sábado, 20 de julho de 2024

Recordando Velhas Canções (Lampião de Gás)


Compositor: Zeca Bergami

Lampião de gás
Lampião de gás
Quanta saudade
Você me traz

Lampião de gás
Lampião de gás
Quanta saudade
Você me traz

Da sua luzinha verde azulada
Que iluminava a minha janela
Do almofadinha lá na calçada
Palheta branca, calça apertada

Do bilboquê, do diabolô
Me dá foguinho, vai no vizinho
De pular corda, brincar de roda
De benjamim, jagunço e chiquinho

Lampião de gás
Lampião de gás
Quanta saudade
Você me traz

Lampião de gás
Lampião de gás
Quanta saudade
Você me traz

Do bonde aberto, do carvoeiro
Do vossoureiro, com seu pregão
Da vovózinha, muito branquinha
Fazendo roscas, sequilhos e pão

Da garoinha fria, fininha
Escorregando pela vidraça
Do sabugueiro grande e cheiroso
Lá no quintal da rua da graça

Lampião de gás
Lampião de gás
Quanta saudade
Você me traz

Lampião de gás
Lampião de gás
Quanta saudade
Você me traz

Minha São Paulo calma e serena
Que era pequena, mas grande demais
Agora cresceu, mas tudo morreu
Lampião de gás que saudade me traz
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * -

Nostalgia e Memórias em 'Lampião de Gás'
A música 'Lampião de Gás', é uma ode nostálgica à São Paulo de outrora, uma cidade que, embora tenha crescido e se modernizado, deixou para trás uma série de memórias e tradições que a cantora relembra com carinho. A repetição do refrão 'Lampião de gás, quanta saudade você me traz' reforça o sentimento de saudade e a importância das lembranças que o lampião de gás evoca.

A letra da música é rica em detalhes que pintam um quadro vívido da vida cotidiana em uma São Paulo mais simples e tranquila. Referências a brincadeiras infantis como bilboquê e diabolô, e a figuras típicas como o carvoeiro e o vossoureiro, trazem à tona uma época em que a vida era mais comunitária e menos apressada. A menção à 'vovózinha, muito branquinha, fazendo roscas, sequilhos e pão' adiciona um toque pessoal e familiar, evocando a sensação de aconchego e segurança do lar.

Além disso, a música também aborda a transformação da cidade, que 'cresceu, mas tudo morreu'. Esse verso final encapsula a dualidade do progresso: enquanto a modernização traz avanços, ela também pode apagar traços importantes da cultura e da memória coletiva. A 'São Paulo calma e serena' contrasta fortemente com a metrópole agitada de hoje, e o lampião de gás se torna um símbolo de um tempo perdido, mas não esquecido.

Fonte:

sexta-feira, 19 de julho de 2024

José Feldman (Versejando) 143

 

Contos e Lendas da Espanha (A moça dos três maridos)

Era uma vez um homem que tinha uma moça muito bonita,  mas de gênio forte. As pessoas comentavam que a menina sendo tão bela quanto temperamental, acabaria dando trabalho ao pai, quando crescesse. Mas ele não se preocupava com isso. Aceitava a personalidade da filha e amava-a de todo o coração.

Alguns anos depois, a menina se transformou numa belíssima jovem. O pai compreendeu que em  breve ela se casaria, pois não faltariam pretendentes.

Certo dia, três rapazes se apresentaram em sua casa, cada um mais gentil e bem-apessoado que o outro. Muito educadamente, pediram a mão da moça em casamento.

O pai, depois de conversar com os pretendentes, disse que os três lhe pareciam homens de caráter íntegro, capazes de fazer a moça feliz. Disse também que todos mereciam sua bênção e que seria uma honra ter um deles como genro.

— E quem será esse felizardo? — perguntaram os rapazes.

— Isso não sou eu quem vai decidir — o homem respondeu. — Meu genro será aquele que o coração de minha filha escolher.

Assim, o homem foi consultar a moça. Falou-lhe sobre as qualidades dos três pretendentes. E que todos lhe pareciam dignos de desposá-la.

A moça o ouviu com atenção. Por fim respondeu, muito tranquila, que gostaria de se casar com os três.

— Minha filha! — o bom homem se espantou. — Compreenda que isso é impossível. Nenhuma mulher pode ter mais que um marido.

— Pois eu escolho os três — ela respondeu sem se alterar.

— Sempre soube que você tinha um gênio forte. Sempre aceitei seu modo de ser. Mas para tudo há um limite. Agora pense bem, procure ter um mínimo de bom senso e não me dê mais dores de cabeça. Afinal, a qual dos pretendentes devo conceder sua mão?

— Aos três — a moça insistiu, com uma calma espantosa. — Preciso deles para viver.

— Você precisa é de uma boa dose de juízo, isto sim — o homem protestou, irritado.

Mas não houve maneira de fazer a moça mudar de ideia.

O pai meditou longamente sobre o problema que, de fato, era por demais complicado. Depois de muito pensar, encontrou uma solução; pediu aos três rapazes que saíssem pelo mundo em busca de uma raridade. Aquele que trouxesse o presente mais extraordinário, receberia a mão de sua filha.

Os três pretendentes partiram e combinaram de se reunir um ano depois, para que cada um mostrasse o seu presente. Porém, por mais que procurasse, nenhum deles encontrou algo que satisfizesse a exigência do pai da moça. Assim, depois de um ano, os três, com as mãos vazias, foram ao local onde haviam combinado o encontro.

O primeiro que chegou sentou-se para aguardar os outros dois. Enquanto esperava, um velhinho se aproximou e perguntou-lhe se não gostaria de comprar um pequeno espelho.

O rapaz examinou o espelho e respondeu que não via razão para comprá-lo.

O velhinho então explicou que, embora parecesse pequeno e comum, o espelho tinha um dom: quem nele se mirasse poderia ver qualquer pessoa que quisesse. Bastaria formular esse desejo, com todo o coração.

O rapaz resolveu fazer um teste. E ao constatar que o velhinho dizia a verdade, comprou o espelho sem discutir o preço.

O segundo pretendente, ao aproximar-se do local do encontro, foi abordado pelo mesmo velhinho, que lhe perguntou se não gostaria de comprar um pequeno frasco de bálsamo.

— Para que vou querer um bálsamo, meu velho, se percorri boa parte do mundo e não encontrei o que buscava?

O velhinho sorriu;

— Ah, mas este aqui tem o poder de ressuscitar os mortos.

Naquele momento, passavam por ali alguns homens, levando um amigo para ser enterrado. Sem pensar duas vezes, o rapaz pediu que abrissem o caixão e deixou cair algumas gotas do bálsamo na boca do defunto, que no mesmo instante se levantou, ergueu o caixão nos ombros e convidou a todos para almoçar em sua casa. Diante disso, o rapaz comprou o frasco sem regatear no preço.

Não muito longe dali, o terceiro pretendente caminhava à beira-mar, meditando, convencido de que os outros haviam encontrado algo raro e precioso, enquanto ele nada conseguira. 

De súbito avistou um grande barco que, vencendo o mar encapelado, atracou no porto. Dele desceram muitas pessoas, dentre elas um velhinho que se aproximou e perguntou-lhe se não gostaria de comprar aquele barco.

— E para que vou querer isso? — disse o rapaz. — Este barco está tão velho, que daqui a algum tempo só servirá para lenha.

— Você está enganado, meu rapaz — disse o velhinho.

— Este barco possui um dom inestimável: o de levar seu dono, e aqueles que o acompanham, a qualquer lugar do mundo, em muito pouco tempo. Se duvida, pergunte a esses passageiros que vieram comigo, pois há meia hora estávamos em Roma.

O rapaz conversou com os passageiros e concluiu que isso era verdade. Então, comprou o barco pelo preço que o velhinho propôs.

Por fim, os três pretendentes se reuniram no local do encontro, multo satisfeitos. O primeiro contou que havia comprado um espelho, no qual seu dono poderia ver quem desejasse. Para provar que falava a verdade, mirou-se no espelho enquanto pedia, de coração, para ver a moça por quem os três estavam apaixonados.

A imagem da moça, morta num caixão, surgiu no cristal do espelho, deixando os três sem fala por alguns instantes.

Por fim, o segundo pretendente quebrou o silêncio;

— Trago um bálsamo capaz de ressuscitar os mortos. 

Mas até chegarmos à casa de nossa querida, ela já terá sido enterrada.

— Acalmem-se — disse o terceiro pretendente. — A circunstância não é tão ruim quanto parece.

Diante do olhar de espanto dos outros dois, explicou:

— Por sorte, acabei de comprar um barco que em pouquíssimo tempo nos levará até nossa amada.

Os três correram para a embarcação e, de fato, em apenas alguns minutos chegaram ao porto do povoado. Então foram até a casa da moça, onde tudo já estava pronto para o enterro. O pai, desolado, relutava em dar a ordem final para a saída do cortejo rumo ao cemitério.

Os três rapazes se aproximaram do caixão. Aquele que tinha o bálsamo derramou algumas gotas na boca da morta. Assim que o bálsamo tocou-lhe os lábios, a moça se levantou, saudável e radiante,

Todos ficaram maravilhados com a atitude do jovem pretendente. Ainda naquele dia, o pai decidiu que era ele quem deveria se casar com sua filha. Mas os outros dois protestaram:

— Se não fosse por meu espelho, jamais saberíamos o que havia acontecido. E a esta hora minha amada já estaria a caminho do campo santo — disse um dos pretendentes.

Pois se não fosse meu barco, que nos transportou até aqui em poucos minutos, nem o espelho nem o bálsamo teriam podido trazer minha amada de volta — disse o outro.

Vocês têm razão — o pai da moça reconheceu. Muito confuso e desgostoso, pôs-se de novo a meditar sobre qual seria a melhor solução para aquele problema.

Tocando-lhe o ombro, a filha disse, com serena convicção:

– Agora o senhor entende, papai, porque eu precisava dos três para viver?

Fonte> Yara Maria Camillo (seleção). Contos populares espanhóis. SP: Landy, 2005.

Silmar Bohrer (Croniquinha) 117

Viagens? Quem não viaja? Quem não gosta de estar nos caminhos? 

Viagens são fontes de conhecimentos, luzes que clareiam ideias, lampejos que põem a faiscar nossas curiosidades. 

Nas viagens descobrimos os brotinhos do vasculhar e desenvolvemos a florescência dos saberes. Tudo em volta incita diligências, e estas nos ajudam a buscar e a querer mais, sempre mais . 

Então a gente concorda com o romancista - viajeiro contumaz - quando dizia ser possuído pelo demônio das viagens. Viajar também é vilegiatura cultural, é abrir bem os olhos para o novo e o desconhecido. Até em Abrolhos. 

Fonte: Texto enviado pelo autor 

Vereda da Poesia = 60 =


Trova Humorística, de Caçapava/SP

ÉLBEA PRISCILA DE SOUZA E SILVA
Piquete/SP, 1942 – 2023, Caçapava/SP

– Esta pimenta é de cheiro?
Pergunta com azedume,
e o garçom fala ligeiro:
– Se não é… boto perfume!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Luanda/Angola

JOÃO MELO
(Aníbal João da Silva Melo)

A Lagartixa Frustrada

Um dia
a lagartixa
quis ser dinossauro

Convencida
saltou pra rua
montada em blindados
pra disfarçar a sua insignificância

Tentou mobilizar as formigas
que seguiam
atarefadas
pro trabalho

"Ó pobre e reles lagartixa
condenada
à fria solidão
das paredes enormes e nuas
tu não sabes que os dinossauros
são fósseis
pré-históricos?"
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Aldravia de Pirapetinga/MG

AMÉLIA LUZ
(Amélia Marciolina Raposo da Luz)

Teu
vestido
amarelo
rodopia
compasso,
bolero!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Palmas/TO

PATRÍCIA NEME

Soneto da Saudade

O céu desperta triste, em tom cinzento,
qual lhe fora penoso um novo dia;
aos poucos, verte, em gotas, seu lamento...
Um pranto ensimesmado, de agonia.

Um rouco trovejar, pesado, lento,
parece suplicar por alforria,
num rogo já exangue, sem alento...
A chuva... O cinza... A dor... A nostalgia...

O céu despertou triste... O céu sou eu,
perdida num sonhar que feneceu,
sou prisioneira à espera de mercê.

Sonhando conquistar a liberdade
desta prisão, que existe na saudade...
Saudade, tanta, tanta... De você!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada em Pouso Alegre/MG, 1996

ARLINDO TADEU VAGEN

No verão ela anuncia
que o nudismo é a sensação
e o que só o marido via,
agora todos verão!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Manaus/AM

SILVIAH CARVALHO

O Silêncio da poesia

Quem pode encher as palavras de sustento?
Se no silêncio da alma há tão pouco alimento!
O vazio da resposta inibe as perguntas
Quando nem você é aquilo que vejo ou invento
 
Se posso criar minha paz viveria eu em guerra?
O silêncio desta pergunta ecoará no tempo
E não haverá resposta, pois isso se torna um delito
Já que, há aqueles que, não vivem sem seus conflitos
Onde errei quando decidi acertar?
Quando ao invés de só falar de amor resolvi amar
Saio do sonho, passo a viver a realidade
Entro na vida pra vivê-la em sua totalidade
 
Quem me dirá não tendo Deus dito Sim?
Agora que este vazio encheu-se de mim
Recolho do mundo meu sentimento
Minhas palavras, meu coração...
 
Deixarei minha poesia vagando pelo ar?
Sim, buscando qualquer porto a ancorar
Descomprometida e responsável
A poesia tem em si, um todo razoável.
 
Quem eu gostaria que me amasse
Se não aquele a quem amo?
Minha vida deixou de ser só e vazia
Voltarei para escrevê-la um dia...
 
Vim apenas deixar,
 O meu silêncio nesta poesia…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Popular

Já não posso ser contente,
tenho a esperança perdida
ando perdido entre a gente
nem morro nem tenho vida.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI

Divino mistério

Pura eclosão no encontro de dois seres,
ou de um só ser, chamado hermafrodita.
Sem ser movida por carnais prazeres,
carrega em si leal prenhez, prescrita.

Nas mãos a tens, quiçá sem compreenderes
que um divino mistério nela habita.
Sequer refletes, junto aos afazeres,
quão essencial é o ser que ali dormita…

Mas, lá na roça, alguém sempre a cultua,
vislumbra o embrião, que a espécie perpetua:
- o apaixonado e atento lavrador!

E, na expansão do gérmen, a semente
exalta a vida e aquEle que consente
nesse milagre – prova audaz de AMOR!…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova do Rio de Janeiro/RJ

FAUSTO PARANHOS
(1910 – ????)

Em certos beijos se esconde
um demônio singular
que nos conduz não sei aonde,
donde é difícil recuar. 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Belo Horizonte/MG

CLEVANE PESSOA

Chuva de Versos

Quando versos chovem n'alma
trovas lindas nos florescem...
Sua beleza nos acalma,
e sob as águas, mais crescem...

Para a chuva, "n" versos 
 pelas rimas  tão  molhados,
- microcosmos bem diversos
 a criar trovas e fados...

Se a paixão nos incendeia,
 dançam loucas labaredas,...
Vou apagar minha candeia
e chover versos de sedas...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Haicai de Magé/RJ

BENEDITA SILVA DE AZEVEDO

Noite de inverno -
A tremer sob jornais
O pobre na esquina
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Maceió/AL

LÊDO IVO
Maceió/AL, 1924 – 2012, Sevilha/Espanha

Acontecimento do Soneto

À doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude encontro abrigo.
Estou farto do tempo, e não consigo
cantar solenemente os derradeiros

versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados já, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.

Sôbolos rios que cantando vão
a lírica imortal do degredado
que, estando em Babilônia, quer Sião,

irei, levando uma mulher comigo,
e serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Curitiba/PR

VANDA FAGUNDES QUEIROZ

Se ausência é cena vazia,
guarda, invisível, latente,
a marca de algo que, um dia,
ali já esteve presente
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

Mote... 
Carnaval... tanta folia. 
Sincopados corações... 
Desfile de alegoria... 
Passarela de ilusões!
José Feldman
(Campo Mourão/PR)

Glosa... 
Carnaval... tanta folia. 
Alegria "mascarada"... 
Foliões, com distonia, 
destoam na batucada! 

Carnaval.. quanta apatia. 
Sincopados corações 
batucam, sem alegria 
no peito dos foliões! 

Carnaval... quanta ironia! 
Colombinas e Pierrôs... 
Desfile de alegoria... 
Foliões "borocochôs"! 

Carnaval... que desalento! 
Desfiles sem emoções... 
Foliões em fingimento... 
Passarela de ilusões!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Olhão/Portugal

DEODATO PIRES

Neste mundo em convulsão
dia a dia a denegrir
temo com apreensão
o que será o porvir…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Porto/Portugal

PERO DE ANDRADE CAMINHA 
Porto (1520 – 1589) Vila Viçosa

Quando cuido, senhora, quanto escrevo…

Quando cuido, senhora, quanto escrevo…
tudo em vossos formosos olhos leio,
neles, ante quem tudo é escuro e feio,
aprendo e vejo como amar-vos devo.

Vejo que ao vosso amor todo me devo,
mas não vos sei amar, e assi' me enleio
que não sei se vos amo ou se o receio,
e a julgar em mim isto não me atrevo.

Em vós cuido, em vós falo o dia e ora,
mouro por ver-vos, ir-vos ver não ouso,
por não ver quanto mais devo do que amo;

ó sol e ó sombra o vosso nome chamo,
fora destes cuidados não repouso;
se isto é amor, vós o julgai, senhora!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada  em Magé/RJ, 2008

ANALICE FEITOZA LIMA 
Bom Conselho/PE, 1938 – 2012, São Paulo/SP

Dinheiro, não tenho tanto
para os seus luxos “bancar”.
Mas o pão nosso, garanto,
Deus não vai deixar faltar!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Versmod/Alemanha

HANS ULRICH TREICHEL

Progressos na investigação do caos

Esteja à vontade,
trate-me só por eu
ou omita-me de todo.
Afinal ninguém sabe ao certo
onde começa o próximo.
Poderá dispersar-se,
mas permaneça deitado.
Feche os olhos
e não ouça nada.
Quando nada sentir,
tem de sentir o que sente.
Ou será que também é daqueles
que sangram a cada tiro?
O meu conselho é gorduras vegetais
e inteligência animal.
No entanto, tudo com medida
e sempre de cabeça inclinada.
O resto é bastante simples.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Triverso de Brasília/DF

ANDERSON BRAGA HORTA

O canto são dois rios 
Confluindo nos olhos: 
E o teu olhar desata as minhas fontes.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Quadrão à Beira Mar, de Salvador/BA

CREUSA MEIRA

Queria por um momento
Falar de contentamento
Esquecer o sofrimento
Neste breve versejar
Sorrir para não chorar
Ao lembrar o triste dia
Que perdi minha alegria
No quadrão à beira mar
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Humorística de Miguel Couto/RJ

EDMAR JAPIASSÚ MAIA

Pergunta a mestra ao menino,
aluno meio confuso:
– A porca… tem masculino?
– Tem, fessora… o parafuso!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Hino de Campos dos Goytacazes/RJ

Campos Formosa, intrépida amazona
Do viridente plaino goitacás
Predileta do luar como Verona
Terra feita de luz e madrigais

Ó Paraíba, ó mágica torrente
Soberana dos prados e vergéis
Por onde passas como um rei do oriente
Os teus vassalos vêm beijar-te os pés

Nada iguala os teus dons, os teus primores
Val de delícias, o teu céu azul
Minha terra natal ninho de amores
Urna de encantos, pérola do sul

Campos Formosa, intrépida amazona
Do viridente plaino goitacás
Predileta do luar como Verona
Terra feita de luz e madrigais

Ó Paraíba, ó mágica torrente
Soberana dos prados e vergéis
Por onde passas como um rei do oriente
Os teus vassalos vêm beijar-te os pés

Ó Paraíba, ó mágica torrente
Rio que rolas dentro do meu peito.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
Uma Ode à Beleza e História
O 'Hino de Campos dos Goytacazes - RJ' é uma celebração poética da cidade localizada no estado do Rio de Janeiro. A letra exalta a beleza natural e a riqueza cultural da região, utilizando uma linguagem rica em metáforas e referências históricas. A cidade é descrita como uma 'intrépida amazona', uma figura de força e coragem, que se destaca no 'viridente plaino goitacás', uma referência às planícies verdes habitadas pelos índios Goitacás.

A canção também faz uma homenagem ao rio Paraíba do Sul, descrito como uma 'mágica torrente' e 'soberana dos prados e vergéis'. O rio é personificado como um rei oriental, cujos 'vassalos vêm beijar-te os pés', simbolizando a importância vital do rio para a região e seus habitantes. Essa personificação do rio como uma entidade majestosa e vital reforça a conexão íntima entre a natureza e a vida cotidiana dos moradores de Campos dos Goytacazes.

Além disso, o hino destaca a cidade como um 'val de delícias' e 'urna de encantos', enfatizando a ideia de Campos dos Goytacazes como um lugar de beleza e prazer. A comparação com Verona, cidade italiana famosa por sua beleza e romance, sugere que Campos dos Goytacazes é igualmente encantadora e inspiradora. A repetição de frases e a estrutura lírica reforçam o sentimento de orgulho e amor pela terra natal, criando uma imagem vívida e apaixonada da cidade. (https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/1823735/significado.html
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poetrix de Vila Velha/ES

ANDRA VALLADARES

in memoriam

A vida é bordadeira,
com pontos de cruz
orna nosso destino.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto do Rio de Janeiro/RJ

JORGE DE LIMA
(Jorge Mateus de Lima)
União dos Palmares/AL, 1895 – 1953, Rio de Janeiro/RJ

O Acendedor de Lampiões

 Lá vem o acendedor de lampiões de rua!
Este mesmo que vem, infatigavelmente,
Parodiar o Sol e associar-se à lua
Quando a sobra da noite enegrece o poente.

 Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite, aos poucos, se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

 Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

 Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade
Como este acendedor de lampiões de rua!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova do Rio de Janeiro/RJ

MAGDALENA LÉA
(Magdalena Léa Barbosa Corrêa)
1913 – 2001

Ah se eu pudesse saber
qual a mulher que ele quer!
Que não iria eu fazer
para ser essa mulher?
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

A raposa, as moscas e o ouriço

Deixando pelo chão rastros do próprio sangue,
Uma astuta raposa audaz que outrora fora
Enérgica, sutil, leve, jazia agora
Sobre um montão de lama, inanimada e exangue.

Tinha-a ferido em cheio um caçador valente...
E a Mosca, o parasita alado do monturo,
Vinha alegre, num voo enérgico e seguro,
Cevar-se no seu corpo ainda vivo e quente.

E o mísero animal, com as pupilas foscas,
Invetivava triste o seu terrível norte,
Por lhe ter conferido a desgraçada sorte
De, com seu próprio corpo, alimentar as moscas.

«Fazerem-me sofrer assim um tal vexame,
A mim, ao mais sutil vivente das florestas!
Quando é que uma raposa alimentou as festas,
Os banquetes cruéis de esfomeado enxame?!

De que me serve a cauda? Acaso é um fardo antigo,
Inútil? Ah! que o céu te pague, Mosca bruta!
Vai cevar noutro corpo a tua fome astuta,
E deixa só ficar a minha dor comigo.

Nesta mesma ocasião, um ouriço piedoso,
(Personagem estranho e novo nos meus versos)
Quis livrá-la, com dó, dos animais perversos
Que a afligiam assim, e disse-lhe bondoso:

«Raposa amiga, espera um só instante apenas...
Com meus espinhos bons eu mato-as num momento;
Vais ver como te vou tirar o sofrimento,
Como te vou tirar essas horríveis penas.

— Não quero, respondeu, não as enxotes, deixa...
Oh! deixa-as acabar o seu furor nefando...
Quase estão fartas já... viria um outro bando
Que teria mais fome, e eu mais razão de queixa.»

Assim é esta vida e tudo neste mundo,
Desde a negra miséria aos grandes resplendores;
Ministros, cortesãos... são todos comedores,
Todos têm consigo o mesmo mal profundo.

Este apólogo audaz foi aplicado ao homem;
Aristóteles fê-lo e tinha-o como certo;
Exemplos destes há imensos e bem perto...
Quanto mais cheios, mais saciados, menos comem.

(tradução: Alberto Bramão)