Vissungo, em etnografia, se refere a música de caráter responsorial praticada por escravos africanos utilizados nas lavras de diamantes e ouro na região compreendida, entre outras, pelas periferias das cidades brasileiras de Diamantina, São João da Chapada e Serro, no estado de Minas Gerais.
Tal música era entoada raramente em português, prevalecendo línguas africanas, principalmente o kimbundo e o Nbundo (chamadas de língua benguela pela população local) e relacionadas a idiomas até hoje falados na atual República Popular de Angola.
Em férias, em 1929, o filólogo viajou para São João da Chapada, onde lhe chamaram a atenção "umas cantigas em língua africana ouvidas outrora nos serviços de mineração", conforme descreveu no livro O Negro e o Garimpo em Minas Gerais, obra publicada em 1943 pela editora José Olympio.
Mata Machado sustenta a importância dos vissungos, sua influência nos começos daquele arraial e mais "os vestígios da língua das cantigas na linguagem corrente, na onomástica e na toponímia" - os vestígios de um um dialeto banto num tempo em que se pensava que a língua dos negros trazidos como escravos para o Brasil resumia-se ao nagô.
Em 1982, a Gravadora Eldorado ousou seu lance mais arriscado, animada pelo sucesso (de crítica) das séries de Marcus Pereira. Editou o disco O Canto dos Escravos, reunindo canções recolhidas e anotadas pelo historiador mineiro Aires da Mata Machado Filho.
Canto da Tarde
Solo:
Oenda, auê, a a!
Ucumbi oenda, auê, a...
Oenda auê, a a!
Ucumbi oenda, auê, no calunga
Coro 1º:
Ucumbi oenda, ondoró onjó
Ucumbi oenda, ondoró onjó (bis)
Coro 2º:
Iô vou oendá, pu curima auê
Iô vou oendá, pu curima auê (bis)
— O sol está entrando, vamo-nos embora para o rancho.
— O sol entrou, vamos para o rancho — Eu vou entrar é para minha faisqueira.
É admirável a permanência da idéia de mar. Perguntados, todos os informantes traduziram por mar a palavra calunga.
–––––––––––––––––––––––––––––
Ao Nascer do Dia
Purru! Acoêto? — Caveia?
Galo já cantou, rê rê
Cristo nasceu
Dia 'manheceu
Galo já cantou
Galo já cantou, rê rê
Cacariacô
Cristo no céu
Galo já cantou
O cantador mestre, chamando: Purru acoêto? (Olá, companheiros!)
A turma responde: Caveia? (Que é lá?)
Galo já cantou, rê rê
Cristo nasceu
Dia amanheceu
Galo já cantou
Galo já cantou, rê rê
Cacariacô
Cristo no céu
Galo já cantou
–––––––––––––––––––––––––––
A Jangada Secando Água
Solo:
Aua cu aua cangirê
Aua cu aua cangira auê
Aua cu aua cangirê, aua
Coro:
Ê aua
Tanto aua para que, aua
Tanto aua pra bebê, aua
(Refere-se à "jangada", aparelho de secar água nas catas e que é movido a água. A cantiga diz do processo interessante, de uma água trabalhando para extinguir outra água)
Fontes:
Machado Filho, Aires da Mata. O negro e o garimpo em Minas Gerais. 2. ed. RJ: Civilização Brasileira, 1964).
http://www.jangadabrasil.com.br/
http://afinadiamantina.blogspot.com/
Tal música era entoada raramente em português, prevalecendo línguas africanas, principalmente o kimbundo e o Nbundo (chamadas de língua benguela pela população local) e relacionadas a idiomas até hoje falados na atual República Popular de Angola.
Em férias, em 1929, o filólogo viajou para São João da Chapada, onde lhe chamaram a atenção "umas cantigas em língua africana ouvidas outrora nos serviços de mineração", conforme descreveu no livro O Negro e o Garimpo em Minas Gerais, obra publicada em 1943 pela editora José Olympio.
Mata Machado sustenta a importância dos vissungos, sua influência nos começos daquele arraial e mais "os vestígios da língua das cantigas na linguagem corrente, na onomástica e na toponímia" - os vestígios de um um dialeto banto num tempo em que se pensava que a língua dos negros trazidos como escravos para o Brasil resumia-se ao nagô.
Em 1982, a Gravadora Eldorado ousou seu lance mais arriscado, animada pelo sucesso (de crítica) das séries de Marcus Pereira. Editou o disco O Canto dos Escravos, reunindo canções recolhidas e anotadas pelo historiador mineiro Aires da Mata Machado Filho.
Canto da Tarde
Solo:
Oenda, auê, a a!
Ucumbi oenda, auê, a...
Oenda auê, a a!
Ucumbi oenda, auê, no calunga
Coro 1º:
Ucumbi oenda, ondoró onjó
Ucumbi oenda, ondoró onjó (bis)
Coro 2º:
Iô vou oendá, pu curima auê
Iô vou oendá, pu curima auê (bis)
— O sol está entrando, vamo-nos embora para o rancho.
— O sol entrou, vamos para o rancho — Eu vou entrar é para minha faisqueira.
É admirável a permanência da idéia de mar. Perguntados, todos os informantes traduziram por mar a palavra calunga.
–––––––––––––––––––––––––––––
Ao Nascer do Dia
Purru! Acoêto? — Caveia?
Galo já cantou, rê rê
Cristo nasceu
Dia 'manheceu
Galo já cantou
Galo já cantou, rê rê
Cacariacô
Cristo no céu
Galo já cantou
O cantador mestre, chamando: Purru acoêto? (Olá, companheiros!)
A turma responde: Caveia? (Que é lá?)
Galo já cantou, rê rê
Cristo nasceu
Dia amanheceu
Galo já cantou
Galo já cantou, rê rê
Cacariacô
Cristo no céu
Galo já cantou
–––––––––––––––––––––––––––
A Jangada Secando Água
Solo:
Aua cu aua cangirê
Aua cu aua cangira auê
Aua cu aua cangirê, aua
Coro:
Ê aua
Tanto aua para que, aua
Tanto aua pra bebê, aua
(Refere-se à "jangada", aparelho de secar água nas catas e que é movido a água. A cantiga diz do processo interessante, de uma água trabalhando para extinguir outra água)
Fontes:
Machado Filho, Aires da Mata. O negro e o garimpo em Minas Gerais. 2. ed. RJ: Civilização Brasileira, 1964).
http://www.jangadabrasil.com.br/
http://afinadiamantina.blogspot.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário