segunda-feira, 29 de abril de 2013

Soares de Passos (A Um Teatro Académico)

Abrindo sepulcros, rasgando mistérios,
Quem mortos gelados levanta de pé?
Quem varre coas asas as cinzas d'impérios,
E os vultos heróicos anima, quem é?

Quem tira do nada uma forma divina?
Quem finge uma imagem de negro terror?
Quem ergue virtudes, e o crime fulmina?
Quem risos excita, quem prantos de dor?

– O génio do drama e o génio da cena! –
São eles que traçam, em véu d'ilusões,
D'Amor, de ciúme, de riso, e de pena
O jogo travado, falando às paixões.

São eles unidos que em chama inquieta
Sentiu Gil Vicente na fronte escaldar?
São eles que o bardo da terna Julieta,
E a fronte de Talma vieram c'roar.

São eles, mancebos, que em nuvens de flores
A senda apontaram que afoitos seguis,
De palmas e c'roas, de magos fulgores,
Mas senda d'espinhos; co génio condiz.

Em nobre fadiga, que os ócios despreza,
D'acerbos estudos assim descansais!
Foi belo o desígnio, difícil a empresa:
Quem logra nas artes repouso jamais?

Que importa? na luta se provam alentos,
Somente na luta se colhem lauréis;
Aos peitos ardentes, de glória sedentos,
Reluz a bonança por entre os parcéis.

Avante! e que o génio das artes potente
D fogo das artes vos possa trazer!
Que em cenas de prantos o pranto rebente,
Que em cenas alegres se goze o prazer.

As artes e as letras nasceram amigas:
Às aras das duas incensos levai,
E os louros colhidos em sábias fadigas,
Os louros do palco viçosos juntai!

Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

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