quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Vereda da Poesia = 118 =


Trova de
CÉLIA MARTINS
Bauru/SP

Querendo o mundo alegrar,
Deus juntou perfumes, cores,
e, para o poeta sonhar,
sorrindo criou as flores…
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Poema de
CRIS ANVAGO
Lisboa/ Portugal

A música faz sonhar
Lembrar, sorrir
Ficar sentada
Fluir no oceano
Que nos acolhe
E escolhe o que merecemos
E queremos tudo de bom
Porque queremos
Ser como somos
Ser nós!

Com os abraços amigos
Sem estarmos sós
Queremos o som
E, na madrugada
Saborear fruto bom
Antes de irmos para a estrada
Somos quem somos
E, não temos de ser mais nada!

Chegamos, partimos
Andamos a deambular pela estrada
Sempre pensamos em quem nos ama
Sempre somos acarinhados pelos amigos
Somos nós 
Com todas as imperfeições
e. se não estivermos sós
somos bons nas nossas relações
de amizade, da amor e carinho
assim vamos caminhando
nesta estrada dura do destino!
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Cara cheia... Perna bamba,
ele mesmo se conforta,
olha a rua e diz: - "Caramba!"
Nunca vi rua mais torta!...
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Soneto de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Foi dele a sorte

Genoveva, uma negra solteirona,
quase banguela e bem desengonçada,
apesar de feiosa e cinquentona...
de repente a notícia: Está casada!

E o noivo?! Um ruivascão bem apanhado,
uns vinte anos mais moço, com certeza...
Fato esquisito e tão disparatado
causa na vila uma enorme estranheza.

Diz à negra um compadre malicioso:
“Poxa, Nha Véva, que eu já tô curioso;
mecê achou um rapagão tão alinhado...”

E ela, vaidosa, arreganhando um dente:
 “Pois é... tinha um montão de pretendente,
mas a sorte foi dele... tá premiado!”
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Trova de
MARTINHO DE ABREU CARVALHO
Bauru/SP (1913 – 1989)

Saudade! Guardo-a num lenço
que um dia orvalhei de pranto...
Tem o perfume do incenso:
– misto de amargo e de santo!
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Poema de
DANTE MILANO
Rio de Janeiro/RJ (1899 -1991) Petrópolis/RJ

CANÇÃO BÊBADA

Estou bêbado de tristeza,
De doçura, de incerteza,
Estou bêbado de ilusão,
Estou bêbado, estou bêbado,
Bêbado de cair no chão.

Os que me virem caído
Pensarão que estou ferido.
Alguém dirá: "Foi suicídio!"
"É um bêbado!" outros dirão.

E ficarei estirado,
Bêbado, desfigurado.

Talvez eu seja arrastado
Pelas ruas, empurrado,
Jogado numa prisão.

Ninguém perdoa o meu sonho,
Riem da minha tristeza,

Bêbado, bêbado, bêbado,

Em mim, humilhada a glória,
Escarnecida a poesia,

Rasgado o sonho, a ilusão
Sumindo, a emoção doendo.

E ficarei atirado,
Bêbado, desfigurado.
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Trova Popular

Se mil corações tivesse         
com eles eu te amaria;
mil vidas que Deus me desse
em ti as empregaria.   
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Dobradinha poética (trova e soneto) de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Bandeirantes/PR

Seu retrato

Com seu retrato eu falava,
queixando-me de um desgosto
e a lágrima, que brotava
foi descendo no seu rosto…

Você se foi e além desta saudade,
a solidão me impôs mais um castigo…
Sem ter você eu vi que, na verdade,
nem um retrato seu tinha comigo.

Passado o tempo, nova realidade,
minha lembrança exposta ao desabrigo,
pois a aparência da adiantada idade
não corresponde ao jovem rosto, antigo.

Conscientizada de inegável fato,
num livro eu vi seu quase atual retrato,
fui logo ampliá-lo para mais vantagem…

E analisei o seu semblante, nele,
mas percebi que não preciso dele:
– gravada em mim já estava a mesma imagem!…
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Trova de
IRMA RANGEL MARTINS
Bauru/SP

Nossa vida é dom divino,
cabe-nos cuidá-la bem
com amor e muito tino;
vivenciá-la também...
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

Há tanto amor
Na beleza de uma fotografia 
Nos momentos registados em partilha e sintonia 
Como poemas protegidos numa gaveta de afetos

Há tanto amor 
Em momento que suspira pela companhia
Pela palavra que serena, que só acrescenta
Que afasta julgamentos nas noites em que o sono não vence

Há tanto amor 
No repetir da palavra bendita 
No gesto simples que se torna intimidade 
Verdade de amar em descompassado palpitar.

Há tanto amor 
No sentimento que não deve julgar
Na grandeza de um todo insuficiente 
Num libertar que vai além da compreensão.
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Ao ver que estava em perigo
fechou, a Jane, a matraca...
É que o Tarzã, sempre amigo,
hoje "tava com a macaca"!
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Soneto de 
BERNARDO TRANCOSO
Vitória/ES

Uma poesia sobre nós

Nada vai separar, existem laços;
Nem vai desenlaçar, nem nos espaços
Entre os passos que juntos damos, sós;
Nem antes dos abraços, nem após.

Nada vai desatar tantos amassos;
Nem vai desamassar, nem nos escassos
Truques, traços, herdados dos avós,
Nossos braços, cruzados como nós.

Todo o meu corpo, todo o teu, também,
São bobinas trançadas de um motor,
Bouganvilles depois do sol se pôr,

A liberar calor como ninguém.
São nossos corações, que vão e vêm,
Pontas de um grande laço, que é o amor.
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Trova de
JOSÉ TAVARES DE LIMA
Juiz de Fora/MG

Pode o amor ser complicado...
Mas, seja lá como for,
adoro ser enredado
nos labirintos do amor...
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Poema de
LEONILDA YVONNETI SPINA
Londrina/PR

Vem...

Vem...
Mas não tragas o pó de outras andanças.
Não me despertes mortas esperanças.
Vem desarmado, solto, livre
como pássaro, romântico trovador.
Traze-me tua voz, teu canto, teu calor.

Vem fatigado, descansar em novos prados.
Vem faminto, desprotegido, em busca de afeto.
Mas traze em tua mochila punhados de sonhos,
nos lábios o mel que me adoçará o riso,
nos braços a quentura de muitos sóis,
nos olhos a chama de mil velas.

Vem...
E me olha, me toca, me abraça.
Ansioso me enlaça, faze-me estremecer.

Vem...
E te entrega por inteiro, no fluir das horas.
Não te inquietes, não te preocupes em ir embora.
Vive o agora, o momento que breve passa...

Ou então... Não venhas!
Que não te quero parte, metade.
Não te quero migalha...
Quero um amor... de verdade!
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Trova Funerária Cigana

As saudades que te trago
foram da terra arrancadas,
mas as que tenho por ti
estão n'alma enraizadas.
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Soneto de 
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

A meu filho

Vejo a criança de ontem em você
que embalei nos meus braços ternamente,
Sinto inundar-me de emoção porque
eu vi botão a flor hoje imponente.

Ao pressentir o homem que, latente,
eu já descubro e quase já se vê,
tenho almejado que haja tão somente
o bem, no mundo que se lhe antevê.

Não saber-lhe o porvir faz-se tortura
que na alma-mãe me paira e assim perdura
na ânsia vã de pautar-lhe a jornada.

Uma lágrima oculta, na costura
enxugo. E rogo a Deus que faça pura
e perfumosa a flor por mim plantada.
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Trova de
CLÁUDIO DERLI SILVEIRA
Porto Alegre/RS

Eis a vida! Eis os caminhos...
Na missão de precursores,
o sábio evita os espinhos
e o tolo... pisa nas flores!...
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Poema de 
OLIVER FRIGGIERI
Floriana/Malta

Somos água viva

Nossa história deve terminar algum dia
Como água do manancial que ao remanso chega
Ou pedra que rola até deter-se,
Como um pêndulo de relógio que ao fim se imobiliza.
Cada dia ao anoitecer, em nossas casas
Quando nossos filhos perguntam o que está passando
Trocamos de tema ao não ter resposta
E cantamos o estranho hino de nossa idade:

“Somos água viva e nada a bebe
Porque nas ondas se encontra o sal da destruição.
Somos pedras eliminadas dos altares
De Deuses enfermos que iam mortos desesperados
Em uma luta contra eles mesmos. Pêndulo somos
Que está a ponto de gastar o seu vigor.”

(Tradução:  José Feldman)
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Ah, meu rio, de repente, 
o que foi feito de nós? 
Ficou tão longe a nascente... 
vemos tão próxima a foz!
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Soneto do
Príncipe dos Poetas Piracicabanos 
LINO VITTI
Piracicaba/SP, 1920 – 2016

Florindo Corações

Veja o belo jardim como anda florescido
tanta roseira em flor sonhando com perfumes!
Um verdadeiro céu de estelíferos lumes
estilhaçado em chão de vidro derretido.

Em flores transformou-se a montanha de estrumes
dado vida ao odor tristonho e ressequido.
Convidados da noite a um banquete subido
são insetos que vêm e luzem vagalumes.

Veja as rosas que estão clamando por olhares,
por sorrisos de quem bem perto delas passa,
por beijos de manhãs e céus crepusculares.

Deixemos repousar a vista generosa
nesse encanto floral da roseira que é graça
fundindo em coração cada botão de rosa.
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Trova de 
ANTONIO CARLOS TEIXEIRA
Brasília/DF

É de dor a sensação:
meu Pai… arrastando os passos;
e eu… puxando pela mão
quem já me levou nos braços!
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Hino de 
São Luís/MA

Louvação a São Luís

Ó minha cidade
Deixa-me viver
que eu quero aprender
tua poesia
sol e maresia
lendas e mistérios
luar das serestas
e o azul de teus dias

Quero ouvir à noite
tambores do Congo
gemendo e cantando
dores e saudades
A evocar martírios
lágrimas, açoites
que floriram claros
sóis da liberdade

Quero ler nas ruas
fontes, cantarias
torres e mirantes
igrejas, sobrados
nas lentas ladeiras
que sobem angústias
sonhos do futuro
glórias do passado
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Trova Humorística de 
ALBA HELENA CORRÊA
Niterói/RJ

Na sopa havia um cabelo
e o garçom sai da sinuca:
- Por esse preço, ó Campelo,
querias uma peruca?!..
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Poema de 
VINICIUS DE MORAES
Rio de Janeiro/RJ (1913 – 1980)

Desalento

Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu chorei
Que eu morri
De arrependimento
Que o meu desalento
Já não tem mais fim
Vai e diz
Diz assim
Como sou
Infeliz
No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim
Diz que eu estive por pouco
Diz a ela que estou louco
Pra perdoar
Que seja lá como for
Por amor
Por favor
É pra ela voltar
Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ela
Que eu entrego os pontos
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de 
DIVENEI BOSELI
São Paulo/SP

Essa idade que escondemos,
que, entre risos, desmentimos,
é sempre aquela que temos,
mas nem sempre a que sentimos.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O avarento e o compadre

Juntara tantas libras um sovina,
Que não sabia já onde encaixá-las.
A avareza, que é tola e nada ensina,
Punha-o em sérias talas
Sobre quem lhe as tivesse em bom depósito.
Queria por força alguém; e eis a razão:
«Dinheiro em casa expõe-me à tentação,
O monte minguará: e, de propósito,
Eu próprio dos meus bens serei ladrão.»

Ladrão! Essa é que é boa, meu amigo!
Pois é roubar a si gastar consigo
Cada um do que tem?
Pensar assim julgo eu tolice crassa.
Pois fica-me sabendo. Os bens são bem,
Se os souberes gastar: se não, desgraça.

Para que guardas tu esse tesouro
Para a idade avançada,
Em que ele te não sirva para nada?
Perde o valor o ouro
Com as fadigas enormes de ganhá-lo
E as penas de guardá-lo.
Podia o nosso avaro encontrar gente,
A qual com segurança
Das ânsias o livrasse facilmente.
Preferiu ter na terra confiança.

Com a ajuda de um compadre, determina
O soterrar o farto capital.
Passados alguns tempos, o sovina
Foi ver o seu dinheiro... porém, qual!
Tudo abalara: só restava a cova,
De libras... nem sinal!

Suspeitou logo, mesmo sem ter prova,
Do seu compadre e amigo.
Foi procurá-lo com fingido empenho,
E disse-lhe: «Compadre, a vir comigo
Prepare-se. Alguns cobres ainda tenho,
Que ao tesouro escondido vou juntar.»

O espertalhão compadre, afadigado,
Vai pôr no seu lugar
O dinheiro roubado,
Com a manha já fisgada de apanhar
Tudo, sem faltar nada.
Mas, desta vez, o avaro despicou-se.
Meteu em casa a chelpa, destinada
Doravante a tornar-lhe a vida doce,
E jurou nunca mais juntar dinheiro,
Nem deixá-lo enterrado.
Quanto ao ladrão matreiro,
Esse ficou banzado,
Sem encontrar dinheiro ao seu dispor.

Não é caso intrincado
Burlar um burlador.

Dicas de Escrita (Como escrever uma história de mistério) – Parte 3, final

texto por Lucy V. Hay

ESCREVENDO A HISTÓRIA

1. Use os cinco sentidos para descrever o cenário
Uma das melhores maneiras de criar um ambiente ou atmosfera é focando nos cinco sentidos: visão, audição, olfato, tato e paladar. As descrições de detalhes sensoriais também podem criar bastidores para a personagem. Por exemplo, em vez de dizer ao leitor que o protagonista comeu cereal no café da manhã, você fazer com que ele sinta o gosto dos restos de cereal na boca ou o cheiro do cereal que derramou sobre as mãos.

Pense no que a personagem principal pode ver em um determinado cenário. Por exemplo, se ela morar em uma casa bem parecida com a sua em uma cidade pequena, você pode descrever o quarto dela ou a caminhada até a escola. Se você estiver usando um cenário histórico específico, como a Califórnia dos anos 1970, pode descrever o protagonista em uma esquina qualquer olhando para a arquitetura única ou para os carros que passam.

Considere o que a personagem principal pode ouvir em um determinado cenário. Seu detetive poderá escutar o cantar dos pássaros e os irrigadores sobre os gramados no caminho para a escola ou o ronco dos carros e a quebra das ondas na praia.

Descreva os odores que o protagonista pode sentir em certos locais. Ele pode acordar com o cheiro do café sendo feito na cozinha pelos pais ou ser atingido pelo cheiro da cidade: lixo em decomposição e odor corporal.

Descreva o que sua personagem pode sentir. Pode ser uma brisa leve, uma dor aguda, um choque repentino ou um arrepio pela espinha abaixo. 

Concentre-se em como o corpo dela pode reagir a um sentimento. 

Pense no que o protagonista pode provar. Ele poderá ainda sentir o sabor do cereal que comeu no café ou da bebida da noite anterior.

2. Comece a ação imediatamente
Pule os longos parágrafos de descrição de cenário ou da personagem, especialmente nas primeiras páginas. É importante prender o leitor começando no meio da ação, enquanto seu protagonista se move e pensa.

Seja conciso com a linguagem e a descrição. A maioria dos leitores continua lendo um bom mistério porque se envolve com a personagem principal e quer ver o sucesso dela. Seja breve, porém específico ao descrever o protagonista e a perspectiva que ele tem do mundo.

Por exemplo, "O Sono Eterno" de Chandler começa situando o leitor em um cenário e dando a ele uma noção da perspectiva de Marlowe sobre o mundo: "Eram cerca de onze horas da manhã, em meados de outubro, o sol não brilhava, e uma massa de chuva pesada se aproximava, vindo das montanhas. Eu estava usando meu terno azul-claro acinzentado com camisa azul-escura, gravata, lenço dobrado no bolso, sapatos pretos, meias de lã pretas com bordados azuis. Estava limpo, impecável, barbeado e sóbrio, e não estava ligando se alguém percebia. Eu era tudo o que um detetive particular de boa aparência deve ser. Eu estava batendo à porta de quatro milhões de dólares."

Com esse começo, a história se inicia em ação, com hora, data e cenário específicos. Ela então apresenta a descrição física da personagem principal e de seu cargo. A seção termina com a motivação do protagonista: quatro milhões de dólares. Em três linhas, Chandler cobriu muitos pormenores essenciais da personagem, do cenário e da história. 

3. Mostre, não conte 
Se você disser: "O detetive era descolado", o leitor terá de acreditar na sua palavra. Mas se você mostrar como o detetive era descolado descrevendo a roupa que ele usa e a maneira como ele entra em um cômodo, o leitor poderá ver o quanto isso é verdade. O impacto de mostrar ao leitor certos detalhes é muito mais poderoso do que apenas dizer a ele o que pensar.

Pense em como você reagiria em uma situação se estivesse com raiva ou medo e faça a personagem reagir de maneiras que comuniquem os sentimentos dela sem dizer quais são eles. 

Por exemplo, em vez de: "Stephanie estava com raiva", você poderia escrever: "Stephanie bateu com o copo d'água na mesa tão forte que seu prato se agitou. Ela o encarou e começou a rasgar o fino guardanapo branco em pedaços com os dedos."

Mostrar, em vez de contar, também funciona bem para a descrição de cenário. 

Por exemplo, em "O Sono Eterno", em vez de dizer ao leitor que os Sternwoods eram ricos, Chandler descreve os detalhes luxuosos da propriedade: "Havia portas envidraçadas no fundo do salão, e para além delas se via uma larga extensão de grama cor de esmeralda que ia até uma garagem branca, diante da qual um chofer magro, jovem, em uniforme reluzente, estava polindo um Packard marrom conversível. Depois da garagem viam-se árvores decorativas tão bem tosadas quanto cachorrinhos poodle. Mais adiante, uma enorme estufa com teto em redoma. Então mais árvores e, depois de tudo, a linha sólida, desigual e agradável dos contrafortes das montanhas."

4. Surpreenda o leitor sem confundi-lo
Ao criar um mistério, é importante que a resolução não pareça abrupta ou barata. Tente sempre jogar limpo e surpreender, em vez de confundir o leitor. As pistas apresentadas na história devem levar à solução de maneira lógica e clara apesar das pistas falsas. O leitor vai gostar do final se você o fizer pensar: "Era tão óbvio, eu deveria ter percebido!".

5. Revise o primeiro rascunho
Depois de criar um primeiro esboço do seu mistério, passe pelas páginas e procure por aspectos essenciais, incluindo:

O enredo: garanta que sua história se atenha ao esboço e tenha começo, meio e fim claros. Você também deve confirmar as mudanças sofridas pelo protagonista até o fim da narrativa.

Personagens: todas, incluindo a principal, são únicas e distintas? Elas falam e agem da mesma forma ou são diferentes umas das outras? Parecem originais e cativantes?

Ritmo: trata-se da velocidade com que a ação se move na história. Um bom ritmo parecerá invisível para o leitor. Se a história estiver se movendo muito rápido, deixe as cenas mais longas para explorar as emoções das personagens. Caso a narrativa pareça travada ou confusa, encurte as cenas para incluir apenas informações essenciais. Uma boa regra geral é sempre terminar uma cena mais cedo do que você gostaria. Assim, a tensão não cairá de um momento para o outro, e o ritmo da história será mantido

Referências
1. http://www.publishersweekly.com/pw/by-topic/industry-news/tip-sheet/article/59582-
the-10-best-mystery-books.html
2. http://www.sparknotes.com/lit/bigsleep/summary.html
3. http://www.gutenberg.org/files/1661/1661-h/1661-h.htm
4. https://www.nytimes.com/books/97/07/20/reviews/970720.20careyt.html
5. CHANDLER, Raymond. O Sono Eterno [recurso eletrônico]; tradução Braulio
Tavares. 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.
6. http://www.fictionteachers.com/fictionclass/mystery.htmlhttp://blog.karenwoodward.or
g/2013/10/how-to-write-murder-mystery.html
7. http://blog.karenwoodward.org/2013/10/how-to-write-murder-mystery.html
8. http://www.fictionteachers.com/fictionclass/mystery.html
9. http://www.fictionteachers.com/fictionclass/mystery.html
10. http://www.creative-writing-now.com/how-to-write-a-mystery.html
11. http://www.creative-writing-now.com/how-to-write-a-mystery.html
12. http://www.fictionteachers.com/fictionclass/mystery.html
13. http://www.fictionteachers.com/fictionclass/mystery.html
14. http://blog.karenwoodward.org/2014/03/how-to-write-murderously-goodmystery.html
15. http://www.fictionteachers.com/fictionclass/mystery.html
16. http://www.creative-writing-now.com/how-to-write-a-mystery.html
17. CHANDLER, Raymond. O sono eterno [recurso eletrônico]; tradução Braulio
Tavares. 1ª ed. Rio de Janeiro: Obejtiva, 2015.
18. http://www.creative-writing-now.com/how-to-write-fiction.html
19. http://www.creative-writing-now.com/how-to-write-a-mystery.html
20. http://blog.karenwoodward.org/2013/10/how-to-write-murder-mystery-parttwo.html

Fonte: Wikihow

Recordando Velhas Canções (Bloco da Solidão)


(marcha-rancho/ carnaval, 1971) 

Compositores: Evaldo Gouveia e Jair Amorim

Laia laia laia laia laia laia 
La laia laia la laia 

Angústia solidão
Um triste adeus em cada mão
Lá vai meu bloco vai
Só desse jeito é que ele sai
Na frente sigo eu levo um estandarte
De um amor 
do amor que se perdeu
No carnaval lá vai meu bloco
E lá vou eu também
Mais uma vez sem ter ninguém
No sábado e domingo segunda e terça-feira
E quarta-feira vem o ano inteiro
É todo assim por isso quando eu passar
Batam palmas pra mim

Aplaudam quem sorrir
Trazendo lágrimas no olhar
Merecem uma homenagem
Quem tem forças pra cantar
Tão grande a minha dor pede passagem
Quando sai comigo só
Lá vai meu bloco vai
Laia laia laia laia laia laia 
La laia laia la laia la ia
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A Melancolia do Carnaval em 'Bloco da Solidão'
A música 'Bloco da Solidão', é uma obra que explora a dualidade entre a alegria do carnaval e a tristeza da solidão. A letra começa com um refrão repetitivo e melódico, 'Laia laia laia', que remete ao ritmo contagiante das marchinhas de carnaval, mas logo se aprofunda em um tema mais sombrio: a angústia e a solidão. O eu lírico descreve um bloco carnavalesco que, ao invés de celebrar, carrega a tristeza de um amor perdido.

O estandarte que o eu lírico carrega simboliza esse amor que se foi, e o bloco que deveria ser uma manifestação de alegria se transforma em um desfile de dor e saudade. A repetição dos dias da semana, 'sábado e domingo, segunda e terça-feira', sugere que essa tristeza não é passageira, mas uma constante na vida do eu lírico. A quarta-feira de cinzas, que tradicionalmente marca o fim do carnaval, não traz alívio, mas sim a continuidade de um ciclo de solidão.

A música também aborda a força necessária para enfrentar essa dor. O eu lírico pede aplausos não pela alegria, mas pela capacidade de sorrir e cantar mesmo com lágrimas nos olhos. Essa homenagem é um reconhecimento da resiliência diante da adversidade. 'Bloco da Solidão' é, portanto, uma canção que utiliza o carnaval, uma festa tipicamente alegre, como metáfora para explorar sentimentos profundos de perda e solidão, destacando a complexidade das emoções humanas e a capacidade de encontrar força mesmo nos momentos mais difíceis.

Fonte: 
– Letras de Músicas Brasileiras

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Edy Soares (Fragata da Poesia) 58: Planeta do Expurgo

 

Mensagem na Garrafa 134

 


Autor Anônimo
(adaptação do texto de Homero) 
Argos

A história de Argos, o cão que esperou 20 anos pelo retorno de seu dono para poder morrer, é uma das mais tocantes demonstrações de lealdade que o mito grego preserva. Ulisses, o herói que sobreviveu às mais cruéis batalhas e aos desafios épicos da Odisseia, retornava finalmente à sua amada Ítaca. Não era mais o guerreiro robusto e vibrante que partiu para a Guerra de Troia; o tempo e a guerra haviam marcado profundamente seu corpo e sua alma. Sua esposa não o reconheceu. Entre a multidão de rostos que passavam, ninguém sabia quem era aquele homem envelhecido e disfarçado como mendigo. Apenas um ser, silencioso e fiel, viu além do tempo e das aparências.

Argos, o cão que o esperou por duas décadas, mesmo cego, enfraquecido e à beira da morte, soube que Ulisses estava de volta. A ligação entre os dois transcendia o tempo, a guerra, e até mesmo o disfarce do herói. Quando Ulisses cruzou os portões de sua terra natal, Argos, exausto pelos anos de espera, arrastou-se até seu mestre, com o último fio de energia que lhe restava. O olhar de Argos foi o reconhecimento silencioso que Ulisses nunca precisou pedir. Sem poder revelar sua verdadeira identidade para proteger sua missão, Ulisses não pôde chamá-lo, mas suas lágrimas denunciaram a dor e o amor contidos naquele reencontro.

A cauda de Argos balançou uma última vez, um movimento lento, carregado de anos de espera e dedicação. E ali, nos pés do herói que tanto aguardara, Argos deu seu último suspiro. A sua morte simboliza algo maior que a lealdade canina: é a prova de que o amor verdadeiro, mesmo silencioso e paciente, jamais se apaga. Como o mais fiel de todos os companheiros, Argos morreu apenas quando sua missão estava cumprida. O seu dono estava de volta, e só então, o cão pôde descansar.
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SIGNIFICADO

A história de Argos não é apenas um conto de lealdade. É um lembrete profundo de que, por mais distantes que estejamos dos que amamos, o verdadeiro amor sempre reconhece o retorno. Mesmo depois de 20 anos, a alma de Argos nunca esqueceu.

O cão, apesar de inúmeras tentativas infantis de humanizá-lo nos dias de hoje, pelas atribuições de características que não são de sua natureza, completa o homem com sentimentos e emoções que o homem não tem. Invés de tentar torná-lo semi-humano, poderíamos aproximar mais nossos corações do coração canino. E assim, talvez fosse possível absorver esta enorme generosidade, comum entre os cães, mas tão difícil para os homens.

Descrito pela literatura de Homero, no século VIII a.C., a lembrança de Argos, nome grego de significado “o que tem luz”, permanece pela eternidade, afinal todos os cães do mundo são iguais ao fiel amigo Argos.

Laé de Souza (Cada filho tem a mãe que merece)

Mãe tem de todos os tipos, jeitos e manias. Igual à minha, a tua, a do vizinho, a do amigo, a da namorada. Aquela que chega da feira e te traz na cama o pastel de queijo que você tanto gostava quando menino, e que hoje enjoa só de sentir o cheiro. Mas ela vem com tanta festa, que você não tem coragem de recusar. Mais chato ainda quando você está numa ressaca por ter saído à noite com os amigos e ela te acorda: "Olha o pastelzinho do menininho da mamãe." Dá até ânsia.

Tem aquela que quando sabe que o namorado da filha vem para almoçar, se arruma mais do que ela, usa aquela roupa especial e percebe-se no seu jeito um olhar de sedução. Muitas já perderam o namorado e outras evitam apresentá-los à mãe. Mas isso já é aberração da natureza e acontece muito raramente,

Tem as que quando a filha sai para namorar, obrigam a levar o irmãozinho (que sempre é enrolado para não ver nada e quando vê é subornado). Estas, naturalmente, já são ultrapassadas, mas têm algumas que resistem à modernidade. 

Tem a que quer conhecer todos os amigos do filho e saber quem são os pais, se a família tem tradição. Namorada, então, é vigiada constantemente e a qualquer desvio ou comportamento inadequado, um batom mais vermelho, uma saia mais curta ou pequena mostra dos peitos, ela cai de pau em cima e difama a moça, aconselhando o filho que acabe com o romance. 

Tem a que quer os filhos sempre unidos e faz questão de tê-los juntos todos os domingos para o almoço em sua casa. E você tem que fingir que adora aquela macarronada sempre igual, que já era feita pela tua avó. Segurar a mulher para não reclamar e não ter nenhuma encrenca entre as cunhadas e ainda aguentar aquela mais exibida que se apresenta todo santo domingo cheia de badulaques para fazer inveja às outras.

Tem a que não quer que você saia à noite, espera que seja caseiro e não acredita que você cresceu. Pede satisfação de tudo e ainda dá as ordens.

Tem a que reza por você sempre e pede a Deus que tudo de ruim passe de longe e se não tiver jeito, que seja desviado para ela.

Tem a que pega na extensão para ouvir as confidências, que lê o diário às escondidas, que revira os cadernos para verificar as lições ou até um bilhetinho para a colega.

Aquela que quando você diz que vai num lugar às vezes ela aparece de surpresa para conferir. E as que dão a maior força e se tornam cúmplices em tuas traquinagens enfrentando até o pai feroz. 

De qualquer forma, geralmente todas elas amam demais os filhos e passam a se amar menos depois que os têm. Conduzir o comportamento da mãe depende deles. E cada filho tem a mãe que merece. E não esqueçam daquele domingo de maio que é o dia delas. Portanto, nesse dia, demonstrem interesse em ouvir o desenrolar do capítulo da novela que ela te conta e deixe pelo menos um dia de se ligar no rock, dê o direito de ela colocar na vitrola aqueles antigos discos do Roberto. Ela vai adorar.

Fonte: Laé de Souza. Acredite se quiser. SP: Ecoarte, 2000. Enviado pelo autor.