quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Shrike (Acordando como Lázaro)

De autoria de poeta sob pseudônimo Shrike, da cidade de Campo Mourão (PR) para o I Premio Talentos de Poesia 2009
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Então certa vez
Dormi como Lázaro
Sob a ponte que conduzia
Até um rincão pobre,
Onde ao longe luzia
Tapetes de soja e outras lentilhas
E não soube qual pássaro nobre
Cantou na manhã que acordei
Pálido, ou apenas sonhei?

Havia um homem em pé ao lado
Recitando um cordel
De renome cruel, pensava poder podar o sol
Com rimas e falácias sertanejas
E não avistou ao longe o vendaval.

Avezinha frágil adejava o prado
Asa partida, peito arfante, longe o céu
Ao seu encalço célere como
As falanges das trevas
O falcão.
Seu peso de penas pendentes
Assombrava os pasmos abaixo.
Por que falcão voando premente
Nas alturas com asas em fachos
Esplendidos se abate sobre ossos?

Um homem tangia um gado de homens
Com um cajado pintado de sangue nas mãos
O velho do cordel assoprou ao léu quatro rimas
E não entendi nenhuma, ainda derrotado pelo sono
Ainda mais estúpido do que outrora fui.

Choveu penas sobre mim que fiquei sozinho
Tive que andar novamente olhando com desalento
O meu nicho sob a ponte se dissolvendo, cedendo
Lugar a uma bruma que me impeliu para a trilha de pedras.

O homem do cordel ficou no meu lugar
O falcão foi caçar a oeste da ponte
E aboiando com a miséria dos meus pés
Fiquei chutando chão para alinhar horizonte.
A estrada se pressentia de uma chegada ausente
E só ela sabia a grande distância da fonte.
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