domingo, 17 de novembro de 2013

Nilto Maciel (Contistas do Ceará) Introdução

Um dos mais completos e, ao mesmo tempo, sintéticos estudos da narrativa breve no Ceará intitula-se “Evolução e natureza do conto cearense”, de Braga Montenegro, incluído na revista Clã n.º 12, de 1952, e reeditado como apresentação de Uma Antologia do Conto Cearense, em 1965. O ensaio contém 35 páginas e é composto de oito partes. Inicia-se assim: “A evolução do conto cearense, durante a fase romântica e naturalista, se processou com bastante lentidão. Poder-se-ia mesmo afirmar que nada realizamos, no curso desse longo período, relativamente à arte de contar, não fosse uma que outra manifestação de talento logo sepultada na poeira do tempo”.

Outro estudo valioso se intitula “O Conto Cearense, de Galeno ao Grupo Clã”, de Sânzio de Azevedo, do livro Dez Ensaios de Literatura Cearense, de 1985. Contido em 31 páginas, este ensaio se originou de uma aula proferida em 3 de junho de 1983, na Universidade de Fortaleza, no curso de análise literária “Panorama do Conto Brasileiro”.

Em 2005 se publicou Panorama do Conto Cearense (Brasília; Fortaleza: Ed. Códice), deste autor – estudo histórico, no qual se mencionam todos ou quase todos os escritores nascidos no Ceará ou que nele viveram durante algum tempo e escreveram histórias curtas, com menção especial aos que se dedicaram mais ao gênero conto do que a outros e se sobressaíram, na visão dos historiadores e críticos.

É chegada a vez de se deixar de lado a cronologia, a História, a simples referência a nomes de escritores e títulos de livros e se passar ao comentário. Não exatamente a crítica literária, acadêmica ou não. Entretanto, não será possível analisar um a um todas as obras. Em compensação, ao lado das observações críticas virão alguns contos.

Como seria impossível comentar num só livro todos os contistas cearenses, ou todos os que publicaram pelo menos uma coleção de histórias breves, optou-se por uma seleção. Os mais importantes em suas épocas, segundo historiadores, críticos e, logicamente, o autor deste estudo. Desse modo, das centenas de escritores, selecionaram-se pelo menos dois, por época: século XIX, início do XX, Grupo Clã e assim por diante. Acredita-se, desse modo, que os leitores, sobretudo os mais dedicados ao estudo da Literatura Cearense, não discordarão da seleção dos nomes mais antigos, como Oliveira Paiva, Adolfo Caminha, Gustavo Barroso e Herman Lima.

Quanto à seleção dos contos, foi preciso ser mais exigente, ou seja, reduzir ainda mais a quantidade de contistas, para que o livro não se tornasse um volume de difícil publicação. Assim, foram escolhidos contos de alguns dos escritores comentados.

Leitores discordarão em relação aos nomes a partir do Grupo Clã e mais ainda depois de 1970, tendo em vista que a maioria está viva e escrevendo.

É pretensão do autor desta obra dar continuidade a ela, com a elaboração do volume 2, no qual serão estudados contistas mais novos e incluídos contos de alguns que aqui não tiveram narrativas transcritas.       

E o título do livro? Nada mais simples e objetivo do que Contistas do Ceará. Por que o subtítulo D’A Quinzena ao Caos Portátil? Como informa Sânzio de Azevedo em Literatura Cearense, o Clube Literário “floresceu no ano de 1886” e foi “responsável pelo surgimento de alguns dos maiores nomes da literatura no Ceará”. E mais esclarece: “O Clube Literário teve como órgão na imprensa a revista A Quinzena, que circulou de janeiro de 1887 a junho de 1888, perfazendo 30 números.” Acrescenta: “Ao lado de poemas românticos de Juvenal Galeno e das narrativas, igualmente românticas, de José Carlos Júnior ou Jane Davy (Francisca Clotilde), surgiam os contos cientificistas de Rodolfo Teófilo; o Realismo despontava, porém, com mais força e arte através dos contos de Oliveira Paiva.” Ou seja, com ela, A Quinzena, surgiram os primeiros grandes contistas cearenses. Mas não se pode omitir aqui a história da Padaria Espiritual, fundada em 1892. Muito menos seu órgão oficial, o jornal O Pão, que teve duas fases: a primeira, com seis números, naquele ano, e a segunda, iniciada em 1895, num total de 36 edições. Nele muitos contos se publicaram. Na outra ponta da História se vê a revista Caos Portátil, criada em 2005. Em quatro edições publicou quase todos os contistas cearenses contemporâneos.

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

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