domingo, 28 de abril de 2013

Olivaldo Junior (De Véspera)

Dizem que a véspera é melhor que o dia “D”. Depois de certo tempo, não há mais nenhuma espera, nem de véspera.

A véspera, para um homem, é motivo de trégua. Esconde os cascos e esgarça o sorriso. Mas nem todo homem. Existe um que eu bem conheço que não descansa faz tempo. O tempo não tem mais tempo para o rio que ribeira, a beira que esbarra nos pés de um poeta, um célebre das rimas, sem rumo nenhum, mas cheio de métodos. Metáforas só tem sentido quando fora.

Esse homem descobriu-se poeta para ver se era alegre ter parte com as letras e com todos os milhões de coisas que elas tocam. Mas não foi nada disso que achou. Não era um tesouro o ouro da escrita. Os outros poetas não eram sempre amistosos. Ficou desgostoso e se pôs a andar. Era hora.

Buscou quem pudesse ser o amigo que ele sempre quis. Andava a se lembrar dele mesmo aos pés da vitrola, de olho na porta, para ver se chegava alguém. Nunca chegava. O Natal estava perto. Néctar.

Olhando o chão da praça da cidade, notou que nele estavam mil e um folhetos com dizeres encantados provocando o consumo. Aquele homem se encolhia diante dos monstros que habitavam os shoppings e as lojas que só pensam no que os outros vão comprar de mais custoso. Desanimou-se. Não tinha o amigo que sempre quis. O mundo não o tinha em conta. Via Crúcis de si.

Assim que ficou noite, deitou-se num banco qualquer. Podiam tê-lo como um mendigo. Ele bem o era. Sequer sabia quem era Francisco, mas franciscano bem o seria. Sim, era véspera de Natal. O homem, pouco antes da meia-noite, deu de acordar e foi para junto da grande cruz, no meio da praça, enraizada. Ao lado dela, uma árvore um tanto maior indicava quem era o dono do mundo. O mundo dentro dele ruía, e não era, a noite, feliz. Chorou tudo o que não tinha chorado até os... Não, não contava a idade dele a ninguém. Não era do tempo. Chorou.

Deu meia-noite. O homem, de frente para a cruz, ressurreto em próprio pranto, batizado em próprias lágrimas, deitou-se de abertos braços aos pés do Cristo e, todo exangue, sangrou sem sangue toda a tristeza e todo o segredo de nunca ter sido feliz. O amigo não veio. Esquece-se dele agora.

Não nasceu nenhuma rosa no lugar em que se expôs aquele homem, Nenhuma pedra se interpôs a quem fizesse aquilo. Logo que o sol se estirou, ninguém deu pela falta do cara que se fizera desencantar.

Mas houve, em algum lugar, talvez no topo do Monte Everest, alguém que dele guardou uma lágrima num verso pernóstico, num resto de adeus, num rosto em retratos que o morto não viu. Houve um amigo.

Moji Guaçu, SP, seis de dezembro de 2012.

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