sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Recordando Velhas Canções (A Conquista do Ar)


Compositor: Eduardo das Neves (Rio de Janeiro/RJ, 1874-1919)

A Europa curvou-se ante o Brasil 
E clamou “parabéns” em meio tom. 
Brilhou lá no céu mais uma estrela: 
Apareceu Santos Dumont. 

Salve, Estrela da América do Sul, 
Terra, amada do índio audaz, guerreiro! 
Santos Dumont, um brasileiro!

A conquista do ar que aspirava 
 A velha Europa, poderosa e viril, 
Quem ganhou foi o Brasil! 

Por isso, o Brasil, tão majestoso, 
Do século tem a glória principal: 
Gerou no seu seio o grande herói 
Que hoje tem um renome universal. 

Assinalou para sempre o século vinte 
O herói que assombrou o mundo inteiro: 
Mais alto que as nuvens. 
Quase Deus, Santos Dumont – um brasileiro. 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = 
A Conquista do Ar: Um Tributo a Santos Dumont

A música "A Conquista do Ar" de Eduardo das Neves é uma homenagem ao pioneiro da aviação, Alberto Santos Dumont, um dos maiores heróis brasileiros. A letra celebra a conquista de Dumont ao conseguir voar, um feito que não só marcou a história do Brasil, mas também a da humanidade. A Europa, que era vista como o centro do progresso e da inovação tecnológica, se curvou diante do Brasil, reconhecendo a importância do feito de Dumont. A música exalta o orgulho nacional e a glória de ter um brasileiro como protagonista de um dos maiores avanços do século XX.

Eduardo das Neves utiliza uma linguagem poética para enaltecer Santos Dumont, referindo-se a ele como uma estrela que brilhou no céu e como um herói quase divino. A letra destaca a importância do feito de Dumont não apenas para o Brasil, mas para o mundo inteiro, rompendo barreiras e desafiando o medo do desconhecido. A conquista do ar é vista como um marco que assinalou o século XX, colocando o Brasil em uma posição de destaque no cenário internacional.

A música também faz uma referência ao orgulho nacional, ao mencionar que o Brasil gerou em seu seio o grande herói que assombrou o mundo inteiro. A figura de Santos Dumont é elevada a um patamar quase mítico, sendo comparado a um deus que voa mais alto que as nuvens. A letra transmite uma mensagem de admiração e respeito pelo pioneiro da aviação, celebrando sua contribuição para a humanidade e reforçando o sentimento de orgulho e patriotismo brasileiro.

O feito de Alberto Santos Dumont, contornando a Torre Eiffel em seu balão n° 6, no dia 19.10.1901, inspirou diversas composições, entre as quais a marcha "A Conquista do Ar", sucesso de 1902. Uma criação de Eduardo das Neves, a canção glorifica o inventor da aviação em versos desbragadamente ufanistas, que o público da época adorou ("A Europa curvou-se ante o Brasil / e clamou parabéns em meigo tom / brilhou lá no céu mais uma estrela / apareceu Santos Dumont").

Palhaço de circo, poeta, compositor e principalmente cantor, Eduardo das Neves foi o nosso artista negro mais popular no início do século. Pai do também compositor Cândido das Neves, deixou modinhas, lundus, cançonetas, sendo de sua autoria os versos em homenagem ao encouraçado Minas Gerais, feitos sobre a melodia da valsa "Vieni sul Mar", do folclore veneziano.

Aliás, ainda sobre a mesma melodia, o radialista Paulo Roberto escreveria, em 1945, nova letra exaltando o estado mineiro ("Lindos campos batidos de sol / ondulando num verde sem fim..."), mantendo o refrão popular ("Ó Minas Gerais / ó Minas Gerais / quem te conhece não esquece jamais...").

No auge da carreira, Dudu das Neves apresentava-se nos palcos de smoking azul e chapéu de seda. 

A conquista do ar (marcha, 1902) - Letra e música do cantor Eduardo das Neves

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 53

 

Hans Christian Andersen (As cegonhas)

Era uma vez uma cegonha que construiu o ninho no teto da última casa da aldeia. A mãe estava no ninho com seus quatro filhotes, que espichavam a cabeça, com seus bicos escuros - porque ainda não tinham ficado vermelhos.

Perto deles estava o pai cegonha, na beirada do telhado, duro e teso, pousado em um pé só, para ter ao menos alguma preocupação, enquanto montava guarda. Parecia até feito de madeira, de tão quieto e duro que estava! E pensava lá consigo:

- É certamente grande honra para minha mulher ter uma sentinela de guarda ao seu ninho! As pessoas não sabem que sou o marido dela, e pensam que tive ordem de vir fazer sentinela aqui... Isto é muito aristocrático!

E continuava parado, sobre uma perna só,

Na rua brincava um bando de crianças; quando viram a cegonha, um dos meninos mais atrevidos começou a cantar a velha cantiga das cegonhas, e os outros o acompanharam imediatamente. Mas cada um cantava os versinhos como lhe vinham à cabeça:

"Cegonha, cegonha da perna comprida!
Vai para o teu ninho, cuidar dos filhotes:
Um deles agora vai ser enforcado;
O outro em seguida será esfolado;
O outro num tiro vai perder a vida;
E o derradeiro dos teus pensamentos
Vai ser no espeto varado e assado!"

- Mas escutem o que aquelas crianças estão cantando! - disseram os filhotes da cegonha - dizem que nós vamos ser enforcados e assados no espeto!

- Ora! Não façam caso deles! - retrucou a mãe cegonha. - Se vocês não lhe derem ouvidos, não terão de que se incomodar.

Mas os rapazinhos continuavam a cantar, apontando com o dedo para as cegonhas, só um pequerrucho, chamado Peter, declarou que era um injustiça se divertirem assim à custa dos pobres animais e não tomou parte na brincadeira.

A mãe cegonha consolava os filhos:

- Não se importem com eles, não se inquietem assim. Olhem para o papai, como está ali tão quieto, e por sinal, em uma perna só!

- Mas nós estamos com tanto medo... - disseram os pequenotes, encolhendo a cabeça para dentro do ninho.

No outro dia, quando as crianças voltaram e  viram as cegonhas, começaram a velha cantiga:

" Um deles agora vai se enforcado;
E o derradeiro dos teus pequenotes
Vai ser no espeto varado e assado!"

- Então nós vamos ser enforcados e assados? - perguntaram os filhotes.

- Nada disso ! Não! - respondeu a mãe. - Vocês vão mas é aprender a voar; eu vou exercitá-los. Depois iremos aos campos, fazer uma visita às rãs, elas nos cumprimentarão lá dentro d'água, e cantarão: Coaxe! Coaxe! Coaxe!...e nós as comeremos. Será um excelente petisco, acreditem-me!

- E depois? - indagaram os filhotes.

- Depois todas  as cegonhas da terra se reunirão em assembleia e começarão as manobras do outono. E vocês todos devem saber voar muito bem, porque isso é muito importante. O general atravessa com o bico todos os que não sabem voar, por isso devem tratar de aprender alguma coisa nos ensaios.

- Então, afinal acabaremos todos no espeto, como disseram os rapazes, e...oh! Lá estão eles cantando outra vez aquilo.

- Ouçam-me a mim, e não aos rapazes. - disse a mãe cegonha. - Depois da grande revista, voaremos para longe daqui, para os países quentes, por sobre montes e florestas. Iremos ao Egito, onde há três casas de pedra, cujo topo alcança as nuvens - chamam-lhes Pirâmides, e são mais velhas do que uma cegonha pode imaginar. E naquela mesma terra há um rio que transborda das margens, e vira o país inteiro em um lodaçal. então nós entramos na lama e comemos rãs.

- O...oh! ...- exclamaram todos os pequerruchos.

- É um lugar verdadeiramente delicioso! A gente pode comer o dia inteiro, e enquanto estamos passando bem por lá, aqui neste país não há uma só folha verde nas árvores! É tão frio aqui que até as nuvens se transformaram em massa geladas e caem em farrapos.

Ela queria falar na neve, mas  não sabia explicar-se melhor.

- E aqueles rapazes malvados também vão ficar em uma massa gelada? E cair em farrapos? - perguntou o filhote mais novo.

- Não; eles não ficam em massa gelada, mas não andam muito longe disso; e são obrigados a ficar apatetados em uma sala triste, enquanto vocês estarão voando em terras estrangeiras, onde há flores e sol quente.

Passou-se algum tempo, os filhotes tinham crescido tanto que já podiam ficar de pé no ninho e olhar em roda. E todos os dias o pai cegonha trazia lindas rãzinhas, cobrinhas, e toda a espécie de manjares do agrado das cegonhas, que podia encontrar. Divertido era ver todas as brincadeiras que ele fazia para distraí-los! Metia a cabeça debaixo da calda, depois batia o bico como se fosse uma pequena matraca, e depois contava histórias, toda elas relativas aos brejos e pauis.

- Vamos, agora devem aprender a voar! - disse um dia a mãe cegonha.

E os quatro nenês se viram obrigados a ir para o beiral. Mas como cambaleavam! Tentaram equilibra-se com as asas, mas quase caíram ao chão.

- Olhem para mim! - disse a mãe. - É assim que devem manter a cabeça! E ponham os pés deste jeito!" Assim! Um, dois! Um, dois! Um ,dois! Isto há de ajudá-los a vencer no mundo.

Ela fez um voo um pouco longo, e os filhotes deram um pequeno salto sem assistência, mas - bumba! Foram abaixo, direitinho, porque ainda tinham o corpo muito pesado.

- Eu não quero voar! - disse um, arrastando-se para o ninho. - Não me importo de ir para as terras quentes!

- Gostarias mais de ficar aqui, e ficar gelado no inverno, feito um bloco? E esperar que os rapazes te venham enforcar, queimar ou assar no espeto? Pois bem, então vou chamá-los já e já!

- Não , não! - disse o filhote, saltando outra vez para o teto, com os outros.

No terceiro dia já começaram a voar um pouco, e pensaram então que já podiam pairar no espaço, amparados nas asas, mas, quando tentaram a façanha, caíram e foram obrigados a bater as asas o mais que podiam. Os meninos tinha aparecido lá embaixo, cantando a sua canção

"Cegonha, cegonha, da perna comprida..."

- Nós não vamos voar para baixo e dar-lhes bicadas? - perguntaram os pequenos.

- Não; deixem os meninos- disse a mãe. - Escutem o que eu digo; isto é muito importante - um...dois...três! Agora vamos voar para a direita. Um...dois...três! Agora para esquerda, ao redor da chaminé. Foi muito bem! Este último golpe de asas foi tão lindo, e tão direito, que dou licença de voarem comigo amanhã para o brejo. Estão já aparecendo lá algumas famílias de cegonhas muito elegantes, e todas com seus filhos, quero que se veja que os meus são os mais bem-educados de todos, e recomendo que andem por lá com o devido grau de altivez, porque isso produz bom efeito e traz consideração.

- E não vamos nos vingar dos rapazes perversos?

- Ora! Deixemo-los gritar quanto quiserem. Vocês podem voar até as nuvens, e ir para a terra das Pirâmides, enquanto eles estão ficando gelados, e não veem uma só folhinha verde, nem tem uma maçã doce para comer.

- Sim, mas nós havemos de nos vingar! - cochicharam eles entre si.

E foram exercitar-se de novo.

De todos os meninos da rua o mais encarniçado em repetir a cantiga escarninha era o pequenote que a cantara no primeiro dia, e era tão pequeno, que mal teria seis anos. Os filhotes, porém, julgavam que ele havia de ter pelo menos cem, pois era maior que as cegonhas grandes. Mas - que sabem os filhotes de cegonha da idade das crianças, ou da gente grande? O certo é que tinham resolvido dirigir a sua vingança contra aquele rapazinho, porque fora ele o primeiro a cantar, e teimava sempre em motejar deles. Os filhotes estava muito irritados, e quanto mais cresciam menos paciência sentiam para aturar insultos e sua mãe viu-se afinal obrigada a prometer-lhes que seriam vingados, sim, mas somente no dia da partida.

- Precisamos ver primeiro como vocês se portam na revista geral, Se vocês não cumprirem seu dever, e o general tiver de espetá-los com o bico, então os rapazes terão razão de falar, pelo menos nesse ponto. Vamos pois esperar até as grandes manobras.

- Sim, a senhora vai ver! - disseram os filhotes.

E deram-se tanto trabalho, ensaiando todos os dias que chegaram a voar com muita elegância e leveza: era um prazer vê-los.

Chegara enfim o outono, tempo em que todas as cegonhas começam a reunir-se e partem afinal para os países quentes, deixando para trás o inverno. E que manobras! As avezinhas recém- empenadas receberam ordem de voar sobre florestas e aldeias, para ver se já sabiam voar direito, porque tinham uma longa viagem a fazer. Mas as jovens cegonhas deram tais provas de capacidade, que seu certificado rezava assim: " Voaram com maestria notável - com uma rã e uma cobra de prêmio." Era certamente prova palpável de que se saíram a contento; e podiam agora comer a rã e a cobra - e não perderam tempo em começar!

- Agora - diziam eles - à nossa vingança!

- Sim, certamente, - disse a mãe cegonha - e descobri qual há de ser a mais bela vingança. Sei onde fica a lagoa em que estão esperando todas as criancinhas humanas, até que as cegonhas as vão buscar, para levá-las a seus pais. Lá estão dormindo as criancinhas mais lindas do mundo, e sonhando sonhos tão suaves como jamais tornarão a sonhar no futuro. Todos os pais desejam muito um filhinho, e todas as crianças querem um irmãozinho. Ora, vamos agora voar para a lagoa e trazer um para cada uma das crianças que não cantaram aquele canto perverso, nem escarneceram das cegonhas.

- Mas o menino malvado, aquele menino feio, que foi o primeiro a cantar a cantiga - gritaram os filhotes - que vamos fazer dele?

- Há lá na lagoa um nenezinho que ficou sonhando, e não  acordou: ele está agora morto. Vamos levá-lo para a casa do menino mau e ele vai chorar, porque nós lhe levamos um irmãozinho morto. Mas para aquele menino bonzinho - vocês não se lembram dele? - aquele que disse que era uma pena escarnecer dos animais? Pois para esse vamos levar um irmão e uma irmã. E, como aquele menino se chama Peter, vocês todos ficarão com o nome de Peter, em honra dele.

E assim se fez. Desde então todas as cegonhas se chamaram Peter, e assim são chamadas até hoje.

Fonte> Hans Christian Andersen. Contos. Publicados originalmente entre 1835 – 1872. Disponível em Domínio Público

Dissecando a magia dos textos (“Um conto para nossos dias”, de Monsenhor Orivaldo Robles)


O conto de Rabindranath Tagore, mencionado no texto, oferece uma crítica profunda ao egoísmo e à avareza que permeiam a sociedade. A história do mendigo e do carro de ouro simboliza a esperança e a desilusão que muitos enfrentam ao se deparar com a riqueza e o poder.


TEMAS PRINCIPAIS
Egoísmo e Generosidade:
A atitude do mendigo, que se vê diante de uma figura de poder, reflete como a generosidade pode ser ofuscada pela dúvida e pelo medo de perder o pouco que se tem.

A mão estendida do "rei" simboliza a expectativa de doação, mas ao invés de receber, ele pede, subvertendo as expectativas sociais.

Desigualdade Social:
Tagore denuncia as diferenças sociais e a indiferença que permite que bilhões vivam em condições precárias enquanto outros acumulam riquezas.

O contraste entre a vida do mendigo e do "rei" serve para questionar os valores que sustentam essa estrutura social.

A Mensagem Cristã:
A citação de Jesus sobre os ricos e o chamado à generosidade ecoa a mensagem do conto. A verdadeira felicidade e satisfação vêm não da acumulação, mas do ato de dar.

A crítica se estende à hipocrisia de muitos que professam valores cristãos, mas não os praticam em suas vidas diárias.

Consequências da Indiferença
A constatação de que milhões sofrem devido à cobiça e à corrupção nos leva a refletir sobre nossa responsabilidade social. O documento pontifício mencionado destaca a urgência de agir contra a fome e a pobreza, promovendo uma ética de serviço à comunidade.

O conto de Tagore, ao abordar a relação entre o mendigo e o "rei", nos leva a refletir sobre diversos aspectos da condição humana. 

TEMAS E IMPLICAÇÕES:

1. A Ilusão da Riqueza
O mendigo espera que a riqueza do "rei" traga alívio e generosidade, mas se depara com a dura realidade da indiferença. Isso ilustra como a riqueza pode ser uma armadilha, levando à desumanização.

2. A Fragilidade das Relações Humanas
A interação entre o mendigo e o "rei" força uma reflexão sobre como as relações autênticas são frequentemente sacrificadas em favor de status e poder. A verdadeira conexão humana é baseada em empatia, não em hierarquia.

3. O Papel da Comunidade
O texto sugere que a solução para a desigualdade não está apenas em atos individuais de generosidade, mas na construção de uma comunidade que valorize o bem-estar coletivo. A união pode ser uma poderosa força de mudança.

4. A Mensagem da Bíblia
A referência a Jesus e os ensinamentos sobre o cuidado com os "menores" reforçam a ideia de que a verdadeira espiritualidade se manifesta em ações concretas. É um convite à reflexão sobre como aplicamos esses princípios em nossas vidas.

IMPLICAÇÕES PARA A ATUALIDADE

Desafios Contemporâneos:
A crítica à cobiça e à corrupção continua relevante. Em um mundo onde a desigualdade social persiste, a mensagem de Tagore e a reflexão cristã são mais importantes do que nunca.

Ação e Responsabilidade:
Cada um de nós é chamado a agir, seja através de doações, voluntariado ou simplesmente promovendo a empatia nas interações diárias. A mudança começa no individual, mas deve se expandir para o coletivo.

CONCLUSÃO
O conto de Tagore e as reflexões sobre ele nos convidam a examinar nossas próprias atitudes em relação à riqueza, generosidade e responsabilidade social. A verdadeira transformação requer coragem para dar, reconhecer nossas fragilidades e trabalhar juntos por um futuro mais justo e solidário.

A obra de Tagore, assim como os ensinamentos cristãos, nos desafia a olhar para nossas atitudes e motivar mudanças. A pergunta "Que tens para me dar?" ressoa como um chamado à ação, instigando cada um a refletir sobre como podem contribuir para um mundo mais justo e solidário. A prática da generosidade e a compaixão são fundamentais para combater a desigualdade e promover um futuro melhor para todos.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR. IA Open.
 Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Recordando Velhas Canções (Fascinação)


(primeira parte)
Os sonhos mais lindos... sonhei...
De quimeras mil um castelo ergui...
E no teu olhar... tonto de emoção...
Com sofreguidão, mil venturas... previ...

O teu corpo é luz, sedução...
Poema divino cheio de esplendor...
Teu sorriso prende, inebria, entontece...
És fascinação, amor...

(declamado)
A sorrir, a cantar e a beijar... 
nossas bocas se uniam então ...
E os campos sorrindo viviam ... 
e nos vendo, as flores se abriam ...
Mas um destino mau certo dia chegou ... 
e, sem o teu, o meu coração secou ...

(segunda parte)
Hoje sombra sou... do que fui...
Minhas ilusões o destino levou...
Nada mais existe... desde que partiste ...
em meu coração só saudade... ficou ...

Vivo com o passado a sonhar...
Vendo-te ainda em meu coração...
Mas tudo promessas, quimeras, mentiras...
Da tua fascinação...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = 
A Doce Ilusão do Amor em 'Fascinação'

A música 'Fascinação', eternizada na voz de Elis Regina, é uma ode ao amor e à idealização romântica. A letra da canção fala sobre sonhos e desejos intensos, construídos a partir da admiração e da paixão por alguém. A referência a 'sonhos mais lindos' e a construção de um 'castelo' simbolizam a criação de um mundo perfeito e utópico no qual o amor é o alicerce central. A quimera, uma criatura mitológica que representa algo inalcançável ou fruto da imaginação, reforça a ideia de que o amor vivido é quase um devaneio, um ideal sublime e talvez distante da realidade.

A canção prossegue descrevendo o ser amado como uma figura quase divina, cuja presença é luminosa e cujo sorriso tem o poder de inebriar e entontecer. Essa descrição eleva o amor a um patamar de adoração, onde o outro é visto como fonte de luz e inspiração poética. A repetição da linha 'Teu sorriso quente inebria e entontece' enfatiza a intensidade do sentimento que domina o eu lírico, sugerindo uma entrega total à experiência do amor.

Elis Regina, conhecida por sua interpretação emocionante e técnica vocal impecável, dá vida a 'Fascinação' com uma performance que transmite a profundidade e a sinceridade dos sentimentos descritos na letra. A música, que se tornou um clássico da MPB, reflete a capacidade da artista de conectar-se com a audiência através de temas universais como o amor e a paixão, tornando a canção atemporal e ressonante com ouvintes de diferentes gerações.

"Fascinação" é uma valsa popular que seduziu o mundo no século passado e foi gravada em diversos e distintos idiomas, originalmente composta por um italiano e um francês, faz cerca de 110 anos. Aquela que se tornou uma “canção do mundo” teve música composta em 1904, por Fermo Dante Marchetti e letra de Maurice de Féraudy, inserida no ano seguinte.

Em 1943, Armando Louzada traduziu a canção para o português, criando a versão interpretada por Carlos Galhardo, a mais clássica em português, registrada em impecável gravação feita com sua voz e orquestra naquele mesmo ano.

Somente mais de 30 anos depois surgiria outra versão clássica na língua portuguesa gravada por Elis Regina em seu álbum "Falso Brilhante" (1976), que popularizou a antiga canção para as últimas gerações no Brasil.

Ainda no Brasil, a música esteve presente na trilha das seguintes novelas da Rede Globo de Televisão, “O Casarão” (1976, com Elis Regina), “Fascinação” (1998, em duas gravações distintas: Carlos Galhardo e Nana Caymmi), “O Profeta” (2006, com Elis Regina) e em algumas produções do cinema nacional.
Fontes:

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Edy Soares (Fragata da Poesia) 54: Melancólica ausência

 

Antonio Brás Constante (Estrangeirismos (os estrangeiros somos nós...)

Em uma antiga tirinha de jornal do personagem “Capitão Douglas”, criado pelo cartunista Laerte, um sargento chegava gritando: “Capitão! Capitão! Descobrimos quem são os inimigos”, “quem são?” O Capitão perguntava, e o sargento lhe respondia: “Os inimigos somos nós”.

Quando eu vejo uma lei como esta sobre a proibição de termos estrangeiros lembro da tirinha, e falo para mim mesmo (eu converso muito comigo mesmo) enquanto tomamos café (eu e eu, ou seja, nós), afinal seriam os estrangeirismos tão pérfidos a ponto de ser necessário criarmos leis para proibi-los? Vamos proibir apenas o uso dos termos em inglês? Mas, o que exatamente pode ser considerado como algo nacionalmente puro?

 Talvez devêssemos levar essa proibição ao extremo, elevando-a também para música, literatura, gastronomia, etc. Ou seja, nada de feijoada, que apesar de dizerem que é tipicamente brasileira tem a maioria de seus ingredientes (senão todos) vindos de fora, os porcos, por exemplo, de acordo com as lendas e com a Wikipédia, só chegaram ao Brasil em 1532. Nada de pão francês (ou qualquer outro tipo de pão), nada de macarrão, ou de lasanha, vamos comer apenas comidas oriundas do Brasil, em um cardápio basicamente constituído de alguns tipos de peixes, frutas, raízes e insetos. Provavelmente teremos que trocar a carne de gado pela de capivara, mas vai ser um sacrifício pelo bem maior da nação.

Nada de futebol ou outros esportes importados. Adotaríamos a peteca como esporte nacional (e talvez o jogo de taco), promovendo até campeonatos mundiais de peteca. O futsal seria rechaçado pela sua similaridade com o futebol de campo que foi introduzido no Brasil através dos ingleses. Até as religiões em sua totalidade seriam proibidas.

As músicas que contivessem qualquer termo de origem estrangeira seriam proibidas, e para provar que a lei estaria sendo severamente cumprida, seriam incluídas inclusive as expressões que viessem do latim, grego ou qualquer outra língua que não fosse nativa. Provavelmente acabariam criando e gastando milhões em um referendo para confirmar com a população se o próprio português seria autorizado, ou se teríamos que reaprender os antigos dialetos indígenas. Todas essas regras valeriam também para literatura.

O vestuário seria outra peça a sofrer reprimendas, e salvo a tanguinha feita de folhas e alguns tipos de peles, todo resto do vestuário seria sumariamente proibido. Passaríamos então a andar tão pelados quanto as nossas contas bancárias. Acho que seria interessante proibir também qualquer tipo de ferramenta, equipamento ou medicamente que não fosse genuinamente nacional. Inclusive pesquisas, descobertas, obras de arte e demais colaborações feitas por pessoas de outras etnias que vivessem aqui seriam vetadas por não serem de brasileiros legítimos (aliás, após exames de DNA descobririam que nenhum brasileiro é biologicamente legitimo, por temos nosso sangue mesclado ao de vários outros povos do mundo).

Utilizar veículos como carros e motos? Nem pensar. Aliás, nem sequer carroças puxadas por cavalos poderiam ser permitidas, já que não existiam cavalos por aqui antes do descobrimento, e o uso desses animais estrangeiros não seria aceito.

Enfim, com tanta coisa importante para se preocupar e gastar o seu tempo onerosamente caro, poderiam parar de desperdiçar energia com besteiras. Aliás, perder tempo com leis esdrúxulas é que deveria ser sumariamente proibido.

Dissecando a Magia dos Textos (“O homem do saco”, de Renato Frata)

Texto publicado neste blog, em 03 de agosto de 2024, no link

"O Homem do Saco", de Renato Frata, é uma narrativa que explora o medo infantil e as lições que a vida nos ensina.

TEMAS PRINCIPAIS
Medo e Inocência Infantil:
A figura do "homem do saco" simboliza os medos irracionais da infância, amplificados pelas histórias contadas pelos pais.


O pavor do protagonista é palpável e se reflete nas suas reações físicas, como o tremor e a vontade de se esconder.

Proteção Materna:
A mãe é uma figura central, que tenta proteger o filho do medo. Sua atitude, ao alimentar o homem, mostra uma complexidade na relação entre amor e proteção.

A dualidade entre o medo e o carinho maternal é um ponto crucial; a mãe ensina através da experiência, mesmo que essa experiência envolva dor.

Aprendizado e Crescimento:
A frase final destaca a lição aprendida: a dor pode ser um professor quando o amor não é suficiente.

O protagonista, ao final, reconhece a importância de entender e enfrentar seus medos.

Estrutura Narrativa
Introdução: A história começa com a descrição do "homem do saco", estabelecendo o clima de tensão e medo logo de início.

Desenvolvimento: O encontro com o homem intensifica o medo, levando a reações emocionais e físicas do protagonista. A narrativa é rica em detalhes sensoriais, que tornam o medo quase palpável.

Clímax: O momento em que o homem entra na casa e interage com o protagonista é o ponto alto, onde o medo se transforma em uma experiência real.

Conclusão: A lição final é uma reflexão sobre a maneira como o medo pode ensinar, criando um fechamento que ressoa com a experiência da infância.

ABORDAGENS
A interação com o homem pode afetar como o protagonista se relaciona com outros personagens, como amigos e familiares, e como ele lida com seus próprios medos no futuro.

A jornada do protagonista pode incluir pequenos momentos de bravura, onde ele tenta enfrentar seus medos, mesmo que de forma tímida.

O medo pode ser tanto um protetor quanto um limitador. Enquanto protege a criança de perigos, também a impede de explorar o mundo.

A figura da mãe representa a autoridade, mas também a vulnerabilidade. Isso pode levar a uma reflexão sobre como as crianças percebem as regras e as consequências.

O dilema entre obedecer e explorar pode ser um tema central, refletindo a tensão entre liberdade e segurança.

REFLEXÕES FINAIS

"O Homem do Saco" não é apenas uma história sobre medo; é uma reflexão profunda sobre crescimento, aprendizado e a complexidade das relações humanas. A narrativa de Renato Frata é uma rica exploração dos medos da infância e das lições que eles nos ensinam. Através de uma linguagem vívida e emocional, a história capta a essência do crescimento humano, mostrando que, muitas vezes, é preciso enfrentar nossos medos para aprender e crescer.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR. IA Open.
 Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Recordando Velhas Canções (Fica comigo esta noite)


Compositor: Adelino Moreira / Nelson Gonçalves

Fica comigo esta noite
E não te arrependerás.
Lá fora o frio é um açoite;
Calor aqui tu terás.

Terás meus beijos de amor,
Minhas carícias terás;
Fica comigo esta noite
E não te arrependerás.

Quero em teus braços, querida,
Adormecer e sonhar;
Esquecer que nos deixamos
Sem nos querermos deixar...

Tu ouvirás o que eu digo;
Eu ouvirei o que dizes.
Fica comigo esta noite
E então seremos felizes.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = 
A Súplica Romântica de Nelson Gonçalves
A música "Fica Comigo Esta Noite", interpretada pelo icônico Nelson Gonçalves, é uma verdadeira ode ao amor e ao desejo de companhia. A letra é um convite apaixonado, uma súplica para que a amada permaneça ao lado do eu lírico durante a noite, prometendo calor e afeto em contraste com o frio que assola o exterior. A canção é marcada por uma atmosfera de intimidade e cumplicidade, sugerindo que a presença da amada é o único remédio para uma noite que seria, de outra forma, solitária e fria.

O refrão, repetido ao longo da música, reforça a promessa de que a amada não se arrependerá se aceitar o convite. O calor humano, as carícias e os beijos de amor são apresentados como garantias de uma noite de felicidade e conforto emocional. A música também toca na ideia de um amor que, apesar das circunstâncias que levaram ao afastamento do casal, permanece vivo e ardente, revelando o desejo de esquecer as mágoas e se entregar ao momento de paixão.

Nelson Gonçalves, conhecido por sua voz marcante e interpretações cheias de emoção, consegue transmitir a intensidade do sentimento do eu lírico. A música se torna um clássico do gênero romântico, refletindo a época em que foi lançada, quando as canções eram carregadas de sentimentos e melodias que falavam diretamente ao coração. "Fica Comigo Esta Noite" é um convite à reconciliação e ao reencontro, onde a música serve como ponte para a expressão dos sentimentos mais profundos.

Além de intérprete principal de Adelino Moreira, Nelson Gonçalves (foto) é seu parceiro em mais de vinte composições, entre as quais se destacam especialmente “Êxtase” e “Fica Comigo Esta Noite”: “Fica comigo esta noite / que não te arrependerás / lá fora o frio é um açoite / calor aqui tu terás...”.

Bem adequada ao estilo do cantor, com as frases iniciais explorando os graves de seu vozeirão, este samba-canção bisou em 61 o mega-sucesso de “Negue”, do inesgotável Adelino, no ano anterior.

Tema musical e título de um filme erótico, “Fica Comigo Esta Noite” é geralmente cantado como bolero, adaptando-se até melhor a esse ritmo.
Fontes:

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Varal de Trovas n. 608

 

Sílvio Romero (O irmão caçula)


(Folclore do Pernambuco)

Havia um homem que tinha três filhos: João o mais velho, o outro Manoel e o caçula José. 

Todos eles se revoltaram contra o pai. Fugiram João e Manoel e ficou José. 

O pai o botou à procura dos irmãos. José ganhou o mundo e foi ter à casa de uma velha, que lhe disse: “Meu netinho, você o que anda fazendo por estas alturas?” 

— “Minha avó”, respondeu ele, “venho buscar meus irmãos que fugiram de casa de meu pai e ele quer que eu os descubra.” 

— “Pois dorme, meu netinho, que eu os farei te acompanhar.” 

No outro dia a velha, depois de lhe dar de comer, disse que ele fosse ao Reino das Três Pombas, onde encontraria os dois irmãos, porque havia ali uma grande festa para se tirar por sorte quem devia desencantar as três pombas, que estão dentro do mar. “Leva”, disse a velha, “esta vara e esta esponja com muito cuidado para que ninguém veja, porque teus irmãos te hão de caluniar ao rei, dizendo que tu te gabaste de ir ao fundo do mar quebrar a pedra e desencantar as três princesas. O rei te há de chamar, e tu deves sustentar que sim. Vai então à praia do mar e atira nele a esponja, a esponja há de boiar e a seguir, tu deves acompanhá-la; vai com a varinha e toca na pedra, que se partirá pelo meio, há de te aparecer uma serpente, toca com a varinha nela e ela há de adormecer; entra pela pedra adentro e tira de lá uma caixa, toca com a vara na caixa que há de se abrir, tira de dentro um ovo, este ovo tem três gemas, quando o quebrares dá a clara à serpente.” 

José foi e fez tudo quanto a velha lhe ensinou. Chegando ao reino viu lá a grande festa: por estar mal pronto os irmãos fingiram que o não conheciam, e trataram de intrigá-lo, dizendo ao rei que ele se atrevia a desencantar as princesas. O rei o mandou chamar e lhe perguntou. 

“Saberá, rei, meu senhor, que eu não disse tal, mas se o rei, meu senhor, assim o ordena, eu estou pronto.” 

Todos ficaram admirados e duvidavam. No outro dia apresentou-se ele para seguir, e o rei mandou pôr navios à sua disposição. Ele disse que não os precisava, porque iria a nado. Todos acharam impossível ir nadando até à pedra. Mas o José largou no mar a esponja e seguiu com ela até a pedra. Bateu nela com a varinha e ela se abriu, apareceu a serpente, bateu também nela e ela adormeceu. Bateu na caixa e ela se abriu, tirou o ovo e partiu, botou a clara na boca da serpente e as três gemas no chapéu e largou-se para trás. Chegando na praia bateu com a varinha nas três gemas, que se transformaram nas três moças mais bonitas do mundo. 

Chegando a palácio todos se admiraram da sua coragem. Ainda lhe levantaram os irmãos nova cal[unia, dizendo que o José tinha dito que era capaz de ir buscar no mar a própria serpente. Ele foi, fez o mesmo com a esponja e a varinha e trouxe a serpente. Como ainda quisessem mangar com ele, tocou com a vara em todos a começar pelo próprio rei, e os fez adormecer.

Mandou então agarrar os irmãos e levá-los a seu pai. 

O rei, quando voltou a si, mandou casar o José com a mais bonita das princesas. Ele tocou com a vara em todos os presentes e os fez adormecer. Mandou buscar o pai e os irmãos, casou estes com as outras duas princesas, e ficaram todos vivendo juntos.

Fonte: Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Publicado originalmente em 1885. Disponível em Domínio Público.

Dissecando a magia dos textos (“Um brinde à vida”, de Therezinha Dieguez Brisolla)

Crônica publicada neste blog em 2 de abril de 2024, no link https://singrandohorizontes.blogspot.com/2024/04/therezinha-dieguez-brisolla-um-brinde.html

A análise do texto "Um Brinde à Vida" revela uma reflexão profunda sobre a percepção da idade e o valor da vivência. A autora, ao se identificar como "idosa" e não "velha", destaca a importância de manter sonhos e uma atitude ativa diante da vida.


TEMAS PRINCIPAIS

Definição de Idade:
A distinção entre "velho" e "idoso" é central. Ser idoso implica vitalidade e esperança, enquanto velho sugere resignação.

Memórias e Nostalgia:
A autora evoca lembranças de tempos passados, como transportes antigos, danças e celebrações familiares, ressaltando a simplicidade e a alegria das interações humanas.

Adaptação às Mudanças:
A transição do uso de máquinas antigas para tecnologia moderna simboliza a capacidade de adaptação e aprendizado contínuo, mesmo em idades avançadas.

Relações Familiares:
A presença da família é fundamental, com referências a filhos, netos e bisnetos, mostrando a importância das gerações e do legado familiar.

Atitude Positiva:
A autora demonstra uma visão otimista sobre a vida, enfatizando que, apesar da idade, o amor e os sonhos permanecem vivos.

ESTILO E ESTRUTURA

Narrativa Pessoal:
O texto é autobiográfico, permitindo uma conexão emocional com o leitor.

Uso de Memórias:
As lembranças são descritas de forma vívida, criando uma sensação de nostalgia e valorização das tradições.

Citações:
A inclusão de uma citação de Mia Couto reforça a mensagem sobre a passagem do tempo e a importância de viver plenamente.

Reflexão sobre a Idade
A autora propõe uma visão positiva do envelhecimento. Ao se autodenominar "idosa", ela enfatiza que a idade não é um impedimento para sonhar e viver ativamente. Essa distinção é importante no discurso social, onde muitas vezes a velhice é associada a limitações.

Memórias e Cultura
As memórias da autora sobre tempos passados revelam um contexto cultural rico. Ao mencionar tradições como danças, festividades e práticas familiares, ela ilustra a importância das experiências coletivas e da convivência comunitária. Isso contrasta com a individualização da sociedade moderna, destacando o valor das relações interpessoais.

Adaptação e Aprendizado
A narrativa sobre sua adaptação à tecnologia é inspiradora. A autora mostra que a disposição para aprender, independentemente da idade, é fundamental. Essa mensagem é motivadora, especialmente para aqueles que podem se sentir intimidados pelas mudanças tecnológicas.

Relações Intergeracionais
A presença da família ao longo do texto destaca a importância das relações intergeracionais. A interação com netos e bisnetos não apenas enriquece sua vida, mas também fortalece os laços familiares. Essa conexão é um fator crucial para o bem-estar emocional na terceira idade.

Mensagem de Esperança
A frase de Mia Couto no final encapsula a essência do texto: a vida é fugaz, e a alma pode permanecer jovem. Essa reflexão é um convite para todos, independentemente da idade, a viver com intensidade e aproveitar cada momento.

ABORDAGENS

1. A Evolução da Sociedade
A autora menciona várias transformações sociais e tecnológicas ao longo de sua vida. Desde os meios de transporte até a comunicação, essas mudanças refletem a evolução da sociedade. O contraste entre o passado e o presente destaca como a modernidade alterou hábitos, interações e a forma como vivemos.

2. Saudade e Nostalgia
A nostalgia permeia o texto, com a autora relembrando momentos simples e significativos. Essas memórias não são apenas pessoais, mas também coletivas, representando uma época em que a convivência e a alegria nas pequenas coisas eram mais valorizadas. A saudade é um sentimento que conecta gerações e reforça a importância das tradições.

3. Impacto da Tecnologia
A adaptação da autora à tecnologia é um ponto crucial. Ela não apenas aprende a usar ferramentas modernas, mas também integra essas novas habilidades em sua vida cotidiana. Isso serve como um modelo de resiliência e abertura para o aprendizado contínuo, algo que pode inspirar outras pessoas da mesma faixa etária.

4. A Importância da Comunidade
O texto ressalta a importância da comunidade e das relações sociais. As interações com vizinhos, amigos e familiares criam um suporte emocional que é vital para o bem-estar. Essa rede de apoio é frequentemente esquecida na vida moderna, onde a individualidade pode prevalecer.

5. Celebrando a Vida
A celebração da vida é um tema central. A autora não apenas vive o presente, mas também valoriza cada dia, cada interação e cada sonho. Isso a torna um exemplo de que a idade não deve ser um obstáculo, mas sim um convite para viver com mais intensidade.

6. Reflexão sobre o Legado
Por fim, a obra também provoca uma reflexão sobre o legado que deixamos. A autora, ao compartilhar suas experiências e aprendizagens, contribui para a memória coletiva e inspira futuras gerações a valorizarem suas próprias histórias e a importância de sonhar.

Conclusão

"Um Brinde à Vida" é mais do que um relato pessoal; é um manifesto sobre a beleza do envelhecimento, a importância das relações e a capacidade humana de se reinventar. A mensagem é clara: independentemente da idade, sempre há espaço para a alegria, o aprendizado e a esperança. Essa perspectiva oferece um olhar renovado sobre o envelhecimento, encorajando todos a viverem plenamente.

"Um Brinde à Vida" é uma celebração da experiência, da memória e da capacidade humana de se adaptar e continuar sonhando. A autora se apresenta como um exemplo de que viver plenamente é uma escolha, independentemente da idade. O texto é uma celebração da vida e uma afirmação da identidade da autora como uma mulher ativa e sonhadora. A mensagem central é clara: a idade não define a vitalidade e a capacidade de amar e sonhar. Essa perspectiva encoraja uma reflexão sobre o envelhecimento e a forma como valorizamos cada fase da vida.
Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR. IA Open.
 Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Recordando Velhas Canções (Funeral de um lavrador)


Compositor: Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto

Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a parte que te cabe deste latifúndio

Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
Estarás mais ancho que estavas no mundo

É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo
Porém mais que no mundo te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca

É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada, não se abre a boca
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
A Crítica Social em 'Funeral de Um Lavrador'
A canção 'Funeral de Um Lavrador', interpretada por Chico Buarque, é uma obra que transcende a mera descrição de um enterro para se tornar uma poderosa crítica social. A letra, que fala sobre a medição da cova de um lavrador, utiliza-se de uma metáfora para discutir as desigualdades sociais e a questão da reforma agrária no Brasil. A 'conta menor' que o lavrador 'tirou em vida' simboliza a pequena parcela de terra e as limitadas oportunidades que teve enquanto vivo, em contraste com os latifúndios, grandes extensões de terra pertencentes a poucos.

A repetição da ideia de que na morte o lavrador estará 'mais ancho' do que no mundo vivo é uma ironia amarga que destaca a liberdade que a morte traz, em comparação com a opressão sofrida em vida devido à concentração de terras e à exploração dos trabalhadores rurais. A música reflete o contexto histórico de luta pela reforma agrária no Brasil, onde a distribuição desigual de terras é um problema crônico, gerando conflitos e desigualdades sociais.

Chico Buarque, conhecido por suas letras engajadas e críticas à realidade social e política, utiliza a música como um veículo para denunciar e provocar reflexão. 'Funeral de Um Lavrador' é um exemplo de como a arte pode ser usada para comentar e influenciar questões sociais, mantendo-se relevante mesmo após décadas de sua composição. https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45132/