sábado, 23 de fevereiro de 2008

Joaquim Evónio (Carta-Poema do Amor Universal)

foto de Martos Ribeiro

Não invoque meus poderes soberanos... depois não os poderá controlar... nem a eles, nem aos efeitos que provocam sobre nós!

Deixe-os descansar na concha em que dormem desde épocas remotas...

Vamos brindar aos tempos antigos em que nossas almas desnudas passeavam por entre as flores do paraíso... e os corações revoltos ansiavam asas para ganharem eternidades...

Momentos em que o mais ligeiro e efêmero afago epidérmico era um vulcão de primavera florida, transpondo almas e corações para o apex do universo...; numa transmutação que já não se sabia onde começava ou acabava, exatamente porque não tinha princípio nem fim...

Também não tinha morada, era mudança em andamento perpétuo, órbita estelar em movimento, beijos caídos do espaço e recolhidos nas taças quentes dos seios sequiosos...

Vôos sem pássaros ou borboletas dentro, apenas harmonia ou música sem pauta ou instrumento, melodia ou som flutuante sem apoio material, beijo sem lábios ondulantes caído nas mãos seduzidas duma amante amada para sempre abraçada ao seu amor...

Sem braços, sem corpo, só alma... chuva na ausência de tempestade sobre o sensível orvalho brotante em gotas de gineceu... à espera do fecundo néctar vindo do sidério, puro e filtrado pelas nuvens caprichosas de todos os céus, para descansar finalmente naquelas pétalas abertas, quase receosas mas abertas, altar iluminado à espera do amor...

Aproveita o silêncio da campina e faz dele o sino desta noite, bebamos o maná que brota de nós e trocamos de forma só nossa e profunda, transforma toda a canção em emblema de amor... E voa... Voemos como prosélitos que somos, por entre as nuvens de flocos brancos ou cinzentos, qualquer côr serve à limpidez dos sentimentos que nos enlevam e transportam por esse espaço etéreo...

Não fales, deixa selar de beijos esses lábios cansados da vida de mágoas, guardá-los num recôndito espaço do meu coração grande e forte, ali ficarão para sempre como recordação de toda a ternura da vida, até que a vida dure...

E enquanto formos capazes de voar, haverá juventude nestes corações ágeis e turbulentos, criadores e aventureiros, navios nos desertos dos ares ou gigantes contra todas as agruras que se lhes deparem....

Navegadores somos para sempre, objetivos temos e os buscamos com ardor, havemos de descobrir todas as terras por descobrir, e os céus também, e os espaços... e o que para além deles porventura ficar...

Somos os argonautas da amanhã porque já de ontem viemos e construímos um ninho de amor donde nasceram estes pássaros viandantes capazes de descortinar futuros inesperados e de lançar olhares de fogo sobre as madrugadas receosas de amanhecer para os corações apaixonados...

Viajaremos à vela ou apenas impulsionados pelo vento do amor... chegaremos ao nosso Shangri-lá e aí repousaremos e meditaremos para continuar a viagem eterna a que nos propusemos a bem da humanidade que acreditou em nós!...

Lá em baixo, aquela aldeiazinha é cada vez mais pequena, liliputiana, quase tão ridícula como as disputas dos homens, e aqui vamos nós, supernos e viajantes, nautas de hoje e de sempre, espargindo pelo universo o que somos e o que queremos...

A missão é grande mas ao nosso alcance, precisa de força, de muita força, daquela que só as sinergias do amor podem recolher para distribuir por todos quantos dela precisam para nos acompanharem nesta navegação de rumo certo e decidido!

Deram-se as mãos, entrelaçaram-se os corações, a humanidade ficou mais forte! Que poderá recear? Está mais do que nunca pronta para enfrentar o futuro. Este é o desconhecido e o desconhecido é o amanhã. Para lá chegar é indispensável ter aprendido o ontem e dissecado o hoje... Temos a certeza, porque não estamos sós, de que lá chegaremos....

O nosso objetivo, qualquer forma que revista do ponto de vista formal, só pode ter um nome, pois foi prosseguido e consolidado por nós. Esse nome só pode ser VITÓRIA!
Março de 2006

Fonte:
Site Varanda das Estrelícias
http://www.joaquimevonio.com/

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