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SÃO AMORES?
São amores estas ondas que trazes
Vindas de continentes tão
distantes,
Que descrevo, agora, em versos e
frases,
Em eternos e pequenos instantes?
São? Ora, me contas uma quimera!
E são as ondas como são amores,
Este incessante vai-e-vem? Quem
dera,
Seria tão mais fácil aos
amadores!
Mas não! Mais amor do que as
ondas são
Recifes que na praia ao longe
avisto
E misturam-se, ao horizonte, ao
mar.
Marés altas e baixas passarão
E estas pedras tão imóveis,
insisto,
Ficarão para sempre em nosso
olhar.
GAVETA
Sonha nos braços da amada
Viver pra sempre o poeta,
Como uma frase olvidada
No fundo de uma gaveta.
Não que não será usada.
A frase, inda que secreta,
Vive n’alma apaixonada
E por esse amor completa.
E existe no seio amado,
De frases uma gaveta
A espera de seu poeta.
Para que na hora correta
Possa recitar ao lado
Do motivo de seu fado.
SONHO SOBRE
UM CAMPO DE CENTEIO
Voando passei por prado de
centeio
Vereda abriu sob meu ventre
voador
Voltava num vasto devaneio
Vôo d’alma livre como dum condor
E os trigos gritavam: Sim, ele
veio!
E me olhavam os ares com pudor
A tudo em volta voava eu alheio
De tal modo a sonhar ser sonhador
As estrelas calam a fala ao meio
Escala o sol a terra com ardor
Cola a noite o horizonte ao seio
Do menino a luz nos olhos é dor
Lembrar-se torna, ao travesseiro,
anseio
De um futuro, de sonhos, rimador.
DOCE MEL
Doce mel de vívidos canaviais,
É a baba dos deuses pelos
manjares.
Tem, portanto, propriedades
vitais
Como a cura para certos pesares.
E estes pesares são os
passionais,
Que vivem espreitando nossos
lares
Afim de levar um coração mais
Para o umbral das almas que não
têm pares.
Sim, amigo etílico, você entende
O que um homem pode, algum dia,
passar.
O ruim é que teu consolo mal
rende:
Os olhos já começam a pesar,
O som já quase não mais se
compreende
E tudo que se deseja é acordar.
DA TRISTEZA
D’MAR
Triste é o mar que é só mar
E milhas à frente nada,
A não ser o alvo luar
E minha rota ignorada.
Triste, então, é meu pensar
Na breve vida passada,
E dirijo ao mar o olhar,
Ao desejar ser tocada
Minh’alma por belas mãos,
Que acariciam, ao vento,
Em farta imaginação,
O bom de haver sofrimento.
Mas, teus olhos voltarão,
Quando não houver mais tempo.
SONETO DO
TEU PARTIR
O que restou, somente, foi teu
lenço
Largado, na partida, sobre o
cais.
Acompanhando-o está meu silêncio
E essa dor que não se despede
mais.
Queria que na brisa do oceano
Eu sentisse de novo teu perfume
E tornassem, com ventos
assoprando
As lembranças da razão que nos
une.
Só assim poderei virar de costas
Para o mar onde agora tu te
encontras
E caminhar com o espírito leve.
E a cada atracar de uma nova
frota
Uma esperança em meu coração
brota:
A de ler, para sempre, quem
escreve.
CORAÇÃO
SELETIVO
Ao notar o arriar das velas,
Percebi que breve iria
Deixar lembranças mui belas,
Neste porto da alegria.
Sei que nada fiz por elas.
A mente, conservei fria.
Reparei nas caravelas
Que atracavam na baía,
E de todas me esqueci
Quando, de manhã, parti
Somente vendo uma imagem.
E durante toda a viagem,
Acompanhou-me a miragem,
Que, um dia, pude ter de ti.
SONETO DO
ETERNO NAVEGAR
É longínquo o horizonte buscado
Como teu semblante, é cálido e
firme,
E quanto mais as ondas eu domine
Fica distante o som do teu
pecado.
Mas não pretendo, em falso,
redimir-me
Pois sei o que me faz ter
navegado
Tantas milhas ao mar, desesperado
A alcançar a imaginação sublime.
Se no horizonte não pude atracar
Em muitos portos fui bem recebido
Mas sempre terminei por navegar.
Posso estar sendo marujo atrevido
Porém, é meu destino sempre o mar
E sei, nunca serei bem sucedido.
Fonte:
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