O advogado indica uma cadeira para o rapaz que acaba de entrar em sua sala. Antes de sentar, o moço tira da cabeça um chapéu ensebado e o coloca sobre a mesa cheia de papéis e processos.
— Aceita água gelada?
— Nãu, oubriugaudo.
— Um café?
— Tenhu qui paugar?
— Claro que não. É por conta do escritório.
— Entãu eu aceitu um caufé.
-
Chama a secretária pelo interfone e solicita que traga a bebida para dois.
— Vamos ao seu caso, senhor... Como é mesmo seu nome?
— Adeugeusto Fumouso.
— Pois não. O que está acontecendo?
— Meu aumiugo se meuteu nuuma encreunca e a pouliucia leuvou eule paura a deleugaucia.
— Sabe o motivo?
— Seugundo o pouliciaul de plauntão, roubo de uma mouto. Mas já fuoi tuudo deuviudamente esclaureucido.
— Mas seu amigo continua detido?
— Nãu. Acaubou de ser liubeurado. Souto, aufiunau, está em causa, grauças a Deuus. Soulto.
A secretária chega com a bandeja e serve os dois homens em silêncio:
— Senhor, açúcar ou adoçante?
— Auçuucar, pour fauvour.
— Não entendi, cavalheiro!
— Aucho meulhor toumar aumaurgo, meusmo.
Terminada essa tarefa, a jovem retorna à recepção.
— Bem, seu Adegesto...
— Adeugeusto...
— Seu amigo não está mais na delegacia?
— Grauças a Deus, nãu.
— Confesso ao senhor que não entendi uma coisa. Como se chama, afinal, esse seu amigo: Souto ou Solto?
— Orlaundo...
— Mas o senhor disse à minha colega, ainda há pouco, que seu amigo Souto foi...
— Nãu, nãu diusse. Fui bem clauro com eula. Faulei o seuguinte: Que o meu aumiugo Orlaundo... De ounde eussa criatutura tirou eusse taul de Souto?
— O que o senhor falou, afinal, para minha sócia?
— Que meu aumiugo Orlaundo esteuve, mas agoura nãu estáu mais.
— Mais o quê?
— Na deleugaucia, com o doutour deuleugaudo.
— Então ele foi realmente solto?
— Fuoi. Diaunte diusso eu vim auté auqui agraudecer, pois nãu vuou mais preucisar de seus serviuços. Taumbém sauber se deuvo alguma coisa coum reulaução a hounourários.
— Tudo bem, o prezado não me deve nada. Apenas gostaria de um pequeno esclarecimento. Estou pra lá de confuso. Desculpe a insistência. Seu amigo é o Souto?
— Nãu, doutor. Pour tuudo quaunto é mais saugraudo.
— Realmente acho que não estamos conseguindo nos entender. O Souto foi preso e agora está solto?
— Souto e Soulto nuunca estiveuram preusos, doutor. Preuso estauva o Orlaundo...
Risos.
— Por acaso isso é algum tipo de brincadeira?
— Nãu senhour. Clauro que nãu.
— Então?
—O Orlaundo, como diusse, está souto, Enteunde o que diugo? Eule, augoura, eustá soulto.
O advogado, impensadamente, resolve brincar com o cidadão. Fala, ou melhor, arremeda, de forma grotesca.
— “Iustu nus leuva a councluir que eule reualmente nãu está maius preuso?”.
O sujeito se enfurece. Dá um tapa na mesa. Por pouco não derruba o restante do café:
— O senhour pour aucauso reusoulveu tiurar saurro da miunha caura e me gouzar?
— De forma alguma.
O cidadão se levanta, muito nervoso, passa a mão no chapéu ensebado, vira as costas e sai da sala.
Fontes:
Aparecido Raimundo de Souza. Refúgio para Cornos Avariados. SP: Ed. Sucesso, 2011
— Aceita água gelada?
— Nãu, oubriugaudo.
— Um café?
— Tenhu qui paugar?
— Claro que não. É por conta do escritório.
— Entãu eu aceitu um caufé.
-
Chama a secretária pelo interfone e solicita que traga a bebida para dois.
— Vamos ao seu caso, senhor... Como é mesmo seu nome?
— Adeugeusto Fumouso.
— Pois não. O que está acontecendo?
— Meu aumiugo se meuteu nuuma encreunca e a pouliucia leuvou eule paura a deleugaucia.
— Sabe o motivo?
— Seugundo o pouliciaul de plauntão, roubo de uma mouto. Mas já fuoi tuudo deuviudamente esclaureucido.
— Mas seu amigo continua detido?
— Nãu. Acaubou de ser liubeurado. Souto, aufiunau, está em causa, grauças a Deuus. Soulto.
A secretária chega com a bandeja e serve os dois homens em silêncio:
— Senhor, açúcar ou adoçante?
— Auçuucar, pour fauvour.
— Não entendi, cavalheiro!
— Aucho meulhor toumar aumaurgo, meusmo.
Terminada essa tarefa, a jovem retorna à recepção.
— Bem, seu Adegesto...
— Adeugeusto...
— Seu amigo não está mais na delegacia?
— Grauças a Deus, nãu.
— Confesso ao senhor que não entendi uma coisa. Como se chama, afinal, esse seu amigo: Souto ou Solto?
— Orlaundo...
— Mas o senhor disse à minha colega, ainda há pouco, que seu amigo Souto foi...
— Nãu, nãu diusse. Fui bem clauro com eula. Faulei o seuguinte: Que o meu aumiugo Orlaundo... De ounde eussa criatutura tirou eusse taul de Souto?
— O que o senhor falou, afinal, para minha sócia?
— Que meu aumiugo Orlaundo esteuve, mas agoura nãu estáu mais.
— Mais o quê?
— Na deleugaucia, com o doutour deuleugaudo.
— Então ele foi realmente solto?
— Fuoi. Diaunte diusso eu vim auté auqui agraudecer, pois nãu vuou mais preucisar de seus serviuços. Taumbém sauber se deuvo alguma coisa coum reulaução a hounourários.
— Tudo bem, o prezado não me deve nada. Apenas gostaria de um pequeno esclarecimento. Estou pra lá de confuso. Desculpe a insistência. Seu amigo é o Souto?
— Nãu, doutor. Pour tuudo quaunto é mais saugraudo.
— Realmente acho que não estamos conseguindo nos entender. O Souto foi preso e agora está solto?
— Souto e Soulto nuunca estiveuram preusos, doutor. Preuso estauva o Orlaundo...
Risos.
— Por acaso isso é algum tipo de brincadeira?
— Nãu senhour. Clauro que nãu.
— Então?
—O Orlaundo, como diusse, está souto, Enteunde o que diugo? Eule, augoura, eustá soulto.
O advogado, impensadamente, resolve brincar com o cidadão. Fala, ou melhor, arremeda, de forma grotesca.
— “Iustu nus leuva a councluir que eule reualmente nãu está maius preuso?”.
O sujeito se enfurece. Dá um tapa na mesa. Por pouco não derruba o restante do café:
— O senhour pour aucauso reusoulveu tiurar saurro da miunha caura e me gouzar?
— De forma alguma.
O cidadão se levanta, muito nervoso, passa a mão no chapéu ensebado, vira as costas e sai da sala.
Fontes:
Aparecido Raimundo de Souza. Refúgio para Cornos Avariados. SP: Ed. Sucesso, 2011
Imagem = www,folhauniversal.com.br
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