segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Nilto Maciel (Contistas do Ceará) Século XIX

Os escritores cearenses se iniciaram na prática da história curta e da literatura em geral muito tardiamente, em relação aos escritores dos centros culturais mais importantes. Segundo Dolor Barreira, “Cruz Filho é mais rigoroso quando afirma que só em 1872 é que se iniciou na Província a vida propriamente literária”.

São muitos os escritores cearenses nascidos no século XIX que escreveram e publicaram contos. Alguns se tornaram nomes muito conhecidos não somente no Estado. Dadas as dificuldades de se publicar livro, a maioria deles nunca conseguiu esse feito. Nem mesmo Adolfo Caminha e Oliveira Paiva, cujos contos foram primeiro publicados em jornais e só muito depois de suas mortes se enfeixaram em livro.

Juvenal Galeno (Fortaleza, 1836-1931), com suas Cenas Populares, de 1871, é um dos primeiros cultores da narrativa curta no Ceará. Este livro deve figurar, segundo Sânzio, “como precursor, ou mesmo como iniciador do conto em nossa terra”.

O segundo nome da história curta cearense, na ordem cronológica, é o de Araripe Júnior. Nascido em Fortaleza, em 1848, faleceu no Rio de Janeiro, em 1911. Sânzio assinala: “escreveu obras de ficção romântica, como os romances O Ninho do Beija-Flor (1874), Jacina, a Marabá (1875), Luizinha (1878)”. No entanto, sua vocação era a crítica literária. Teve editado Contos Brasileiros, em 1868. Sânzio acha “pouco provável que o indianismo desses textos tenha como cenário a paisagem cearense” e, assim, o exclui do rol dos primeiros contistas do Ceará.

Braga Montenegro considera José de Alencar (1829-1877) o primeiro contista cearense: “O ponto inicial da evolução do conto cearense retrai a meados do século 19, se incluirmos os Cinco Minutos e A Viuvinha, reunidos num só volume em 1860 (o primeiro em plaqueta, fora do mercado, em 1856), a despeito da intenção do autor que os denomina romances, na categoria de contos; verdadeiros contos ou novelas que são pelo conteúdo estético, pela duração, pelo grau de poesia e símbolo que encerram”. Sânzio ensina: As duas narrativas de Alencar “nada têm a ver com as letras cearenses”, eis que o cenário de ambas é a então Capital do Império. O segundo, na ordem cronológica, seria Franklin Távora (Baturité, 1842-1888). Autor de alguns romances, em 1861 deu a lume o livro Trindade Maldita, subintitulado “Contos no Botequim”. Sânzio não o considera escritor cearense, mas “nacional ou, quando muito, pernambucano”.

Já no final da penúltima década do século XIX surgem os verdadeiros primeiros cultores da história breve no Ceará, ligados ao Clube Literário (1887-1888): Oliveira Paiva, Francisca Clotilde, José Carlos Júnior e Rodolfo Teófilo. Divulgaram suas peças ficcionais no jornal A Quinzena, daquela agremiação. A Padaria Espiritual, com o jornal O Pão, também revelou diversos contistas. Afirma Braga Montenegro, em “Evolução e natureza do conto cearense”: “A Padaria Espiritual, movimento que melhor se define na produção poética – da msma sorte por que a Academia Francesa se caracteriza pelo ensaio e pela crítica – teve também os seus contistas, dos quais o mais representativo foi Eduardo Saboia, que publicou um pequeno volume intitulado Contos do Ceará (1894).”

Outros nomes conhecidos desse período são Álvaro Bomílcar, Álvaro Martins, Antônio Bezerra, Antônio Sales, Araripe Júnior, Artur Teófilo, Cabral de Alencar, Domingos Olímpio, Eduardo Saboia, Fernando Weyne, Francisco Carneiro, Frota Pessoa, Joaquim Carneiro, José Gil Amora, José Nava, José Carvalho, José Maria Brígido, José Pereira Martins, Leonidas e Sá, Lopes Filho, Manuel Miranda, Marcolino Fagundes, Olímpio da Rocha, Oscar Lopes, Papi Júnior, Pedro Muniz ou Moniz, Quintino Cunha, Roberto de Alencar, Soares Bulcão, Soriano Albuquerque, Tomás Lopes, Ulisses Bezerra e Viana de Carvalho.

Destacam-se, entre tantos nomes, Oliveira Paiva e Adolfo Caminha, ambos tidos como escritores de projeção nacional, embora não tenham publicado livro de contos em vida. Talvez outros de menor projeção tenham escrito histórias curtas até mais belas do que as deles.
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continua...
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Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

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