurar um cliente. A propósito: você me disse que é fotógrafo?

— Disse e confirmo.

— Lembrei de um detalhe interessante. Veja só como são as coisas. Mamãe, dias atrás, me disse que vai mandar fazer um book e me dar de presente no dia do meu aniversário.

— E quando é?

— Segredo. Não posso revelar...

— Nem pra mim?

Eduardo e Fernanda continuaram a jogar conversa fora e a trocar pequenos afagos e carícias. Pareciam colados no piso frio daquele lance de escadas. A pressa se dissipara como por encanto.

— Verei você de novo?

— Claro! Diga onde e quando?

— Calma! Dá pra mim o seu telefone?

— Não posso...

— E por que não?

— Se o der, ficarei sem.

Um sorriso cheio de graça bailou iluminado, no rosto dos dois jovens.

— Então, me dá só o número?

— Só se você me der o seu antes.

— Certamente que sim.

Quase Fernanda perde a hora de voltar ao serviço. Eduardo também se esqueceu de tudo, até das clientes que o esperavam na sala. Subiram juntos, vagarosamente, agarradinhos um no outro, trocando palavras melosas.

— Eu fico aqui. Não quer chegar? Um cafezinho, ao menos?

— Meu tempo esgotou. Amanhã, tudo bem. Se os elevadores estivessem funcionando...

— Olha só como as coisas acontecem na vida da gente. Graças a uma súbita falta de energia acompanhada de uma ligeira colisão de corpos, você cruzou o meu caminho.

— Não foi bem um caminho, mas uma escada enorme...

— Que me fez ficar literalmente preso nos seus degraus.

Dia seguinte, voltaram a se ver e a se falar. Desta vez, não no interior do edifício, ou no lance de escadas onde tudo começou, mas num restaurante aconchegante, perto dali, com música ao vivo e até uma garrafa de champanhe, para comemorar.

De mãos juntas, rostinhos colados, corações batendo descompassados, iniciaram um romance bonito que, meses depois, acabou, realmente, em namoro sério, oficializado na casa dos pais dela, com direito a troca de alianças, presentes, bolo, muita cerveja, churrasco e uma recepção inesquecível para confraternização dos parentes, amigos mais chegados e o anúncio, em primeira mão, da vinda de um lindo bebezinho.

— Vai ser um menino.

— Qual o quê! É menina. E será linda como a mãe...

Foi um encontro, aliás, uma trombada, um esbarrão casual, muito ligeiro, num dia em que faltou luz no prédio comercial onde o Eduardo e a Fernanda trabalhavam. Ela descia afoita, para um lanche de 15 minutos na padaria da esquina. Ele subia para o sexto piso, onde possuía um estúdio de fotografias.

Com esse casal, os desígnios de Deus seguem em frente. A história se repete e haverá de se renovar, indefinidamente. Na verdade, é o milagre da vida, através do seu cotidiano, dando continuidade ao essencial, promovendo a sua parcela de felicidade para que o dia a dia das pessoas não passe como o caracol que se desfaz em baba, ou como o feto abortivo que não viu a luz do sol.

Fonte:
Colaboração do Autor.

Lançamento do Livro “Destino: Inferno”, de Lee Child



Muita aventura, com doses extras de adrenalina e um final de tirar o fôlego. Essa é foi a receita criada Lee Child no seu novo lançamento no Brasil: o livro "Destino: Inferno", publicado pela Editora Bertrand Brasil. Este é o terceiro livro lançado no país com o protagonista Jack Reacher, um norte-americano durão, formado na Academia Militar de West Point, ex-capitão da Polícia do Exército e que, atualmente, roda pelos EUA lutando contra bandidos, sem residência fixa, documentos ou vínculo com qualquer pessoa.

Uma rua movimentada de Chicago, na ofuscante luz do meio-dia. Jack Reacher está simplesmente passeando. Holly Johnson, jovem atraente e atlética, carregando cabides, atrapalhada com seu par de muletas, está obviamente precisando de uma mãozinha. É claro que ele para a fim de oferecer ajuda à pobre moça. Mas o que Reacher encontra é uma arma apontada diretamente para sua barriga. Agora, os dois terão que que se unir e confiar um no outro para enfrentar o inferno que os aguarda. E, reféns de um grupo de melicianos, precisarão sobreviver ao mais terrível pesadelo de suas vidas. Será que a forte coragem de Jack Reacher dará conta do inferno que está por vir?

Lee Child escreve de maneira clara, direta e dura, assim como é Jack Reacher. Sem entrelinhas ou enrolações, cada palavra no livro é um tiro certeiro e imediato. "Destino: Inferno" possui cenas marcadas, com entrada e saídas definidas, cores, iluminação, climax. Desta maneira, o leitor se sente dentro daquele ambiente, como se estivesse acompanhando Jack Reacher durante a sua intensa aventura. Os capítulos apresentam ligações perfeitas, que servem como boas (e necessárias!) pausas, para que o leitor recupere o fôlego e continue a leitura.

A Editora Bertrand também está com uma ação nas mídias sociais onde o General Garber, militar responsável pelo treinamento e comando do herói Jack Reacher na época em que ele ainda fazia parte da Academia Militar, o apresenta para o mundo digital. Você pode se atualizar sobre a vida de Jack Reacher e participar de promoções no Twitter (http://bit.ly/GarberTwitter).

Além disso, você pode ser amigo do General Garber no Orkut (http://bit.ly/GarberOrkut) e no Facebook (http://bit.ly/GarberPerfilFB) . Se quiser saber mais detalhes, curiosidades e trocar informações com outros leitores e fans de Jack Reacher, basta fazer parte da Comunidade Oficial no Orkut (http://bit.ly/comjackreacher) e na Página do Facebook http://bit.ly/GarberPagFB.

Não coma poeira... Siga o rastro de Jack Reacher.

Fonte:
Parceria com a Editora Bertrand.

Lee Child (1954)



Lee Child é o nome artístico de Jim Grant, escritor nascido na Inglaterra, em 1954. Atualmente, ele vive em Nova Iorque. Seu primeiro livro, “Dinheiro Sujo” (killing floor), ganhou o prêmio Anthony Award por melhor romance de estreia. As obras de Lee Child contam as aventuras de Jack Reacher, um ex-policial do exército americano que vaga pelos Estados Unidos envolvido em situações de risco.

Lee Child nasceu em Coventry, na Inglaterra, mas seus pais mudaram-se com ele e seus três irmãos para Handsworth Wood, em Birmingham, quando ele tinha quatro anos, em busca de melhores condições de vida.

Frequentou a escola King Edward's, em Birmingham - frequentada também por J.R.R. Tolkien e Enoch Powell. Seu pai era funcionário público e seu irmão mais novo, Andrew Grant, também é escritor.

Em 1974, aos 20 anos, Grant cursou a Universidade de Direito de Sheffield, em Sheffield, embora não tivesse intenção de se tornar advogado. No período da faculdade, trabalhou nos bastidores de um teatro. Quando se formou, ao invés de seguir o Direito, conseguiu um emprego na área comercial de um canal de TV.

Grant entrou na Granada Television, que faz parte da ITV do Reino Unido Network, em Manchester, como diretor de apresentação. Lá, ele estava envolvido com diversos programas, incluindo Brideshead Revisited, "A Joia da Coroa", Prime Suspect, e Cracker. Ficou envolvido na transmissão de mais de 40 mil horas de programação para a Granada, escreveu milhares de anúncios publicitários, notícias e trailers. Permaneceu na emissora de 1977 a 1995.

Depois de ser despedido por causa de uma reestruturação na empresa, decidiu que queria começar a escrever romances, afirmando que são "a mais pura forma de entretenimento".

Em 1997, seu primeiro livro, "Dinheiro Sujo" (Killing Floor), foi publicado e em 1998 mudou-se para os EUA.

Em 2007, Grant colaborou com 14 outros escritores para criar a série "O Manuscrito de Chopin", narrado por Alfred Molina, que foi transmitido semanalmente na Audible.com, de 25 de setembro de 2007 até 13 de Novembro de 2007.

Obras e prêmios
Killing Floor (Dinheiro Sujo) - 1997
Vencedor do Anthony Award Vencedor do Barry Award Indicado ao Dilys Award Indicado ao Macavity

Die Trying (Destino: Inferno) - 1998
Vencedor do WH Smith Thumping Good Read Award

Tripwire (Não lançado no Brasil) - 1999
Running Blind (Não lançado no Brasil) - 2000
Echo Burning (Não lançado no Brasil) - 2001
Without Fail (Não lançado no Brasil) - 2002
Indicado ao Dilys Award Indicado ao Ian Fleming Steel Dagger Award
Persuader (Não lançado no Brasil) - 2003
Indicado ao Ian Fleming Steel Dagger Award
The Enemy (Não lançado no Brasil) - 2004
Indicado ao Dilys Award
One Shot (Um Tiro) - 2005
Indicado ao Macavity Award
The Hard Way (Não lançado no Brasil) - 2006
Bad Luck and Trouble (Não lançado no Brasil) - 2007
Lista Oficial do Theakston’s Old Peculier Crime Novel of the Year Award 2009
Nothing To Lose (Não lançado no Brasil) - 2008
Gone Tomorrow (Não lançado no Brasil) - 2009
61 Hours

Histórias Curtas
- "James Penney's New Identity", do livro "Fresh Blood 3" (editado por Mike Ripley e Maxim Jakubowski) e do livro "Thriller" (US)
- "The Snake Eater by the Numbers", do livro "Like a Charm" (editado por Karin Slaughter)
- "Ten Keys", do livro "The Cocaine Chronicles" (editado por Jervey Tervalon e Gary Phillips)
- "The Greatest Trick of All", do livro "Greatest Hits" (editado por Robert J Randisi)
- "Guy Walks Into a Bar...", publicado no jornal "The New York Times" em 6 de junho de 2009

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lee_Child

domingo, 13 de junho de 2010

Silviah Carvalho (O Coração que Ama!)


O coração que ama,
É oásis no deserto e alimento ao faminto,
Água ao sedento, força para o fraco,
Consolo ao aflito.

É paz em meio à guerra,
Não tarda, não se esconde,
É um pouco do céu aqui na terra.

O coração que ama
Não busca glória e nem recompensa,
A ninguém diminui, a ninguém entristece,
Na bonança está presente,
Na tormenta não desaparece.

O coração que ama tudo suporta,
Perdoa sem ser perdoado,
Ama sem ser amado,
Não maltrata quando maltratado,
Não julga quando é julgado.

O coração que ama
Não se cansa de fazer o bem,
Não difama, não agride, não acusa,
Sabe a hora de ouvir e a hora de falar,
E se nada pode fazer, sabe a hora de calar.

O coração que ama desse jeito,
Aprendeu com a crucificação,
Que se não pode pôr nos ombros sua cruz,
Te sustenta, te carrega e te ajuda em oração.
----

Vânia Moreira Diniz (Morte na Solidão)

Solidão (pintura de Celso Felipe Carvache)
Mauro estava pensativo. Em raras ocasiões tinha tempo para se deter pensando em alguma coisa. Agia mais do que pensava. e naquele momento enquanto procurava um ponto de ônibus, cansado e atrasado para o trabalho, sua mente martelava dolorosamente.

Desde pequeno suas dificuldades tinham sido muitas e sua família simples morando no interior não lhe havia dado muitas opções. Estudara num colégio público local e logo tivera que parar para trabalhar em dois horários e ajudar seus pais e irmãos.

Muito pequeno compreendera que a vida não era nenhuma brincadeira, porque nas raras ocasiões em que jogava bola com seus amigos era sempre interrompido para atender

a mãe ou porque realmente as horas de trabalho eram intensivas e desgastantes.

Vendia doces, engraxava sapatos e além disso a partir de certo horário atendia num restaurante levando a domicílio pedido de clientes.

Quando completou 14 anos resolveu sair daquela cidadezinha do interior mineiro e tentar a vida na capital.

Esse passo havia sido difícil. Deixar a família, os irmãos pequenos e chegar sozinho em uma cidade grande, sem emprego ou meios de sobreviver, exigia uma coragem que nem de longe pensou possuir.

Trouxe uma carta de recomendação do pequeno estabelecimento em que trabalhava porque todos gostavam muito dele.

No começo pareceu que esse cuidado não adiantaria muito e algumas noites dormiu ao relento em bancos da praça quando estavam vazios ou ninguém o incomodava.Conheceu alguns meninos de sua idade ou mais velhos e mudava de rumo todas a s vezes que sentia o ar pesado ou notava insistência que fumasse ou cheirasse alguma coisa para ele desconhecida.

Acedeu umas duas vezes, mas sentiu-se tão mal que prometeu jamais repetir a dose.Ademais tinha uma índole pouco afeita a qualquer novidade e não gostava de sair de certos hábitos. Tinha uma cabeça boa e sabia como todo menino de sua idade dos efeitos devastadores no uso de drogas.

Havia trazido uns trocados de sua cidade que sua mãe economizara com muito sacrifício e que valeu alguns pães com manteiga ou qualquer coisa que não lhe deixasse prostrado de fraqueza.

Naquele dia achou perto dali um jornal abandonado e resolveu folheá-lo talvez á procura de emprego.Ali mesmo na Rodoviária começou a carregar malas ou ajudar em alguma coisa e sua índole diferente chamou atenção de certas pessoas que freqüentavam o lugar.

Conseguiu uma caixa de engraxate e como tinha prática arranjou alguns fregueses.

A vida não estava sendo fácil, pois havia garotos que se tornaram hostis à sua presença e foi com dificuldade e uma boa dose de sorte que um rapaz ofereceu-lhe emprego numa firma para entregas de mercadorias ou algum outro serviço da mercearia, em troca de cama e comida. Ele aceitou. E dedicou-se encantando fregueses e até ao próprio patrão que era o pai do rapaz.

Assim foi durante algum tempo e ele conseguiu matricular-se em uma escola pública à noite para acabar o primeiro grau, pois já ganhava metade de um salário mínimo e dormia no porão da lojinha.

Não pensava em outra coisa senão trabalhar e estudar. Queria vencer.

Seu patrão era um bom homem. Viu sua luta e enorme dificuldade e como não pudesse lhe pagar o que merecia arranjou-lhe emprego parte da tarde num escritório como officeboy e deixava que ele continuasse dormindo lá.

Conheceu várias pessoas , fez amizades, arranjou outra colocação num prédio como servente e tinha um quartinho para dormir. Um depósito mas que importava?

Quando conheceu Luiza já tinha passado situações difíceis e jamais namorado à sério. Mas aquela menina bonita que entrava no colégio pontualmente e olhava-o insistentemente atraiu completamente sua atenção.

Saíram juntos, mas o namoro não prosseguiu. Era um rapaz bonito, sem dúvida e isso fazia com que muitas moças o procurassem, porém ele fugia de tudo que pudesse transtornar seus planos. O futuro era sua meta. E ele não queria se afastar dela.

A jovem Luiza, entretanto fascinou-o e cedo entendeu que ela nada queria com um zelador de prédio apesar da atração que o rapaz exerceu. Compreendeu isso e sofreu mais ainda perseverando em suas intenções. Há muitos anos empregado no mesmo lugar, sem pagar aluguel pudera até de vez em quando mandar alguma coisa para ajudar os pais.

Seus estudos eram imprescindíveis e com muito sacrifício acabou o 2º grau.

Quando fez concurso para servente no serviço público e passou, não acreditou. Não era um salário fora do comum, mas para ele era tudo o que queria.

Em todo esse tempo jamais tirou da cabeça a moça por quem tinha tão rápido se apaixonado. Tinha relacionamento com outras, mas seu pensamento estava sempre nela.

Sua vida melhorara, alugara um quarto e começara seu novo emprego com determinação. O tempo passava e ele continuava a estudar, fazendo o curso superior em Administração.

E nesse momento fizera um retrospecto de toda o seu passado. Não era mau. Tivera êxito em muitas coisas e pretendia continuar.

Três Anos depois

Mauro havia se casado e lamentavelmente a jovem morrera num acidente de ônibus a dois anos atrás. Gostara da mulher sem, no entanto ter sido realmente apaixonado por ela. Mas sua morte prematura traumatizara-o de verdade. Não tiveram filhos e a figura de Luiza atravessara seus pensamentos mesmo quando estava casado.

Nunca a perdera de vista e sabia até onde morava. Encontraram-se por acaso a seis meses e o rapaz insistira com ela em nova oportunidade. Casaram-se em dois meses.

Mauro ganhava razoavelmente e tinha galgado desde então passos firmes em direção aos seus ideais. Estudava ainda e muito apaixonado pela mulher não conseguia enxergar o quanto ela desdenhava seu valor e suas conquistas profissionais.

Luiza montara um pequeno salão de beleza mas freqüentemente precisava de ajuda em seus gastos que se tornavam cada vez maiores. Ele tudo procurava entender e muitas vezes fechava os olhos em atitudes estranhas da mulher. Amava-a e era tudo.

Brigavam e a moça em diversas ocasiões sumia deixando o marido transtornado.

Voltavam sempre porque ele a compreendia e ela precisava dele.

Jamais a jovem pensou em ter filhos e ele lamentava essa resistência a alguma coisa que lhe faria tão feliz. Mas, na verdade não queria forçá-la a nada.

Viveram assim uns longos tempos e as brigas eram muitas e freqüentes. O amor de Mauro era quase uma obsessão e quando resolveu deixá-la sabendo que ela lhe enganava,

voltou em dois dias pedindo-lhe perdão. Nada o demovia da vontade de tê-la em seus braços em oportunidades várias. No fundo sabia que ela não o amava. Queria conforto, isso sim.

Conclusão

A vida passou entre choques, separações e até agressões físicas mas jamais Mauro pensou em separar-se dela.

Ultimamente sentia-se mal muitas vezes e imaginava que os aborrecimentos que lhe magoavam a existência contribuíam bastante para isso. Tivera oportunidade de separar-se dela e até tentar outra vida mas não admitia nem conseguia pensar em outra mulher.

Por vezes achava que isso era uma doença. E uma doença fatal e traiçoeira.

Profissionalmente estava muito bem, porém um mal-estar tomava conta dele.

Foi ao médico e submeteu-se a vários exames . Luiza percebeu e perguntou-lhe o que tinha

- Não sei disse-lhe ele. Só que pareço piorar a cada dia.
- E os exames?
- Ainda não tive uma resposta. Tenho uma consulta marcada amanhã. Quer ir comigo?
- Não posso. tenho um compromisso. Você sabe, estou querendo vender o salão.
- Quer ajuda? Poderei ver isso para você.
- Mal consegue cuidar de você mesmo -e essas palavras o magoaram- Ainda amava a mulher-

Luiza estava desconfiada que o marido tinha um problema sério de saúde. Ela resolveu procurar o médico e perguntar-lhe.

Ele era um clínico que muitas vezes os atendera e o médico embora com delicadeza fora muito franco com Luiza. Ela não podia acreditar.

- Câncer, Doutor? E o médico silenciosamente confirmara.

Luiza começou a arrumar sua vida. vendeu o salão e Mauro piorava cada vez mais. teve que ser internado para novos exames, seu pulmão estava quase completamente bloqueado.

Foi naquele dia que já respirava com dificuldade que pode ver em cima da mesa uma carta com a letra de Luiza. Dizia simplesmente

Mauro
Sinto muito mas não posso continuar com você. Isso já era previsto. Passei muitos anos com você mas não nasci para isso. Cuide-se. Espero que melhore e não me procure mais.
Luiza

Ele leu as palavras com a sensação de que já sabia o que estava escrito. Deitou-se entorpecido e pensou que até isso ela conseguira: Deixa-lo morrer na solidão.

Fechou os olhos imaginando que ela ficaria bem. Teria uma pensão razoável.

Ele lhe proporcionara isso na luta insana para chegar até ali.

E a ele restava morrer, morrer na solidão.

Fonte:
Vânia Diniz .

Leia mais Gastando menos: Troque Livros!


Sabe aquele livro que você já leu, releu, adorou, mas agora está parado na sua estante? Porque não proporcionar a outra pessoa o mesmo prazer que você teve com essa leitura – e, de quebra, obter créditos para novas descobertas literárias? Se você gostou da ideia e quer renovar a sua estante sem precisar gastar nada e ainda contribuir para com a circulação de literatura variada e de qualidade, a Estante Virtual indica o caminho.

Lançado há quase um ano, o Programa Nacional de Troca de Livros é uma iniciativa da Estante Virtual que faz circular conhecimento, sem deixar de movimentar a economia. Para participar basta levar os seus livros seminovos a um dos sebos participantes do programa e trocar por créditos, em reais, para adquirir novos títulos. 149 sebos de 65 cidades já aderiram ao programa,.

O processo, além de simples, é transparente: no sebo o material é avaliado e, havendo interesse do livreiro, o valor é estabelecido pelo menor preço do livro novo em uma consulta feita no site Buscapé, no momento da negociação. Os cálculos para a troca são os seguintes: o livreiro dá um crédito de 25% do valor de mercado do livro para troca por títulos do acervo local ou 20% em vale-compra virtual, que pode ser usado na compra online de livros dos acervos de mais de 500 sebos da Estante Virtual que aceitam o Pagamento Digital.

Ao estabelecer esse formato, o Programa Nacional de Troca de Livros proporciona uma avaliação justa, que reconhece o valor literário do produto oferecido. Dessa maneira, o programa favorece os livreiros, pois garante um fluxo constante de renovação do acervo, e beneficia os leitores que ao exercitarem a salutar prática da troca – que possui ainda o bônus de ser uma atitude ecologicamente consciente – têm acesso a novos livros sem gastar nenhum dinheiro.

Regulamento do Programa Nacional de Troca de Livros

1. Os sebos participantes do programa garantem, para livros seminovos, um crédito de 25% do valor pago pelo cliente nas livrarias convencionais. O crédito pode ser revertido na aquisição imediata de livros do acervo do livreiro, ou ainda na forma de um vale-compras, a ser usado posteriormente.

2. Entende-se por livro seminovo um exemplar em perfeito estado de conservação, com aspecto de novo, sem qualquer avaria ou sinal de desgaste e sem quaisquer anotações ou grifos no corpo do texto. Dedicatórias ou nomes na contracapa, porém, não são problemas, e não invalidam a troca.

3. A troca não é obrigatória, estando condicionada à análise de estoque pelo livreiro (que pode ter já livros demais daquele título ou mesmo daquele gênero em estoque) e também condicionada à análise do potencial de venda do livro no sebo, que precisa ser de médio a alto.

4. O referencial para o cálculo do crédito do cliente será o valor de mercado dos livros nas principais livrarias convencionais. A pesquisa de preços será feita pelo livreiro, na presença do cliente, no site Buscapé, entre as ofertas das seguintes reconhecidas livrarias online: Saraiva, Galileu, Travessa, Cultura, Americanas e Submarino. Valerá como preço de mercado o preço mais competitivo encontrado, uma vez que é sobre ele que os sebos tradicionalmente norteiam a precificação dos livros dos seus acervos.

5. Modalidade de troca por vale-compras virtual: alguns sebos oferecem também o serviço de vale-compras virtual, remetendo o crédito do cliente como saldo em uma conta Pagamento Digital, o qual o cliente pode utilizar para adquirir novos livros em outros sebos da Estante que já estão aceitando o Pagamento Digital (já cerca de 400). Nessa modalidade, o vale-compras a ser concedido varia conforme o sebo. Consulte a listagem de participantes e procure pelo símbolo do Pagamento Digital para identificar os postos de troca que efetuam esta modalidade de troca.

Notas:
A recompra em dinheiro não faz parte do programa. Os sebos que desejarem oferecê-la, podem negociar diretamente com o cliente um percentual de avaliação ou um valor fixo, conforme suas políticas habituais de recompra.

Fontes:
Estante Virtual.
http://www.estantevirtual.com.br/

Ronaldo Correia de Brito (Menino Sonhando o Mundo)


Quando tio Gustavo retornou do Sul, era madrugada. Ouvi os latidos dos cachorros, as batidas na porta de casa e o nome do meu pai chamado alto. Depois escutei minha mãe chorando, transtornada com a magreza do tio, seu semblante envelhecido. Tudo se passando junto de mim, em torno da rede em que eu fingia dormir para escutar as histórias que nunca me contavam.

- Menino não precisa saber certas coisas - era o que diziam, me enxotando para longe dos mais velhos.

Ofereceram ao tio o pouco que havia em casa: rapadura, queijo, coalhada fresca. Antes, o tio não comia esses alimentos rudes. A fome e o sofrimento na terra distante acabaram com seus orgulhos de homem.

- O Sul não existe - falou enquanto mastigava. - É pura invenção de violeiro repentista. Eles enchem a cabeça da gente de promessas mentirosas. Viajar é o mesmo que correr atrás de fumaça.

Mamãe olhava o irmão, em seguida olhava meu pai, arrumava a roupa vestida às pressas, sem ajuda de um espelho. Era a mais inquieta de todos nós, a que menos compreendia o mundo nebuloso de onde tio Gustavo retornava. Para ela, além do Sertão só existiam a Amazônia e o Sul.

Meu pai me dava instrução para o dia que eu tivesse de migrar. Aprendera a ler sozinho e ensinava o que sabia. Nossos livros estavam gastos, de tanto passar de mãos. Não eram muitos: A História Sagrada, As Mil e uma Noites, o Romance de Carlos Magno e os Doze Pares de França, A Ilíada. Para que precisávamos de mais livros? Toda sabedoria do mundo se concentrava nestes. Sem transpor os cercados da fazenda, conhecia as cidades da Terra: as de antigamente e as de agora.

- Você foi ao Mato Grosso? - perguntou meu pai.

- Fui, comecei a viagem por lá. Trabalhava numa fazenda de café. Os grileiros me fizeram de escravo. Nunca via a cor do dinheiro, pois estava sempre devendo ao barracão. Tomaram minhas roupas e até o fumo do cigarro eles controlavam. Tive malária e pensei que não escapava com vida. Ninguém daqui sabe o que é uma febre. Ela sempre chegava na hora certa e era a única certeza naquelas paragens. Quando senti que ia morrer, fugi por dentro da mata. Nem sabia para que lado ficava o norte. Desaprendi a olhar o céu e a me guiar pelas estrelas. Só enxergava a copa alta das árvores.

O tio enrolou um cigarro na palha de milho e de onde eu estava senti o cheiro conhecido do fumo. Quando crescesse eu também fumaria como todos os homens.

- Atravessei muitos rios até chegar à cidade; quase morro. Mas estou de volta e é como se nunca tivesse saído pra lugar nenhum.

- Você viu a cidade? - perguntou meu pai, com sua calma habitual.

Sem mexer-me na rede, para não descobrirem que eu escutava a história e percebia o alvoroço da família, busquei imagens dos meus livros para ilustrar a conversa misteriosa dos adultos.

- Fale da cidade - pediu minha mãe.

- A cidade é tão conhecida, que nem é preciso visitar. A gente tem na memória.

Contou sobre o que eu mais esperava ouvir. O viaduto elevado como os jardins suspensos da Babilônia, maravilha do mundo por onde passavam pessoas e carros. Embaixo, plantações de flores trazidas do levante e do poente. A torre de uma catedral gótica, parecendo o minarete de uma mesquita de Bagdá. Cheguei a ver o califa Harum al Raschid, suas duas mil concubinas e o muezim anunciando a oração para os fiéis. Lembrava um aboio de vaqueiro tangendo o gado no fim de tarde. Embalado pela voz do tio, avistei um primo no exílio da Babel, erguendo as paredes de um edifício alto. O elmo rolava da cabeça, ele tombava anônimo das muralhas do castelo franco e ficava caído no chão de asfalto. Ninguém chorava por ele.

O resto se confundiu nos sonhos, como a noite no dia que principiava.

Fontes:
Jornal de Literatura Rascunho.
Imagem = http://mardepalavras.blogspot.com/

Bráulio Tavares (Literatura e Enigmas, nas obras de Guimarães Rosa)


James Joyce gabou-se certa vez de que os críticos literários iriam passar cem ou duzentos anos tentando decifrar o seu “Ulisses”. O mesmo poderia ser dito de Guimarães Rosa, ele também um notório preparador de armadilhas. Os livros de Rosa estão cheios de pequenas coisas incompreensíveis que fazem a gente se deter na leitura: “Mas o que diabo será isto?” A coisa funciona como aqueles alçapões de pegar aves ou bichos: se a gente pisa e passa adiante escapa, mas, se parar, o alçapão se abre e nos engole. Com o texto de Rosa é a mesma coisa. Vemos algo indecifrável, paramos, pensamos... e o alçapão que se abre é o do entendimento, quando “matamos a charada” e por trás da resposta vemos o sorriso largo e maroto do autor, satisfeito como um menino.

Rosa era mais enigmático do que Joyce, no sentido do emprego de símbolos propositais, códigos encobertos, alusões semi-aparentes à flor do texto. Perceber uma dessas referências cifradas (e mais ainda, constatar que o autor, em carta ou entrevista, confirma nossa descoberta) é experimentar a irresistível vertigem de supor que naqueles textos de dimensões colossais tudo é enigma, código, charada pronta com resposta à nossa espera.

Um livro como “Recado do Nome” de Ana Maria Machado, analisando as alusões veladas nos nomes dos personagens de Rosa nos dá uma medida dessa intencionalidade ferrenha. Saímos da leitura envoltos numa paranóia semântica, na idéia fixa de ver duplo sentido no termo mais casual. Tudo é armadilha, tudo “está ali por algum motivo”. Há um episódio em que Rosa comentava com João Cabral um trecho (se não me engano do “Corpo de Baile”) em que alguém corta a jugular de um animal, e no fim da frase ele usa assim a pontuação: “.!.”, ou seja, ponto, exclamação e ponto. Como Cabral parecesse não entender, Rosa piscou o olho e disse: “É para a exclamação ficar parecendo o jato de sangue... Gostou?!” Esse espírito lúdico, travesso, de meninão de óculos brincando com a linguagem, é uma das características mais simpáticas da obra de Rosa.

Em “Recado do Morro”, por exemplo, existe uma complexa associação de nomes próprios entre os sete arruaceiros que ameaçam Pedro Orósio, as sete fazendas percorridas por ele em sua viagem, e sete “planetas” (Sol, Lua, Vênus, Marte, etc.) Duvido que algum crítico conseguisse deslindar esse paralelo se o próprio Rosa não o tivesse explicado tintim por tintim numa carta ao seu tradutor italiano, Edoardo Bizarri. A correspondência de Rosa com Bizarri e com o tradutor alemão, Curt Meyer-Clason, nos fornece uma avalanche de revelações sobre o que está oculto sob seus textos. Escritor em igual medida metódico e intuitivo, catalografista e improvisador, Rosa é um caso fascinante de uso permanente da chamada “intertextualidade” e da escrita que permite múltiplas leituras. Nem toda literatura é charada e enigma, mas a dele sem dúvida o é, e me arrisco a dizer que é um poço inesgotável.

Fontes:
Portal Cronópios. Este artigo foi publicado em sua coluna diária sobre Cultura no "Jornal da Paraíba" (http://jornaldaparaiba.globo.com).
Caricatura = Jornal da PUC - Edição 178 - 27/10/2006

Projeto Viajando na Leitura, de Laé de Souza


Executado em parceria com empresas de transporte coletivo, destina-se aos usuários de ônibus intermunicipal, interestadual e metrô. Os passageiros têm à disposição obras do escritor Laé de Souza para leitura. A idéia é proporcionar entretenimento e incentivar o hábito da leitura com crônicas curtas e bem-humoradas.

Na aplicação no metrô o usuário retira a obra, como empréstimo, com os monitores em estandes instalados nas entradas das estações. Lê durante o percurso e a devolve em qualquer estação nas gôndolas instaladas junto às saídas. O projeto já foi desenvolvido no metrô-SP, na linha 5 – Lilás (Largo Treze / Capão Redondo) durante 15 dias.

Na aplicação em ônibus, o passageiro recebe a obra para leitura no início da viagem, devolvendo-a ao motorista ou aos monitores, no final da viagem. O projeto já foi aplicado em parceria com a Viação Cometa, na linha Sorocaba-São Paulo.

Fonte:
Laé de Souza. Projetos de Leitura. http://www.projetosdeleitura.com.br/proj04.html