sábado, 28 de abril de 2012

Olivaldo Júnior (Cristais Poéticos)


COMPENSAÇÃO

Não tinha nome,
mas tinha fome.

Não tinha casa,
mas tinha asa.

Não tinha onde,
mas tinha aonde.

Não tinha graça,
mas tinha a praça.

Não tinha hoje,
mas tinha ontem.

CHUVINHA FINA

Não é chuva forte,
mas chuvinha fina.

A chuvinha fina,
que, mansinha, escorre
e concorre ao mar.

Folha a folha, molha,
a chuvinha fina.

A chuvinha fina,
que, sozinha, escolhe
onde ser e estar.

Não é chuva forte,
mas chuvinha fina.

DESCOBRIR
(Poema ao Descobrimento de um Brasil não descoberto)

Um Brasil não descoberto,
todo dia, pela tela,
aparece em minha casa
e me leva.

Um Brasil não descoberto,
toda noite, na novela,
aparece em minha casa
e me vela.

Um Brasil não descoberto,
toda tarde, pela tela,
aparece em minha casa,
cara cela.

Um Brasil não descoberto
sente falta de Cabral,
aparece em minha casa
num canal.

Um Brasil não descoberto
comemora o Carnaval,
aparece em minha casa
num jornal.

Um Brasil não descoberto,
todo dia, se revela.

Um Brasil não descoberto
sente muito e passa mal.

DUPLO SENTIDO

Minha vida está vazia,
foi-se embora de uma vez.

Foi-se agora a fantasia,
não se vê nenhum talvez.

Minha vida está vadia,
foi-se embora ao fim do mês.

Foi-se agora a poesia,
não se vê ninguém feliz.

Minha vida está vazia,
foi-se embora a cicatriz.

Foi-se agora a letargia,
não se tem sequer um bis.

Minha vida está vadia,
foi-se embora como nós.

Foi-se agora a nostalgia,
não se fica mais a sós.

Minha vida está vazia,
já se encheu de Mario Bros.

Foi-se agora a companhia,
não se liga mais a luz.

Minha vida está vadia,
foi-se embora com Jesus.

Foi-se agora o que existia,
mas existe a minha cruz.

Minha vida está vazia,
mas preenche seu lugar.

Fonte:
Poemas enviados pelo autor

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