domingo, 23 de dezembro de 2012

Antonio Brás Constante (Hoje o Mundo não Acabou...)


Hoje... O mundo não acabou...

Acabaram-se, porém, as balas que estavam no tambor de uma arma, atiradas contra um corpo que jaz sem alma, cujo tempo se encerrou.

Acabou a fome da criança, esqueleto sem vida, lançada numa sarjeta esquecida, suja e encardida, que nasceu sem amor.

Acabou-se a alegria de uma mulher amada, por animais estrupada e degolada, deixada como lixo na beira da estrada.

O que acabou foi à jornada de alguns trabalhadores, presos em um ônibus em chamas por traficantes “socialmente desajustados”. Pessoas carbonizadas, símbolos da insegurança.

Hoje... O... Mundo não acabou...

Apenas jorrou sangue inocente, que entre súplicas cheias de dor, foi humilhado e espancado até que seu ultimo suspiro soltou.

Acabaram-se os sonhos de futuro, do casal jogado contra um muro, por um sujeito totalmente dopado em seu possante carro envenenado, que desgovernado lhes atropelou.

O que parou foi um coração viciado, que batia em busca de viagens e fantasias, sendo vítima de uma overdose de drogas que em si mesmo injetou.

Hoje... O... Mundo... Não acabou...

Mas tantos se acabaram, mergulhados em garrafas de líquido embriagante, jogando fora à própria felicidade e alegria em troca de copos de alcoólica bebida.

Acabou-se o brilho nos olhos do estudante, que por não ter dinheiro o fio de uma navalha a sua vida ceifou.

Hoje... O... Mundo... Não... Acabou. O sol renasceu para os sobreviventes, que perambulam por este planeta doente, e que felizmente ou infelizmente a morte ainda não libertou.

Fonte:
O Autor

Nenhum comentário: