quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Gilberto Vaz de Melo (Caderno de Poemas I)

Gilberto Vaz de Melo nasceu em Mar de Espanha - MG,(1952). Sociólogo, com formação acadêmica na Universidade Federal de Juiz de Fora, escritor, poeta e pesquisador, tem como interesses principais: pesquisas sociológicas, literatura e música (MPB). É associado do Centro de Estudos Sociológicos de Minas Gerais, membro fundador da Casa do Poeta Belmiro Braga e ocupou por vários anos uma cadeira na Academia Juiz-forana de letras, de onde saiu por questões pessoais. Tem vários livros publicados, e uma coletânea, à qual deu o nome de "Versos Intemporais". Sempre atuante na área cultural e política de Juiz de Fora, até hoje empresta seus conhecimentos e formação musical, literária e sociológica a vários segmentos culturais de nossa cidade Juiz de Fora.
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SAUDADE

Uma triste janela
Entreaberta
Aguarda a presença
Da velhinha solitária
Que,
À meia luz
Sempre contempla ...incrédula,
Como foi possível
O tempo não lhe avisar
Que passaria-lhe tão depressa !!!

DOMINGO

De guarda-chuvas na mão
O velho caminha sorridente
Por entre os transeuntes
Que não leram os jornais.

As nuvens,
Em um complô de traição
Vão se embora!

O velho, em depressão profunda,
Se recolhe
E não mais assiste televisão

ESTRADA

Às vezes também duvido
Deste sentimento incontido
Que vaza do meu coração.
Se te causa espanto
A sonoridade de meu canto,
Não fuja, te peço...
Deste amor confesso
Que nos une tanto
Apesar do carinho distante
De nossas mãos!

Se a força de nossas palavras
Nos aproxima,
E coloca nossas almas
Em um mesmo corpo,
São frases do divino
Escritas na estrada do destino
De nós dois!

SONHOS

Ainda abrigo em meu peito
A emoção do nosso primeiro beijo.
Carrego as marcas de teus desejos,
Tatuadas em minha alma,
Que seguirão meus caminhos
Onde quer que eu vá!

Não guardo mágoas desse nosso amor,
Tão pouco condeno teu cárcere.
Se atraquei meu barco
Em um mar revolto
Não posso lamentar
As consequências da tempestade.

Sonhei,
E brutalmente fui despertado
Deste sonho acordado
Que vivi ao teu lado.

DE REPENTE TANTO

Este teu amor
Me encanta tanto
No mesmo tanto
Que a outros já encantou.

Desperta-me saudades tantas
No mesmo tanto
Que em outros corações já despertou.

Este nosso amor repentino
De juras secretas,
Cenas incertas,
Se repete no mesmo tanto
Tantas outras noites tantas...
De tantos desejos,
Ao certo
Que teu corpo absorveu!

Falo do meu sentimento tanto,
Um tanto ainda sem tamanho
Esperando o tanto necessário,
Que me abrigue de verdade
No espaço tanto
De dimensão exata
Onde caiba somente o meu tanto
Em teu coração.

DISTÂNCIA

Como quero acariciar teu rosto!
Com minha língua, esculpir teus seios
E no mais demorado dos abraços
Penetrar meu coração dentro de teu peito.

Tocar tua pele morena
Com minhas mãos em traço de pena
Tatuar minha alma em teu ventre materno.
Este aconchego eterno,
Sempre a espera
Do amor mais distante!

Como dói suportar tua ausência...
Esta saudade que se apresenta
Com odor de essência de momentos guardados
Para viver ao teu lado.

Como quero fazer verdade
A insignificância da maldade
Que é ter que me contentar
Tão somente com o teu retrato.

TEMPORAIS

Sobrevivi às tempestades...
Ao céu escuro de todas as bocas
Que um dia à minha mesa apresentaram-se
E saborearam de minhas inocentes palavras.

Sobrevivi aos tornados,
Aos furacões impiedosos
Que cruzaram minha estrada,
Empoeiraram minha visão e
Cegaram-me temporariamente
Para que eu não presenciasse
O tenebroso sorriso da falsidade.

Sobrevivi ao naufrágio
Em meu mar de lágrimas
Que por tantas noites
Inundaram meu travesseiro,
Meu amigo derradeiro,
Que me abraçava por inteiro
Tentando escutar-me.

Sobrevivi: e a ninguém cobro nada...
Fui filho da tempestade
E hoje o sol é minha cara-metade
Que iluminou meus passos
Na escuridão das sombras
Que me acompanhavam.

MAR DE GUARAPARI

Pobre mar que me assusta tanto
Quando aproximo-me de você.
E o grito feroz de suas ondas
Se cala na praia
Fulminadas por simples grãos de areia.
Pobre mar de Guarapari
Que me causa temor,
Quando à noite ponho-me a te contemplar...
E no silêncio infinito percebo
A indefesa força do homem.
Pobre mar...
Que oculta segredos e vidas distantes.
Pobre mar que me assusta tanto... tanto...
Mas nem tanto, pobre mar
Quanto a pequenos traços de água,
De idêntico sabor
Que correm pelas faces de uma determinada mulher.

ESPUMA

Quando penso
Em saborear o último gole de minha cerveja,
Inesperadamente
Me vem a lembrança de você,
E meus lábios na ânsia de seu sabor
Se molham na pronúncia de seu nome.
Mais uma vez,
Retorno ao primeiro copo...
E assim despercebidamente,
Minha saudade vai mergulhando
Na espuma amarga
De mais um inesperado porre.
Fontes:
Antonio Manoel Abreu Sardenberg.Poesias de Amigos.
http://www.sardenbergpoesias.com.br/poesias_amigos.htm
Gilberto Vaz de Melo
http://www.versosintemporais.com/apresentacao.htm

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