A perda de um pai é dos sentimentos mais difíceis de elaborar, no volume das contradições que a figura paterna sempre representa. O pai perdido na infância, na juventude é alguém a quem apenas começamos a perceber, delinear, compreender e entender em profundidade.
O pai é sempre aquele no qual o filho precisa colocar o que de ruim e de bom vai descobrindo no ser humano. A grandeza de um pai se mede pela capacidade de suportar todas essas fases pelas quais o filho passa na busca de modelos. Tanto a fase na qual o considera o maior do mundo, como naquela em que o tem como falho, errado, símbolo de tudo aquilo o que imagina não ser ou querer. Por isso a morte dele, sobretudo se repentina, priva o filho da continuação dessa intensa pesquisa preliminar de viver. Com a morte, a visão que tem do pai torna-se madura e acabada em questão de segundos. A morte, paradoxalmente às suas perdas, tem o condão de instantaneamente transformar a figura do pai na imagem que só o tempo se encarregaria de compor.
No exílio, em 1964, tornei-me íntimo amigo de um líder comunista bem mais velho que eu, Roberto Morena. Ele foi uma pessoa importante na minha vida e formação, mesmo não sendo eu comunista. Chegou a morar em minha casa no Chile. Inteligentíssimo, operoso, tinha lutado como voluntário na Guerra Civil Espanhola e, já naquele tempo, defendia idéias que, anos depois, Gorbatchev tornaria atos concretos com o fim da União Soviética e o sonho de um socialismo liberal. Por causa das lutas políticas, ele estava sempre fora de casa, inúmeras vezes preso. Foi uma grande figura, um patriota. O filho dele se ressentia da falta do pai e muito brigava com ele nos naturais impasses da juventude diante da maneira dos mais velhos verem o mundo. Não o compreendia e manifestava isto com franqueza.
Um dia, comovido e com os olhos úmidos, Roberto Morena, já na casa dos sessenta e poucos anos, conta-me a relação difícil com o filho por causa de sua atividade política e, por isso, faz questão de mostrar, todo orgulhoso, uma carta dele, da qual destacava um trecho realmente comovente: "Brigamos muito e por vezes eu não o entendia. Hoje, tenho saudade até do barulho de sua chave, altas horas da noite, na fechadura da porta lá de casa".
O barulho da chave na fechadura, funcionando como elemento de recordação filial, só revela o quanto aquela alma, então adolescente, se pacificava com a chegada do pai. Sempre que um pai volta para casa, algo se pacifica no coração do filho. Aí está o segredo do amor entre pai e filho, mesmo quando se desentendem: a certeza de que ele traz a segurança e a base necessária à estabilidade emocional. É essa base a que se rompe quando um pai parte, sem voltar...
O pai é sempre aquele no qual o filho precisa colocar o que de ruim e de bom vai descobrindo no ser humano. A grandeza de um pai se mede pela capacidade de suportar todas essas fases pelas quais o filho passa na busca de modelos. Tanto a fase na qual o considera o maior do mundo, como naquela em que o tem como falho, errado, símbolo de tudo aquilo o que imagina não ser ou querer. Por isso a morte dele, sobretudo se repentina, priva o filho da continuação dessa intensa pesquisa preliminar de viver. Com a morte, a visão que tem do pai torna-se madura e acabada em questão de segundos. A morte, paradoxalmente às suas perdas, tem o condão de instantaneamente transformar a figura do pai na imagem que só o tempo se encarregaria de compor.
No exílio, em 1964, tornei-me íntimo amigo de um líder comunista bem mais velho que eu, Roberto Morena. Ele foi uma pessoa importante na minha vida e formação, mesmo não sendo eu comunista. Chegou a morar em minha casa no Chile. Inteligentíssimo, operoso, tinha lutado como voluntário na Guerra Civil Espanhola e, já naquele tempo, defendia idéias que, anos depois, Gorbatchev tornaria atos concretos com o fim da União Soviética e o sonho de um socialismo liberal. Por causa das lutas políticas, ele estava sempre fora de casa, inúmeras vezes preso. Foi uma grande figura, um patriota. O filho dele se ressentia da falta do pai e muito brigava com ele nos naturais impasses da juventude diante da maneira dos mais velhos verem o mundo. Não o compreendia e manifestava isto com franqueza.
Um dia, comovido e com os olhos úmidos, Roberto Morena, já na casa dos sessenta e poucos anos, conta-me a relação difícil com o filho por causa de sua atividade política e, por isso, faz questão de mostrar, todo orgulhoso, uma carta dele, da qual destacava um trecho realmente comovente: "Brigamos muito e por vezes eu não o entendia. Hoje, tenho saudade até do barulho de sua chave, altas horas da noite, na fechadura da porta lá de casa".
O barulho da chave na fechadura, funcionando como elemento de recordação filial, só revela o quanto aquela alma, então adolescente, se pacificava com a chegada do pai. Sempre que um pai volta para casa, algo se pacifica no coração do filho. Aí está o segredo do amor entre pai e filho, mesmo quando se desentendem: a certeza de que ele traz a segurança e a base necessária à estabilidade emocional. É essa base a que se rompe quando um pai parte, sem voltar...
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A obra imortal de Paulo Alberto Artur da Távola M. Monteiro de Barros segue preservada também no endereço eletrônico http://www.arturdatavola.com/
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Fonte:
Colaboração da Equipe "Artur da Távola", por e-mail.
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