Era verão. O sol, àquela hora, tornava-se abrasador. O calor insuportável martirizava quem passasse por aquela estrada marginada de vegetação rarefeita e ressequida. Nenhuma árvore havia que oferecesse frutos ou abrigo ao viajante. Também não se vislumbrava rio, riacho ou poço com água.
Mas, a sagrada missão daquele homem levava-o a todos os lugares onde a sua palavra fosse necessária à salvação das almas. E, no cumprimento dessa missão, Jesus seguia solitário, passos trôpegos, sob o sol abrasador.
Padecia fome, sede e cansaço.
Foi quando avistou um canavial. Seguiu em sua direção. Ali refrescou o seu corpo e matou a fome e a sede com alguns gomos de cana.
Ao retirar-se do canavial, recuperado e agradecido, Jesus estendeu as mãos sobre as canas e as abençoou:
— Eu as abençoo por me haverem alimentado e aplacado minha sede. De vocês o homem tirará um alimento bom e doce.
O canavial abençoado por Jesus recebeu, no outro dia, a visita do diabo.
À mesma hora, saiu o diabo de sua morada no inferno e lá vem galopando, desembestado, pela dita estrada.
— Um canavial! — exclamou ao ver as canas. — Vou-me refrescar que o calor das caldeiras do inferno hoje estava muito forte. Queimou-me o rabo e os chifres!
E mergulhou, estabanadamente, entre as canas.
Estas, aborrecidas com o importuno, atingiram o corpo do diabo com os seus pêlos. Ao sentir o comichão, o diabo começou a coçar-se.
Além do calor e da sede, a coceira! Agoniado, o diabo quebrou uma cana e começou a chupá-la com tal sofreguidão que o caldo, azedo, caiu-lhe no goto e abrasou-lhe as goelas. Ele atirou a cana. fora e praguejou:
— Maldição! De vocês o homem há de tirar uma bebida tão ardente como as caldeiras do inferno!
Assim é que da cana, graças à bênção de Nosso Senhor, o homem extrai o açúcar e, em virtude da maldicão do diabo, a cachaça.
Fonte:
Pimentel, Altimar de Alencar. Saruã; lendas de árvores e plantas. Rio de Janeiro, Livraria Editora Cátedra / Brasília, Instituto Nacional do Livro, 1977.
Disponível em http://www.jangadabrasil.com.br/setembro49/especial23.htm
Mas, a sagrada missão daquele homem levava-o a todos os lugares onde a sua palavra fosse necessária à salvação das almas. E, no cumprimento dessa missão, Jesus seguia solitário, passos trôpegos, sob o sol abrasador.
Padecia fome, sede e cansaço.
Foi quando avistou um canavial. Seguiu em sua direção. Ali refrescou o seu corpo e matou a fome e a sede com alguns gomos de cana.
Ao retirar-se do canavial, recuperado e agradecido, Jesus estendeu as mãos sobre as canas e as abençoou:
— Eu as abençoo por me haverem alimentado e aplacado minha sede. De vocês o homem tirará um alimento bom e doce.
O canavial abençoado por Jesus recebeu, no outro dia, a visita do diabo.
À mesma hora, saiu o diabo de sua morada no inferno e lá vem galopando, desembestado, pela dita estrada.
— Um canavial! — exclamou ao ver as canas. — Vou-me refrescar que o calor das caldeiras do inferno hoje estava muito forte. Queimou-me o rabo e os chifres!
E mergulhou, estabanadamente, entre as canas.
Estas, aborrecidas com o importuno, atingiram o corpo do diabo com os seus pêlos. Ao sentir o comichão, o diabo começou a coçar-se.
Além do calor e da sede, a coceira! Agoniado, o diabo quebrou uma cana e começou a chupá-la com tal sofreguidão que o caldo, azedo, caiu-lhe no goto e abrasou-lhe as goelas. Ele atirou a cana. fora e praguejou:
— Maldição! De vocês o homem há de tirar uma bebida tão ardente como as caldeiras do inferno!
Assim é que da cana, graças à bênção de Nosso Senhor, o homem extrai o açúcar e, em virtude da maldicão do diabo, a cachaça.
Fonte:
Pimentel, Altimar de Alencar. Saruã; lendas de árvores e plantas. Rio de Janeiro, Livraria Editora Cátedra / Brasília, Instituto Nacional do Livro, 1977.
Disponível em http://www.jangadabrasil.com.br/setembro49/especial23.htm
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