quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Olivaldo Junior (O Guarda-Chuva)


Havia chegado à idade mental em que só se sai de casa com o guarda-chuva. A chuva, inda em São Paulo, e o tal embaixo do braço. O braço do homem havia se desacostumado de abraços. Braços servem para muitas coisas, inclusive para um violão. Violão, embora tenha um braço, está sempre ocupado em segurar as cordas de que surgem as notas, que exortam canções. Sons de chuva estavam mudos, o mundo estava seco, mas o homem não largava o guarda-chuva.

A verdade é que chovia dentro dele, fizesse chuva, fizesse sol, a cada dia. Dia quer dizer variação porque não há nenhum igual ao outro. Os dias são dados que Deus joga com os anjos. Anjos são luzes que acendem quando tudo é de noite. Noite com chuva, noite em que se vai mais cedo para cama. 

Cama, mesa, armário, escrivaninha e um pouco de escrita, que o sono já vem. A vinda da chuva não chega, e o cheiro da terra se sente, e o sempre de sempre já tem: guarda-chuva quer chuva. Choveu muito por quem não vem mais, por quem não volta. Voltou-se a si mesmo: oceano. Sentiu que tinha um amigo. O amigo partiu. Amores, não, nunca. E a chuva, sempre em guarda: muda.

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