segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Asas da Poesia * 125 *


Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Um poeta não é só substantivo

Sempre alguém diz que sou poeta até no nome...
...mas um poeta não é só substantivo...
o que se inventa, normalmente um dia some
e é assim: reinventando, eu sobrevivo.

Sou só mais um igual a tantos que diluem
nas suas dores, os seus sonhos e anseios,
seres que aprendem a criar versos que fluem,
polinizando a flor dos próprios devaneios.

Não modelei esse poeta que há em mim...
nasci assim, com esse dom especial
de abençoar, na solidão do meu jardim,
cada botão de cada flor original.

Não me sentei numa cadeira e copiei
o que pregava um ilustre professor,
mas diluí em cada olhar o que criei,
quando encontrei no meu olhar, meu próprio amor.

Meus mestres são sempre o melhor que alguém me dê,
sem me cobrar... o amor requer fraternidade...
e Deus repassa, a qualquer cristão que Nele que crê,
esse poder que existe dentro da humildade.

Deus misturou, em cada cor que eu desenhei,
o arco-íris da melhor abstração;
autodidata, cada linha que tracei,
foi um pedaço do meu próprio coração.

Sou, sim, poeta sem registro em cartório,
meu repertório não carece de um carimbo;
a inspiração é muito mais que algo simplório;
se alguém me bate, é com meus versos que me vingo.

Poetas choram poesias, quando o riso
que eles têm fazem da página, o caminho,
da sua lágrima melhor, tão sem aviso,
deixando um rastro moldado pelo carinho.

Não sou poeta só no nome, o meu olhar
capta a vida que respira ao meu redor
e é só o amor reaprender o que é sonhar,
que faço o mundo parecer muito melhor.
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Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

A Poesia Contida na Pintura
ou a Pintura Vista na Poesia?

Sequelas em cores
invadem, se calam,
apenas ali, revivem.

Traços finos entre si convivem,
ofuscam meu sentir, em aroma
fresco nas manhãs onde vivem.
Em sua nobre singeleza suspiro
beleza em tela, caso subjetivem.
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Trova Popular

Há uma espécie de planta
que vinga sem ter raízes...
Assim são certos sorrisos
nos lábios dos infelizes.
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Soneto de
CLÁUDIA DIMER
Eldorado do Sul/RS

Razão

Formou-se o Universo - o largo Estudo
humano explica que um motivo existe...
O céu, a Terra, a Lua, o Sol e tudo
tem um "porquê" na criação. Ouviste?

Surgiu a vida - um bem no qual me iludo...
Surgiu a morte para eu ser mais triste!
E fez-se o Mar e o vento em som agudo...
Onde há explicação que me conquiste?

Formou-se a chuva para a plantação,
e o amor para quê? Para a ilusão
que torna o meu viver fatal tolice!...

"Para tudo há razão". Quem foi que disse?
Meu existir teria uma razão
se dentro do teu sonho eu existisse!
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Soneto Livre de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

Solidão (1)

Na sombra fria da noite, eu desapareço, 
a solidão é manto que me resta, 
caminho por caminhos que não conheço, 
e a voz do eco é tudo o que se manifesta. 

Os sonhos se desfazem em murmúrios, 
as estrelas parecem tão distantes, 
e em cada passo, parecem ser augúrios, 
reflexos de um ser que sofre os instantes. 

Mas na penumbra, há um brilho escondido, 
um canto suave que embala a dor, 
sussurros do silêncio, eu ouço unido. 

E na tristeza, um traço de amor, 
pois mesmo só, o coração é sentido, 
na solitária dança do desamor.
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Poema de
ÁLVARES DE AZEVEDO
São Paulo/SP, 1832 – 1851, Rio de Janeiro/RJ

Meu Sonho

EU
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Porque brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso....
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?

Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas.... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? — que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?

O FANTASMA
Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...
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Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Ciúme, ou concorrência

Verdadeiro tapete de begônia,
em cor bem viva e alegre, magistral,
demonstrando nenhuma parcimônia,
invadiu por completo o meu quintal!

Fez do ordeiro recinto, babilônia;
não respeitou sequer meu roseiral,
que eu cuidava com tanta cerimônia,
pelas flores de tom angelical!

Minhas rosas de grande raridade
não aguentaram tanta crueldade
que as begônias fizeram na invasão!

Por ciúme, ou talvez intransigência,
as rosas, em repúdio à concorrência,
morreram sem abrir... mesmo em botão!
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Poema de
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal (1888 - 1935)

Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.

A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.

Dorme, dorme. dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.
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Trova Funerária Cigana

Eu sou triste como o luto,
que cobre os tenros filhinhos,
que na pobreza perderam
da terna mãe os carinhos.
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Poema de 
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 - 1994) Porto Alegre/RS

Os Degraus

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...
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Soneto de
SÁ DE FREITAS
Avaré/SP

Amo-Te
  
Amo-te tanto…mais que a própria vida,
 E te desejo tanto, na certeza,
 De que me queres quanto és tão querida,
 De que me prendes n’alma o quanto és presa.
 
Amo-te mais que o amor permite amar-se;
 Amo-te além do além que o amor desperta;
 Translúcido te amo sem disfarce;
 Te amo com a loucura de um poeta.
 
Amo-te como deve amar quem ama,
 E cercado por essa imensa chama,
 Do amor que me aprisiona em fortes laços:
 
Quero que o coração, no amor, se farte;
 Quero viver para poder amar-te…
 Quando eu morrer, que eu morra nos teus braços.
= = = = = = = = =  

Hino de 
Arauá/ SE

Glória a Deus que nos deu esta terra
Tão formosa, serena e gentil
Arauá doce gleba que encerra
tradições deste amado Brasil.

Campos verdes imensos corridos
Pelas águas do antigo Arauá
Cantam lendas dos tempos já idos
Que, mais belos, alhures não há.

Salve, salve ó terra querida
Lindo berço que a virgem nos dá
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.

O primeiro dos teus habitantes
Foi a mãe de Jesus, foi Maria
Dos heróis de teus feitos dos brilhantes
Esta feita a maior galeria.

Salve, salve ó terra querida
Lindo berço que a virgem nos dá
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.

Camerino nasceu na Palmeira
E morreu pela pátria cantando
E os Correias, de fonte altaneira
Penetraram na História lutando.

Salve, salve ó terra querida
Lindo berço que a virgem nos dá
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.

Já 100 anos nos diz tua história
De trabalho de paz e de fé,
Que prossigas na trilha da glória
Sempre firme, garbosa e de pé

Salve, salve ó terra querida
Lindo berço que a virgem nos dá
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.
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Poema de 
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ (1901 - 1964)

O Sonho do Oceano

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

A perdiz e os galos

Um tinha uma perdiz e tinha uns galos;
Determinou com ela associá-los:
Desgostou a perdiz dos camaradas,
Que com ela saltaram às picadas;
Entendeu que por ser uma estrangeira
A tratavam os mais desta maneira.

Mas um dia que viu dois encrespados
Saltarem de pescoços levantados,
E em mútua guerra às cristas investirem,
E com unhas e bicos se ferirem:
«Não vai mau — diz a triste — se discorde
Esta gente entre si se arranha e morde,
Já não tenho razão para queixar-me;
Devo com suas guerras consolar-me.

Indício de incivil barbaridade
De todo o malcriado, que grosseiro,
Em vindo a seu país um estrangeiro,
O despreza e lhe mostra má vontade.
O preceito da santa caridade
Distingue o natural do forasteiro?
Ser judeu, mouro e herege o viajeiro,
Não lhe tira o que tem por irmandade.

E se esse forasteiro se contenta
De ver que os naturais são mal unidos,
Também barbaridade representa:
Todos dum mesmo pai somos nascidos;
Se o sangue nos uniu, que nos alenta,
Não sejamos por ódio divididos.
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Mensagem na Garrafa 147 = O mais difícil de viver com um cão não é o que imaginas


Joe Randolph Ackerley
(Londres/Reino Unido, 1896 – 1967)

O mais difícil de viver com um cão não é o que imaginas.

Não é sair com ele à chuva, no frio, quando estás cansado e sem forças.

Não é recusar viagens ou convites — “Estar sem ele.”

Não é o pelo em todo o lado — na cama, na comida, nas tuas roupas.

Não é limpar o chão vezes sem conta, sabendo que logo voltará a ficar sujo.

Não são as contas do veterinário, nem o medo de perder algo importante.

Não é perder a liberdade — porque agora a liberdade chama-se “nós”.

Nem é o fato de o teu coração já não te pertencer.

Tudo isso é amor. Tudo isso é vida. Tudo isso é escolha.

O mais difícil chega devagar, como a dor nas velhas cicatrizes, como o frio que entra nos ossos.

Um dia percebes: ele já não consegue.

Tenta, mas não consegue. Corre até ti, mas mais devagar.

Os olhos são os mesmos, só que neles há aquele silêncio: “Estou aqui, mas está a custar.”

Lembras-te de como ele era. E de como se tornou — totalmente teu, fiel até ao fim.

Sempre acreditou que estarias lá, que o ajudarias, que o salvarias.

E estiveste. Mas agora não o podes salvar da velhice.

O mais difícil é saber: para ti ele foi luz,
mas para ele tu foste todo o universo.

Viveu por ti, respirou por ti, amou-te incondicionalmente.

E tu não estás pronto. Não estás pronto para deixá-lo ir.

Depois vem o silêncio.

A almofada vazia. A tigela intocada.

E o teu coração — ferido.

Sais de casa — mas sem ele.

E ouves-te a murmurar no vazio: “Vamos, meu bom amigo.”

Mas se pudesses voltar atrás no tempo — escolherias de novo.

Com toda a dor, com todo o cansaço, com todo o amor.

Porque esse amor é verdadeiro.

Ter um cão na tua vida é deixar entrar o fogo,
que te aquecerá para sempre. 

Mesmo depois de se apagar.
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JOE RANDOLPH ACKERLEY (1896 - 1967) foi um escritor e editor britânico. Começou a trabalhar na BBC um ano após a sua fundação, em 1927, e foi promovido a editor literário do The Listener, o seu semanário, onde trabalhou por mais de duas décadas. Publicou muitos poetas e escritores emergentes que se tornaram influentes na Grã-Bretanha.

Laé de Souza (Idade, barriga, rugas…)


A natureza é sábia e faz as coisas ocorrerem paulatinamente, para que não se sinta ou se assuste. Mas, é fatal que, de vez em quando, a gente olhe as fotos antigas e, diante do espelho, veja que já não é como antes. Todavia, nada de abatimento. Pense que é melhor assim do que ter morrido jovem. Também não é por isso que vai se abandonar e deixar o tempo destruir a beleza. Tem pessoas acima de 50, 60... paqueráveis e agradáveis de se ter como companhia. Existem exemplos de criatividade acima dos 70. De uniões, também, após esta idade. Com 70 anos de idade, a violeira Helena Meirelles lançou um CD; diz-se que se casou com uma jovem de 16 anos e foi pai aos 85, o itabunense Ferreira; Rachel de Queiroz continuou escrevendo após os 80 anos; Maria Clara Machado, autora de "Pluft, o Fantasminha", "O Cavalinho Azul" e outros, com 74 anos, ainda ministrava aulas de teatro; Oscar Niemeyer, aos 100 anos, mantém-se na ativa e cria projetos arquitetônicos; meu amigo Souza, com mais de 80 anos, ainda escrevendo na Gazeta do Tatuapé; o mestre, poeta Luís Cotrim, com seus 89 anos, criando lindas crônicas e passeando na noite.

Não custa perder algumas horas para se cuidar. Exercício, aquele trato. Mas, também, não vamos chegar ao exagero de recusar convites para um churrasco só para manter a forma. De vez em quando, há de se permitir uma extravagância. Uma pintura, um batom e uma ajeitada no cabelo sempre dão aquele charme no visual. Mas, nada de exagero. Cada tipo no momento e lugar adequados. Pendurar um par de patins na orelha só para chamar a atenção fica meio sem graça. Lógico que tem gente que fica bem. Mas, aí é exceção. Tem gente que percebe que aquela coisa não era para aquela pessoa, ou aquela pessoa não era para aquela coisa. Sempre tem uma amiga ou amigo que dá um palpite ou responde com sinceridade se ficou bem, ou não. Mas, você tem de tomar cuidado com aquela que sempre fala que está bem, ótimo, ou, então, que está horrível.

De qualquer forma, nada de sair por aí desarrumado só porque está de mal com a vida. Ah! tem momentos em que estar simples de tudo também é charme. Outra coisa, se encontrar aquela colega de ginásio, nada de vir com “Nossa, como você está acabada.” Primeiro, porque a fulana sabe muito bem disso, não precisa ficar lembrando. Segundo, porque é antissocial. A não ser que seja você daquelas pessoas que gostam de se divertir com o sofrimento dos outros, ou que a tal seja aquela que esnobava com a sua beleza e sempre era eleita a miss da cidade e a rainha da primavera no ginásio.

Também, se cruzar com um amigo ou amiga acompanhados de um jovem, nada de vir com elogios do tipo "Seu filho, ou sua filha, é muito bonito(a)", antes de ter certeza absoluta de que não se trata de um namorado ou namorada. Esse negócio de que amor não tem idade não é papo furado, não. Acontece mesmo!
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LAÉ DE SOUZA é cronista, poeta, articulista, dramaturgo, palestrante, produtor cultural e autor de vários projetos de incentivo à leitura. Bacharel em Direito e Administração de Empresas, Laé de Souza, 55 anos, unifica sua vivência em direito, literatura e teatro (como ator, diretor e dramaturgo) para desenvolver seus textos utilizando uma narrativa envolvente, bem-humorada e crítica. Nos campos da poesia e crônica iniciou sua carreira em 1971, tendo escrito para "O Labor"(Jequié, BA), "A Cidade" (Olímpia, SP), "O Tatuapé" (São Paulo, SP), "Nossa Terra" (Itapetininga, SP); como colaborador no "Diário de Sorocaba", O "Avaré" (Avaré, SP) e o "Periscópio" (Itu, SP). Obras de sua autoria: Acontece, Acredite se Quiser!, Coisas de Homem & Coisas de Mulher, Espiando o Mundo pela Fechadura, Nos Bastidores do Cotidiano (impressão regular e em braille) e o infantil Quinho e o seu cãozinho - Um cãozinho especial. Projetos: "Encontro com o Escritor", "Ler É Bom, Experimente!", "Lendo na Escola", "Minha Escola Lê", "Viajando na Leitura", "Leitura no Parque", "Dose de Leitura", "Caravana da Leitura”, “Livro na Cesta”, "Minha Cidade Lê", "Dia do Livro" e "Leitura não tem idade". Ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil, cujo foco é o incentivo à leitura. "A importância da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano", dirigida a estudantes e "Como formar leitores", voltada para professores são alguns dos temas abordados nessas palestras. Com estilo cômico e mantendo a leveza em temas fortes, escreveu as peças "Noite de Variedades" (1972), "Casa dos Conflitos" (1974/75) e "Minha Linda Ró" (1976). Iniciou no teatro aos 17 anos, participou de festivais de teatro amador e filiou-se à Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Criou o jornal "O Casca" e grupos de teatro no Colégio Tuiuti e na Universidade Camilo Castelo Branco. 
Fontes:
Laé de Souza. Acontece… . 44a. edição. SP: Ecoarte, 2018.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

domingo, 9 de novembro de 2025

Asas da Poesia * 124 *


Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

Ao breve
soluçar
de Poseidon
o mar salpica
a praia,
varrendo
os castelos
de sonhos.
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Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Teu enredo

Abençoa o enredo da tua história,
Que possui sensacionais alegorias,
E se lembras de tuas lindas fantasias
Tu manténs as alegrias na memória.

Ouve o disco... resgata teus sentimentos
E escreve-os!... teu sorriso é um bom passista,
Que ao dançar, acaricia a própria pista
No instante dos mais doces pensamentos.

O teu coração e bom percussionista
Da emoção que te abençoa a vida inteira
E se a vida é uma batida passageira,
Tens bem mais que um coração por baterista.

Teu amor nem sempre foi bom ritmista,
Porque às vezes ele é muito passional,
Porque faz teu coração pulsar tão mal.
Que tua dor se torna bem mais intimista.

Teu enredo ainda tem muita avenida,
Tua escola tem muito que desfilar
E se esse teu coração sabe sambar,
O teu samba-enredo é tua própria vida.
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Gotas perfumadas para você

 Hoje, de manhãzinha,
Enquanto caminhava
Lembrei-me de você
E, em uma garrafa
Linda e surreal,
Do mais fino cristal
Guardei para você

O azul do céu,
Três raios de sol,
E um coração
Que a nuvem desenhou...

Guardei para você,
A liberdade do voo
E canto do bem-te-vi,
Mesclado ao som
De um antigo sino de vento...
E emocionada
Juntei da calçada
Algumas flores de Ipê,
Suaves poemas amarelos
E os guardei para você...

Daquela orquídea que tirei foto,
Acrescentei o aroma de baunilha,
Com sete gotas de ternura,
Que se mesclaram
A sensação de um beijo,
Repleto de amor intenso, e ainda
Àquela foto da joaninha, lembra?
Para você eu guardei
E depois fechei a garrafa.
Guardei para você
Um pouco do meu mundo,
Nosso mundo...

Para você eu guardei -
As gotas perfumadas
Do jasmim-dos-poetas
Da foto de hoje...
= = = = = = 

Trova Popular

A menina que eu namoro
e que me quer muito bem,
tem um sorriso que encanta         
e vinte contos também.
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Sonetilho de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926

Confusão

Alma estranha esta que abrigo,
Esta que o Acaso me deu,
Tem tantas almas consigo
Que eu nem sei bem quem sou eu.

Jamais na Vida consigo
Ter de mim o que é só meu;
Para supremo castigo,
Eu sou meu próprio Proteu.

De instante a instante, a me olhar,
Sinto, num pesar profundo,
A alma a mudar... a mudar...

Parece que estão, assim,
Todas as almas do Mundo,
Lutando dentro de mim...
= = = = = = 

Soneto de
MILTON S. SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS

Luz na escuridão

Caminhar lento, tateando pela calçada,
faz a bengala ser a luz na escuridão.
Ouvido atento: som é mensagem cifrada,
calcula o espaço em cada passo pelo chão.

A cada instante, bate forte o coração
pela incerteza que pode surgir do nada.
Algumas vezes, sente a força de uma mão
que muda o rumo da indecisa caminhada.

Olhar sem vida, noite eterna na retina,
ele usa os sonhos... e com eles ilumina
os horizontes onde busca os seus totais.

Nada reclama, porém mostra, do seu jeito,
que o mundo deve um pouquinho mais de respeito
para com todos deficientes visuais.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Bosque da poesia

Eu vou passear no bosque da poesia;
quem quiser vir comigo, tem carona...
Desejo me nutrir na boemia
do universo que cria, e jamais clona...

Lá o gorjeio das aves arrepia
a nossa pele! E a gente se emociona
ao ouvir a cigarra, em nostalgia,
soltar seu canto triste que impressiona!

E em meio do arvoredo é certo achar
flores e frutos doces como o mel
e borboletas lindas a bailar...

Quem ama planta versos em semente
e brotos de soneto, ou de um rondel,
para que o bosque viva eternamente!
= = = = = = 

Poema de
PAULO LEMINSKI
Curitiba/PR, 1944 – 1989

M. de memória

Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Tróia,
assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.
Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Os meus prazeres morreram,
quando morreu minha bela…
Dão hoje causa a meu pranto,
saudades que tenho dela.
= = = = = = 

Soneto de 
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Temporais

O néctar me seduz e, embevecido,
despejo em tuas pétalas o ardume,
deixando que no peito se avolume
a fúria de um desejo desmedido.

As gotas preciosas do perfume
volitam pelos ares e, atrevido,
atendo o desespero do bramido
enquanto a insanidade tudo assume.

A tua perfeição me subordina,
perverte meu juízo e a indisciplina
mergulha as emoções em temporais.

Tu és a eterna rosa da quimera
que torna minha vida a Primavera
repleta de sabores divinais.
= = = = = = 

Poema de 
BENEDITA AZEVEDO
Magé  / RJ

A Força da Natureza

Sou transitória e natural,
inconstante tal qual o vento
que muda a direção do barco
rasgando a vela.

Sou a chuva que vem e passa,
sou o sol ardente que se esconde
atrás da montanha para
que possas descansar.

Sou a força da natureza,
do vendaval de outono
que surge de repente
e arrasta tudo que encontra.

Mas, também sou o galho partido,
o rio que transborda
ao ser contido em barragens.

Sou o tufão, o fogo, a ventania
que passam e transformam o ambiente.

Sou a chuva que irriga e faz crescer
a relva verde das pastagens.

Sou a luz do luar que
banha os teus cabelos
com o perfume das flores.

Sou a primavera que inebria
e tonteia com suas fragrâncias.

Sou as ondas do verão quebrando
nas pedras e salpicando gotas
de frescor em teu rosto suave.

Sou o sol da manhã surgindo
após a tempestade noturna.

Sou o sereno da noite a salpicar
as pétalas da rosa vermelha
que irão a ti pela manhã.

Sou a alegria da criança ao sugar
o seio materno e saciar a sede.

Sou a direção, o rumo, o horizonte
de quem se arrisca numa empreitada
sem saber o resultado.

Sou a tua imaginação
que penetra nos recôncavos mais íntimos
e alcança as mais elevadas alturas.

Sou a música majestosa
que domina a mais indomável
de todas as criaturas.
O homem.
= = = = = = 

Soneto do
Príncipe dos Poetas Piracicabanos
LINO VITTI
Piracicaba/SP, 1920 – 2016

Tapera

Torce o caminho manso e entre pedras percorre
agarrando-se, ansioso, à encosta da colina.
sobe-se um pouco e olhar curioso descortina
a paisagem feral da tapera que morre.

Reina a desolação e a tristeza domina
tudo, restos mortais. A luz do sol socorre
piedosmente, a flux, como um bálsamo, e escorre
sobre a ferida em flor dessa bela ruína.

Tetos a desabar, muros em derrocada,
as cercas pelo chão, porteiras vacilantes,
pompeando os ervaçais na casa abandonada.

Cadáveres, e só, da rica habitação
onde floriu, feliz, o grande senhor dantes,
dos tempos memoriais da negra escravidão.
= = = = = = 

Poema de
JESSÉ NASCIMENTO
Angra dos Reis/RJ

A luz no túnel

Via uma luz
no fim do túnel.
Ainda via.
Agora procuro
a luz,
não mais a vejo.
Nem mesmo o túnel...
= = = = = = 

Poema de
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ

Fotografias

Olhando o álbum de fotografias
eu não vejo retratos, vejo dias
que já não voltam mais.
Insuspeitada máquina do tempo,
cada página de fotos é exemplo
de outros aniversários e Natais.

Vejo que algumas ficam desbotadas,
depois de muitas páginas viradas
que as fizeram perder-se na distância.
E aquilo que ontem foi tão importante,
e mereceu ficar gravado num flagrante,
hoje não tem sequer mais importância.

Este álbum é a janela que o passado
abre, para o olhar do pensamento,
nos sótãos e porões da eternidade.
E o que ficou nas fotos registrado
e vai viver outra vez nesse momento
será o que chamamos de saudade.
= = = = = = 

Hino de 
Resende/RJ

1. 
Resendenses, entoemos um hino
Que fulgure qual mundo que sois,
A esta terra, que é um berço divino
De poetas, de artistas, de heróis!

Estribilho: 
Eia, pois, fervorosos saudemos
De Resende, a Cidade gentil
Onde o berço, entre flores tivemos
Sob um céu todo azul, todo anil!

2. 
Cavam bênçãos de luz sobre o dia
Em que o seu Centenário ela faz!
Que nos enche de doce alegria,
Que ventura tão doce nos traz!

3. 
De outro século o sol majestoso
Surge agora imponente "brandão"
Deste "Vale", dourado, amoroso,
Toda nova e aromal floração!

4.  
O Itatiaia, emergindo das brumas,
Ei-lo, o século novo a saudar!
E o Paraíba o seu manto de espumas,
Vai contente e cantante a arrastar.

5. 
Que este dia, da Pátria, na história
Fulja sempre com mago esplendor!
E que viva na nossa memória,
Todo luz, todo paz, todo amor!
= = = = = = 

Poema de 
ERIGUTEMBERG MENESES
Blumenau/ SC

Rodeio da vida

O mundo é cavalo louco e cansei de ser caubói.
As faces do corpo já não passam de couro
mapeado com as cicatrizes
acumuladas nos tombos.

Cansei!
Vou apear do estribo.
Nas clareiras da vida,
aprendi a montar as mais duras montarias,
a bolear o laço, a ferrar novilhos
e galopar touros bravios,
redemoinhando ante a porteira,
mas não consigo domar meu coração.

Hoje, como um animal machucado
e abatido, quero, apenas, arrancá-lo
e entregá-lo ao verdadeiro amor
para continuar vivendo, na ilusão de dançar
entre abraços doces na arena do grande
rodeio realizado entre as estrelas,
por que parece que somente a magia é que é real.

E depois, não mais do que descansar
sobre o espelho das aguadas
de um corpo cheirando a rama fresca,
embriagado pelas auroras da eternidade.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

A tartaruga e os dois patos

Estava enfastiada a tartaruga
Da negra e estreita toca em que vivia;
Por isso um belo dia,
Apoderou-se dela
O desejo profundo
De abandonar a casa e correr mundo.

A todos bem parece a terra estranha,
E sempre foi notória a grande sanha
Que o coxo tem à casa.
A dois patos foi ela então dizer
A viagem que tinha projetado.
Solene, autorizado,
O par lhe respondeu:
«Tens aberto o caminho.
E nós te levaremos
A um sítio que sabemos;
Verás muito país e murtas gentes,
Repúblicas e reinos florescentes.

Terás muito que ver
E muito que aprender.
Ulisses muito aproveitou com isso.»
Os dois eram espertos,
E expeditos no ajuste do serviço
Que iam prestar à pobre tartaruga.

Foram logo fazer de um pau nodoso
Tirado de uma árvore,
Um engenho famoso,
A fim de transportar a viageira.
Agarra-se cada um
Valentemente a cada extremidade,
E apresentando o meio à tartaruga,
Disseram-lhe com grande autoridade:
«Ferra aqui e não largues!»

A mísera assim fez,
Sem de leve temer
O que ia suceder.
E foram pelos ares...
«Milagre!» gritam todos os que veem;
Tartaruga voar é caso estranho.
Decerto tem em si poder tamanho,
Que não cabe no mundo!»

A tartaruga enfatuada e louca,
Para responder vai a abrir a boca.
Melhor fora calada,
Pois logo num momento
Caiu arrebentada,
Aos pés do povo atento.

Vaidade, presunção, muita palavra
Reveladora de apoucado siso,
Têm a mesma origem,
Da mesma fonte brotam.
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A. A. de Assis (Saúde e amor)

Em todos os países, no frontispício do Ministério da Saúde, poderiam colocar um letreiro com aquela frase célebre do Dr. Sigmund Freud: “É necessário amar para não adoecer”.

Ódio adoece. Raiva adoece. Inveja adoece. Só o amor acalma e cura. Todo mundo sabe disso, porém poucos levam muito a sério.

As pessoas que têm formação cristã vêm ouvindo há dois mil anos o “amai-vos uns aos outros”. Todas as outras religiões, igualmente, colocam o amor como fundamento da civilização e condição sine-qua-non para a felicidade.

Freud não seguia religião nenhuma; era porém um sábio e como tal buscava na causa a razão do efeito. Para uma pessoa estar bem é preciso que esteja intrinsecamente em paz, e para que isso aconteça é preciso que esteja cheia de amor, ou seja, de bem com o mundo e consigo mesma.  

É verdade que hoje em dia ninguém tem tranquilidade completa, visto que a violência e tantos outros perigos estão presentes em toda parte. Todavia, no que depende especificamente de cada um de nós, podemos decidir se preferimos manter a cabeça fria ou viver belicosamente.                                    
A gente fica pensando nas pessoas que cultivam antigas inimizades ou fortes rivalidades e que por isso passam 24 horas por dia resmungando rancor.

Essas pessoas não conseguem dormir sem um remedinho, não conseguem comer direito, não conseguem serenidade para dar um passeio a pé, fazer compras no shopping ou na feira livre, viajar em transporte coletivo, reunir-se com amigos em lugar público. Até para namorar precisam de segurança.

Quem leva uma vida assim acaba ficando doente mesmo. Milhões de pessoas, no mundo inteiro, passam anos padecendo de depressão, angústia, ansiedade, tristeza, insônia, mal-estar, fobias, úlceras, dor de cabeça, prisão de ventre, desmaios, palpitações, impotência, inapetência, etc., etc., etc., até se convencerem de que tudo isso são apenas efeitos.

A causa é a ausência de paz interior. Ausência de paz é ausência de amor.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá-PR – 06-11-2025)
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A. A. DE ASSIS (Antonio Augusto de Assis), poeta, trovador, haicaísta, cronista, premiadíssimo em centenas de concursos nasceu em São Fidélis/RJ, em 1933. Radicou-se em Maringá/PR desde 1955. Lecionou no Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá, aposentado. Foi jornalista, diretor dos jornais Tribuna de Maringá, Folha do Norte do Paraná e das revistas Novo Paraná (NP) e Aqui. Algumas publicações: Robson (poemas); Itinerário (poemas); Coleção Cadernos de A. A. de Assis - 10 vol. (crônicas, ensaios e poemas); Poêmica (poemas); Caderno de trovas; Tábua de trovas; A. A. de Assis - vida, verso e prosa (autobiografia e textos diversos). Em e-books: Triversos travessos (poesia); Novos triversos (poesia); Microcrônicas (textos curtos); A província do Guaíra (história), etc.
Fontes:
Texto enviado pelo autor.
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