sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Antônio Lôbo (Novos Atenienses: poemas)


OLHOS VERDES
Alfredo de Assis

Tinha o mar para mim, sempre, um novo atrativo.
Quanta vez eu lhe disse as minhas alegrias,
Sentindo-o, forte e belo, estremecer, cativo
Dos meus sonhos, num brando exalar de harmonias!

Hoje o meu velho amigo, hoje o mar, como vivo,
Só me traz o pavor e cruéis agonias.
Já não posso fitá-lo, ai! não posso, que avivo
Estas penas sem fim! estas mágoas sombrias!

Porque o verde do mar lembra o verde de uns olhos
Que me foram na vida a suprema ventura.
E por quem vivo agora a gemer e a chorar.

Olhos cheios de luz, olhos cheios de escolhos,
Cheios duma divina expressão de ternura,
E cruéis... e fatais como as águas do mar...

(Lôbo, Antônio. Os Novos Atenienses. São Luís: SIOGE/AML, 1970. p.58.)

SERTANEJAS
Luís de Carvalho

I

Vem nascendo a manhã. A lavandisca
Desfere o canto à sombra das ramadas.
Tremendo, o orvalho límpido faísca
Das paineiras nas flores desatadas.

Solta, pelos capões correndo, a arisca
Seriema as estridentes gargalhadas.
E a aurora as nuvens de oiro e sangue risca,
Doira e ensangüenta a areia das estradas.

Todo o sertão está desperto. O brando
E frio vento da manhã sacode
O mangueiral, as mangas despencando.

Sobe da mata o aroma das resinas.
E a codorniz, assobiando, acode
Aos pios matinais das sururinas.

II

Meio dia. Lá fora um sol violento
Cai do céu, queima o pó, doira as espigas.
À beira da água o gado sonolento
Repousa, e batem roupa as raparigas.

Agora a mata é quieta e muda. O vento
Cessou. Cessaram todas as cantigas.
Nem um leve rumor, nem um lamento
No seio bom das árvores amigas.
O engenho, entanto, à luz do sol trabalha.
A cana guincha nas moendas. Fuma
Fuligem negra a férvida fornalha.

Borbulha o mel nas tachas referventes
E um bafo sobe, ao desflorar da espuma,
Entre o fragor das máquinas trementes.

III

Agora o curvo céu resplende. O cheiro
Bom da jurema os ares embalsama.
Dorme o curral. O gênio feiticeiro
Da noite anda a sonhar de rama em rama.

Fia o luar nas árvores a trama
Da luz. Da casa-grande no terreiro
Tem a viola enleios de quem ama,
Entre os dedos nervosos do vaqueiro.

Grilos... O fogo azul dos pirilampos...
O murmurar dos ninhos e do rio,
A mãe-da-lua aos gritos pelos campos...

Noite de minha terra, mansa e boa!
Deixa que eu durma ouvindo o desafio
Das cantigas dos sapos na lagoa!... 
(p. 63-64)

(Lôbo, Antônio. Os Novos Atenienses. 2. ed. São Luís: SIOGE/AML, 1970.)

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