EDUARDO BORGES DA CRUZ
Lisboa/ Portugal
Coração, não tenhas pressa...
Bate mais devagarinho...
Quem muito corre, tropeça
ou pode errar o caminho.
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Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009
SONETO QUEBRADIÇO
Mão minha com maminha movediça
traçando vai na limpa areia branca
versos cambaios, frouxos, na liça
língua caçanje, claudicante, manca.
No pé quebrado o ritmo se atiça
para dançar com rimas pobres, franca
trança de cambalhota tão cediça,
que me corrompe o salto e que me estanca.
Queda de braço nas quebradas quebras
vou me quebrando como um bardo gauche:
pelas savanas sou mais uma zebra.
Mas consciente desse torto approuch
já me socorre a gíria de alma treta
para solar meu solo nos ouvidos moucos.
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Trova de
ELISABETE DO AMARAL
Mangualde/ Portugal
Andar por ínvios caminhos
buscando a Felicidade,
é como colher espinhos
na Rosa da Eternidade.
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Poema de
SILVIAH CARVALHO
Manaus/AM
SEU AMOR É TUDO
Antes que seja aprisionada pelo seu sorriso,
E sinta que a vida não fará mais sentido sem você
Antes que tenha certeza que você é tudo que preciso
Antes que eu perca a razão e no amor volte a crer
Antes que sua solidão misture com minha carência
E suas mãos toquem novamente as minhas
Antes que eu seja vencida por minha impaciência
E passe a crer que perto de você eu não esteja sozinha
Eu voarei rumo aos pinheiros, perto da tristeza
Onde as noites são frias, os dias são longos
Eu estarei a meditar na sua simplicidade e pureza
Na paz que emana de você, na sua doçura e nobreza
Eu irei pensar no silêncio da minha incompreensão
Não diga nada, talvez eu não resista à dor de um sincero não
Eu cheguei no tempo que é para ti a alto-reconstrução
Em que preferes a solidão latente no seu meigo olhar
Eu irei antes que, seja dominada pelo desejo de ficar
E quando este papel envelhecer,
Saiba que esta poetisa que hoje te escreve apesar
De nada ser, desejou ter tudo, e este tudo é você.
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Trova de
EMILIA PEÑALBA DE ALMEIDA ESTEVES
Porto/ Portugal
A vida é tão amorosa!...
E tanta verdade encerra:
Dá-nos o espinho... E a rosa,
para perfumar a Terra.
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
NÃO DAREI UM SÓ PASSO ONDE ME PRENDA
(Fernandes Valente Sobrinho in "Poemas Escolhidos", p. 101)
Não darei um só passo onde me prenda
O espectro de um amor que já passou
E o resto de um sorriso que raiou
Que fazem com que agora eu me arrependa.
Mas este coração não tem emenda
E sonha com o que ainda não achou
E de todos os gostos que provou
Elege o teu beijar de que faz lenda.
Procuro outros caminhos onde passe
Sem ver em cada rosto a tua face
Trazendo o que a teu lado eu já vivi.
É falsa a tentativa dos meus passos
Que lembrando o calor dos teus abraços
Simplesmente me levam para ti.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
"Que tanto estudas, Leal?"
"Geografia, Seu Garcês."
"Humm... e onde está Portugal?"
"Na página cento e três."
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Poema de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP
SIMPATIA
Numa tarde longa e mansa,
os dois pela estrada vão:
o cão estima a criança,
e a criança estima o cão.
Que delicada aliança
dos seres da criação:
uma risonha criança,
um robustíssimo cão.
Deus percebeu a lembrança
e sorriu lá na amplidão:
ele gosta da criança,
que trata bem o seu cão.
Por isso, na tarde mansa,
os dois felizes lá vão:
a delicada criança
e o robustíssimo cão.
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Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN
Mãe preta! Teu negro seio
deu-me o mais puro sabor;
nele eu bebi sem receio
a eternidade do amor!
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Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
MEU VERSO
Meu verso vem do Nordeste,
vem do roçado, vem do Sertão,
vem das veredas lá do agreste,
vem das cacimbas e dos grotões.
Meu verso vem dos garimpos,
das catras dos garimpeiros,
da coragem dos vaqueiros
vestidos no seu gibão,
vem do sereno da noite
do perfume do Sertão.
Meu verso simples, sem medo,
vem do sítio, do rochedo,
vem do povo do Sertão,
que com a luz do arrebol
trabalha de sol a sol
para ganhar o seu pão.
Vem da Serra do Carranca
onde a beleza não manca,
e a onça faz sentinela.
Da Serra da Mangabeira
onde a Lua vem brejeira
tecer a renda mais bela.
Meu verso vem da goiaba,
do puçá e da mangaba,
da seriguela e do mamão.
Da pinha e da acerola,
da atemóia e graviola
plantadas no roçadão.
Nasceu na bela Umbaúba,
Boa Vista, Bela Sombra,
na Lagoa de Prudente,
na Chiquita e no Vanique,
onde há muito xique-xique
e o sol parece mais quente.
Brejões, Lagoa do Barro,
Santo Antonio, Traçadal,
Olho D´Água, Rio Verde,
Baixa dos Marques, Coxim,
Ibipetum, depois Pintada,
onde passa a velha estrada,
Zequinha e Lamarca morreram.
Sodrelândia, Deus me Livre,
Pé de Serra, Poço da Areia,
Riacho das Telhas também.
Poço do Cavalo, Matinha,
Mata do Evaristo e Veríssimo,
Olhodaguinha e Ipupiara.
Meu verso nasceu no mato,
não tem brilho, nem ornato,
vem do Morro do Mocó,
da Serra do Sincorá,
vem do morro do Araçá,
nasceu pobre e vive só...
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Trova de
FERNANDO MÁXIMO
Avis/ Portugal
Pecador arrependido,
que o seja, mas de verdade,
terá sempre garantido
do bom Deus a piedade!
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Poetrix de
VALQUÍRIA CARDARELLI
São Paulo/SP
MUNDO DA LUA
Nos olhos
Nada de mim:
Apenas sonho(s)
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Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN+
CAMINHO DO SERTÃO
(a meu irmão João Câncio)
Tão longe a casa! Nem sequer alcanço
Vê-la através da mata. Nos caminhos
A sombra desce; e, sem achar descanso,
Vamos nós dois, meu pobre irmão, sozinhos!
É noite já. Como em feliz remanso,
Dormem as aves nos pequenos ninhos...
Vamos mais devagar... de manso e manso,
Para não assustar os passarinhos.
Brilham estrelas. Todo o céu parece
Rezar de joelhos a chorosa prece
Que a noite ensina ao desespero e à dor...
Ao longe, a Lua vem dourando a treva...
Turíbulo imenso para Deus eleva
O incenso agreste da jurema em flor.
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
Meu coração sente frio!
- A saudade o transformou
no leito triste e vazio
de um rio que já secou…
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Hino de
AÇUCENA/ MG
Salve Açucena, terra querida!
Jubilosos te dedicamos um hino!
Repletos de encanto e de vida,
Muito promissor é o teu destino!
(Refrão)
Recebe o afeto, que sincero parte.
De cada peito de um filho teu.
Este procura, com espontânea arte,
Dar-te um brilho como sendo seu.
As tuas montanhas, sempre verdejantes,
Apontam mui risonhas, o teu porvir.
As tuas brisas puras, refrigerantes,
Calcam o viajor ao teu seio vir.
A ti, com perfeita serenidade,
Que faz lembrar noite de luar amena,
Os teus filhos, com felicidade,
Bendizem, unânimos, ó Açucena.
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
TEMPO DE ESCOLA (ABRINDO O BAÚ)
Logo quando amanhecia!
Mamãe entrava a chamar:
- Vamos crianças levantem!
Está na hora de estudar.
Levantava-me com pressa,
No meu rio ia banhar
Mas antes de alguém sair,
Tinha de a cama arrumar.
Quando tudo terminava...
Mamãe da mesa chamava:
- Venha tomar seu café!
Pra não chegar atrasada,
Corria naquela estrada,
Porque ia mesmo a pé.
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Trova de
FERRER LOPES
Queluz/ Portugal
As sementes da mentira,
e da calúnia também,
giram num mundo que gira
na lama que o mundo tem.
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Cantiga Infantil de Roda
CADÊ?
Cadê o toucinho que tava aqui?
O gato comeu.
Cadê o gato?
Foi pro mato.
Cadê o mato?
O fogo queimou.
Cadê o fogo?
A água apagou.
Cadê a água?
O boi bebeu.
Cadê o boi?
Tá amassando o trigo.
Cadê o trigo?
A galinha ciscou.
Cadê a galinha?
Tá botando o ovo.
Cadê o ovo?
O padre comeu.
Cadê o padre?
Tá rezando a missa.
Cadê a missa?
Tá dentro do livrinho.
Cadê o livrinho?
Foi pelo rio abaixo.
Vamos procurar o livrinho?
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Teus vestidos eu não acho
muito decentes, minha prima:
são altos demais por baixo
e baixos demais por cima.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
O TOQUE DO TEU VENTO
Os sons dos sinos de vento
Embalam a solidão
Que fragmenta a ampulheta,
E refugia-se no vitral
Da janela antiga,
Trincada com o toque
Do teu vento,
As cores voam,
E pousam na taça de cristal.
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Trova de
GABRIEL DE SOUSA
Lisboa/ Portugal
O porvir já vem traçado
nas linhas da nossa mão,
mas poderá ser moldado
se tivermos ambição.
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