segunda-feira, 26 de maio de 2008

Daniela Jacinto (Maratona Literária em Sorocaba)

Projeto encabeçado por escritores do Sorocult visita instituições que atendem crianças com o objetivo de incentivar a leitura e discutir questões sobre o meio ambiente

Pode ser que a condição financeira de uma família não permita que o orçamento se estenda à compra de livros, já que outros aspectos, como a alimentação, estariam em primeiro lugar. Nesse caso, o livro seria supérfluo. É por isso que surpreende encontrar crianças e adolescentes, filhos e filhas de catadores de materiais recicláveis, que possuem coleção de livros em casa, que apreciam a leitura, e inclusive sonham em ser escritores. A maior alegria dessa turma, assistida pelo Centro de Orientação e Educação Social (Coeso) da Vila Angélica, foi ter conhecido pessoalmente escritores da cidade - deu até mesmo para pedir autógrafo. A iniciativa ocorreu no início do mês, dentro da Maratona Literária Infantil Sorocult, encabeçada pelos autores da 1ª Coletânea do Sorocultinho, livro dirigido ao público infantil que visa estimular a prática da leitura e também o cuidado com o meio ambiente.

E é com esse objetivo que os escritores sorocabanos têm percorrido diversas instituições de ensino e também entidades que cuidam dos menores. Nesses locais, os autores falam de literatura e da natureza através de palestras, levam mudas de árvores para serem plantadas pelas crianças, e ainda distribuem gratuitamente a coletânea.

A Maratona Literária teve início no dia 18 de abril e já percorreu mais de 25 instituições. Ao todo, são 500 livros para doação. No encontro com as crianças do Coeso, os autores se surpreenderam com o nível de interesse daquele pessoal pela leitura, já que, durante outras visitas, encontraram crianças que nunca tinham visto um livro. Na avaliação de Neusa Padovani Martins, coordenadora do Projeto Sorocult, as visitas também acabam por estimular a escrita. Eles perceberam que também podem, afirma. Para ela, é um erro dizer que o brasileiro não gosta de ler. O brasileiro só não lê porque não tem acesso a livros, muito embora tenha escolas do Estado jogando livros fora, denuncia.

Incentivo também à escrita

Entre as histórias contadas pelos autores, o depoimento da jovem escritora Ana Paula de Cássia, de 16 anos, chamou a atenção da criançada. Com seu jeito tímido e delicado, Ana Paula contou como publicou seu primeiro livro: Quando era pequena, minha mãe me contava muitas histórias e eu gostava tanto que passei a inventar várias delas. A partir da segunda série, com 8 anos, eu comecei a passar tudo para o papel, explicou, sob olhares atentos e curiosos. Mas foi quando viu em uma revista que uma menina da mesma idade que ela conseguiu publicar um livro, que Ana Paula se entusiasmou. Hoje, ela tem dois livros publicados, participa de coletâneas e ainda tem seus textos no site Sorocult (http://www.sorocult.com/).

Durante a palestra, Neusa aproveitou para falar que o site está aberto a crianças que estiverem produzindo textos e também alertou sobre a possibilidade da publicação dos trabalhos em um próximo livro do grupo.

Questionadas sobre quem ali já tinha inventado alguma história, a maioria das crianças levantou as mãos. Também a maioria disse gostar de ler e ter vontade de se tornar escritor.

Luiz Henrique Marques, de 14 anos, afirmou que tinha um texto que inclusive ia participar de concurso. Josué Amós, de 8 anos, disse ter inventado a história do Ninja Barulhento. Já José Gabriel Rigui, também de 8 anos, inventou uma história chamada A Casa de Madeira. E assim muitos outros ergueram as mãos para falarem de suas criações. Os alunos também disseram gostar de ler gibis e livros infantis. Entre eles, Ketlin Daiana da Costa, de 13 anos, disse ter em sua casa uma coleção de livros de contos de fadas.

Sobre a questão do meio ambiente, todos disseram cuidar da natureza, plantando árvores e regando as plantas. Eu jogo o lixo no lixo, acrescentou Eduarda Ribeiro Camargo, de 7 anos.

Conforme Neusa, as visitas nas escolas e entidades acabaram por descobrir diversos talentos. Elas viram também que nós estamos aqui para ajudá-las. Tanto é que já ganhamos colunistas para o site e temos uma adolescente de 14 anos entrando para a nova coletânea, comemora. Neusa também anuncia a formação de um grupo de teatro infanto-juvenil, nascido desse projeto nas escolas.

Quinze escritores participam da coletânea

A 1ª Coletânea do Sorocultinho apresenta textos de 15 escritores, dos 8 aos 80 anos, em forma de fábulas, crônicas, poesias e trovas, que focam a questão do meio ambiente. Ilustrada para ser colorida pelos leitores, a obra traz ainda histórias traduzidas para o inglês, um capítulo com teoria literária e algumas atividades lúdicas educativas.

O livro foi patrocinado pelo marido de Neusa, Válter de Jesus Martins. Dessa vez não foi em sistema de cooperativa. Esse foi o meu presente de Natal, diz. Para ela, o projeto tem sua importância. É comum as pessoas doarem alimentos para as entidades, mas nós queríamos que as crianças sonhassem.

Já o Sorocult (http://www.sorocult.com/) é um site voltado ao incentivo e divulgação da literatura de Sorocaba e Região. No decorrer dos seus quase três anos de existência, já publicou duas coletâneas literárias feitas em sistema de cooperativa. Há quase um ano, fundou o Clic Art & Letras - Centro Literário Cultural de Sorocaba e Região para agregar e divulgar os escritores e as coletâneas. No decorrer deste tempo, várias crianças e jovens foram ingressando no site como colunistas, o que levou à criação de um espaço infantil dentro dele: o Sorocultinho.

Sobre o Coeso

O Coeso atende crianças e adolescentes de 7 a 14 anos que estejam devidamente matriculados em uma escola e freqüentem as aulas. Lá, os assistidos recebem aulas de reforço escolar, música, balé, tae kwon do, artes plásticas (através do Pintura Solidária), e ainda fazem roda de leitura. Eles também contam com acompanhamento psicológico e eu mesma faço questão de verificar as notas da escola e a freqüência de cada criança. Também faço uma análise de como ela estava quando entrou no Coeso e sua evolução, frisa a coordenadora do Coeso, Renata Silva Andrade.

Com capacidade para atender 25 crianças no período da manhã e outras 25 no período da tarde, provenientes dos bairros da Zona Norte (como Vila Angélica, Jardim Baronesa e Nova Sorocaba), a estrutura do Coeso não é suficiente para acolher a todos os interessados. De acordo com Renata, existe uma lista de espera imensa de crianças que desejam participar do projeto.

As crianças, em sua maioria, são membros de famílias desestruturadas, com pais que têm problemas com drogas e alcoolismo. Muitos deles estariam nas ruas catando papéis para ajudar a família, caso não estivessem aqui na entidade, acrescenta.

Fontes:
Notícia publicada na edição de 15/05/2008 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 1 do caderno D
http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=42&id=86850
http://www.sorocult.com

Foto: Érick Pinheiro

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