sábado, 7 de setembro de 2024

Recordando Velhas Canções (Olhos nos olhos)


(MPB, 1976)
Compositor: Chico Buarque de Holanda

Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porquê
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = 

A Força da Superação em 'Olhos Nos Olhos'
A música 'Olhos Nos Olhos', composta e interpretada por Chico Buarque, é uma obra que transita entre a dor do abandono e a superação do eu lírico. A canção inicia com a lembrança de um término, onde o narrador é incentivado pela pessoa amada a seguir em frente e ser feliz. A intensidade dos sentimentos é evidente, pois o eu lírico confessa ter quase enlouquecido de ciúme, mas, seguindo o padrão de comportamento, acaba por obedecer ao pedido de seguir em frente.

No decorrer da música, percebe-se uma mudança significativa na postura do eu lírico. Ele se apresenta refeito, destacando que, ao reencontrar a pessoa que o deixou, mostrará o quanto se tornou feliz sem ela. A expressão 'olhos nos olhos' sugere um confronto direto e honesto, onde o eu lírico quer testemunhar a reação do outro ao perceber sua felicidade e independência emocional. A letra ainda revela que o tempo trouxe novas experiências amorosas, sugerindo que outras pessoas o amaram de forma mais intensa e gratificante.

Por fim, a música fecha com uma oferta de generosidade, onde o eu lírico diz que, apesar de tudo, a pessoa que o deixou ainda pode procurá-lo se precisar. Essa atitude demonstra uma força interior e uma superação completa, onde o passado não é mais uma fonte de dor, mas uma lição aprendida. A canção de Chico Buarque, portanto, é um hino à resiliência e à capacidade de se reconstruir após um término amoroso, encontrando alegria e satisfação na própria companhia e nas novas possibilidades que a vida oferece.

Nenhum letrista brasileiro supera Chico Buarque na arte de escrever canções para personagens femininas. Numa entrevista à Rádio JB, em 16.5.90, ele afirmou: “fiz muitas músicas de encomenda para teatro. Nesses casos, mais do que os personagens, eu procuro saber quem é o ator ou a atriz que vai interpretá-las.

Então, em minha cabeça, eu misturo a figura da atriz com a da cantora que gostaria que cantasse aquela música. Daí saíram canções como ‘Folhetim’, que tem a cara da Gal. Mas às vezes a canção nem é para teatro, como ‘Olhos nos Olhos’, que fiz para Bethânia. Quando terminei ‘Olhos nos Olhos’ eu disse: olha, esta música está a cara da Maria Bethânia.”

Realmente uma composição melodramática como “Olhos nos Olhos” (“Quando você me deixou, meu bem / me disse pra ser feliz e passar bem / quis morrer de ciúme, quase enlouqueci...”) teria mesmo que ser cantada por Maria Bethânia, tal como outras (“Sem Açúcar”, “O Meu Amor”, “Gota d’Água”) que Chico deve ter feito pensando nela, pois até versos banais—como “olhos nos olhos, quero ver o que você faz / ao sentir que sem você eu passo bem demais” — ganham especial dramaticidade em sua voz rouca.

Uma curiosidade: a canção não termina na tônica. Na tonalidade de lá maior, por exemplo, como está no livro Chico Buarque — letra e música, a melodia acaba na nota sol, sétimo grau da escala, o que dá uma sensação de que não termina. 
Fontes:
Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo – Vol. 2. Editora 34.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Carolina Ramos (Trovando) “24”

 

Aparecido Raimundo de Souza (Sacada de um passo)

 

NO “ÂMAGO” de meu coração, moram muitas e muitas histórias não contadas, menos ainda escritas ou divulgadas. Também é nele que residem, em teto cativo, os sonhos desfeitos e as esperanças renovadoras. Principalmente as renovadoras. Por conta disso, é o “âmago” do meu coração, um lugar sagrado, onde o silêncio fala mais alto que mil palavras. Cada batida amplia a sua linha de ação em socorro às minhas mazelas e necessidades mais prementes. Desta forma, cada pancada ressoa forte com ecos de memórias passadas, contudo, sem jogar longe ou sem tirar da minha beira, o foco da paz tranquilizadora que me sustenta. 

Ao lado, igualmente escondido na minha alma (num lugar que somente eu tenho acesso), as lágrimas arfam de pasmo e quando resolvem brotar, agem em comum acordo num gesto franqueador com o meu estado de espírito. Instauram, para tanto, uma variante de acesso restrita. Com isto, carregam mais sorrisos que tristezas. Cada uma que rola, rosto abaixo, leva na sua partida, como uma força mística, a doce candura de uma lição aprendida. O amor que se esvaiu pelos caminhos onde andei sempre deixam espaços para um novo querer, ou um gostar mais acautelado e maduro, mais cordato e consciente. 

Neste, tomo plena e consciente ciência de que a dor é uma espécie de núcleo embaraçoso e angustiante, quieto e consternado. Agora apenas reflete a paradoxalidade da outra face oculta da alegria, ou seja, aquele rosto que me faz bem. A saudade, mesmo assim, é o preço justo que pago pelas ocasiões que se ostentam inesquecíveis. Aprendi mais, e, hoje sei, cada cicatriz me ajudou a desenhar e construir um mapa limpo e cristalino das sendas que percorri deixando de lado as tentativas de hospedar a atenção das fraturas que me faziam um grande mal. Sobrevivi às intempéries. 

Por conseguinte, cada escolha feita me trouxe até aqui. Cheguei são e salvo, sem os pesadelos dos fantasmas que insistiam em me deixar às raias das desgraças anunciadas. Bem ou mal, todo o quadro lúgubre pelo qual passei, mostrou-me uma nova perspectiva de recomeço. O avesso do meu coração é hoje um mosaico de tudo o que vivi, ou melhor, de tudo o que passei, tipo tal e qual um pedaço de tecido feito de pequenos e insignificantes retalhos que redundaram em uma explosão de experiências construídas e costuradas com as linhas rígidas e fiéis da melhor forma de austeridade e superação. 

Na verdade, me vanglorio, neste momento, de uma progressão que não mais se curva, nem se dobra, que não se descamba, nem se deixa ser levada pelas intempéries mais furiosas e turbulentas.  Portanto, é dentro dele, o “âmago,” ou o “núcleo-essência” do meu coração, que guardo, à sete chaves, os segredos e enigmas, as confidências e os  dogmas mais fâmulos (domésticos e serviçais) ... enfim, as confissões pinceladas a gênio que só a mim pertencem. Embora muitas pessoas ao meu redor vejam apenas a superfície polida que mostro ao mundo, é no reverso dos meus “setenta e um anos,” que bato na tecla que verdadeiramente me conhece de cabo à rabo. 

Sob mesma visão, é onde aceito, de apreço satisfatório, as minhas carências e malogros, as descaídas (erros) e imperfeições, as rupturas e falhas. Ao final de tudo, eu celebro, com a cabeça erguida, o melhor e o mais magnificente da minha humildade. Não só ela. Com a mesma energia, me vejo e me aclamo, me ovaciono por ser inteiro e completo, principalmente quando sinto no corpo transbordando, as marcas indeléveis como patadas de um testrálio (raça de cavalo com corpo esquelético) regozijante –, a glória efêmera de identificar e sopesar os estiolamentos e as frouxidões, as covardias e os desfalecimentos advindos das próprias astenias (debilidades) que, por muitas vezes, tentaram me colocar às rés do chão. 

No profundo intocável do meu “eu”, encontrei a liberdade de ser quem sou. E quem realmente sou? Um sujeito sem máscaras ou disfarces. Aliás, do mesmo modo, me considero intemerato e sacrossanto, vez que renovo as minhas forças, exatamente onde o amor incondicional floresce e a vida ganha novos significados. Em resumo, é no outro lado da moeda que a vida (a minha vida) se revela em toda a sua complexidade estardalhante. E é nela, sem sombra de dúvidas, que descubro a beleza ímpar escondida nas dobras da existência na qual me contempla. 

No recôndito do meu coração, bem lá no fundo, existe um jardim florido, que dá para uma sacada suspensa. E bem alta. Nesse jardim, todos os dias, em flavas (amareladas ou douradas) manhãs e, num passo apenas, “eu sou eu mesmo.” Por inteiro e sem partes faltantes em minha forma mais pura e verdadeira, procuro estorcegar (torcer com força) os meus ridículos. E consigo. Espero, pois, que as minhas palavras explodam em todos os meus amigos leitores e leitoras que me leem. Ao expor esse meu texto, que ele ofereça a “todos e todas” a reflexão clara e perfeita sobre a beleza e a complexidade vinda do mais poderoso infinito: O Deus-Pai-Supremo. 
Fonte: Texto enviado pelo autor 

Contos e Lendas do Paraná (O fantasma do Coronel)

por Josué Corrêa Fernandes (Ponta Grossa)

Chopinzinho, no Sudoeste do Paraná, é uma cidade aprazível, onde gaúchos e catarinenses se misturaram ao elemento nativo, dando origem a uma comunidade trabalhadora e ordeira. Essa localidade já existia desde o século passado, quando ali foi estabelecida a Colônia Militar do Chopim, por ordem de D. Pedro II e com o objetivo de preservar as fronteiras nacionais da cobiça de argentinos e paraguaios.

Documentos e a própria tradição oral comprovam que, no mesmo local onde hoje se desenvolve a cidade foi erigida a sede da Colônia, sob o comando do coronel San Thiago Dantas, ancestrais de brasileiros ilustres, como o Primeiro Ministro parlamentarista do governo Goulart. O Salto Santiago, aliás, onde se construiu a grande hidrelétrica, também foi batizado em homenagem àquele intrépido desbravador.

Foi em Chopinzinho que iniciei, de fato, a minha carreira de juiz de direito. A casa, onde passei a residir, primeiro com minha família, ficava bem próxima ao Fórum, num morro de difícil acesso onde já se erguiam outras residências em meio à mata um tanto densa.

Por esses tempos, falava-se que tal lugar serviu de cemitério aos soldados da Colônia e que,  por isso, desrespeitada a finalidade de campo santo, eram frequentes as aparições de almas penadas, exigindo a desocupação da área... Filho de pai galego, nunca dei crédito a tais estórias, muito embora, no fundo, não esquecesse de velha advertência ibérica: "no creo em brujas, pero que las hay, hay"...

Meses depois que ali aportei, numa madrugada de verão forte, fui acordado pelo chamado insistente da empregada que, pálida e tremendo, dizia haver avistado uma "visagem de soldado" na orla do pequeno bosque dos fundos. Vim até à janela e, auxiliado pela claridade da lua cheia, nada vi, mas a moça insistiu:

- Ele tava parado bem lá, perto do pinheiro; era grande, barbudo e tinha espada. Quando fiz barulho, ele andou no meio das árvores e sumiu!

Peguei, então, uma lanterna e o revólver e me dirigi até o ponto indicado. Iluminei para lá e para cá, nada enxergando. Não muito convicto de me aprofundar na procura, adentrei poucos passos na mata, logo tropeçando em alguma coisa. Focalizei a lanterna, abaixei-me e vi que se tratava de um pedaço de laje com palavras escritas. Juntando vagarosamente as letras e suprindo as que faltavam, consegui ler: 

"... restos mortais do capitão-bacharel Francisco Clementino de San Thiago Dantas, Orae por elle".

Sufocante que estava o calor, de súbito senti-me enregelado e invadido por peculiar calafrio que me cruzou o corpo de norte a sul, ouriçando-me todos os pelos imagináveis. Disciplinado infante do CPOR, procurei não voltar em marcha acelerada, mas normalmente, para o interior da casa, afirmando que nada encontrara. Debaixo das grossas cobertas não consegui acalmar o inusitado frio, mas desarquivei dos fundos do meu inconsciente a oração pelas almas do purgatório, tantas vezes repetida na minha antiga função de coroinha. E ansioso, com os olhos estatelados, aguardei o alvorecer.
Fonte: 300 Histórias do Paraná: coletânea. Curitiba: Artes e Textos, 2004.

Recordando Velhas Canções (Hotel das estrelas)


(1970)

Compositor: Jards Macalé e Duda Machado

Dessa janela sozinha
Olhar a cidade me acalma
Estrela vulgar a vagar
Rio e também posso chorar
E também posso chorar

Mas tenho os olhos tranquilos
De quem sabe seu preço
Essa medalha de prata
Foi presente de uma amiga
Foi presente de uma amiga

Mas isso faz muito tempo
Sobre o pátio abandonado
Mas isso faz muito tempo
Em doze quartos fechados
Mas isso faz muito tempo
Profetas nos corredores
Mas isso faz muito tempo
Mortos embaixo da escada
Mas isso faz muito tempo
Oh ye, mas isso faz muito tempo

Mas isso faz muito tempo
No fundo do peito, esse fruto
Apodrecendo a cada dentada
Oooh
No fundo do peito, esse fruto
Apodrecendo a cada dentada

Mas isso faz muito tempo
Sobre o pátio abandonado
Mas isso faz muito tempo
Em doze quartos fechados
Mas isso faz muito tempo
Profetas nos corredores
Mas isso faz muito tempo
Mortos embaixo da escada
Mas isso faz muito tempo
Oh ye, mas isso faz muito tempo

Dessa janela sozinha
Olhar a cidade me acalma
Estrela vulgar a vagar
Rio e também posso chorar
E também posso chorar

A Solidão e a Contemplação em 'Hotel Das Estrelas' de Jards Macalé
A música 'Hotel Das Estrelas' é uma obra que explora a solidão e a contemplação da vida urbana. A letra começa com a imagem de uma janela solitária, sugerindo um ponto de observação isolado do mundo exterior. A janela, um símbolo de separação e ao mesmo tempo de conexão, permite ao eu lírico observar a cidade e encontrar uma forma de calma nesse ato de contemplação. A solidão aqui não é necessariamente negativa; ela é um espaço de reflexão e de encontro consigo mesmo.

A menção à 'estrela vulgar a vagar' traz uma metáfora rica. As estrelas, geralmente associadas a algo sublime e distante, são aqui descritas como vulgares, talvez para refletir a banalidade e a repetição da vida cotidiana. A estrela que vaga sem rumo pode ser uma representação do próprio eu lírico, que se sente perdido ou sem direção, mas que ainda assim encontra beleza e significado na sua observação do mundo.

Por fim, a linha 'Rio e também posso chorar' sugere uma dualidade emocional. O riso e o choro são expressões de sentimentos profundos e contrastantes, indicando que a contemplação da cidade e da vida pode trazer tanto alegria quanto tristeza. Jards Macalé, conhecido por seu estilo musical que mistura elementos de MPB, rock e experimentalismo, utiliza essa letra curta e poética para capturar a complexidade das emoções humanas e a experiência de viver em uma grande cidade.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Therezinha Dieguez Brisolla (Trov’ Humor) 38

 

Francisca Júlia (O sino que anda)

(Imitação de Goethe)

Era um dia uma criança tão inquieta e travessa, tão amiga dos brinquedos e da ociosidade, que não tinha paciência de estar por muito tempo ajoelhada na igreja, aspirando o perfume do incenso, sob a luz dos altares.

Quando chegava o domingo, à hora de ir fazer suas orações, achava sempre um pretexto para correr até ao campo, à procura das borboletas e de ovos de passarinhos.

Disse-lhe a mãe um dia:

— O sino chama-te, meu filho, o sino toca, o sino fala-te, o sino prescreve-te os deveres da religião e obriga-te a assistir às missas, e se continuares a fugir para o campo, um dia o sino há de descer da altura em que está e correr atrás de ti.

Mas a criança pensou:

"O sino está tão alto, badalando lá em cima, preso nas paredes da torre!..."

E seguiu adiante, correndo pelos atalhos e devesas (matos), ávido de ar e de liberdade.

Mas que medo, meu Deus! Que terror lhe arrepia os cabelos e lhe empalidece o rosto. Numa curva do caminho o sino aparece, andando como se tivesse pernas, a ralhar como se tivesse boca. A pobre criança, desesperada, corre de um lado para outro, tropeçando nas pedras, rasgando-se nos espinhos.

E o sino cai. O pobrezinho corre, corre sempre, toma a direção da igreja e entra, mal acordado do susto. 

Desde esse dia, quando chega o domingo, ou algum dia de festa, ele é o primeiro a ir à igreja, obedecendo ao primeiro toque do sino, sem ser preciso que ninguém o convide.

Fonte> Francisca Júlia. Livro da infância. 1899. Disponível em Domínio Público

Recordando Velhas Canções (Dama das Camélias)


(
Marcha, 1940)

Compositor: João de Barro e Alcir Pires Vermelho

A sorrir você me apareceu
E as flores que você me deu
Guardei no cofre da recordação
Porém, depois você partiu
Pra muito longe
Me deixou
E a saudade que ficou
Ficou pra magoar meu coração
A minha vida se resume
Oh, Dama das Camélias
Em duas flores sem perfume
Oh, Dama das Camélias
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

A Melancolia e a Saudade em 'Dama das Camélias'
A música 'Dama das Camélias' é uma obra que explora a melancolia e a saudade através de uma narrativa poética e emocional. A letra começa com a imagem de um encontro feliz, onde a figura amada aparece sorrindo e oferecendo flores. Essas flores são guardadas no 'cofre da recordação', simbolizando memórias preciosas e momentos de felicidade que o eu lírico deseja preservar.

No entanto, a alegria inicial é rapidamente substituída pela dor da separação. A pessoa amada parte para longe, deixando o eu lírico com uma saudade profunda que 'ficou pra magoar meu coração'. Essa transição de sentimentos reflete a dualidade da vida, onde momentos de felicidade podem ser seguidos por períodos de tristeza e solidão. A saudade aqui é quase palpável, uma presença constante que causa dor e sofrimento.

O título 'Dama das Camélias' faz referência à famosa obra literária de Alexandre Dumas Filho, que também trata de amor e perda. Na música, a 'Dama das Camélias' é uma figura que encapsula a beleza efêmera e a tristeza de um amor que não pode ser. A vida do eu lírico se resume a 'duas flores sem perfume', uma metáfora para a ausência de alegria e a presença de lembranças que, embora belas, não trazem mais felicidade.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 55

 

Messias da Rocha (Trovas em preto e branco)


 1
A arte se torna plena,
quando o ator, um menestrel,
coloca a verdade em cena
e encena o próprio papel.
2
A imensidão é por certo,
uma questão de lugar:
descobri que era um deserto
o que pensei que era um mar...
3
Cedo demais minha cãs
brotam em brumas de outono:
são as mudas temporãs
das sementes do abandono.
4
No buteco do Zé Galo
tanto a sujeira se agrupa,
que servem bife à cavalo,
com mosquito na garupa!
5
O meu Deus sempre despreza
quem na hora consagrada,
pede tudo enquanto reza,
mas não precisa de nada!
6
Para fugir do cansaço,
ensinou-me um velho monge,
que uma pausa a cada passo,
sempre nos leva mais longe!
7
Quando a paixão foge à norma,
a razão com maestria
rege a orquestra que transforma
nosso amor em sinfonia.
8
Quando tu cobres teu rosto
com este véu de tristeza,
vivo a impressão de um sol posto
numa tarde sem beleza.
9
Se a saudade me consome
e alimenta a minha dor,
lembrando apenas teu nome
eu mato a fome de amor!
10
Sempre o povo impõe seu veto,
quando a cegueira de um rei
cria trevas por decreto
e apaga as luzes da lei!
11
Seremos grandes e plenos,
se a equidade for premissa
e dermos, mesmo aos pequenos,
um pleno acesso à justiça.
12
Vejo a varanda sem rede...
Silêncio no casarão
e os retratos na parede
parecem vivos... não são...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

AS TROVAS DE MESSIAS DA ROCHA EM PRETO E BRANCO
por José Feldman

As trovas de Messias da Rocha são uma bela expressão poética, capturando temas como a busca pela verdade, a efemeridade da vida, e a condição humana.

AS TROVAS UMA A UMA

1. A arte se torna plena...
A primeira trova aborda a relação entre arte e autenticidade. O ator, como menestrel, não apenas representa personagens, mas também expressa verdades pessoais. Isso sugere que a arte pode ser um reflexo da vida interior, onde a sinceridade é fundamental.

2. A imensidão é por certo...
Aqui, a imagem do deserto versus o mar simboliza a desilusão. O "deserto" representa solidão e aridez emocional, enquanto o "mar" poderia ser visto como esperança e abundância. A revelação da realidade muitas vezes é dolorosa, mostrando que nossas percepções podem estar repletas de ilusões.

3. Cedo demais minha cãs...
Essa trova reflete a inevitabilidade do envelhecimento e a perda de sonhos. As "brumas de outono" evocam a passagem do tempo, enquanto as "sementes do abandono" sugerem que as esperanças não realizadas podem germinar em tristeza. O uso de metáforas naturais reforça a conexão entre vida, crescimento e perda.

4. No buteco do Zé Galo...
Com uma abordagem humorística, essa trova critica a realidade social e as condições de vida. O "bife à cavalo" com "mosquito na garupa" representa a combinação de pobreza e descaso. O ambiente do buteco, sujo e caótico, também reflete a desumanização em contextos cotidianos.

5. O meu Deus sempre despreza...
Aqui, a relação entre fé e intenção é explorada. A crítica se dirige àqueles que pedem tudo sem reconhecer suas próprias carências. Esta trova sugere que a verdadeira espiritualidade envolve humildade e autoconhecimento.

6. Para fugir do cansaço...
A sabedoria do velho monge ensina sobre a importância da pausa. A ideia de que "uma pausa a cada passo" pode levar mais longe sugere que o descanso e a reflexão são essenciais para a jornada da vida. Esse ensinamento é uma crítica à pressa da sociedade contemporânea.

7. Quando a paixão foge à norma...
Essa trova aborda a complexidade do amor, onde a paixão desafia a lógica. A "orquestra que transforma" sugere que o amor, quando autêntico, cria uma harmonia única, capaz de transcender a razão. É uma celebração da intensidade emocional.

8. Quando tu cobres teu rosto...
A imagem do "véu de tristeza" evoca a vulnerabilidade emocional. O contraste entre o "sol posto" e a "tarde sem beleza" sugere uma luta interna entre esperança e desespero. Essa dualidade reflete a experiência humana de encontrar beleza mesmo em momentos difíceis.

9. Se a saudade me consome...
Essa trova explora a saudade como uma forma de sustento emocional. O ato de lembrar o nome do amado é uma forma de alimentar o desejo, mesmo na ausência. Essa relação entre dor e amor destaca a profundidade dos sentimentos humanos.

10. Sempre o povo impõe seu veto...
A décima destaca a resistência do povo frente à tirania. A "cegueira de um rei" simboliza a desconexão entre o poder e a realidade social. A escuridão criada pela opressão contrasta com a luz da justiça, enfatizando a importância da voz coletiva.

11. Seremos grandes e plenos...
Aqui, a busca pela equidade é central. A ideia de justiça acessível a todos, especialmente aos menos favorecidos, aponta para uma sociedade mais justa e inclusiva. Essa trova sugere que a grandeza de uma nação está em sua capacidade de tratar todos com dignidade.

12. Vejo a varanda sem rede...
A última trova evoca uma sensação de nostalgia e solidão. A "varanda sem rede" sugere um espaço de descanso que se tornou vazio. Os "retratos na parede" representam memórias que, embora presentes, são incapazes de trazer vida à solidão. Esta imagem finaliza com um tom melancólico, refletindo sobre o passado e a perda.

AS TEMÁTICAS DAS TROVAS DE MESSIAS DA ROCHA

1. A Arte e a Verdade
A busca pela verdade em suas trovas não é uma verdade universal, mas uma experiência subjetiva. Cada ator, cada artista, traz suas vivências e emoções para o palco da vida. Isso se reflete na forma como Messias aborda suas próprias experiências, usando metáforas que tocam em questões existenciais e sociais.

A relação entre arte e verdade também implica uma crítica à ilusão. Quando ele menciona a imensidão de um deserto que se pensava ser um mar, é uma metáfora poderosa para a desilusão. A arte, então, pode ser vista como uma forma de desvelar essas ilusões, ajudando o espectador a confrontar suas próprias percepções e a realidade ao seu redor.

A verdade na arte de Messias não é apenas intelectual, mas emocional. Ele busca provocar sentimentos profundos, levando o leitor ou ouvinte a uma jornada introspectiva. Ao fazer isso, a arte se torna um espelho que reflete não apenas a realidade externa, mas também a interna.

Este tema ressoa com Fernando Pessoa, que em sua obra muitas vezes examina a multiplicidade do eu e a busca pela verdade interior. Ambos os poetas valorizam a sinceridade na expressão artística.

2. Desilusão e Percepção do Mundo
A desilusão é tratada como uma experiência universal. Captura a essência da frustração humana ao perceber que as esperanças e sonhos podem ser ilusórios. Essa temática ressoa com a experiência de muitos, criando uma conexão emocional com o leitor.

A imagem do deserto em Messias dialoga com Cecília Meireles, que em "Romanceiro da Inconfidência" reflete sobre a solidão e a busca por significados em um mundo muitas vezes árido. A desilusão é um tema comum, onde a realidade se revela diferente das expectativas.

3. Passagem do Tempo e Nostalgia
A solidão é frequentemente explorada nas trovas, refletindo um sentimento de perda e saudade. A nostalgia por momentos passados e a busca por conexões significativas permeiam sua obra, revelando a fragilidade das relações humanas.

O envelhecimento e a saudade nas trovas lembram Carlos Drummond de Andrade, especialmente em poemas como "No Meio do Caminho", onde a passagem do tempo é inevitável. Ambos os poetas exploram a fragilidade da vida e a nostalgia como parte da experiência humana.

4. Cotidiano e Realidade Social
O trovador não hesita em criticar as injustiças sociais e a opressão. Suas trovas abordam a luta do povo e a resistência contra a tirania, destacando a importância da voz coletiva e da busca por equidade e justiça.

No buteco do Zé Galo, a crítica social de Messias se alinha com a obra de Adélia Prado, que frequentemente retrata a vida cotidiana e suas contradições. A ironia e o humor são usados para evidenciar as realidades duras da vida.

5. Espiritualidade e Humildade
A relação entre fé e intenção em Messias ecoa os escritos de Hilda Hilst, que explora a busca pela transcendência e pela verdade espiritual em sua poesia. Ambos questionam as convenções em busca de uma conexão mais profunda.

6. Amor e Passagem do Tempo
A inevitabilidade do envelhecimento e a passagem do tempo são temas que permeiam suas obras. Messias reflete sobre como o tempo molda nossas experiências e expectativas, levando à contemplação sobre a vida e suas transições.

A transformação do amor em sinfonia em Messias se relaciona com Vinícius de Moraes, especialmente em seus poemas sobre o amor, onde a paixão é exaltada e a música da vida é uma constante. A intensidade emocional é um tema comum.

7. Resistência e Justiça
A luta do povo contra a tirania nas trovas de Messias é um eco das obras de Castro Alves, que em suas poesias abolia a escravidão e clamava por justiça. A voz do povo e a luta por equidade são traços que conectam os dois poetas.

8. Memória e Solidão
A saudade e a solidão na última trova se conectam com a obra de Mário Quintana, que muitas vezes aborda a passagem do tempo e a melancolia. A memória é um tema recorrente, onde as lembranças se tornam simultaneamente fonte de dor e beleza.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

As trovas de Messias da Rocha oferecem um tapete de temas que exploram a condição humana, a busca pela verdade, e a complexidade das emoções. Através de metáforas e imagens vívidas, o poeta convida à reflexão sobre a vida, o amor, a justiça e a passagem do tempo, fazendo com que as experiências individuais ressoem de maneira universal.

A relação entre arte e verdade nas trovas é complexa e multifacetada. Através da autenticidade, da crítica social e da busca pessoal, o poeta cria um espaço onde a arte se torna um meio poderoso de explorar e revelar verdades sobre a vida, a sociedade e a condição humana.

A busca por sentido e a reflexão sobre a espiritualidade são evidentes. Messias questiona convenções e busca uma conexão mais profunda com o divino, explorando a relação entre fé, dúvida e autoconhecimento.

A vida cotidiana é um cenário frequente nas trovas, onde Messias captura a beleza e a dureza do simples viver. Ele utiliza imagens do cotidiano para refletir sobre questões mais amplas, mostrando como as experiências comuns podem ser profundamente significativas.

Através de uma linguagem acessível e de metáforas poderosas, Messias transforma suas vivências e observações em um diálogo contínuo com o mundo. Suas trovas revelam a fragilidade da esperança diante da realidade, mostrando como as ilusões podem ser tanto um refúgio quanto uma fonte de dor. Essa dualidade é central em sua obra e ressoa na experiência humana, onde a busca por verdades autênticas é frequentemente marcada por desenganos.

Além disso, a crítica social presente em suas trovas não se limita a uma mera descrição das injustiças; ela é um chamado à ação, uma incitação à consciência coletiva. Messias se posiciona como um cronista da vida cotidiana, utilizando seu talento para dar voz aos marginalizados e para questionar as estruturas de poder. Essa abordagem confere às suas trovas uma relevância atemporal, instigando o leitor a refletir sobre seu próprio papel na sociedade.

A espiritualidade, entrelaçada nas suas reflexões, sugere uma busca por conexão e transcendência, evidenciando a luta interna entre fé e dúvida. Essa tensão permeia suas obras, criando um espaço onde a arte se torna um veículo de autodescoberta e de compreensão do mundo.

Em suma, as trovas de Messias da Rocha são um convite à introspecção e à empatia. Elas nos lembram da complexidade da vida, da beleza nas pequenas coisas e da necessidade de confrontar as verdades que muitas vezes evitamos. Ao explorar a intersecção entre o pessoal e o social, o poético e o político, Messias nos oferece uma visão profunda e multifacetada da experiência humana, fazendo de sua obra um legado duradouro na literatura brasileira.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco.vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Antônio Juraci Siqueira (O parto do poema)

Acordou com um verso atravessado na garganta. Uma frase sonhada ou ditada por alguém durante o sono. Saltou da cama à cata de papel e caneta ou qualquer coisa que servisse para prender o intruso. 

Papel à mão, não encontrou caneta nem lápis nem nada parecido. E o verso ali, incomodando, fazendo cócegas, pedindo luz. 

Correu para o computador e abriu uma página. Nada mais assustador que uma página em branco quando não se sabe direito o que escrever. Mas ele sabia, ele tinha um verso. E não era um verso qualquer, era um decassílabo. Daria um soneto, um poema épico ou mesmo uma composição em versos livres, jamais uma trova. 

Resolveu jogar na tela a frase nua e crua como quem joga um anzol na água à espera do peixe que virá ou não. Ou de quem aventura-se por um caminho que não sabe aonde vai dar. O verso, agora digitado, estava ali a espreitá-lo, desafiador, pedindo outro: “Esta casa que habito não é minha...” Que diabo de casa era essa se a que morava era sua, sim senhor, comprada em suadas prestações. Seria uma metáfora sugerindo o mundo, o corpo, a palavra? Como é que um verso chega assim, de repente, sem pedir licença, sem dizer a que veio? 

Já ia deletar o desaforado quando é literalmente atropelado por outro que afirmava: “tampouco os versos que te dou, são meus”. Coisa mais besta, pensou. Como não são meus se eu é que os concebo. Se não são meus, são de quem? 

A resposta não se fez por rogada e veio num jorro, clara e definitiva fechando um quarteto: “São como a chuva, o mar, a erva daninha: / frutos do mundo, dádivas de Deus.” Pronto! Estava fechado o primeiro quarteto! Possesso de poesia, partiu para o segundo e em seguida para os tercetos, trazendo à luz, guiado por força estranha, mais um soneto.

Samuel da Costa (As minhas páginas em branco)

Eu não tenho escrito nada de interessante ultimamente. Nada tem acontecido de uns tempos para cá. As páginas em branco se sucedem em um ritmo diário impressionante, uma atrás da outra e dia após dia. Eu chego até a não me reconhecer mais, uma tragédia, íntima e pessoal, um fato lamentável! 

Nem mesmo as pequenas tragédias do cotidiano, já não me inspiram mais. E meu jardim outrora florido, agora não passa de um deserto árido e sem vida. No céu as nuvens brancas, as estrelas, os astros e a lua parecem umas com as outras. As pessoas parecem umas com as outras. Já não reconheço mais minha pena, outrora cheia de mágoas, ressentimentos e iras. 

A minha verve, agora parece conformada com as coisas, burocratizou-se e já não sonha mais com os impossíveis da vida. Já não tem aquela velha sanha avassaladora de quem vai mudar o mundo para melhor. Minha pena preferiu esconder-se no cotidiano e o meu íntimo diz: ‘’— Hoje vou escrever qualquer coisa, porque qualquer coisa está verve, qualquer coisa está bom!’’

Como se vida não fosse um desenrolar de fatos novos. Fatos curiosos a serem vistos em ângulos diferentes, de várias formas. E em cada letra, a cada palavra uma descoberta, uma releitura da realidade. De como cada um vê e vive a vida à sua maneira, mas hoje as coisas estão assim mortas. Um arremedo de fatos novos que cheiram ao passado. Em suma muda-se o título, recompõe-se o texto e nada, nada acontece. Mas o que importa mesmo? Mesmo porque eu não tenho o ofício de escrever. Muito menos tenho o hábito de escrever bons textos!

(Fragmento do livro “Uma flor chamada margarida”, de Samuel da Costa)

Fonte: Texto enviado pelo autor. 

O nosso português de cada dia (Expressões) = 7

(SER UMA) DIVA
Mulher importante, de muito talento no teatro, no cinema ou na ópera.

O termo vem do latim diva, que popularizando-se no italiano diva, que significa deusa. Daí quando dizemos que uma mulher, em alguma área, é uma diva, é como se disséssemos que é uma deusa naquilo que faz.

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS
Tratamento diferenciado entre pessoas quando a situação exigia o mesmo tratamento.

As balanças antigas eram formadas por duas bacias presas por correntes às pontas de uma travessa de metal ou madeira. Numa das bacias eram colocados os produtos para comercialização e, na outra, pesos de metal. Quando atingissem o equilíbrio, marcado pelo fiel (agulha de metal que indicava o meio da travessa), sabia-se o peso do produto a ser adquirido. No entanto, muitos comerciantes desonestos usavam um peso e uma medida para a hora da aquisição da mercadoria e outro para a hora da venda. Lucravam, portanto, com a
venda e com a desonestidade.

DORMIR NO PONTO
No sentido de perder uma oportunidade. 

A expressão tem origem óbvia. Trabalhadores que levantam muito cedo para tomar ônibus ou bonde para o trabalho são acostumados a dormir durante o trajeto, mas também antes do veículo chegar. Quando isto ocorre, a condução passa e a pessoa a perde. Diz-se aí que perdeu a oportunidade porque dormiu no ponto. 

DOSE PRA LEÃO
Dose grande, difícil de suportar para um homem comum.

A origem também é óbvia: é preciso grande dose de remédio para se tratar um animal tão forte e grande como o leão. A expressão também admite a variação dose para elefante.

DOS MALES O MENOR
Expressão usada para designar que é preciso desejar o menos ruim, em meio a situações muito difíceis,

Sua origem remonta ao fabulista romano Fedro, 15 a. C. - 50 d. C. É a tradução quase literal do latim mínima demais, ou seja, dos males os menores.

DOURAR A PÍLULA
Disfarçar uma situação, dar uma cara boa para uma coisa ruim, ser eufemista.

O termo tem uma origem óbvia. É muita claro que as pessoas, sobretudo as crianças, não gostam de tomar remédios pelo gosto amargo que eles geralmente têm. Começou com os antigos boticários, e se estende até hoje, o costume de dar às pílulas uma aparência bonita para disfarçar seu conteúdo e gosto. A princípio, elas eram embrulhadas em papel brilhante e hoje recebem uma camada de corante.

(REALIZAR) DOZE TRABALHOS
Cumprir tarefas muito exaustivas, que demandam tempo, força e dedicação.

Sua origem é mitológica e está ligada aos trabalhos realizados por Hércules. Os doze trabalhos por ele realizados, sob o comando da deusa Hera e ordem direta de Euristeu, foram:

1. matar o Leão de Neméia: um monstro da cidade de Neméia que devorava pessoas e animais. O herói matou-o asfixiado e fez roupa de sua pele;

2. vencer a Hidra de Lerna: uma cobra de várias cabeças que matava pessoas e devastava plantações. Hércules a matou cortando suas cabeças e queimando os pescoços. A última cabeça foi enterrada e a cobra envenenada com seu próprio sangue;

3. prender o Javali de Erimanto: um animal muito grande que foi vencido pelo cansaço e levado nos ombros pelo caçador;

4. capturar a Corça de Cerineia: um animal forte, grande e muito veloz que possuía chifres dourados. Hércules cansou-a, feriu-a com uma flecha e só aí pôde aprisioná-la;

5. exterminar os Pássaros do Lago Estínfalo: bando de pássaros que exterminavam colheitas na Arcádia e se escondiam em florestas densas. O herói assustou os animais que saíram de seu refúgio e os abateu a flechadas;

6. limpar os estábulos do rei Augias: ali se concentrava um grande rebanho de cavalos e todo o esterco necessário às terras do planeta, Hércules tinha a quase impossível missão de limpar o lugar e ele conseguiu realizar a missão desviando os cursos de dois rios, o Alteu e o Pneu;

7. prender o Touro de Creta: animal furioso que tinha vindo do mar e que, num primeiro momento, contava com a proteção do rei Minos, mas foi cansado e capturado por ele. Mais tarde, o animal foi morto porTeseu com a ajuda de Ariadne;

8. acalmar as Éguas de Diomedes: quatro éguas carnívoras que devoravam pessoas, foram acalmadas quando Hércules lhes deu o próprio dono, Diomedes, para que comessem;

9. conquistar o Cinto da Rainha Hipólita: o objeto era o símbolo do poder da rainha sobre seu povo, as Amazonas. Hércules havia convencido a rainha Hipólita a ceder-lhe amistosamente o cinto, quando a deusa Hera, disfarçada, incitou as amazonas à luta. Na batalha que se seguiu, as Amazonas foram derrotadas, e Hércules conseguiu o cinto. Segundo algumas versões, a rainha Hipólita morreu durante a luta, atingida pelo próprio Hércules;

10. capturar os Bois de Gérion: Gérion era um gigante de três cabeças e corpo triplo, filho de Crisaor e da oceânide Calirroe, possuidor de enormes rebanhos de bois "vermelhos", um grupo de animais preciosos que viviam na ilha de Eriteia. Hércules enfrentou primeiramente Ortros e Eurítion, e liquidou-os sem maiores dificuldades. Atacado a seguir pelo próprio Gérion, primeiro derrubou-o com suas flechas, e a seguir matou-o sem dificuldade, a golpes de clava. Em Micenas,  Héracles entregou os bois que restaram a Euristeus, e o rei sacriflcou-os a Hera;

11. aprisionar o Cão Cérbero (animal que guardava a porta do inferno) e que o herói teve de capturar sem o uso de suas armas, apenas com suas mãos;

12, colher as Maçãs de Ouro das Hespérides: frutos proibidos de serem apanhados e que estavam sob a guarda de um dragão de cem cabeças, as frutas seriam dadas de presente no dia do casamento de Hera e Zeus, Hércules fez o animal adormecer e o matou. Conseguiu esta façanha com a ajuda dos deus Atlas.

(MÉTODO) DRACONIANO
Atitude excessivamente rigorosa, muito dura, na qual não é levada em conta a equidade.

O termo vem de Dracon, legislador ateniense do século VII a. C, a quem foi dada a missão de transformar em leis escritas o que antes eram apenas costumes. O propósito do legislador era acabar com as interpretações pessoais de cada crime feitas pelos aristocratas. No entanto, suas leis eram severas demais e previam para quase todos os crimes a pena de morte.

DURA LEX, SED LEX
A lei é dura, mas é lei.

A expressão é muito usada por advogados e estudantes de Direito no mundo todo, pois versa sobre a necessidade que as pessoas têm de aceitar os mandos da lei, sejam eles quais forem. 

Sua origem, de acordo com a tradição, propõe que teriam sido as últimas palavras de Sócrates, 470 a. C - 399 a. C, antes de tomar a cicuta, não lamentando seu destino, apenas aceitando-o. Óbvio que a expressão foi traduzida para o latim e assim ganhou notoriedade entre os romanos e seus conquistados.

Fonte: Nailor Marques Jr. Será o Benedito?: Dicionário de origens de expressões. Maringá/PR: Liceu, 2002.

Recordando Velhas Canções (Paz do meu amor)


(1963)

Compositor: Luiz Vieira

Você é isso: 
Uma beleza imensa,
Toda recompensa 
de um amor sem fim.

Você é isso: 
Uma nuvem calma
No céu de minh'alma; 
é ternura em mim.

Você é isso: 
Estrela matutina,
Luz que descortina 
um mundo encantador.

Você é isso: 
É parto de ternura,
Lágrima que é pura, 
paz do meu amor.
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A Serenidade do Amor em 'Paz do Meu Amor'
A canção 'Paz do Meu Amor', interpretada pelo artista Luiz Vieira, é uma ode à tranquilidade e à beleza que o amor traz para a vida de uma pessoa. A letra da música descreve o ser amado como uma fonte de luz e serenidade, utilizando metáforas naturais e celestiais para expressar a profundidade dos sentimentos do eu lírico.

No primeiro verso, o amado é comparado a uma 'beleza imensa', sugerindo uma admiração que vai além do físico, alcançando a essência da pessoa. A 'nuvem calma' e a 'estrela matutina' são imagens que evocam paz e um novo começo, respectivamente. Essas metáforas reforçam a ideia de que o amor tem o poder de transformar e iluminar a vida de quem ama, trazendo um sentido de renovação e esperança.

A música também toca na pureza e na sinceridade dos sentimentos, como visto na expressão 'lágrima que é pura'. O amor é apresentado como algo que transcende o cotidiano, trazendo paz e um refúgio emocional para o eu lírico. 'Paz do Meu Amor' é, portanto, uma celebração do amor como fonte de calma e contentamento, um abrigo seguro onde o eu lírico encontra consolo e alegria.  https://www.letras.mus.br/luis-vieira/546692/