quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Therezinha Dieguez Brisolla (Trovas em preto e branco)

                                    


1
À pergunta: - Qual andar?
Responde o pinguço, a esmo:
- Onde quiser me levar;
já errei de prédio mesmo!
2
Ao vir "de fogo" recua
gritando, após a topada:
- Que faz um poste na rua
às duas da madrugada?!
3
Cai no trilho e a triste sina
maldiz tanto o beberrão...
"Essa escada não termina
e é tão baixo o corrimão!”
4
"Depois do jantar, o mate",
diz, ao filho, o anfitrião.
Foge, ao perigo, o mascate.
Foi sem tomar chimarrão!…
5
- É o piloto... tô em perigo!...
Tem fumaça... e um fogaréu!...
- É a torre... reze comigo:
“Pai nosso, que estais no céu...”
6
Foi o par pro beleléu...
e o fantasma, em tom moderno:
- Venho, à noite, aqui no céu,
ou você vai lá no inferno?
7
Jaz o ancião na cascata!...
Seu anjo, que é seu abrigo,
já velho e com catarata,
não viu a placa "PERIGO"!
8
Na escada, a aposta suicida
dos genros, no arranha-céu:
- Leva, quem perde a corrida,
a sogra como troféu!
9
Não houve pancadaria
nem sufoco na paquera...
“Sou homem”, disse a Maria.
Ainda bem que o Zé não era!
10
O bombeiro subalterno
morreu... e o céu foi seu rogo...
Mas, foi mandado pro inferno
porque no céu não tem fogo!!!
11
Pede a graça ao padroeiro
e promete ao santo, à beça...
É um beato caloteiro
que não paga nem promessa!
12
Querendo ver o acidente,
ele abriu caminho a murro...
Foi dizendo: "Sou parente"...
Mas quem morreu foi um burro!

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SOBRE AS TROVAS DE THEREZINHA
por José Feldman

As trovas humorísticas de Therezinha Dieguez Brisolla capturam de forma leve e irônica situações cotidianas, muitas vezes com um toque de absurdo.

AS TROVAS

1 – Ironia do pinguço: A resposta do pinguço mostra a desorientação que o álcool pode trazer, transformando uma simples pergunta em uma piada sobre confusão, refletindo uma crítica ao consumo excessivo de álcool e suas consequências.

2 – Poste na madrugada: A indignação de encontrar um obstáculo à noite ilustra a falta de atenção que todos podem ter em momentos de distração.

3 – A escada interminável: O desespero do beberrão reflete a frustração de situações que parecem não ter fim, uma metáfora para desafios da vida.

4 – Chimarrão perdido: O mascate foge do perigo sem se preparar adequadamente, uma. É uma crítica ao despreparo e à falta de atenção nas interações sociais, às próprias tradições, ironizando a seriedade que as pessoas costumam dar a eventos triviais.

5 – O piloto em perigo: A cena humorística mostra como a fé pode ser uma reação imediata ao medo, mesmo em situações absurdas.

6 – Fantasma moderno: A troca entre o fantasma e o homem traz um humor surreal, questionando o que é realmente assustador.

7 – Catarata e perigo: A ironia da situação do ancião que ignora um aviso é um lembrete sobre a vulnerabilidade da idade.

8 – Aposta com sogra: A aposta arriscada entre genros e a sogra revela o humor em relações familiares e rivalidades.

9 – Confusão na paquera: A revelação sobre Zé traz um alívio cômico, jogando com expectativas em situações românticas.

10 – Bombeiro no céu: O bombeiro que, ao morrer, é enviado para o inferno porque "no céu não tem fogo" brinca com a expectativa de que heróis vão para o céu, revelando uma ironia sobre o destino das pessoas.

11 – Beato caloteiro: A figura do beato que não cumpre suas promessas é uma crítica social divertida, expõe a falta de sinceridade em práticas religiosas, mostrando como as pessoas muitas vezes não se comprometem com suas palavras.

12 – Abertura de caminho: A busca por atenção em um acidente termina tragicamente cômica, mostrando como a vida pode ser cheia de surpresas.

ESTILO E ESTRUTURA

Ritmo e Rima: As trovas têm uma cadência marcante, com rimas que tornam a leitura leve e divertida.

Personificação: Elementos como fantasmas e anjos são usados para dar vida a ideias e reflexões, criando um ambiente lúdico.

Simplicidade: A linguagem é acessível, o que permite que as mensagens sejam compreendidas por diversos públicos.

A IRONIA NAS TROVAS DE THEREZINHA

A ironia nas trovas humorísticas de Therezinha  está profundamente enraizada na cultura brasileira e se relaciona com diversos aspectos da sociedade.

As trovas refletem a oralidade e a riqueza do português falado no Brasil, utilizando expressões coloquiais que ressoam com o cotidiano das pessoas. O uso de ironia e humor é uma forma de expressar a identidade brasileira, revelando a capacidade de rir das próprias desventuras. serve como ferramenta de crítica às injustiças sociais e políticas, algo comum na tradição de humor no Brasil, desde a literatura até as manifestações artísticas.

O brasileiro tem uma tradição de usar o humor como forma de resistência, especialmente em tempos difíceis. A ironia nas trovas reflete essa capacidade de encontrar leveza em situações complicadas, pois o riso é uma parte fundamental da cultura brasileira, e as trovas humorísticas abraçam essa característica, criando um espaço para a reflexão através do humor.

CONCLUSÃO

Essas trovas ressoam por sua capacidade de fazer o leitor rir, enquanto o convida a refletir sobre a condição humana. Elas são uma forma de humor popular que preserva tradições e, ao mesmo tempo, traz à tona questões contemporâneas, cada uma com seu próprio charme e sagacidade.

Essa conexão entre ironia e cultura enriquece a compreensão das trovas, tornando-as não apenas divertidas, mas também significativas dentro do contexto social e cultural do Brasil.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Arthur Thomaz (Travessia) conto e análise

 Nota do blog: Pequena análise sobre o conto, ao final.

Era o barqueiro responsável por pilotar uma embarcação que levava pessoas para o lado de lá. Diferente do que imaginavam, não se tratava de um santo ou um enviado dos deuses. Em volta do barco, estava escrito em letras garrafais: “Lá, você encontrará o inesperado, o imponderável e o inescrutável”.

Simultaneamente, era emitido um aviso sonoro, com a voz dos pais ou de pessoas mais velhas que haviam advertido essa criatura a não ir até o lado de lá.

No início de sua carreira, o gentil barqueiro tentara também persuadir os passageiros a não embarcar, mas com o passar do tempo, percebendo a inutilidade de tais conselhos, calou-se, mesmo se sentindo contrariado com isso, limitando-se a remar e remar, tentando entender o que levava essas pessoas a aventurar-se nessa vã tentativa.

Seres que deixavam para trás estáveis situações sociais, econômicas e amorosas para lançarem-se com poucas ou nenhuma ficha em um difícil jogo, em que o próprio futuro estava em risco.

Eram indivíduos heterogêneos que possuíam em comum somente a obstinação em chegar à margem de lá. Casais apaixonados, outros já nem tanto, adolescentes guiados apenas por falsos apelos nas redes sociais, mulheres e homens solitários e iludidos com o que acreditavam encontrar no outro lado.

Atletas em fim de carreira em busca de um time que os fizesse ouvir novamente os aplausos de torcedores, artistas em decadência à procura de um palco qualquer que lhes devolvesse o assédio antigo de fãs. Idosos inconformados, almejando retornar à mocidade, e jovens querendo uma precoce maturidade.

Tinham ainda velhas raposas políticas, sonhando com a vitória na próxima eleição, para apagar a última e desastrosa derrota nas urnas. Incompreendidos, querendo reconhecimento, e desajustados, tentando retomar o rumo perdido.

Mesmo sendo um rio caudaloso, cheio de correntezas e bancos de areia, o barqueiro dominava inteiramente a rota a seguir. Mas, às vezes, uma inesperada onda derrubava algum passageiro e o desespero deste em chegar ao outro lado era tanto, que o fazia nadar em direção à distante margem, sem pensar em retornar à embarcação, causando-lhe a morte.

Ao chegar e desembarcar os passageiros, o barqueiro aguardava pacientemente por horas o retorno de alguns deles. 

Infrutífera espera, nenhum jamais voltou.

Esta rotina ocorreu por décadas (cerca de três gerações de barqueiros), até que certo dia, a embarcação rompeu-se na colisão com um recém-formado banco de areia.

Nesse naufrágio, mais do que as vidas, perdeu-se também a inútil esperança dos desesperados mortais transformarem-se em algo superior aos seus limites, dádiva reservada somente aos deuses.

Por ironia do destino, o Olimpo situava-se do lado de lá, muito perto, mas invisível e inexpugnável.

Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 
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Breve Análise do conto “Travessia”, 
por José Feldman

O conto de Arthur Thomaz, "Travessia", utiliza a figura do barqueiro como uma metáfora poderosa para a transição e a busca humana por significado.

O barqueiro, que deveria ser um guia, acaba se tornando um mero transportador, simbolizando a frustração das expectativas humanas. As promessas de um "lado de lá" repleto de esperanças contrastam com a dura realidade da travessia, evidenciando a futilidade de muitas aspirações.

A obstinação dos passageiros em buscar algo melhor, apesar dos avisos, revela a ironia da condição humana. A determinação em buscar o desconhecido, mesmo com a consciência do risco, reflete a natureza muitas vezes irracional das decisões humanas.

O barqueiro aguarda o retorno dos passageiros, mas nunca os vê voltar, simbolizando a ironia da esperança. A busca por algo maior muitas vezes resulta em desilusão, mostrando como as aspirações podem levar à perda.

A proximidade do Olimpo, invisível e inalcançável, intensifica a ironia. O que se busca está tão perto, mas é inatingível, destacando a tragédia da condição humana em sua incessante busca por um ideal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A narrativa reflete aspectos da cultura brasileira, como a busca contínua por melhores condições de vida e a esperança de transformação, mesmo em face de adversidades. A ironia serve como uma crítica sutil às promessas não cumpridas da sociedade, que frequentemente leva indivíduos a arriscarem tudo por um futuro incerto.

No fundo, "Travessia" é um convite à reflexão sobre as motivações humanas e as ironias da vida. Através da figura do barqueiro e de seus passageiros, Thomaz explora temas universais que ressoam profundamente na experiência humana, especialmente em um contexto cultural rico e complexo como o brasileiro.
Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos contos. Maringá/PR. IA Open.
 Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Vereda da Poesia = 90 =


Trova de Caicó/RN

MARA MELINNI GARCIA

Nas noites de solidão...
— Lua, que embala os amores,
és, em tua mansidão,
a musa dos trovadores!
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Poema de Belo Horizonte/MG

ROGÉRIO SALGADO

Sobre todas as coisas

O meu amor tem dessas coisas
de cultivar estrelas
no céu da tua boca
ser criança, como quem ama
adolescentemente
pela primeira vez.

O meu amor tem dessas coisas
de dizer silêncios
quando te observa e se encanta
no encontro de fazer milagres
no coração.

Assim, o me amor adormece
e acorda no acorde de ser canção
sobre todas as coisas assim
o meu amor tem dessas coisas
de sobre todas as coisas amar.
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Trova de Natal/RN

HÉLIO PEDRO SOUZA

Um mistério me alucina
no medo que todos têm:
transpor a negra cortina
que dá acesso ao além.
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Soneto de Natal/RN

FRANCISCO NEVES DE MACEDO  
1948 – 2012

Iconoclastas do meio ambiente

As árvores são tanta e já floridas,
e são milhares, todas importantes,
mas sei também de muitas ressequidas,
que a moto serra, fez agonizantes.

Árvores tombam, tantas, tanta vidas,
por mãos e mentes, as mais ignorantes,
nas ambições nefastas desmedidas,
o que lhes tornam torpes ruminantes.

Do apocalipse, a “besta” da ambição,
com a maldita, moto serra à mão,
destruindo as irmãs da nossa gente.

Vem a mortal desertificação,
morte virá também ao falso irmão:
Iconoclasta do Meio Ambiente.
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Trova Premiada em Salinópolis/PA, 2005

ANTONIO JURACI SIQUEIRA 
Belém /PA

Quando minha alma vagueia
pelos mares da ilusão,
a saudade é uma sereia
que canta em meu coração.
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Soneto de Florianópolis/SC

CRUZ E SOUZA
Florianópolis/SC, 1861-1898, Antonio Carlos/MG

Cristais

Mais claro e fino do que as finas pratas
o som da tua voz deliciava...
Na dolência velada das sonatas
como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas
em lânguida espiral que iluminava,
brancas sonoridades de cascatas...
Tanta harmonia melancolizava.

Filtros sutis de melodias, de ondas
de cantos volutuosos como rondas
de silfos leves, sensuais, lascivos...

Como que anseios invisíveis, mudos,
da brancura das sedas e veludos,
das virgindades, dos pudores vivos.
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Trova Popular

Dizem que o pito alivia
as mágoas do coração;
eu pito, pito e repito
e as mágoas nunca se vão.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

MARIA NASCIMENTO SANTOS CARVALHO

Além da vida

Muitos dizem que a vida é uma tortura,
e o mundo é um vil celeiro de ilusão;
que, para cada dia de ventura,
vivem meses de plena solidão...

Que vegetam... Respiram desventura,
que a incerteza é mais forte que a razão;
que a cada instante morrem de amargura,
mas não ouvem a voz do coração.

Malgrado seja a vida uma incerteza,
não vou mesclar meus dias de tristeza
enquanto espero o dia da partida,

pois, voando nas asas do seu verso
o poeta transpõe todo o universo
e vive muito além da própria Vida!...
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros

Com meu sorriso eu assino
a cláusula do contrato
de te amar como um menino
mesmo ao fim do último ato.
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Poema de Aracaju / SE

RAIMUNDO SAMPAIO COSTA

O enigma do Eu

Não é preciso dares nome
À tua enfermidade moral.
Este teu puritanismo nas entranhas embutido
É a doença que vos infecta.
E, para satisfazeres a saga de tua insana mente
Atacas-nos qual abutre faminto invejando-nos o ser.
Enfim! Libertas-te das algemas sujas
Do calabouço moralista que vos aflige.
Procuras na pureza pura dos prazeres te encontrar.
A causa de tua imensa dor
É a crise interna do desamor.
O Enígma de teu Eu, é apenas teu.
Não se reprima, não se reprima.
Pouco importa se és Dagmar, Itamar ou Valdemar...
Cruzes, cruzes,cruzes.
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Trova Humorística de Nova Friburgo/RJ

CLENIR NEVES RIBEIRO

Coincidência que me arrasa,
que me assusta e me espezinha...
- meu marido chega em casa
quando chega o da vizinha!
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Dobradinha Poética de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI

A força do amor sofrido

Difícil de compreender
a força do amor sofrido,
mas bem fácil de entender
depois de tê-la sentido…

 A inquebrantável força de um amor
resiste ao tempo, à dor e à despedida;
ignora a culpa, esquece do amargor,
veemente, segue incólume na vida.

Atenta ao coração do sofredor,
leva a esperança e a calma comedida;
despreza a solidão e, sem pudor,
oferta-lhe a presença destemida.

Contudo, quando o amor, senil, cansar-se,
a força ativa, sem jamais quedar-se,
não deixará que prostre, entregue à sorte...

Honradamente irá retroagir,
o amor fará no sonho submergir...
Trará a ilusão, que pode adiar a morte!
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Trova de Nova Friburgo/RJ

RODOLPHO ABUDD
Nova Friburgo/RJ, 1926 – 2013

Sem você, sigo calado,
e o meu viver é sombrio,
qual velho ator fracassado
vendo o teatro vazio!...
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Poema de Rio Branco / AC

ALESSANDRO BORGES DE MOURA

Magia infinda

Olha lá! O vento assanhando os cabelos verdes das árvores!
O moleque escorregando a ladeira com luvas
A correnteza levando os barquinhos de papel...
São crianças brincando na chuva.

Olha lá! A euforia subindo as montanhas!
A água turva se embalando;
O trovão montando na nuvem...
São crianças brincando na chuva.

Olha lá! Dezenas de pezinhos
Dançando sobre o barro vermelho!
A bola na rua fazendo curva,
As risadas sagradas da felicidade...
São crianças brincando na chuva.

Olha lá! Esse rio alegre de gente!
Não importam as trovoadas;
Essa chuva ainda vai longe...
Espalhando por toda terra
A magia infinita de toda essa criançada!
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Trova de Ribeirão Preto/SP

NILTON MANOEL
1945 – 2024

Nada mais embriagador
no arrepio das ternuras
que escutar juras de amor
mesmo que sejam perjuras.
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Soneto Paranaense 

CECIM CALIXTO
Pinhalão/PR, 1926 – 2008, Tomazina/PR

Testamento

Labuto em vão a costurar futuro
e a delinear as coisas que preciso.
Mas se me ligo, permanece escuro,
certo porão que se me hospeda o juízo.

Colhendo pedras ao projeto, aturo,
toda vileza que não tem aviso.
E já percebo que a sangrar procuro
as frágeis notas do obscuro siso.

E inalcansável tudo que imagino,
por isto aceito o freio ao meu destino,
na busca atroz de uma ilusão que existe.

Poeta...! Vale o teu anseio justo...
pois sabes bem que saberão o custo
todos que lerem teu soneto triste.
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Trova Premiada em Salinópolis/PA, 2005

JAIR SALES DE ALMEIDA 
Tomé-Açu/PA

Um canto ao longe soava
e encontrei na voz perdida,
a sereia que eu buscava
para o mar da minha vida.
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Poema de Belo Horizonte / MG

ANA CAROLINA VIANA FARIA

Frágil

Um monstro essa tal solidão
Que mata e envenena
Te rouba a razão
Te faz ir na contramão.

Um horror essa tal ilusão
Que afasta e queima
Um ou outro coração...
Sem hesitar.

Uma frágil emoção
Esse amor guardado em meu peito
Tão frágil que dá medo
Tão seguro que é frágil.

Parece que somos tão iguais...
E tão diferentes
Parece que somos tão unidos...
E tão distantes.

Não me pergunte por quê
E nem para onde
Só posso lhe dizer
Que agora eu quero você.
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Trova Humorística de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Baita arruaça, bravatas, 
um tremendo sururu... 
Frangas, marrecas e patas 
brigando por um peru!
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Pantun de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Pantun dos desajustados

TROVA TEMA:
Quando a família é rompida
por atos cegos, tiranos,
deixa destroços de vida,
restos de seres humanos.
Manoel Cavalcante 
Pau dos Ferros/RN

PANTUN:
Por atos cegos, tiranos,
por ciúme ou por loucura,
restos de seres humanos
são sobras da desventura.

Por ciúme ou por loucura,
as decisões mal tomadas,
são sobras da desventura
de vidas abandonadas.

As decisões mal tomadas,
as vezes gera a desgraça
de vidas abandonadas
jogadas no chão da praça.

As vezes gera a desgraça
das almas cheias de vida,
jogadas no chão da praça
quando a família é rompida.
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP (1924)

Para os que entregam ao nada
os sonhos que ontem sonharam,
o orgulho é terra pisada
moldando os pés que a pisaram…
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Hino de Guarapuava/PR

O Sol surgiu, um dia, mais brilhante
E foi, risonho as flores acordar
O riacho, sobre as pedras, a cantar
A cidade que surgia triunfante!

Com fervor, nós te saudamos, Guarapuava
Neste hino de Louvor!

Teu vulto sem igual
Pinheiro magistral
Eu sempre hei de cantar com ardor!
Vaqueiro colossal
Figura imortal
Guarapuava é meu grande amor!

O Sol doura o campo verdejante
A brisa, os trigais a balançar
Guarapuava é menina radiante
Com o ouro dos trigais a se enfeitar!

Com fervor, nós te saudamos, Guarapuava
Neste hino de Louvor!

Teu vulto sem igual
Pinheiro magistral
Eu sempre hei de cantar com ardor!
Vaqueiro colossal
Figura imortal
Guarapuava é meu grande amor!

O Sol doura o campo verdejante
A brisa, os trigais a balançar
Guarapuava é menina radiante
Com o ouro dos trigais a se enfeitar!
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Trova de Florianópolis/SC

ABEL PEREIRA

Saudade é onda que vaga
na vaga do desconforto.
É mar que o barco naufraga
sem rumo, longe do porto.
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Poema de Funchal/Portugal

JOAQUIM EVÓNIO
(Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos)
1938 – 2012

Foi um Anjo

Foi um anjo, melodia
que voou para os meus braços
em amplexo tão ardente...
Curou todas as feridas
que me traziam doente...
 
Mas hoje, amanhã e sempre
trarei no peito em chamas
a triste recordação
do tempo que não vivi.
 
Foram dias, foram anos
vividos pelos pinhais,
sentindo como os navios
perdidos… órfãos de cais...
 
Com o sol nasceu encanto
abraçado aos braços dela...
Veio o Verão, Primavera,
guardando o meu Outono
numa caixa de Pandora...
 
Foi a aventura sincera
sem amargura nem dor,
foi tudo, foi quase nada,
apenas um grande amor.
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Trova de Ponta Grossa/PR

MANUEL MARIA RAMÍREZ Y ANGUITA

Entre nós não há mais nada,
só o fundo abismo sem fim,
densa linha demarcada
entre o meu não e o teu sim.
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

Os dois touros e a rã

Dois touros brigavam, por causa de amores,
Não longe de nédia vaquinha louçã;
Do charco onde habita, notando os furores,
Assim, assustada, lhes fala uma rã:

«Que é isso?... não vedes que ao fim dessa briga
Será desterrado do campo um de vós,
O qual, suportando vergonha e fadiga,
Virá sobre os charcos pisar-nos a nós?

É justo soframos, sem ter pretendido
A posse da vaca?» — E a triste acertou!...
Fugiu para os charcos o touro vencido,
E rãs, sob as patas, às mil esmagou!

Famosa verdade! Mas, caros leitores,
Por muito sabida, não deve espantar:
As grandes toleimas dos grandes senhores
São sempre os pequenos que as têm de pagar!

Recordando Velhas Canções (Velho realejo)


(Valsa, 1940)

Compositor: Custódio Mesquita/Sady Cabral

Naquele bairro afastado
Onde em criança vivias
A remoer melodias
De uma ternura sem par

Passava todas as tardes
Um realejo risonho
Passava como num sonho
Um realejo a cantar

Depois tu partiste
Ficou triste a rua deserta
Na tarde fria e calma
Ouço ainda o realejo tocar

Ficou a saudade
Comigo a morar
Tu cantas alegre e o realejo
Parece que chora com pena de ti

Ficou a saudade
Comigo a morar
Tu cantas alegre e o realejo
Parece que chora com pena de ti
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Saudade e Melancolia em 'Velho Realejo'
A música 'Velho Realejo', é uma obra que evoca sentimentos profundos de saudade e melancolia. A letra nos transporta para um bairro afastado, onde o eu lírico relembra sua infância e as melodias ternas que ouvia de um realejo. Esse instrumento musical, que passava todas as tardes, é descrito como risonho e capaz de transformar a realidade em um sonho, trazendo uma sensação de nostalgia e simplicidade.

A partida de uma pessoa querida é um ponto central na canção. A rua, que antes era animada pela presença dessa pessoa e pelo som do realejo, agora está deserta e triste. A ausência é sentida profundamente, e o realejo, que antes trazia alegria, agora parece chorar, refletindo a dor da perda. A música utiliza essa metáfora do realejo para expressar a dualidade entre a alegria do passado e a tristeza do presente, criando uma imagem poética e tocante.

Orlando Silva, conhecido como o 'Cantor das Multidões', era famoso por sua voz emotiva e interpretação apaixonada. 'Velho Realejo' é um exemplo perfeito de seu estilo, que combina lirismo e emoção para tocar o coração dos ouvintes. A canção fala sobre a permanência da saudade e como as memórias podem ser tanto uma fonte de consolo quanto de dor. A melodia do realejo, que antes era um símbolo de alegria, agora é um lembrete constante da ausência e da saudade que ficou. https://www.letras.mus.br/orlando-silva/125899/