segunda-feira, 3 de junho de 2024

Estante de Livros ( “Fábulas”, de Monteiro Lobato)

(excertos da resenha, por Tânia Bueno)

As fábulas fazem parte do cotidiano de todas as crianças e passam de geração em geração. Quem não ouviu pelo menos uma vez na vida a história da cigarra e da formiga antes de dormir quando era criança? Ou quem sabe a história escolhida tenha sido aquela da galinha dos ovos de ouro? Ou sua preferida talvez seja aquela sobre a raposa e as uvas… ou talvez a do lobo em pele de cordeiro. Pode ser ainda que você seja fã mesmo é do universo encantado do Sítio do Picapau Amarelo.

Com uma roupagem bem brasileira, Monteiro Lobato reconta dezenas das mais famosas e inspiradoras histórias de Esopo e La Fontaine – além de algumas de sua autoria – em meio a uma conversa descontraída entre Dona Benta, Narizinho, Pedrinho e a famosa boneca de pano Emília. E não pense você que os personagens do Sítio do Picapau Amarelo são meros coadjuvantes; eles ouvem atentamente essas lições ancestrais e participam de maneira ativa e crítica das aventuras e descobertas.

Suspirando com este livro de encher o coração de alegria ao lê-lo e rever algumas das mais famosas e inspiradoras fabulas contadas no Sitio do Picapau Amarelo, o livro traz as “contações" de Dona Benta, os comentários inusitados da boneca Emília, reflexões de Pedrinho e Narizinho e a sempre querida tia Nastácia. São todos participantes ativos, fazem relações, criticam o que ouvem e assimilam lições antigas e tão atuais para crianças e adultos. Ainda temos aulas muito legais sobre algumas palavras utilizadas por Dona Benta que, sob a atenção das crianças, indagavam o motivo de usar tal palavra difícil. Por exemplo: questionada sobre o usar a palavra “redarguiu” ser um pedantismo e dona Benta responde que não é pedantismo, redarguir é dar uma resposta que também é pergunta. Tipo: Bonito, não? E tem muito mais minha gente, uma delícia ler este livro.

É incrível como relendo as fábulas percebe-se muita conexão com o nosso mundo atual e note que Fábulas foi publicado a primeira vez em 1922. Através dos animais falantes temos lições fantásticas com a análise sábia de dona Benta que dá verdadeira aula literária, mas o ponto focal são as lições para as crianças hoje já muito adultas e que muitas acabaram esquecendo tais ensinamentos e precisam realmente de reciclagem com relação a gratidão, compaixão, justiça, mas preciso dizer que são pequenos contos fantásticos que devem ser lidos para as crianças e por jovens.

Dona Benta a vovó carismática é uma espécie de mediadora entre as curiosas crianças do sítio e as tramas dos animais falantes dos contos. Algumas fábulas e suas lições são pesadas, mas dona Benta coloca que existem muitas coisas dolorosas e a vida é assim e mesmo na adversidade ela traz grandes ensinamentos.

Na última fábula, Narizinho, Pedrinho, Emília e o Visconde fartos de tantas informações e reflexões pedem um tempo para digerir tudo e sabiamente dona Benta concorda, afinal segundo ela, “tudo tem conta, e a maior sabedoria da vida é usar e não abusar.” Mas, não sem antes fazer uma verificação indagando cada um sobre suas conclusões e temos dos amados personagens conclusões incríveis. Dona Benta teve sim, o papel de educadora que compartilha o que sabe, verifica o aprendizado em uma roda de conversa.

Valores como a tolerância e o respeito mútuo, de que tanto carecemos, tanto nos dias de hoje como há setenta anos, encontram-se presentes em toda a obra de Lobato. Seu mérito maior como pensador criativo e empreendedor, como educador e como pessoa, foi uma contínua integração entre as reflexões e as ações. Seu pensamento permanece, assim, vivo e inabalável, e em múltiplos sentidos, fabuloso.” P. 173

Tem trechos cheios de lições e inspirações. Eis alguns:

“Quem pretende ser o que não é acaba mal.”

Rico não é quem se encheu de dinheiro, só enriquece quem adquire conhecimentos. A verdadeira riqueza não está no acumulo de moedas, está no aperfeiçoamento do espirito e da alma. A verdadeira riqueza não é a de bolso, é a da cabeça. E só quem é rico de cabeça, ou de coração, sabe usar a riqueza material formada por bens ou dinheiro.” P.19

Daqui em diante, porém, farei o que me manda a consciência, pouco me importando que o mundo concorde ou não. Já vi que morre doido quem procura contentar o mundo.” P, 23

— É sempre assim: brigam os grandes, pagam o pato os pequenos. A função do fraco é pagar o pato. Nas guerras, por exemplo, brigam os grandes estadistas, mas quem vai morrer nas batalhas são os pobres soldados que nada têm com a coisa.” P. 36

Você sabe da onde vem a expressão Pagar o pato? Foi a Emília que ensinou. “Dois fortes e um fraco foram a um restaurante comer um pato assado. Os dois fortes comeram todo o pato e deram a conta para o fraco pagar...

“A gramática é uma criada da língua e não uma dona. O dono da língua somos nós, o povo, e a gramática o que tem a fazer é, humildemente, ir registrando o nosso modo de falar. Quem manda é o uso geral e não a gramática.

Fonte: Faces da Leitura. 29.04.2019
http://www.facesdaleitura.com.br/2019/04/fabulas-monteiro-lobato.html

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