sábado, 21 de abril de 2012

Ubiratan Lustosa (Eu Vi Minha Mãe Rezando)


Lá pelos anos 60, certo dia apareceu na Rádio Clube Paranaense, emissora onde eu trabalhava, o meu amigo Orlando Woczikosky, grande poeta curitibano, hoje Presidente de Honra da União Brasileira de Trovadores do Paraná.

Eu apresentava as trovas do Orlando em meus programas radiofônicos colhendo-as de um manuscrito que ele me dera e que até hoje guardo como relíquia.

Naquela visita Orlando levou consigo outro poeta, do qual eu achava linda uma trova conhecida em todo o Brasil, mas que até então não sabia quem era o autor. A trova, vocês devem lembrar, diz assim:

Eu vi minha mãe rezando
aos pés da Virgem Maria;
era uma Santa escutando
o que outra santa dizia”.


Eu acho linda essa trova. Vocês sabem quem é o autor? O saudoso poeta Barreto Coutinho, o homem que o Orlando Woczikosky levou para me visitar nos estúdios da veterana Bedois. Seu nome completo é Ermírio Barreto Coutinho da Silveira.

Nascido em Limoeiro, Pernambuco, Barreto Coutinho era médico, jornalista e professor universitário no Rio de Janeiro e vindo para a capital paranaense foi presidente da União Brasileira de Trovadores - seção de Curitiba.

Naquela visita, em meio a um bate-papo gostoso, o poeta pernambucano me contou uma curiosidade: a sua famosa quadra originalmente era um pouco diferente. Quando começou a correr o Brasil, alguém modificou um pouco os versos do poeta, deixando a trova como até hoje é conhecida. Não se sabe quem fez isso.

A trova original, a quinta de um poema de oito quadras, antes era assim:
Uma vez vi-a rezando
aos pés da Virgem Maria...
...era uma santa escutando
o que outra santa dizia.


O primeiro verso foi alterado.

Eu perguntei ao Barreto se ele não ficou aborrecido por terem modificado seus versos e ele me respondeu:

- Que nada. Quem modificou deixou melhor!

Barreto Coutinho, com simplicidade, dizia que lamentava não saber o autor da alteração, pois desejava agradecer por ter aperfeiçoado a sua trova que se tornou imortal.

O poeta tinha a modéstia de reconhecer que alguém no anonimato o ajudara.

Fonte:
http://www.ulustosa.com/Cronicas/EU_VI_MINHA_MAE_REZANDO.htm

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