O final do século XVI, em Portugal, era vivido num clima de insatisfação e intranquilidade. A Igreja, inconformada com a expansão do protestantismo, se armou para contra-atacar com a contra-Reforma. O estado português, que no início do século vivera seu período de maior glória com as conquistas ultramarinas e o sucesso do comércio com o oriente, via-se, nessa época, em plena decadência, no período mais negro de sua história.
É nesse período de inquietações e tensões que veremos surgir o Barroco, estilo que será praticado por todas as formas de arte.
Em Portugal, o Barroco teve início em 1580, com a unificação da Península Ibérica em razão do desaparecimento de D. Sebastião, rei de Portugal, na batalha de Alcácer-Quibir, no norte da África. O Barroco se estenderá até 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana em pleno século XVIII.
No Brasil, o Barroco teve início com a publicação de Prosopopéia, de Bento Teixeira, em 1601, uma das muitas imitações de Camões na literatura brasileira. O final do Barroco ocorrerá em 1768 com a fundação da Arcádia Ultramarina e a publicação do livro Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa. O barroco, portanto, floresceu entre dois classicismos: o do século XVI (Renascimento) e o do século XVIII (Arcadismo).
Desde o começo da reforma Luterana, a Europa vivia em permanente tensão. Nunca as questões religiosas tiveram tanta importância. Foi uma época em que muitos morreram perseguidos por crenças e religiões.
Os países que adotaram outras religiões romperam com a Igreja Católica interessados não apenas nas questões religiosas, mas, também, na econômica. Ao manifestarem sua independência, eles puseram as mãos em muitos dos bens da Igreja em seu território.
A Igreja, que já perdia influência desde o Renascimento Comercial, resolveu não tolerar mais esta afronta e contra-atacou em duas frentes: no Concílio de Trento (1545 a 1563) e com a Companhia de Jesus (1534). A Companhia de Jesus, por meio de seus jesuítas, tornou-se inimiga da sociedade burguesa, das monarquias absolutas, dos protestantes e judeus. Foram cem anos de batalhas religiosas em que muitos foram mortos em revoltas e nas fogueiras da Inquisição. O comércio Português com as Índias encontrava-se em declínio e Portugal, que se endividara pensando exclusivamente nessas conquistas, não tinha outra atividade que lhe rendesse o necessário (a agricultura tinha sido completamente abandonada).
Para piorar ainda mais o quadro econômico, surgiu um problema político: D. Sebastião, rei de Portugal, desaparecera em Alcácer-Quibir, deixando o trono sem herdeiros portugueses que o substituíssem. Temos, então, a unificação da Península Ibérica sob o comando do rei espanhol Henrique II.
Sob o domínio da Espanha, rapidamente chegava a Portugal e ao Brasil a influência da Escola Espanhola ou Barroca.
No Brasil, aconteciam a invasão dos holandeses, o apogeu e a decadência do ciclo da cana-de-açúcar.
Marcado pelas lutas religiosas e pela crise econômica, surgia o Barroco, combatendo a forma abstrata, idealizadora e equilibrada do Renascimento e colocando em cena a luta entre pólos opostos: o homem e Deus, o pecado e o perdão, a religiosidade medieval e o paganismo renascentista, o material e o espiritual. Tentando fugir da realidade, o autor barroco sobrecarrega a poesia de figuras como a metáfora, a antítese, a hipérbole e a alegoria. A arte assume, então, uma tendência sensualista, que se traduz num exagerado rebuscamento.
O termo barroco denominou todas as manifestações artísticas do século XVII e XVIII: a literatura, a música, a pintura, a escultura e a arquitetura.
A origem da palavra remete-nos a vários sentidos:
• Forma de raciocínio em que, de duas premissas iniciais, se infere uma
conclusão;
Ex.:
I) todos os homens são mortais
II) Pedro é homem
III) logo, Pedro é mortal.
• Pérola defeituosa, de formação irregular;
• Terreno desigual, assimétrico.
Qualquer desses significados é bom e estabelece relações com a estética barroca, a qual apresenta jogo de idéias, rebuscamento, assimetria.
Mesmo considerando o Barroco como o primeiro movimento literário e Gregório de Matos nosso primeiro poeta realmente brasileiro, ainda não se pode isolar o Brasil de Portugal. Como afirma Alfredo Bosi: “No Brasil, houve ecos do Barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório de Matos, Botelho de Oliveira, Frei Itaparica e as primeiras academias repetiram motivos e formas do barroquismo ibérico e italiano”. Além disso, os dois principais autores do Barroco, Gregório de Matos e Padre Vieira, tiveram suas vidas divididas entre Portugal e Brasil. Por essas razões, não estudaremos separadamente o Barroco português e brasileiro.
Cultismo e conceptismo
Podemos notar dois estilos no barroco literário: o Cultismo e o Conceptismo.
Cultismo é o estilo barroco caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante; pela valorização do pormenor mediante jogos de palavras, com visível influência do poeta espanhol Luís de Gongora; daí o estilo ser conhecido, também, por Gongorismo. Eis o soneto mais famoso desse estilo:
“Enquanto, em vão, de ouro bunido brilhar
O sol já suplantado em seu cabelo,
E tua branca fronte, enquanto a um lírio
Ardente mira ao prado, mas sem vê-lo,
E enquanto aos lábios teus seguindo vão
Mais do n´alva ao cravo muitos olhos,
E enquanto anula com desdém loução
Cristais sem par seu desdenhoso colo,
Goza o cabelo, o colo, o lábio, a fronte,
Antes que enfim não só tua era dourada,
Tu também, mais cravo e sol luzente
Em prata se envelheçam, flor de ontem
E disso ainda caias transformada
Em fumo, em terra, em pó, em sombra, em nada”
Luís de Gongora
Paráfrase
É nesse período de inquietações e tensões que veremos surgir o Barroco, estilo que será praticado por todas as formas de arte.
Em Portugal, o Barroco teve início em 1580, com a unificação da Península Ibérica em razão do desaparecimento de D. Sebastião, rei de Portugal, na batalha de Alcácer-Quibir, no norte da África. O Barroco se estenderá até 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana em pleno século XVIII.
No Brasil, o Barroco teve início com a publicação de Prosopopéia, de Bento Teixeira, em 1601, uma das muitas imitações de Camões na literatura brasileira. O final do Barroco ocorrerá em 1768 com a fundação da Arcádia Ultramarina e a publicação do livro Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa. O barroco, portanto, floresceu entre dois classicismos: o do século XVI (Renascimento) e o do século XVIII (Arcadismo).
Desde o começo da reforma Luterana, a Europa vivia em permanente tensão. Nunca as questões religiosas tiveram tanta importância. Foi uma época em que muitos morreram perseguidos por crenças e religiões.
Os países que adotaram outras religiões romperam com a Igreja Católica interessados não apenas nas questões religiosas, mas, também, na econômica. Ao manifestarem sua independência, eles puseram as mãos em muitos dos bens da Igreja em seu território.
A Igreja, que já perdia influência desde o Renascimento Comercial, resolveu não tolerar mais esta afronta e contra-atacou em duas frentes: no Concílio de Trento (1545 a 1563) e com a Companhia de Jesus (1534). A Companhia de Jesus, por meio de seus jesuítas, tornou-se inimiga da sociedade burguesa, das monarquias absolutas, dos protestantes e judeus. Foram cem anos de batalhas religiosas em que muitos foram mortos em revoltas e nas fogueiras da Inquisição. O comércio Português com as Índias encontrava-se em declínio e Portugal, que se endividara pensando exclusivamente nessas conquistas, não tinha outra atividade que lhe rendesse o necessário (a agricultura tinha sido completamente abandonada).
Para piorar ainda mais o quadro econômico, surgiu um problema político: D. Sebastião, rei de Portugal, desaparecera em Alcácer-Quibir, deixando o trono sem herdeiros portugueses que o substituíssem. Temos, então, a unificação da Península Ibérica sob o comando do rei espanhol Henrique II.
Sob o domínio da Espanha, rapidamente chegava a Portugal e ao Brasil a influência da Escola Espanhola ou Barroca.
No Brasil, aconteciam a invasão dos holandeses, o apogeu e a decadência do ciclo da cana-de-açúcar.
Marcado pelas lutas religiosas e pela crise econômica, surgia o Barroco, combatendo a forma abstrata, idealizadora e equilibrada do Renascimento e colocando em cena a luta entre pólos opostos: o homem e Deus, o pecado e o perdão, a religiosidade medieval e o paganismo renascentista, o material e o espiritual. Tentando fugir da realidade, o autor barroco sobrecarrega a poesia de figuras como a metáfora, a antítese, a hipérbole e a alegoria. A arte assume, então, uma tendência sensualista, que se traduz num exagerado rebuscamento.
O termo barroco denominou todas as manifestações artísticas do século XVII e XVIII: a literatura, a música, a pintura, a escultura e a arquitetura.
A origem da palavra remete-nos a vários sentidos:
• Forma de raciocínio em que, de duas premissas iniciais, se infere uma
conclusão;
Ex.:
I) todos os homens são mortais
II) Pedro é homem
III) logo, Pedro é mortal.
• Pérola defeituosa, de formação irregular;
• Terreno desigual, assimétrico.
Qualquer desses significados é bom e estabelece relações com a estética barroca, a qual apresenta jogo de idéias, rebuscamento, assimetria.
Mesmo considerando o Barroco como o primeiro movimento literário e Gregório de Matos nosso primeiro poeta realmente brasileiro, ainda não se pode isolar o Brasil de Portugal. Como afirma Alfredo Bosi: “No Brasil, houve ecos do Barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório de Matos, Botelho de Oliveira, Frei Itaparica e as primeiras academias repetiram motivos e formas do barroquismo ibérico e italiano”. Além disso, os dois principais autores do Barroco, Gregório de Matos e Padre Vieira, tiveram suas vidas divididas entre Portugal e Brasil. Por essas razões, não estudaremos separadamente o Barroco português e brasileiro.
Cultismo e conceptismo
Podemos notar dois estilos no barroco literário: o Cultismo e o Conceptismo.
Cultismo é o estilo barroco caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante; pela valorização do pormenor mediante jogos de palavras, com visível influência do poeta espanhol Luís de Gongora; daí o estilo ser conhecido, também, por Gongorismo. Eis o soneto mais famoso desse estilo:
“Enquanto, em vão, de ouro bunido brilhar
O sol já suplantado em seu cabelo,
E tua branca fronte, enquanto a um lírio
Ardente mira ao prado, mas sem vê-lo,
E enquanto aos lábios teus seguindo vão
Mais do n´alva ao cravo muitos olhos,
E enquanto anula com desdém loução
Cristais sem par seu desdenhoso colo,
Goza o cabelo, o colo, o lábio, a fronte,
Antes que enfim não só tua era dourada,
Tu também, mais cravo e sol luzente
Em prata se envelheçam, flor de ontem
E disso ainda caias transformada
Em fumo, em terra, em pó, em sombra, em nada”
Luís de Gongora
Paráfrase
“Enquanto o sol brilha tentando competir com seus cabelos;
Enquanto a brancura do teu rosto olha com desprezo a brancura do lírio, porque o seu rosto é mais branco;
Enquanto teus lábios vermelhos são cobiçados por mil olhares e dão inveja ao cravo da manhã que ninguém vê;
Enquanto teu colo ofusca o brilho do cristal
Enquanto, moça, tens toda essa beleza, aproveita antes que te transformes em terra, em fumo, em pó, em sombra, em nada.”
Conceptismo: é o estilo barroco marcado pelo jogo de idéias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada. Um dos principais seguidores do Conceptismo foi o espanhol Quevedo.
Uma crítica conceptista ao estilo cultista
“Se gostas da afetação e pompa de palavras e do estilo que chamam de culto, não me leias.
Quando este estilo florescia, nasceram as primeiras verduras do meu; mas valeu-me tanto sempre a clareza, que só porque me entendiam comecei a ser ouvido. (...) Este desventurado estilo que hoje se usa, os que o querem honrar chamam-lhe de culto, os que o condenam chamam-lhe de escuro, mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é escuro, é negro, e negro boçal e muito cerrado. É possível que somos portugueses, e havemos de ouvir um pregador em português, e não havemos de entender o que diz?!”
Padre Antonio Vieira
Fonte:
Santos, Eberth Santos. Moura, Josana. Literatura em ação. 2. ed. Uberlandia, MG: Claranto, 2004. p.60-63
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