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domingo, 30 de junho de 2024
José Feldman (Versejando) 142
Eduardo Martínez (Salustiano e Salazar, eternos rivais)
De tão antiga é essa história, não se tem notícia de que alguém ainda se lembre dos protagonistas. Na certa, os que a presenciaram já são tão velhos e a memória há tempos os abandonou. Se bem que o mais provável é que estejam todos escondidos debaixo da terra.
Pois bem, quem me contou esse causo foi o Moacir, um septuagenário, que o ouviu do pai, o falecido Januário, cuja fama de amigo das inverdades ainda corre lá pelos lados do município de São Bento do Una, localizado no Planalto do Borborema, bem aqui no nosso lindo Pernambuco. E como a história é muito antiga, nem vou me preocupar em trocar os nomes dos envolvidos.
Salustiano e Salazar, dois amigos de idades parelhas, eram vizinhos desde os primeiros dias de vida. Apesar da amizade, a disputa sempre os acompanhou. Era uma coisa de saber quem era melhor nisso ou naquilo. Até discussão para saber quem era o mais bonito, mesmo que nenhum tivesse nascido com traços de um famoso contemporâneo, um tal Rodolfo Valentino.
O imbróglio entre aqueles dois estava tão acirrado, que as competições andavam cada vez mais esdrúxulas. Uma delas, que parece que foi vencida pelo Salustiano, era a de quem conseguia comer jiló puro e cru. Isso, aliás, foi o estopim para que o perdedor lançasse um desafio.
— É, Salustiano, estamos ficando velhos. Não demora, a danada da Dona Morte aparece para puxar o pé da gente.
— Que coisa mais besta, Salazar! Homem que é homem vai ter medo da morte? Isso é coisa de gente frouxa!
— Ah, não? Então, você vai querer me dizer que não tem medo de morrer?
— Tenho nada! Sou é homem!
— Hum. Nem de defunto?
— Salazar, se eu não tenho medo de suçuarana, vou lá ter medo de gente que já morreu? Deixa de ser besta! Aqui é macho!
— Hum.
— Tá duvidando?
— Hum. Então, que tal uma apostazinha?
— Que aposta?
— Cada um de nós vai ter que ir lá no cemitério e pregar um prego no portão. Mas tem que ser à meia-noite em ponto.
— Combinado! Quem vai primeiro?
— Vamos tirar a sorte pra ver.
Salazar ficou aliviado por ter ganhado e, por isso, o amigo precisou ser o primeiro a cumprir a missão. O homem, mesmo com um frio percorrendo toda a espinha, tratou de não demonstrar medo. Disse que iria naquela mesma noite cumprir o trato. Salazar, desconfiado de falcatruas por parte do amigo, tratou de marcar o prego e o entregou a Salustiano.
Quase meia-noite, Salazar, na janela de sua casa, viu o amigo sair.
— Já vai, né?
Como era julho, época de frio e o vento gritava que nem alma penada vagando em busca de redenção, Salustiano pensou em desistir. Que nada! Não tinha como. Pegou uma capa de frio com capuz, apertou o cinto para as calças não caírem, caso precisasse correr, e rumou na direção do cemitério. Olhos arregalados, começou a imaginar assombração.
Quando chegou ao destino, pegou o prego no bolso da calça e, pouco antes de martelá-lo, ouviu o piar de uma coruja. Apavorou-se, mas conseguiu pregar o maldito prego.
Na manhã seguinte, Salazar foi procurar o amigo. Mas nada do Salustiano. Pensou até que ele estivesse dormindo o sono atrasado. Entretanto, como o dia prosseguiu sem notícias do companheiro, Salazar começou a desconfiar que Salustiano teria sido arrastado por algum espírito. Tanto é que, por volta das duas horas da tarde, rumou para o cemitério.
Mal chegou, viu o amigo em pé no portão do cemitério. Salustiano estava com a face apavorada e disse para Salazar não se aproximar.
— O que houve, Salustiano?
— Uma alma me pegou!
Salazar, sabendo que àquela hora do dia as almas estavam todas dormindo, se aproximou do amigo, quando começou a gargalhar. Salustiano, sem entender, continuou com o pavor estampado no rosto.
— Salustiano, mas você é burro mesmo! Você pregou a manga do casaco no portão.
Vereda da Poesia = 49 =
MARINA BRUNA
Franca/SP, 1935 – 2013, São Paulo/SP
"Dez filhos do mesmo leito?!"
pergunta o padre e ela fala:
"Acho que não, pois suspeito
que um é da rede da sala..."
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Poema da França
CARLOS EDMUNDO DE ORY
Cádiz/ Espanha, 1923 - 2010, Thézy-Glimont/ França
Poema
Amo aquilo que arde
o que voa e se abre
o que enlouquece e cresce
o que salta e se move
aquilo que bebe os ventos
e é música e contato
o que é vasto e é casto
o que é milagre e perigo
e se espreguiça e respira
e viaja por capricho.
Amo viajar descalço.
(Tradução: Herberto Helder)
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Aldravia de Belo Horizonte/MG
ANGELA TOGEIRO
mente
jovem,
corpo
envelhecendo:
ninguém
merece!
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
JOÃO COSTA
Viajante do Tempo
Venho de longe, nos ombros trazendo
peso de vidas outrora vividas.
Venho de longe, venho de outras vidas,
tempo afora vivendo e revivendo.
De tempos idos, priscas eras idas
venho volvendo tempo-espaço, sendo
em cada ciclo (vivendo e aprendendo)
preparado para futuras vidas.
E sigo nesta contínua viagem
pelo que chamam tempo. Na bagagem
vou transportando infinitas memórias.
Venho de longe e vou rumo ao futuro
– destino infinito. Sigo seguro
de que ainda viverei muitas histórias.
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Trova Premiada em Jambeiro/SP, 2003
ABÍLIO KAC
(Rio de Janeiro/RJ)
Num dos rodeios da vida
conquistei o meu espaço...
Não pela prova vencida,
mas por vencer meu fracasso!
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Poema do Rio Grande do Sul
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS, 1906 – 1994, Porto Alegre/RS
A Torre Azul
É preciso construir uma torre
- uma torre azul para os suicidas.
Têm qualquer coisa de anjo esses suicidas voadores,
qualquer coisa de anjo que perdeu as asas.
É preciso construir-lhes um túnel
- um túnel sem fim e sem saída
e onde um trem viajasse eternamente
como uma nave em alto-mar perdida.
É preciso construir uma torre…
É preciso construir um túnel…
É preciso morrer de puro,
puro amor!…
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Quadra Popular
Que cigarro tão cheiroso!
Me dê uma fumacinha.
Com a desculpa do cigarro,
sua mão pega na minha.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
FERNANDO FORTES
Carlos Fernando Fortes de Almeida
1936 – 2016
X
Tu finges que és feliz e em ti persiste
A miséria de todos os humanos
Se os anos da existência foram tristes
Não há por que ocultar teus próprios danos.
Fizeste pela vida tantos planos
E nenhum de teus planos construíste
Tudo aquilo que um dia possuíste
Foi poeira na estrada de teus anos.
A velha eternidade te carrega
No seu colo triunfal de fantasia
Mas foge o tempo e a morte ainda não chega.
Buscas a Deus e o mesmo Deus te nega
O coração do céu que se anuncia:
Pois Deus existe mas jamais se entrega.
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Trova de Curitiba/PR
VANDA ALVES DA SILVA
Na vida vivo tentando
tornar meu mundo risonho,
pois a tristeza vem quando
existe ausência de um sonho.
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Poema de Belo Horizonte/MG
ROGÉRIO SALGADO
Conceito
para Otávio de Campos
Sou o que representa
a febre, a dor
a expressão exata
a corda que desata
todos os nós acorrentados
aos conceitos do que
querem que a poesia seja.
Canto a canção ferida
daquilo que é doído
tenho olhos de vidros partidos
e a imensidão de compor.
Não me estabeleço
amanheço, entardeço, anoiteço
na forma mais concreta.
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Haicai de Ilhéus/BA
GIL NUNESMAIA
Vi a lua cheia
entre fios telegráficos:
uma semibreve!
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Setilha de Caicó/RN
PROFESSOR GARCIA
Mesmo com tanta maldade
eu alimento a esperança,
de ver um mundo feliz
sabendo que não se alcança;
mas esta fé que me guia,
vem da força da poesia
que trago desde criança.
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Trova de Belo Horizonte/MG
OLYMPIO COUTINHO
Nada recebe quem nega
dar amor ou coisa assim...
Só colhe flores quem rega
dia e noite o seu jardim.
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Glosa do Rio Grande do Sul
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
Entrar no céu sonhando
MOTE:
Sei que, deste mundo lindo,
vou sair, só não sei quando,
mas quero morrer dormindo
para entrar no céu sonhando.
José Lucas de Barros
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN
GLOSA:
Sei que, deste mundo lindo,
o meu tempo está escasso,
mas continuo sorrindo...
Sou feliz, por onde passo.
Tenho sim, plena certeza,
vou sair, só não sei quando,
vou deixar esta beleza:
o mundo, que estou amando!
Dias e noites, vão indo,
e a morte ronda por perto...
Mas quero morrer dormindo,
morrerei feliz, por certo!
Vou dormir, tal qual criança,
mil sonhos acalentando,
não perderei a esperança...
Para entrar no céu sonhando.
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Aldravia de São Gonçalo do Rio Abaixo/MG
MIRIAM STELLA BLONSKI
olhos
vazios
de
sonhos:
face
perdida
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Soneto de São Paulo/SP
MARIA JOSÉ GIGLIO
[4]
Não se deve gritar ao surdo vento
a canção destinada a ser ouvida
na glória silenciosa de um momento
no efêmero momento de uma vida.
Não se deve pedir ao isolamento
a comunhão ao gênio oferecida,
na face opaca do deslumbramento
espelha-se a maldade enlanguecida.
Não bastam para a vida os temas puros,
não dês à morte falsos esconjuros
que vida e morte se rirão de ti.
Ama, inda que esse amor semelhe um crime
pois só o amor de teu amor redime
a dispersão das almas que perdi.
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Trova Premiada em Curitiba/PR, 2010
MILTON SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS
Madrugada… No infinito,
estrelas a cintilar…
Mas meu céu é mais bonito:
ele brilha em teu olhar!
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Poema de São Paulo/SP
OSWALD DE ANDRADE
1890 – 1954
Escapulário
No Pão de Açúcar
de cada dia
Dai-nos Senhor
a Poesia
de cada dia.
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Triverso de São Paulo/SP
GRACIANE DOS SANTOS SILVA
Vento forte na janela
a menina se assusta -
Trovoada.
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Ramalhete de Trovas Traiçoeiras com Final Feliz!
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE
Olhando com bem clareza
pras marcas do seu herdeiro,
já não tem tanta certeza
de ser o pai verdadeiro!
Olho azul, branco e lourinho
o filho do "Zé Negão"
lembrava mais o vizinho;
coitado, tinha razão!
Mas o popular ditado
diz que Pai é o que cria,
sem olhar se foi botado,
ou se feito à revelia!
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Trova de Fortaleza/CE
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020
Quando o sol se faz mais forte
e a chuva responde...não!
a silhueta da morte
se espraia pelo sertão.
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Hino de Juiz de Fora/MG
Compositores: Duque Bicalho e Lindolfo Gomes
Viva a Princesa de Minas,
Viva a bela Juiz de Fora,
Que caminha na vanguarda
Do progresso estrada a fora!
Os seu filho operosos
Asseguram-lhe o porvir,
Para vê-la grandiosa
Nunca têm mãos a medir...
Das cidades brasileiras
Sendo a mais industrial,
Na cultura e no trabalho
Não receia outra rival.
Das cidades brasileiras
Sendo a mais industrial,
Na cultura e no trabalho
Não receia outra rival.
Demos palmas, demos flores
Aos encantos da Princesa!
Ela é rica de primores
Da poesia e da beleza.
É a cidade aclamada,
Do trabalho e da instrução,
É do Cristo abençoada
Sob o sol da religião.
Das cidades brasileiras
Sendo a mais industrial,
Na cultura e no trabalho
Não receia outra rival.
Das cidades brasileiras
Sendo a mais industrial,
Na cultura e no trabalho
Não receia outra rival.
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Poetrix de Limeira/SP
CARLOS ALBERTO FIORE
Pico
Sons, buzinas, neuroses.
Pressa predadora, desumana.
A rua enfrenta o dia.
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Poema de Portugal
HERBERTO HELDER
Funchal/Ilha da Madeira, 1930 – 2015, Cascais
Sobre um Poema
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
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Trova de São Paulo/SP
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
Se vejo o mundo às escuras,
embarco em meu sonho...e assim,
subo a escada e, nas alturas,
acendo um sol para mim!
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Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
Ossos do ofício
Uma vez uma besta do tesouro
Uma besta fiscal,
Ia de volta para a capital
Carregada de cobre, prata e ouro,
E no caminho
Encontra-se com outra carregada
De cevada
Que ia para o moinho.
Passa-lhe logo adiante
Largo espaço,
Coleando arrogante
E a cada passo
Repicando a choquilha,
Que se ouvia distante.
Mas salta uma quadrilha
De ladrões,
Como leões,
E qual mais presto
Se lhe agarra ao cabresto.
Ela reguinga e dá uma sacada,
Já cuidando
Que dispersava o bando;
Mas, coitada!
Foi tanta a bordoada,
Que exclamava enfim
A besta oficial:
«Nunca imaginei tal!
Tratada assim...
Uma besta real!
Mas aquela, que vinha atrás de mim,
Porque a não tratais mal?!
— Minha amiga! cá vou no meu sossego:
Tu tens um belo emprego;
Tu sustentas-te a fava, e eu a troços;
Tu lá serves El-Rei, e eu um moleiro;
Eu acarreto grão, e tu dinheiro:
Ossos do ofício... que não há sem ossos!»
(tradução: João de Deus)
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Colaborações: gralha1954@gmail.com
Marcadores:
Universos Di Versos,
Vereda da Poesia
Leon Tolstói (Lipúniuchka)
Um velho vivia com uma velha. Não tinham filhos. O velho foi arar a terra e a velha ficou em casa para fazer panquecas. A velha fez as panquecas e disse:
− Se a gente tivesse um filho, ele levaria as panquecas para o pai; mas, agora, a quem vou pedir?
De repente, do meio do algodão, saiu um menininho e disse:
− Bom dia, mamãe!
A velha perguntou:
− Filhinho, de onde você saiu e como se chama?
E o filho respondeu:
− Mãezinha, você fiou o algodão e enrolou as meadas e eu saí de lá. Pode me chamar de Lipúniuchka. Pode deixar, mãezinha, eu levo as panquecas para o papai.
A velha disse:
− Você consegue levar mesmo, Lipúniuchka?
− Consigo, mãezinha…
A velha amarrou as panquecas dentro de uma trouxinha e deu para o filho. Lipúniuchka pegou a trouxa e correu para o campo. No campo, ele topou com um morrinho na estrada e gritou:
− Papai, papai, me ajude a passar pelo morrinho! Eu trouxe panquecas para você.
No campo, o velho ouviu que alguém chamava, foi ao encontro do filho, levou o menino para o outro lado do morrinho e disse:
− De onde você veio, filho?
E o menino respondeu:
− Papai, eu saí do algodão − e deu as panquecas para o pai.
O velho sentou-se para comer e o menino disse:
− Deixe que eu vou arar a terra.
O velho disse:
− Você não tem força para arar a terra.
Mas Lipúniuchka pegou o arado e começou a arar. Ele arava e ainda por cima cantava.
Um senhor de terras passou por aquele campo e viu que o velho estava sentado comendo enquanto o cavalo arava sozinho. O senhor de terras desceu da carruagem e disse para o velho:
− Como pode ser isso, velho? O cavalo está arando sozinho?
O velho respondeu:
− Tenho um menino que está arando, e ele ainda canta.
O senhor de terras chegou mais perto, ouviu a canção e viu Lipúniuchka.
O senhor de terras disse:
− Velho! Venda esse menino para mim.
E o velho respondeu:
− Não, não posso vender, só tenho um.
E Lipúniuchka disse para o velho:
− Venda, papai, eu fujo dele.
O mujique vendeu o menino por cem rublos. O senhor de terras deu o dinheiro, pegou o menino, embrulhou num lenço e guardou no bolso. O senhor de terras correu para casa e disse para a esposa:
− Trouxe uma alegria para você.
E a esposa disse:
− Mostre. O que é?
O senhor de terras tirou o lenço do bolso, abriu e dentro do lenço não havia mais nada. Fazia tempo que Lipúniuchka tinha fugido para o pai.
Fonte: Liev Tolstói. Livros de leitura para crianças. Publicado originalmente em 1864. Disponível em Domínio Público
Recordando Velhas Canções (Maringá)
Foi numa leva que a cabocla Maringá
Ficou sendo a retirante que mais dava o que falar
E junto dela veio alguém que suplicou
Pra que nunca se esquecesse de um caboclo que ficou
Maringá, Maringá
Depois que tu partiste tudo aqui ficou tão triste
Que eu "garrei" a imaginar
Maringá, Maringá
Para haver felicidade é preciso que a saudade
Vá bater noutro lugar
Maringá, Maringá
Volta aqui pro meu sertão pra de novo o coração
De um caboclo a sossegar
Antigamente uma alegria sem igual
Dominava aquela gente na cidade de Pombal
Mas veio a seca, tudo a chuva foi-se embora
Só restando então as águas
Dos meus "'óio" quando chora
Maringá, Maringá
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A Saudade e a Seca em 'Maringá' de Joubert de Carvalho
É comum no mundo inteiro cidades emprestarem seus nomes a canções. Difícil é uma canção inspirar o nome de uma cidade, como foi o caso de "Maringá". O fato ocorreu em 1947, quando Elizabeth Thomas, esposa do presidente da Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná, sugeriu que a composição desse nome a uma cidade recém-construída pela empresa, e que em breve se tornaria uma das mais prósperas do estado.
O curioso é que a canção jamais teria existido se seu autor Joubert de Carvalho não fosse, quinze anos antes, um frequentador assíduo do gabinete do José Américo de Almeida (Ministro da Viação e Obras), tinha como chefe de gabinete o senhor Ruy Carneiro , que mais tarde viria a governador e senador do seu Estado (a Paraíba)..
Joubert, formado em medicina, pleiteava uma nomeação para o serviço público. Numa dessas visitas, aconselhado pelo oficial de gabinete Rui Carneiro, o compositor resolveu agradar o ministro, que era paraibano, escrevendo uma canção sobre o flagelo da seca que na ocasião assolava o Nordeste.
Surgia assim a toada "Maringá", uma obra-prima que conta a tragédia de uma bela cabocla, obrigada a deixar sua terra numa leva de retirantes. Alguns meses após o lançamento vitorioso de "Maringá", Joubert de Carvalho foi nomeado para o cargo de médico do Instituto dos Marítimos, onde fez carreira chegando a diretor do hospital da classe.
Joubert de Carvalho gostava da boemia e naquele ambiente veio a conhecer e se tornar amigo do senhor Alcides Carneiro (irmão de Ruy Carneiro e também funcionário do Ministério da Viação e Obras), que solteiro e apaixonado por uma namorada chamada Maria, residente na cidade do Ingá (60 km de João Pessoa - PB), compôs a música “Maringá”, narrando o flagelo da seca no nordeste, principalmente na cidade de Pombal, localizada na alto sertão paraibano.
A música 'Maringá', composta por Joubert de Carvalho, é uma obra que retrata a dura realidade do sertão nordestino brasileiro, marcada pela seca e pela migração forçada. A letra conta a história de uma cabocla chamada Maringá, que se torna uma retirante, uma pessoa que precisa deixar sua terra natal em busca de melhores condições de vida. A partida de Maringá é um evento significativo, que causa grande comoção e tristeza na comunidade, especialmente para um caboclo que fica para trás, suplicando para que ela não o esqueça.
A canção também aborda a transformação da cidade de Pombal, que antes era dominada por uma alegria sem igual, mas que foi devastada pela seca. A falta de chuva trouxe desespero e tristeza, restando apenas as lágrimas do caboclo que chora pela partida de Maringá. A seca é uma metáfora poderosa para a ausência e a saudade, que são temas centrais na música. A repetição do nome 'Maringá' no estribilho reforça a intensidade da saudade e o desejo de que ela volte para trazer de volta a felicidade ao sertão.
'Maringá' é uma canção que, além de contar uma história de amor e saudade, também serve como um retrato social e cultural do sertão nordestino. A música destaca a resiliência e a esperança das pessoas que vivem nessa região, mesmo diante das adversidades. A saudade e a seca são elementos que se entrelaçam, mostrando como a ausência de uma pessoa querida pode ser tão devastadora quanto a falta de água. A canção é um exemplo da rica tradição da música brasileira em abordar temas sociais e emocionais de maneira poética e tocante.
Fontes:
sábado, 29 de junho de 2024
Carolina Ramos (Trovando) = 18 =
Monsenhor Orivaldo Robles (Um conto para nossos dias)
“De porta em porta, eu andara mendigando pelo caminho da aldeia, quando o teu carro de ouro apareceu na distância como um sonho deslumbrante, e eu me perguntei se seria esse o Rei de todos os reis. Exaltaram-se as minhas esperanças e pareceu-me ver chegado o fim de meus dias maus. E fiquei aguardando esmolas que seriam dadas sem ser pedidas e um tesouro que seria espalhado por toda a parte, na areia.
O carro parou onde eu estava. Teu olhar caiu sobre mim e tu desceste com um sorriso. Senti que, afinal, chegara a felicidade de minha vida. Então, inesperadamente, estendeste-me a tua mão direita e disseste: ‘Que tens tu para me dar?’ Ah, que capricho de rei foi esse de abrires a palma da tua mão para pedires a um pedinte! Fiquei confundido e parei indeciso. E do meu alforje então, lentamente, tirei e dei-te o grão de trigo menor de todos.
Mas que grande surpresa foi a minha quando, pelo fim do dia, entornando no chão a sacola, encontrei entre as minhas migalhas um grão de ouro que era o menor de todos. Amargamente chorei, lamentando não ter tido coragem de me haver dado todo a Ti”.
Seria cristão o autor dessa fina censura ao egoísmo de todos nós? De certa forma, ela remete ao final do episódio do jovem rico: “Todo aquele que deixa casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do Evangelho recebe cem vezes mais agora, durante esta vida, com perseguições, e no mundo futuro, a vida eterna” (Mc 10, 17-30). Não, o criativo relato não pertence à literatura cristã. Escreveu-o o poeta indiano Rabindranath Tagore (1861-1941). Com rara sensibilidade ele indica a causa das diferenças sociais que inventamos.
O poema das bem-aventuranças (Mt 5,3-12) principia pelos pobres. Não sem razão. Quem não partilha os bens terrenos se faz cúmplice dos flagelos que infelicitam o planeta inteiro. A História comprova, há séculos, que a cobiça do dinheiro congela os corações. Esteriliza-os de toda a doçura. Infunde-lhes uma dureza que nem os animais bravios demonstram. As misérias globais não permitem ilusão. Atingimos a cifra de sete bilhões de ocupantes de um mundo que não se preocupa que morram de fome, por ano, um bilhão e duzentos mil. Um bilhão e trezentas mil pessoas iguais a nós estão privadas da água potável minimamente necessária. Por falta de comida morrem, a cada dia, onze mil crianças. Tão inocentes quanto as que levamos ao shopping para comprar coisas supérfluas. Entre as várias causas da fome no mundo não se devem omitir “a busca egoísta do dinheiro, do poder e da imagem pública; a perda do sentido de serviço à comunidade, em benefício exclusivo de pessoas ou de grupos; sem esquecer o importante grau de corrupção, sob as mais diversas formas, de que nenhum país se pode afirmar isento”. Foi o que apontou, em 4 de outubro de 1996, o documento pontifício “A Fome no Mundo”.
Estamos carecas de saber verdades claras como o sol do meio-dia. Mas não fazemos caso. O Senhor continua a nos estender a mão: ‘Que tens para me dar’? Desconfiamos que ele nos queira roubar. Tolice. Tudo o que temos foi ele que nos deu. De que aproveita ler a Bíblia e citá-la a todo instante, se recusamos praticar o que ela ensina? Ela não diz, com todas as letras, que Jesus interpreta como feito a Si mesmo o que fizermos ao menor dos irmãos (Mt 25,40)?
Fonte: Portal do Rigon 12/11/2011
Vereda da Poesia = 48 =
CAROLINE PORTUGAL
Pelado, o fantasma chora,
e ao amigo, lamentou:
- A malvada foi embora,
e até meu lençol levou!
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Soneto de Volta Redonda/RJ
ANTÔNIO OLIVEIRA PENA
Tema antigo
Há teu perfume aqui, há tua imagem
entrando pela porta, alegre e doce,
e enchendo-me de luz, como se fosse
o sol das almas, sobre a paisagem.
Quem me dera, entretanto, aqui chegasses
de fato, ó meu amor, e — bela e calma —
me dissesses aquilo com que a alma
então tu me encherias, mais as faces,
dessa alegria própria de alguns poucos,
tão natural e boa, que eu invejo...
Ah! por que é que sonho eu? não me contento
com teus imaginários passos loucos,
com o teu vulto, próximo de um beijo,
mas que desfaz, de súbito, o vento?...
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ
ELISA FLORES
olhos
debruçados
molham
rios
que
transbordam
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Soneto do Maranhão
GONÇALVES DIAS
(Antônio Gonçalves Dias)
Caxias, 1823 – 1864, Guimarães
Doce Amor
Doce Amor — a sorrir-se brandamente
Em sonhos me falou com tal brandura,
Que eu só de o escutar vida mais pura
Senti coar-me n'alma fundamente.
Depois tornou-se o tredo fogo ardente
Que o instante, o ano, a vida me tortura.
Bem longe de gozar tanta ventura,
Cresta-me o rosto agora o pranto quente.
Homem, se homem és no sentimento,
Não zombes, não, de mim tão desditosa,
Nem seja o teu alívio o meu tormento.
Deixa-me a teus pés cair chorosa,
Soltar no extremo pranto o extremo alento,
Que eu morrendo a teus pés serei ditosa.
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Trova Premiada em Natal/RN, 1996
EDUARDO TOLEDO
(Pouso Alegre/MG)
Abro a janela e a neblina
lacrimeja na vidraça...
A saudade dobra a esquina,
entra no quarto... e me abraça!
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Poema de Maia/ Porto/ Portugal
JOSÉ CARLOS MOUTINHO
Os meus poemas
Os meus poemas são pedaços da minha lua,
Que iluminam as palavras que a minha alma escreve;
São as minhas ilusões beijadas pelo papel onde se inserem!
Os meus poemas, são letras levadas no vento,
Para onde me leiam,
Eles levam o meu sentir,
Para além do meu ser;
Nas emoções que se perdem no infinito!
Os meus poemas têm no teu olhar o sentimento,
Do meu beijo da saudade em ti;
A ausência das palavras cantadas,
São a tristeza que os meus poemas choram!
Os meus poemas, são o murmúrio doce,
Das águas que beijam o leito do rio,
Na corrida para o mar;
Os meus poemas podem ser inventados ou vividos
Com musa ou sem ela,
Mas todos brotam,
Do mais profundo da minha alma!
Os meus poemas, podem não ser bons poemas,
Mas são a vibração da minha paixão,
No amor entre a alma e o coração.
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Quadra Popular
O coração e os olhos
são dois amantes leais,
quando o coração tem penas
logo os olhos dão sinais.
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Poema do Rio de Janeiro/RJ
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG, 1902 - 1987, Rio de Janeiro/RJ
Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não se apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
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Trova de São Paulo/SP
MARIA HELENA CALAZANS DUARTE
Sem brinquedo, a sós na rua,
pede a criança, baixinho:
"Senhor Deus, me empresta a lua
para brincar um pouquinho".
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Poema de Geórgia/Russia
VLADIMIR MAYAKOVSKY
(Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky)
Geórgia, 1893 - 1930, Moscou
Voo Noturno
Tenho muito medo
das folhas mortas,
medo dos prados
cheios de orvalho.
eu vou dormir;
se não me despertas,
deixarei a teu lado meu coração frio.
O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!
Pus em ti colares
com gemas de aurora.
Por que me abandonas
neste caminho?
Se vais muito longe,
meu pássaro chora
e a verde vinha
não dará seu vinho.
O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!
Nunca saberás,
esfinge de neve,
o muito que eu
haveria de te querer
essas madrugadas
quando chove
e no ramo seco
se desfaz o ninho.
O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!
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Haicai de Santos/SP
JUAREZ MATIAS NASCIMENTO
Flores sobre a mesa –
O pouso da borboleta
E o olhar da criança.
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Sextilha de São Simão/SP
THALMA TAVARES
Eu feri minhas mãos colhendo rosas,
mas valeu a alegria de colhê-las,
de aspirar seu perfume delicado
e à mulher bem amada oferecê-las...
Ver depois, em seus olhos, a alegria
e na luz desses olhos, as estrelas.
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Trova de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
Quantos guris sem infância,
num abandono completo,
rolam no mundo, à distância
do pão, do livro e do afeto!
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Glosa de Fortaleza/CE
NEMÉSIO PRATA CRISÓSTOMO
MOTE:
Eu sinto a fé me envolvendo
sempre que eu consigo ver
a esperança renascendo
em um novo amanhecer!
José Feldman
(Campo Mourão/PR)
GLOSA:
Eu sinto a fé me envolvendo
dando-me força e vigor
para seguir sempre crendo
em Deus, e no Seu amor!
Neste mundo tão horrendo
sempre que eu consigo ver
um milagre acontecendo,
mais em Deus eu passo a crer!
Deus continua fazendo
milagres, pra nos mostrar
a esperança renascendo
todo dia..., é só esperar!
Deus agora está dizendo:
creia em Mim e espere ver
Meu milagre acontecendo
em um novo amanhecer!
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Aldravia de Belo Horizonte/MG
ELZA AGUIAR NEVES
o
céu
cinzento
derrama
translúcidos
cristais
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Soneto Santos/SP
MARTINS FONTES
(José Martins Fontes)
1884 – 1937
Existir é sentir
Mais do que à própria vida, deveremos
Amar a Vida em sua plenitude.
A inconstância no amor não condenemos,
Porque esta falta pode ser virtude.
Ser fiel a um amor, se nunca o pude,
Fui ao Amor fiel, nos seus extremos:
Este, sendo imutável, não ilude,
E os desvios daquele são supremos...
Seja a forma de amor que se pressinta,
Por mais tênue, mais tímida e indistinta,
Deve-se bendizer, sem comparar.
Como a ausência produz o desengano,
Sobrenobrece o coração humano
Ser inconstante, sem deixar de amar.
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Trova Premiada em Natal/RN, 2001
JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO
Vila Nova de Famalicão/Portugal, 1922 – 2004, Rio de Janeiro/RJ
O furor de uma queimada
não queima a mata somente,
queima a terra semeada,
a fauna e a vida da gente!...
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Poema de Torres Vedras/Portugal
AMADEU FELICIANO
Estrada exata
no meio da estrada
exata e fatal
corpos decepados
estendem as mãos
imploram resposta
adiada sempre
velozmente passa
quem teima passar
procurando ínscios
o fim da estrada
exata e fatal
os motores roncam
daqueles que passam
mudos os outros
daqueles que ficam
no meio da estrada
exata e fatal
ser permanecer ficar
pedem qualquer coisa
relacionada com o sujeito
que ficou sem resposta
no meio da estrada
exata e fatal
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Triverso de de Santos/SP
MAHELEN MADUREIRA
Manhã de sol –
Na praia os caminhantes
Também as libélulas.
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Setilha de Porto Alegre/RS
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
Com nosso sonho profundo
seremos sempre criança
com nossas almas poetas,
cheias de amor e de esperança
onde nasce, a cada dia,
uma nova fantasia
que deixaremos de herança!
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Trova do Príncipe da Trova
LUIZ OTÁVIO
(Gilson de Castro)
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP+
Bondade!... Bem pouca gente
quer imitar as raízes,
que luta, secretamente,
fazendo as rosas felizes!
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Hino de Barra Mansa/RJ
Compositor: Henrique Zamith
Vivo seja teu nome esculpido
No granito das rochas sem par,
E por todos co'amor repetido,
Com preces diante do altar!
Cada lábio o murmure e um hino
Ele seja e o suave penhor
Dum afeto tão grande e divino,
Tão sublime e mais puro que o amor!
Barra Mansa! Barra Mansa!
Glória a ti! Hosana mil!
Lembras suave esperança
Num recanto do Brasil!
Tua glória, fulgindo brilhante,
Com mais vivo fulgor e mais luz,
Repercute no vale distante,
Vai além desses céus mais azuis!
Vai além desses montes e fala
Da existência de um povo a lutar,
Do teu povo feliz, que se iguala
aos titãs no feroz batalhar!
Barra Mansa! Barra Mansa!
Glória a ti! Hosana mil!
Lembras suave esperança
Num recanto do Brasil!
O teu nome também nos recorda
Um murmúrio suave, um perdão,
Um carinho que terno transborda
De teus filhos no teu coração!
Ele lembra também a meiguice,
À beleza, a grandeza moral
Das mulheres que tens, a ledice
À pureza sem par de Vestal!
Barra Mansa! Barra Mansa!
Glória a ti! Hosana mil!
Lembras suave esperança
Num recanto do Brasil!
Do criador, já a mão justiceira
Teu destino no tempo traçou...
Barra Mansa, serás a primeira
Pelos bens que o Senhor te doou!
Cada etapa vencida em peleja
Traga sempre uma glória melhor,
Uma glória mais santa e que seja,
Entre todo o triunfo o maior!
Barra Mansa! Barra Mansa!
Glória a ti! Hosana mil!
Lembras suave esperança
Num recanto do Brasil !
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Poetrix de Curitiba/PR
MARILDA CONFORTIN
A outra
hoje, uva
amanhã, passa
Eu, vinha.
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Soneto de São Paulo/SP
COLOMBINA
(Yde (Adelaide) Schloenbach Blumenschein)
1882 – 1963
Episódio
O reflexo do ocaso ensanguentado
dourava ainda aquele fim de dia . . .
De um frasco de cristal, mal arrolhado,
um cálido perfume se esvaía...
Junto ao teu corpo nu, convulsionado,
que de desejo e de volúpia ardia,
o meu corpo, nessa hora de pecado,
uma ânfora de gozo parecia.
Na quietude da tarde agonizante
um beijo prolongado, delirante,
a flama da paixão veio acender...
E toda a minha feminilidade
era uma taça de sensualidade
transbordante de vida e de prazer!
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Trova Humorística de São Paulo/SP
ZAÉ JR.
(Zaé Mariano Carvalho de Nascimento Júnior)
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
Vendo-a grávida, ele diz:
– Homem? Mulher? Que vai ser?
E ela responde... feliz:
– Ele resolve... ao crescer!
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Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
O burro vestido com a pele do leão
Quebrando a peia,
Fofo sendeiro
Fugiu ao dono,
Que era moleiro;
Dentro de um bosque,
O fanfarrão
Achou a pele
De alto leão;
Em toda a parte
Dela vestido,
Por leão fero
Era temido;
Homens e brutos
O respeitavam,
Fugiam logo
Que o divisavam:
Mas das orelhas
Uma pontinha
De fora ao burro
Ficado tinha;
Foi vista acaso
Pelo moleiro,
Que julgou logo
Ser o sendeiro;
Indo-lhe ao lombo
Com um cajado,
Puniu o arrojo
Do mascarado;
Do tolo rindo,
Despiu-lhe a pele,
Pos-lhe uma albarda
E montou nele.
Tal entre os homens
Mil se conhecem,
Os quais são uns,
E outros parecem.
Despem-lhe a pele
Que os faz troantes,
Ficam sendeiros
Como eram dantes.
(Tradução: Curvo Semedo)
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