quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Ponti Pontedura (Livro de Poesias: A Palavra Sabe)

Muitas pessoas ainda se espantam diante de um livro de poesias, como se houvesse nesse estilo um grande mistério a ser desvendado. De fato há. O poder e o mistério da palavra ao ser tornar poesia é a possibilidade de ser lida e relida de formas diferentes, com outros olhares, outros sentidos. Essa é a maior charada da poesia, e também seu maior trunfo e é com esse jogo de imagens que nos deparamos em A Palavra Sabe.

Pontedura apresenta sua criação com palavras, e nos convida para participar com ele dessa descoberta da força da palavra versátil, da palavra-poesia.

Pleno de versos livres, de rimas brancas que surpreendem pela expressividade, A Palavra Sabe não deixa nada a desejar, afirmando-se como uma coletânea de poemas bem dosados e cadenciados.

Prontos para nos surpreender, os poemas são variados, se dividem em temas que permitem que diferentes públicos se sintam atraídos pelo livro, tantos os leitores assíduos de poesia, quanto aqueles que estão para descobrir o que a palavra poética realmente sabe e faz.
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Ponti Pontedura nasceu em Londrina, Paraná, em 1953, pseudônimo de Lourivaldo Pontedura, é jornalista, diretor e roteirista de cinema. Vive em São Paulo.

A Palavra Sabe (ou) Clareiras na Escrita

Invento céu chão caminho lugares
a casa onde eu moro.

Ninguém vem bater, que porta não há.
É casa de palavras minha moradia.

Imagino dia, e o sol me envia claridades.
Imagino escurecer, e minha sombra enorme
— maior que a noite — enche o espaço escuro.

Procuro no espaço escuro
o claro sentido da luz:
abrir em mim clareiras na escrita.

O meu punhal — sedento de sangue —
penetrasse a carne da poesia plácida

e a ferida abrisse seu corpo carnudo.

Um corte na veia da palavra sanguinea
lançasse sangue na minha face

e extirpasse o tempo flácido.

Poema abatido, animal prostrado,
vertesse seu sangue para a minha língua.

Mormaço de poesia ao meio dia
escalda o chão por onde passo, descalço.

Passo pela palavra gasta,
gasto o chão por onde passo,
e gasta a palavra me corrompe.

Passo pela palavra devastada,
devasto a terra por onde passo,
e devastada a palavra só faz ruínas.

Passo pela palavra sussurro,
sussurro um poema por onde passo,
e sussurrada a palavra é um segredo.

Ele segreda ao meu ouvido,
soletra palavras silenciosas,
onde se esconde o poema infinito.

Tranque-se em seu segredo,
guarde-se num poema oculto,
esconde esta palavra esconde.

Não se revela nada.
À palavra dada
não se abre a boca.

A palavra guarda todo sentido,
encerra em si o que há em mim,
entra muda e sai significada.

Palavra calosa tem a mão pesada.
Era a mão do meu pai
que se estendia e pousava
para o beijo da benção.

Fontes:
O Autor
Poesia obtida em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/parana/ponti_pontedura.html

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