Carlos Porto Carreiro
(Carlos da Costa Ferreira Porto Carreiro)
(Recife/PE,24 setembro 1865 – Rio de Janeiro/GB, 11 janeiro 1932)
" CINZAS "
Cinzas... Poeira que ardeu, que arrefece e que esfria...
Cinzas... Que em tênue bloco um milagre sustenta,
e o vento desmorona e rola em tropelia
e anônimas desfaz na terra pardacenta...
Restos do que brilhou da vida na tormenta:
cinzas, que sois como eu, labareda vazia,
guardais no corpo inane do que ardia,
mas no âmago gelado a morte se apascenta.
Cinzas... Nesse conjunto em que esta alma se espelha
vejo a ruína do fogo, a escória da centelha
o cadáver da luz que o vento leva a esmo.
E eu, neste coração que em cinzas se esboroa,
- cinzas das ilusões - sinto levado, à toa,
o cadáver do amor que jaz dentro de mim mesmo...
–––––––––-
Carmen Cinira
(Cinira do Carmo Bordini Cardoso)
(Rio de Janeiro/GB, 16 julho 1905 – Rio de Janeiro/GB, 30 agosto 1933)
" DESASSOMBRAMENTO "
Que me aguarde, por pena, o mais triste dos fados,
e clamores hostis me sigam pela vida,
que floresçam vulcões nos montes sossegados
e trema de revolta a Terra adormecida . . .
Que se ergam contra mim os seres indignados
como um quadro dantesco em fúria desmedida,
e que, na própria altura, os astros deslocados
rolem numa sinistra e tremenda descida . . .
Hei de ser tua um dia e ofertar-te, sem pejo,
vibrante, ébria de amor, à chama de teu beijo,
esta alma virginal que há tanto assim te espera . . .
E então hei de sentir vaidosa, intensamente,
desabrochar em mim, num delírio crescente,
o instinto de mulher em ânsias de pantera!
HOLOCAUSTO
(Carlos da Costa Ferreira Porto Carreiro)
(Recife/PE,24 setembro 1865 – Rio de Janeiro/GB, 11 janeiro 1932)
" CINZAS "
Cinzas... Poeira que ardeu, que arrefece e que esfria...
Cinzas... Que em tênue bloco um milagre sustenta,
e o vento desmorona e rola em tropelia
e anônimas desfaz na terra pardacenta...
Restos do que brilhou da vida na tormenta:
cinzas, que sois como eu, labareda vazia,
guardais no corpo inane do que ardia,
mas no âmago gelado a morte se apascenta.
Cinzas... Nesse conjunto em que esta alma se espelha
vejo a ruína do fogo, a escória da centelha
o cadáver da luz que o vento leva a esmo.
E eu, neste coração que em cinzas se esboroa,
- cinzas das ilusões - sinto levado, à toa,
o cadáver do amor que jaz dentro de mim mesmo...
–––––––––-
Carmen Cinira
(Cinira do Carmo Bordini Cardoso)
(Rio de Janeiro/GB, 16 julho 1905 – Rio de Janeiro/GB, 30 agosto 1933)
" DESASSOMBRAMENTO "
Que me aguarde, por pena, o mais triste dos fados,
e clamores hostis me sigam pela vida,
que floresçam vulcões nos montes sossegados
e trema de revolta a Terra adormecida . . .
Que se ergam contra mim os seres indignados
como um quadro dantesco em fúria desmedida,
e que, na própria altura, os astros deslocados
rolem numa sinistra e tremenda descida . . .
Hei de ser tua um dia e ofertar-te, sem pejo,
vibrante, ébria de amor, à chama de teu beijo,
esta alma virginal que há tanto assim te espera . . .
E então hei de sentir vaidosa, intensamente,
desabrochar em mim, num delírio crescente,
o instinto de mulher em ânsias de pantera!
HOLOCAUSTO
Punge-me uma ânsia sobrenatural,
ânsia de Perfeição e de Impossível
de quem tenta galgar o próprio ideal,
uma grande montanha inacessível...
Baldado esforço! Luta desigual!
- pois esquecendo tão mesquinho nível
tenho em meus pobres olhos de mortal
visões de um deus romântico e invencível. . .
Sonho, loucura ou não, dele me ufano!
Entanto, porque és frágil e és humano
tu, que eu amo, com cego, imenso ardor,
porque sem ti todo o universo é nada,
- eu sou como uma escrava revoltada
da gloriosa mentira deste amor!
INCANSÁVEL
Velho sonho de amor que me fascina,
causa das mágoas que me têm pungido
e que, entanto, conservo na retina
como a fonte dum bem inatingido...
Flama velada, cântico em surdina
de um'alma triste, um coração ferido,
nem pode haver linguagem que defina
o que eu tenho, em silêncio, padecido!
Mas, ainda que mal recompensado
meu amor há de sempre desculpar-te
humilde, carinhoso, devotado. . .
Bendito seja o dia em que te vi,
pois não há maior glória do que amar-te
nem melhor gozo que sofrer por ti!
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Carvalho Júnior
(Francisco Antonio Carvalho Júnior)
(Rio de Janeiro/GB, 11 março 1855 – Rio de Janeiro/GB, 3 maio 1879)
" NÊMESIS "
Há nesse olhar translúcido e magnético
a mágica atração de um precipício;
bem como no teu rir nervoso cético,
as argentinas vibrações do vício.
No andar, no gesto mórbido spleenético
tens não sei quê de nobre e de patrício,
e um som de voz metálico, frenético,
como o tinir dos ferros de um suplício.
És o arcanjo funesto do pecado,
e de teu lábio morno, avermelhado,
como um vampiro lúbrico, infernal,
sugo o veneno amargo da ironia,
o satânico fel da hipocondria
numa volúpia estranha e sensual.
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Cassiano Ricardo
(Cassiano Ricardo Leite)
(São José dos Campos/SP, 26 julho 1895 – Rio de Janeiro/RJ, 14 janeiro 1974)
" SONETO DA AUSENTE "
É impossível que, na furtiva claridade,
que te visita sem estrela nem lua
não percebas o reflexo da lâmpada
com que te procuro pelas ruas da noite.
É impossível que, quando choras, não vejas
que uma das tuas lágrimas é minha.
É impossível que com o teu corpo de água jovem,
não adivinhes toda a minha sede.
É impossível não sintas que a rosa
desfolhada a teus pés, ainda há um minuto,
foi jogada por mim com a mão do vento.
É impossível não saibas que o pássaro,
caído em teu quarto por um vão da janela,
era um recado do meu pensamento.
Fonte:
– J.G . de Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963
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