Moreira Campos (José Maria), nascido em Senador Pompeu (6 de janeiro de 1914), é filho do português Francisco Gonçalves Campos e Adélia Moreira Campos. Ingressou na Faculdade de Direito do Ceará, bacharelando-se em 1946. Licenciou-se em Letras Neolatinas em 1967, na antiga Faculdade Católica de Filosofia do Ceará. Na área do magistério iniciou-se como professor de Português, Literatura e Geografia em colégios. Exerceu o magistério na Universidade Federal do Ceará, Curso de Letras, como titular de Literatura Portuguesa. Integrante do Grupo Clã. Pertenceu à Academia Cearense de Letras. Faleceu em Fortaleza, no dia 7 de maio de 1994. Deixou as seguintes coleções: Vidas Marginais (1949), Portas Fechadas (1957), distinguido com o Prêmio Artur de Azevedo, do Instituto Nacional do Livro, As Vozes do Morto (1963), O Puxador de Terço (1969), Os Doze Parafusos (1978), A Grande Mosca no Copo de Leite (1985) e Dizem que os Cães Vêem Coisas (1987). Seus Contos Escolhidos tiveram três edições, Contos foram editados em 1978 e Contos – Obra Completa se publicaram, em dois volumes, em 1996, pela Editora Maltese, São Paulo, com organização de Natércia Campos. Tem também um livro de poemas, Momentos (1976). Participou de diversas antologias nacionais. Algumas de suas peças ficcionais foram traduzidas para o inglês, o francês, o italiano, o espanhol, o alemão.
Sua obra está estudada em importantes livros, como o de José Lemos Monteiro, intitulado O Discurso Literário de Moreira Campos, o de Batista de Lima, Moreira Campos: A Escritura da Ordem e da Desordem, e outros mais abrangentes, como Situações da Ficção Brasileira, de Fausto Cunha; 22 Diálogos Sobre o Conto Brasileiro Atual, de Temístocles Linhares; e A Força da Ficção, de Hélio Pólvora. Em jornais e revistas se estamparam quase uma centena de artigos e ensaios sobre os seus livros.
Temístocles Linhares classifica o contista de Portas Fechadas de “um de nossos maiores contistas atuais”. E comenta: “Lê-lo, para mim, é reviver, em certos aspectos, transpostos para o ambiente de seu Ceará, os velhos mestres do naturalismo. Como eles, o autor também desconfia das grandes palavras e dos grandes gestos, preferindo tentar substituir os julgamentos de valor pelos julgamentos de existência”.
Assis Brasil escreveu: “Moreira Campos faz, no Ceará, a ligação entre o conto de história, ainda vigente nos primeiros anos do Modernismo, e o conto de flagrante, sugestivo, que as novas gerações, a partir de 1956, desenvolveriam em muitos aspectos criativos”.
Hélio Pólvora opina: Moreira Campos, “embora não sendo um tchekhoviano perfeito, dele (Tchekhov) se aproxima quando livra o conto de uma sobrecarga excessiva e procura atingir logo o alvo, localizar logo o nervo exposto”. E acrescenta: “Moreira Campos seleciona e filtra fatos que às vezes se resumem a instantes, e nesse processo informa ou sugere o conflito vivido pela personagem, mostrando, afinal, o que ela faz para resolver o conflito ou sucumbir”.
Segundo Herman Lima, no ensaio citado na primeira parte, Moreira Campos: (...) “é um mestre do conto moderno, desde o aparecimento do seu primeiro livro, Vidas Marginais (1949), no qual há pelo menos uma obra-prima do conto universal desta hora, “Lama e Folhas”. Diz mais: “As pequenas ou grandes tragédias, as comédias ocultas do cotidiano burguês, fixadas por ele, ganham, em sua mão experiente, uma especificidade que o aproxima dos maiores nomes do conto psicológico de todos os tempos, de Machado de Assis para cá, inclusive e principalmente Tchecov, de sua íntima e fiel convivência, ou, mais perto de nós, de um Joyce dos Dubliners ou um Sherwood Anderson, de Winesburg Ohio”.
Montenegro argumenta: “Moreira Campos será talvez não apenas o contista de maior projeção nas letras cearenses contemporâneas, porém, ainda, juntamente com Osman Lins, Dalton Trevisan e poucos outros, terá ele realizado o que de mais significativo existe no conto moderno brasileiro”.
Sânzio de Azevedo, principalmente no ensaio “Moreira Campos e a Arte do Conto” (Novos Ensaios de Literatura Cearense) faz algumas observações: “Na linhagem de Machado de Assis e, por conseguinte, na de Tchecov é que se entronca a obra ficcional de Moreira Campos” (...). Segunda: “apesar de haver optado pela narrativa sintética, extremamente despojada, com que tem enriquecido a nossa literatura através de não poucas obras-primas, não renegou os longos contos de seu primeiro livro” (...). Terceira observação: “Em Moreira Campos o que mais importa são os dramas da alma humana, e não a presença da terra, ostensivamente retratada nas páginas de Afonso Arinos e Gustavo Barroso”.
Batista de Lima, no ensaio mencionado linhas atrás, fala da corrosão física dos personagens, dos agentes dessa corrosão, dos defeitos congênitos, da decrepitude, da doença e da morte. A seguir analisa o oposto disso, ou seja, a ordem: “A nova ordem começa a ser instaurada no momento em que o narrador doma a morte, colocando-a no convívio familiar dos personagens.” E, passando da ordem narrada para a ordem vocabular, constata a constante evolução da arte do contista.
Em “As Características da Escritura de Moreira Campos” (O Fio e a Meada: Ensaios de Literatura Cearense, págs. 155/158), Batista é de opinião que o contista “transita com mestria entre momentos impressionistas, neo-realistas e neonaturalistas, sempre conservando uma estrutura linear para suas narrativas, com princípio, meio e fim bem delineados.” Especifica: “As principais características da narrativa de Moreira Campos são: uma tendência para o uso de elementos descritivos em paralelo aos narrativos; os vazios deixados para serem preenchidos pelo leitor; a eliminação de comentários e interpretações paralelas; a quase ausência de diálogos; a atuação do tempo como elemento corrosivo sobre os personagens; o uso das repetições como forma de superação das dificuldades de relacionamento entre as diferentes classes de pessoas; a ironia; a luta pela concisão”.
José Alcides Pinto, em “Um Mundo de Coisas Miúdas” (Política da Arte–II, págs. 51/52), observa: “Moreira Campos, obstinado em sua procura do novo, do mundo brilhante das coisas obscuras, melhor direi de “vidas marginais”, reapanha, com O Puxador de Terço, o início de sua carreira literária, que ele torna cíclica num processo, quase mágico de depuração estilística”. Em “Moreira Campos e a Nova Ficção Brasileira” (PA-I), ao comentar Os Doze Parafusos, afirma: (...) “abrem um novo caminho na ficção de Moreira Campos, já esboçada sob o ponto de vista erótico em outras obras, mas sem a liberdade de como os assuntos são agora tratados, vistos de frente, com um realismo mágico e epidérmico, que se inscreve, com muita propriedade, no fescenino, num clima de autonomia individual e sem o prejuízo de uma linguagem estética – função inequívoca a toda obra de arte”.
Francisco Carvalho, em “A Transparência Formal na Ficção de Moreira Campos” (EL, págs. 124/127), vê nas peças ficcionais de A Grande Mosca no Copo de Leite que “em todas elas a excelência do artesanato literário destaca-se por uma rigorosa economia de palavras e por uma extraordinária transparência formal”. E mais adiante: “A prosa enxuta, a frase carregada de sentido, a noção de ritmo e de musicalidade, o poder de síntese, o rigor no emprego da palavra, a densidade psicológica e a expressividade – são esses alguns dos aspectos que se articulam no contexto ficcional do novo livro de Moreira Campos”. Em “Contos Escolhidos” (Textos e Contextos), analisa a evolução do contista: “Os contos da primeira fase, elaborados sem qualquer preocupação de fidelidade aos paradigmas da chamada “história curta”, já se apresentam numa evidente perspectiva de modernidade”. E mais adiante: “Já nos contos da segunda fase, Moreira Campos persegue obstinadamente os horizontes da síntese, da pura essencialidade”.
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Além dos quatro grandes nomes do conto cearense surgidos com o Grupo Clã, outros escritores se destacaram no cultivo da narrativa curta após 1960. Os mais importantes são Caio Porfírio Carneiro, talvez o escritor mais vocacionado para a composição ficcional curta no Ceará, depois de Moreira Campos; José Alcides Pinto, embora mais dedicado ao romance e ao poema; e Juarez Barroso, falecido muito cedo, mas que deixou dois volumes de contos e um romance.
Caio Porfírio (de Castro) Carneiro é natural de Fortaleza (1º de julho de 1928), tendo se radicado em São Paulo em 1955. Tem cultivado a prosa de ficção curta com regularidade. Sua estréia no gênero se deu em 1961, com o elogiadíssimo Trapiá. Seguiram-se Os Meninos e o Agreste (1969), O Casarão (1975), Chuva – Os Dez Cavaleiros (1977), O Contra-Espelho (1981), Viagem sem Volta (1985), Os Dedos e os Dados (1989), A Partida e a Chegada (1995) e Maiores e Menores (2003). Seus romances são O Sal da Terra (1965) e Uma Luz no Sertão (1973). Publicou as novelas Bala de Rifle (1965), Três Caminhos, Dias sem Sol e A Oportunidade, estas em 1988. É autor também de ensaios, como Do Cantochão à Bossa Nova (ensaio sobre música popular brasileira), literatura juvenil (Profissão: esperança, Quando o Sertão Virou Mar..., Da Terra Para o Mar, do Mar Para a Terra, Cajueiro Sem Sombra), poesia (Rastro Impreciso), reminiscências (Primeira Peregrinação, Mesa de Bar, Perfis de Memoráveis). Tem recebido diversos prêmios, como o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1975.
Chuva (Os Dez Cavaleiros) é quase um romance, se é possível isto. A chave para esta observação se encontra na última narrativa, quando o décimo cavaleiro, dirigindo-se ao seu interlocutor, fala: “Olhe aqui, homem: de toda a multidão que conheci, correndo a planície, a serra do Catolé e todos os lugares que cercam a Lagoa Grande, nove ficaram na minha cabeça. Nove. Todos cavaleiros como eu”. Como se dissesse ter conhecido as outras nove histórias do livro. Nas dez peças há sempre um cavaleiro vestido de capote e coberto de chapéu, e outra personagem, ambos sem nome. A paisagem é composta de chuva, um ambiente de campo, com um casebre ou choupana, com chão de barro batido, às vezes uma vila, com uma pracinha, uma igreja abandonada e gente desvalida, sofrida, com medo. De comum também o espaço apenas referido da serra do Catolé e da Lagoa Grande, sempre muito distantes. Quase uma miragem. Para completar a narrativa, um drama e um desenlace enigmático, de parábola. Os desfechos muitas vezes estão nos títulos das histórias. O fantástico se desenha em quase todas as obras, quer no desenrolar da trama, quer no epílogo. Seria, porém, um fantástico mais próximo da parábola, do simbólico, do enigmático. Outras vezes é apenas uma sugestão. Em todos os contos a narração se dá na terceira pessoa, mais para observador do que para narrador onisciente. Talvez apenas em um trecho de uma das histórias o narrador se faz onisciente. A narração é quebrada, aqui e ali, por breves e ásperos diálogos, em linguagem culta ou literária. Caio manipula a linguagem com sabedoria, valendo-se de muita imaginação e do conhecimento das melhores ferramentas da arte de narrar.
No comentário ao mesmo livro, o escritor Marcos Rey assim se expressou: “Com os mesmos instrumentos de trabalho, a simplicidade aludida, o trato quase bíblico dos personagens, ação e diálogos, a natureza como presença obrigatória, Caio Porfírio Carneiro excede à realidade cotidiana, realizando uma obra de síntese literária envolta em poesia, sobriedade e enigmas”.
Em Os Dedos e os Dados, o contista parte por caminhos menos espinhosos, lamacentos, embora retrate também graves conflitos humanos. E se serve de formas variadas para compor as histórias. “A Promessa” é quase todo um só diálogo, de frases curtas. “A Confissão”, como o título sugere, é um diálogo. Em “A Missão” não ocorre uma só fala e a narração é composta de um longo parágrafo e uma frase curta: “A outro qualquer caberia terminar a tarefa”. É a busca da crucificação, novo Cristo sem algozes. Alguns contos tratam do relacionamento amoroso e podem ser tidos como eróticos.
Caio é um especialista da história curta, breve. No entanto, é capaz de se alongar, como em “Um Segundo”. E aí mora o mistério. Em um segundo ele consegue ser mais expansivo do que em histórias que duram horas.
F. S. Nascimento inicia assim o ensaio “Caio Porfírio Carneiro: O Novo Degrau da Ficção” (AAA, págs. 187/189): “Ao firmar posição entre os melhores contistas brasileiros deste último mear de século, Caio Porfírio Carneiro não se rendeu ao empolgamento dessa conquista, intensificando as suas experiências formais e sutilizando os processos de reconstituição de momentos culminantes ou memoráveis da existência. Essa fase de metafiguração laboratorial se inaugurava com o lançamento de O Casarão (1975), estendendo-se ascencionalmente a Os Dedos e os Dados (SP, Pontes Editores, 1989)”. Em outro parágrafo, o crítico esclarece esse argumento: “O jogo sutil dos enunciados implícitos, que Braga Montenegro admitia como refinamento do estilo na prosa de ficção, é o recurso de que mais se utiliza Caio Porfírio Carneiro para gerar o imponderável em cada fração de vida flagrada pela sua ultra-sensível máquina processadora de imagens e emoções”. Ao se voltar para o modo como o contista apresenta os diálogos, o crítico assinala: “Sucintíssimo no diálogo ou na exteriorização solitária, num ou noutro caso as unidades de sentido assim construídas se reduzem a fragmentos de mínima duração acústica, tornando mais prolongado o silêncio das personagens enquadradas pela objetiva do narrador”.
A Partida e a Chegada é outro livro de construção inusitada, a lembrar uma casa composta de fachada rococó, paredes barrocas, colunatas romanas. Como Chuva, deve ser lido como um todo, conto a conto. Leiam-se os diálogos de abertura do volume, como se fosse um prólogo ou, em termos de arquitetura, o átrio de uma casa romana ou o alpendre de antigas casas sertanejas. Duas personagens, sem nome, conversam, como se resumissem os contos que virão a seguir. A descrição do ambiente é mínima: a lua, as nuvens, as estrelas, o céu. São como cenário singelo de um palco pequeno, onde dois personagens encenassem cinco brevíssimas peças. Tudo muito contido.
Ao contrário de Chuva, todo ambientado no campo, as narrativas deste são, na maioria, de inspiração urbana. No primeiro, “A Carícia”, é narrado assalto a um banco. O contista utiliza alguns procedimentos formais mais ousados, embora não mais de vanguarda (hoje), como o cruzamento de narrações na terceira e na primeira pessoa, além do diálogo indireto e da linguagem oral. “Saparanga” e “Zecapinto” ocorrem num lapso de tempo bem mais longo do que na maioria das histórias de Caio. A contrastar com a tensão da primeira, nestas perpassa um humor circense. Os protagonistas são um tanto picarescos. Há, no entanto, uma variedade de enfoques no livro. Assim, “O Crime” é quase a reconstituição de um fato histórico, em Caucaia, Ceará.
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José Alcides Pinto, nascido em São Francisco do Estreito, distrito de Santana do Acaraú (1923), tem sido muito mais poeta e romancista do que contista. Apesar disso, é também nome fundamental do conto cearense. Seu primeiro livro no gênero é de 1965, Editor de Insônia, seguido de Reflexões. Terror. Sobrenatural. Outras estórias, de 1984. Em 1997 ambos foram reeditados, sob o título Editor de Insônia e outros contos, e, como informa Pedro Salgueiro, organizador da reedição, “muitos outros contos foram resgatados do ineditismo na presente edição”. Seus poemas estão nos livros Noções de poesia & arte (1952), Pequeno caderno de palavras (1953), Cantos de Lúcifer (1954), As pontes (1955), Concreto: estrutura-visual-gráfica (1956), Ilha dos patrupachas (1960), Ciclo único (1964), Os catadores de siri (1966), As águas novas (1975), Os amantes (1979), O Acaraú – biografia do rio (1979), Ordem e desordem (1982), 20 sonetos do amor romântico e outros poemas (1982), Relicário pornô (1982), Guerreiros da fome (1984), Fúria (1986), Águas premonitórias (1986), Nascimento de Brasília – a saga do planalto (1987), O sol nasce no Acre (Chico Mendes) (1992), Poeta fui (Ora direis) (1993), Os cantos tristes da morte (1994), Silêncio branco (1998) e As tágides (2001). Tem dez romances, uma novela, uma peça teatral e três livros de artigos e ensaios.
A obra literária de Alcides Pinto está estudada em dois importantes livros: O Universo Mí(s)tico de José Alcides Pinto, de José Lemos Monteiro, e O Espaço Alucinante de José Alcides Pinto, de Paulo de Tarso (Pardal).
Editor de Insônia é dividido em “livro primeiro” e “livro segundo”. A presença de Edgar Allan Poe é visível em alguns contos: a maldade, a obsessão pelo mau, a impiedade de algumas personagens. E também o mistério, o terror. O “livro segundo” é constituído de contos e peças literárias de gêneros variados ou indefinidos. Daí a impropriedade do título geral do livro, assim como do próprio “livro segundo”.
No geral, as histórias curtas de José Alcides Pinto se afastam das principais características do conto tradicional ou clássico. Assim, ao lado de peças sem nenhum diálogo, apresenta até dois contos em forma de teatro – “Caducos” e “Granjeiros”. Em “Domingão” há apenas dois diálogos. Porém não se libertou das formas tradicionais nos diálogos: “disse”, “exclamou”, “comentou”, “gritou” etc.
José Alcides Pinto é um escritor singular na Literatura Brasileira. Não pode ser visto como um adepto do realismo fantástico ou posto ao lado de contistas como Murilo Rubião e José J. Veiga. Seus contos também não são regionalistas, assim como não o são os de Moreira Campos. Há mistérios nos contos de ambos, embora entre eles não se possa vislumbrar nenhuma semelhança. Mesmo quando os conflitos são do tipo policial, como em “O Fogo das Paixões”, não se trata de conto policial ou realista, como os de Rubem Fonseca.
Como escreveu Francisco Carvalho, na ficção de José Alcides Pinto “não há lugar para os devaneios da retórica nem para as quimeras do lirismo cordial.”
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Juarez (Távora) Barroso (de Albuquerque Ferreira) nasceu em Pernambuquinho, Serra de Baturité, no dia 19 de outubro de 1934. Filho de José Carlos Ferreira e Clélia Albuquerque Ferreira. Apesar de se ter formado em Ciências Jurídicas e Sociais, cedo ingressou no radialismo. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou jornalismo e publicidade. Por diversas vezes voltou a residir em Fortaleza, porém em 1966 se radicou na velha capital da República, onde faleceu em agosto de 1976. Premiado num concurso permanente do antigo Boletim Bibliográfico Brasileiro, em 1958, foi incluído no Panorama do Novo Conto Brasileiro (Editora Júpiter, 1964), organizado por Esdras do Nascimento, e em Uma Antologia do Conto Cearense (Imprensa Universitária do Ceará, 1965). Anunciou um estudo intitulado Estácio – Os Professores do Samba, “pretensiosa pesquisa músico-sociológica sobre o samba nos anos de 20”, segundo o próprio Juarez.
Deixou as narrativas de Mundinha Panchico e o Resto do Pessoal (1969), ganhador do Prêmio José Lins do Rêgo, do ano anterior, e Joaquinho Gato (1976). Tem também um romance, Doutora Isa (Editora Civilização Brasileira, 1978), publicação póstuma. Na “Nota Prévia” do livro, Mario Pontes esclareceu: “Na véspera de viajar, em minha companhia, à capital paulista para lá autografar seu livro (Joaquinho Gato), Juarez adoeceu e foi hospitalizado. Uma semana depois estava morto. Recebi, então, das pessoas mais íntimas do escritor, a incumbência de pôr em ordem os seus papéis. Com algumas interrupções, ocupei-me deles de setembro de 1976 até agora. A história de Margô, felizmente, pôde ser reconstituída”. A Nota é de 5 de fevereiro de 1977.
Uma das primeiras críticas à ainda principiante obra de Juarez é de Braga Montenegro, no estudo diversas vezes aqui mencionado. Comparando-o a José Maia, escreveu o crítico: “é mais espontâneo, telúrico, dono de um estilo original, mas nem sempre correto de forma. Suas estórias, engendradas à maneira tradicional de narração, expressam, entretanto, uma dimensão nova, que as isenta à contingência da realidade elementar e as transfigura em arte. É ele, antes de tudo, um impressionista poderoso, mas com um jeito todo próprio de comunicar suas impressões. Ou, antes: seu impressionismo, por assim dizer, nada tem de visual, e se define em motivos quando não imaginados pelo menos recolhidos de uma realidade subjacente que sugere símbolo”.
Com Mundinha Panchico e o Resto do Pessoal, Juarez Barroso ganhou o Prêmio José Lins do Rego, em 1968. A primeira edição deste livro traz nas dobras da capa um texto de avaliação, sem assinatura. Na primeira parte, intitulada “Sagrada Família”, os contos são ambientados na Serra de Baturité e estão voltados para o “erotismo patriarcal”, “o orgulho idem” e “o culto à macheza”. Na segunda, intitulada “Os Hereges”, os personagens são os descendentes dos primeiros e o ambiente é Fortaleza.
João Antônio, em “A Geografia do Homem”, estampado nas dobras do segundo livro, faz o seguinte comentário: “Joaquinho Gato, cujos contos situam-se geograficamente numa área específica do Ceará, sem o clima trágico do Sul do Estado, é um livro marcado pela violência, reflete um estado de humor pesado, carregado de tensões, vida, angústia de um povo vivendo entre a repressão, a rudeza e as necessidades primárias”. Acrescenta: “Dificilmente se poderá destacar, neste seu novo livro, um conto como ponto mais alto. Todos os trabalhos têm força e garra dignos de representar o flagrante de um momento de previsões negras dentro de nossas realidades. Cururu, para dar um exemplo, é página inesquecível, de fôlego e pulso, só encontrável na grande literatura de Graciliano Ramos”.
continua...
Fonte:
http://www.cronopios.com.br/
Sua obra está estudada em importantes livros, como o de José Lemos Monteiro, intitulado O Discurso Literário de Moreira Campos, o de Batista de Lima, Moreira Campos: A Escritura da Ordem e da Desordem, e outros mais abrangentes, como Situações da Ficção Brasileira, de Fausto Cunha; 22 Diálogos Sobre o Conto Brasileiro Atual, de Temístocles Linhares; e A Força da Ficção, de Hélio Pólvora. Em jornais e revistas se estamparam quase uma centena de artigos e ensaios sobre os seus livros.
Temístocles Linhares classifica o contista de Portas Fechadas de “um de nossos maiores contistas atuais”. E comenta: “Lê-lo, para mim, é reviver, em certos aspectos, transpostos para o ambiente de seu Ceará, os velhos mestres do naturalismo. Como eles, o autor também desconfia das grandes palavras e dos grandes gestos, preferindo tentar substituir os julgamentos de valor pelos julgamentos de existência”.
Assis Brasil escreveu: “Moreira Campos faz, no Ceará, a ligação entre o conto de história, ainda vigente nos primeiros anos do Modernismo, e o conto de flagrante, sugestivo, que as novas gerações, a partir de 1956, desenvolveriam em muitos aspectos criativos”.
Hélio Pólvora opina: Moreira Campos, “embora não sendo um tchekhoviano perfeito, dele (Tchekhov) se aproxima quando livra o conto de uma sobrecarga excessiva e procura atingir logo o alvo, localizar logo o nervo exposto”. E acrescenta: “Moreira Campos seleciona e filtra fatos que às vezes se resumem a instantes, e nesse processo informa ou sugere o conflito vivido pela personagem, mostrando, afinal, o que ela faz para resolver o conflito ou sucumbir”.
Segundo Herman Lima, no ensaio citado na primeira parte, Moreira Campos: (...) “é um mestre do conto moderno, desde o aparecimento do seu primeiro livro, Vidas Marginais (1949), no qual há pelo menos uma obra-prima do conto universal desta hora, “Lama e Folhas”. Diz mais: “As pequenas ou grandes tragédias, as comédias ocultas do cotidiano burguês, fixadas por ele, ganham, em sua mão experiente, uma especificidade que o aproxima dos maiores nomes do conto psicológico de todos os tempos, de Machado de Assis para cá, inclusive e principalmente Tchecov, de sua íntima e fiel convivência, ou, mais perto de nós, de um Joyce dos Dubliners ou um Sherwood Anderson, de Winesburg Ohio”.
Montenegro argumenta: “Moreira Campos será talvez não apenas o contista de maior projeção nas letras cearenses contemporâneas, porém, ainda, juntamente com Osman Lins, Dalton Trevisan e poucos outros, terá ele realizado o que de mais significativo existe no conto moderno brasileiro”.
Sânzio de Azevedo, principalmente no ensaio “Moreira Campos e a Arte do Conto” (Novos Ensaios de Literatura Cearense) faz algumas observações: “Na linhagem de Machado de Assis e, por conseguinte, na de Tchecov é que se entronca a obra ficcional de Moreira Campos” (...). Segunda: “apesar de haver optado pela narrativa sintética, extremamente despojada, com que tem enriquecido a nossa literatura através de não poucas obras-primas, não renegou os longos contos de seu primeiro livro” (...). Terceira observação: “Em Moreira Campos o que mais importa são os dramas da alma humana, e não a presença da terra, ostensivamente retratada nas páginas de Afonso Arinos e Gustavo Barroso”.
Batista de Lima, no ensaio mencionado linhas atrás, fala da corrosão física dos personagens, dos agentes dessa corrosão, dos defeitos congênitos, da decrepitude, da doença e da morte. A seguir analisa o oposto disso, ou seja, a ordem: “A nova ordem começa a ser instaurada no momento em que o narrador doma a morte, colocando-a no convívio familiar dos personagens.” E, passando da ordem narrada para a ordem vocabular, constata a constante evolução da arte do contista.
Em “As Características da Escritura de Moreira Campos” (O Fio e a Meada: Ensaios de Literatura Cearense, págs. 155/158), Batista é de opinião que o contista “transita com mestria entre momentos impressionistas, neo-realistas e neonaturalistas, sempre conservando uma estrutura linear para suas narrativas, com princípio, meio e fim bem delineados.” Especifica: “As principais características da narrativa de Moreira Campos são: uma tendência para o uso de elementos descritivos em paralelo aos narrativos; os vazios deixados para serem preenchidos pelo leitor; a eliminação de comentários e interpretações paralelas; a quase ausência de diálogos; a atuação do tempo como elemento corrosivo sobre os personagens; o uso das repetições como forma de superação das dificuldades de relacionamento entre as diferentes classes de pessoas; a ironia; a luta pela concisão”.
José Alcides Pinto, em “Um Mundo de Coisas Miúdas” (Política da Arte–II, págs. 51/52), observa: “Moreira Campos, obstinado em sua procura do novo, do mundo brilhante das coisas obscuras, melhor direi de “vidas marginais”, reapanha, com O Puxador de Terço, o início de sua carreira literária, que ele torna cíclica num processo, quase mágico de depuração estilística”. Em “Moreira Campos e a Nova Ficção Brasileira” (PA-I), ao comentar Os Doze Parafusos, afirma: (...) “abrem um novo caminho na ficção de Moreira Campos, já esboçada sob o ponto de vista erótico em outras obras, mas sem a liberdade de como os assuntos são agora tratados, vistos de frente, com um realismo mágico e epidérmico, que se inscreve, com muita propriedade, no fescenino, num clima de autonomia individual e sem o prejuízo de uma linguagem estética – função inequívoca a toda obra de arte”.
Francisco Carvalho, em “A Transparência Formal na Ficção de Moreira Campos” (EL, págs. 124/127), vê nas peças ficcionais de A Grande Mosca no Copo de Leite que “em todas elas a excelência do artesanato literário destaca-se por uma rigorosa economia de palavras e por uma extraordinária transparência formal”. E mais adiante: “A prosa enxuta, a frase carregada de sentido, a noção de ritmo e de musicalidade, o poder de síntese, o rigor no emprego da palavra, a densidade psicológica e a expressividade – são esses alguns dos aspectos que se articulam no contexto ficcional do novo livro de Moreira Campos”. Em “Contos Escolhidos” (Textos e Contextos), analisa a evolução do contista: “Os contos da primeira fase, elaborados sem qualquer preocupação de fidelidade aos paradigmas da chamada “história curta”, já se apresentam numa evidente perspectiva de modernidade”. E mais adiante: “Já nos contos da segunda fase, Moreira Campos persegue obstinadamente os horizontes da síntese, da pura essencialidade”.
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Além dos quatro grandes nomes do conto cearense surgidos com o Grupo Clã, outros escritores se destacaram no cultivo da narrativa curta após 1960. Os mais importantes são Caio Porfírio Carneiro, talvez o escritor mais vocacionado para a composição ficcional curta no Ceará, depois de Moreira Campos; José Alcides Pinto, embora mais dedicado ao romance e ao poema; e Juarez Barroso, falecido muito cedo, mas que deixou dois volumes de contos e um romance.
Caio Porfírio (de Castro) Carneiro é natural de Fortaleza (1º de julho de 1928), tendo se radicado em São Paulo em 1955. Tem cultivado a prosa de ficção curta com regularidade. Sua estréia no gênero se deu em 1961, com o elogiadíssimo Trapiá. Seguiram-se Os Meninos e o Agreste (1969), O Casarão (1975), Chuva – Os Dez Cavaleiros (1977), O Contra-Espelho (1981), Viagem sem Volta (1985), Os Dedos e os Dados (1989), A Partida e a Chegada (1995) e Maiores e Menores (2003). Seus romances são O Sal da Terra (1965) e Uma Luz no Sertão (1973). Publicou as novelas Bala de Rifle (1965), Três Caminhos, Dias sem Sol e A Oportunidade, estas em 1988. É autor também de ensaios, como Do Cantochão à Bossa Nova (ensaio sobre música popular brasileira), literatura juvenil (Profissão: esperança, Quando o Sertão Virou Mar..., Da Terra Para o Mar, do Mar Para a Terra, Cajueiro Sem Sombra), poesia (Rastro Impreciso), reminiscências (Primeira Peregrinação, Mesa de Bar, Perfis de Memoráveis). Tem recebido diversos prêmios, como o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1975.
Chuva (Os Dez Cavaleiros) é quase um romance, se é possível isto. A chave para esta observação se encontra na última narrativa, quando o décimo cavaleiro, dirigindo-se ao seu interlocutor, fala: “Olhe aqui, homem: de toda a multidão que conheci, correndo a planície, a serra do Catolé e todos os lugares que cercam a Lagoa Grande, nove ficaram na minha cabeça. Nove. Todos cavaleiros como eu”. Como se dissesse ter conhecido as outras nove histórias do livro. Nas dez peças há sempre um cavaleiro vestido de capote e coberto de chapéu, e outra personagem, ambos sem nome. A paisagem é composta de chuva, um ambiente de campo, com um casebre ou choupana, com chão de barro batido, às vezes uma vila, com uma pracinha, uma igreja abandonada e gente desvalida, sofrida, com medo. De comum também o espaço apenas referido da serra do Catolé e da Lagoa Grande, sempre muito distantes. Quase uma miragem. Para completar a narrativa, um drama e um desenlace enigmático, de parábola. Os desfechos muitas vezes estão nos títulos das histórias. O fantástico se desenha em quase todas as obras, quer no desenrolar da trama, quer no epílogo. Seria, porém, um fantástico mais próximo da parábola, do simbólico, do enigmático. Outras vezes é apenas uma sugestão. Em todos os contos a narração se dá na terceira pessoa, mais para observador do que para narrador onisciente. Talvez apenas em um trecho de uma das histórias o narrador se faz onisciente. A narração é quebrada, aqui e ali, por breves e ásperos diálogos, em linguagem culta ou literária. Caio manipula a linguagem com sabedoria, valendo-se de muita imaginação e do conhecimento das melhores ferramentas da arte de narrar.
No comentário ao mesmo livro, o escritor Marcos Rey assim se expressou: “Com os mesmos instrumentos de trabalho, a simplicidade aludida, o trato quase bíblico dos personagens, ação e diálogos, a natureza como presença obrigatória, Caio Porfírio Carneiro excede à realidade cotidiana, realizando uma obra de síntese literária envolta em poesia, sobriedade e enigmas”.
Em Os Dedos e os Dados, o contista parte por caminhos menos espinhosos, lamacentos, embora retrate também graves conflitos humanos. E se serve de formas variadas para compor as histórias. “A Promessa” é quase todo um só diálogo, de frases curtas. “A Confissão”, como o título sugere, é um diálogo. Em “A Missão” não ocorre uma só fala e a narração é composta de um longo parágrafo e uma frase curta: “A outro qualquer caberia terminar a tarefa”. É a busca da crucificação, novo Cristo sem algozes. Alguns contos tratam do relacionamento amoroso e podem ser tidos como eróticos.
Caio é um especialista da história curta, breve. No entanto, é capaz de se alongar, como em “Um Segundo”. E aí mora o mistério. Em um segundo ele consegue ser mais expansivo do que em histórias que duram horas.
F. S. Nascimento inicia assim o ensaio “Caio Porfírio Carneiro: O Novo Degrau da Ficção” (AAA, págs. 187/189): “Ao firmar posição entre os melhores contistas brasileiros deste último mear de século, Caio Porfírio Carneiro não se rendeu ao empolgamento dessa conquista, intensificando as suas experiências formais e sutilizando os processos de reconstituição de momentos culminantes ou memoráveis da existência. Essa fase de metafiguração laboratorial se inaugurava com o lançamento de O Casarão (1975), estendendo-se ascencionalmente a Os Dedos e os Dados (SP, Pontes Editores, 1989)”. Em outro parágrafo, o crítico esclarece esse argumento: “O jogo sutil dos enunciados implícitos, que Braga Montenegro admitia como refinamento do estilo na prosa de ficção, é o recurso de que mais se utiliza Caio Porfírio Carneiro para gerar o imponderável em cada fração de vida flagrada pela sua ultra-sensível máquina processadora de imagens e emoções”. Ao se voltar para o modo como o contista apresenta os diálogos, o crítico assinala: “Sucintíssimo no diálogo ou na exteriorização solitária, num ou noutro caso as unidades de sentido assim construídas se reduzem a fragmentos de mínima duração acústica, tornando mais prolongado o silêncio das personagens enquadradas pela objetiva do narrador”.
A Partida e a Chegada é outro livro de construção inusitada, a lembrar uma casa composta de fachada rococó, paredes barrocas, colunatas romanas. Como Chuva, deve ser lido como um todo, conto a conto. Leiam-se os diálogos de abertura do volume, como se fosse um prólogo ou, em termos de arquitetura, o átrio de uma casa romana ou o alpendre de antigas casas sertanejas. Duas personagens, sem nome, conversam, como se resumissem os contos que virão a seguir. A descrição do ambiente é mínima: a lua, as nuvens, as estrelas, o céu. São como cenário singelo de um palco pequeno, onde dois personagens encenassem cinco brevíssimas peças. Tudo muito contido.
Ao contrário de Chuva, todo ambientado no campo, as narrativas deste são, na maioria, de inspiração urbana. No primeiro, “A Carícia”, é narrado assalto a um banco. O contista utiliza alguns procedimentos formais mais ousados, embora não mais de vanguarda (hoje), como o cruzamento de narrações na terceira e na primeira pessoa, além do diálogo indireto e da linguagem oral. “Saparanga” e “Zecapinto” ocorrem num lapso de tempo bem mais longo do que na maioria das histórias de Caio. A contrastar com a tensão da primeira, nestas perpassa um humor circense. Os protagonistas são um tanto picarescos. Há, no entanto, uma variedade de enfoques no livro. Assim, “O Crime” é quase a reconstituição de um fato histórico, em Caucaia, Ceará.
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José Alcides Pinto, nascido em São Francisco do Estreito, distrito de Santana do Acaraú (1923), tem sido muito mais poeta e romancista do que contista. Apesar disso, é também nome fundamental do conto cearense. Seu primeiro livro no gênero é de 1965, Editor de Insônia, seguido de Reflexões. Terror. Sobrenatural. Outras estórias, de 1984. Em 1997 ambos foram reeditados, sob o título Editor de Insônia e outros contos, e, como informa Pedro Salgueiro, organizador da reedição, “muitos outros contos foram resgatados do ineditismo na presente edição”. Seus poemas estão nos livros Noções de poesia & arte (1952), Pequeno caderno de palavras (1953), Cantos de Lúcifer (1954), As pontes (1955), Concreto: estrutura-visual-gráfica (1956), Ilha dos patrupachas (1960), Ciclo único (1964), Os catadores de siri (1966), As águas novas (1975), Os amantes (1979), O Acaraú – biografia do rio (1979), Ordem e desordem (1982), 20 sonetos do amor romântico e outros poemas (1982), Relicário pornô (1982), Guerreiros da fome (1984), Fúria (1986), Águas premonitórias (1986), Nascimento de Brasília – a saga do planalto (1987), O sol nasce no Acre (Chico Mendes) (1992), Poeta fui (Ora direis) (1993), Os cantos tristes da morte (1994), Silêncio branco (1998) e As tágides (2001). Tem dez romances, uma novela, uma peça teatral e três livros de artigos e ensaios.
A obra literária de Alcides Pinto está estudada em dois importantes livros: O Universo Mí(s)tico de José Alcides Pinto, de José Lemos Monteiro, e O Espaço Alucinante de José Alcides Pinto, de Paulo de Tarso (Pardal).
Editor de Insônia é dividido em “livro primeiro” e “livro segundo”. A presença de Edgar Allan Poe é visível em alguns contos: a maldade, a obsessão pelo mau, a impiedade de algumas personagens. E também o mistério, o terror. O “livro segundo” é constituído de contos e peças literárias de gêneros variados ou indefinidos. Daí a impropriedade do título geral do livro, assim como do próprio “livro segundo”.
No geral, as histórias curtas de José Alcides Pinto se afastam das principais características do conto tradicional ou clássico. Assim, ao lado de peças sem nenhum diálogo, apresenta até dois contos em forma de teatro – “Caducos” e “Granjeiros”. Em “Domingão” há apenas dois diálogos. Porém não se libertou das formas tradicionais nos diálogos: “disse”, “exclamou”, “comentou”, “gritou” etc.
José Alcides Pinto é um escritor singular na Literatura Brasileira. Não pode ser visto como um adepto do realismo fantástico ou posto ao lado de contistas como Murilo Rubião e José J. Veiga. Seus contos também não são regionalistas, assim como não o são os de Moreira Campos. Há mistérios nos contos de ambos, embora entre eles não se possa vislumbrar nenhuma semelhança. Mesmo quando os conflitos são do tipo policial, como em “O Fogo das Paixões”, não se trata de conto policial ou realista, como os de Rubem Fonseca.
Como escreveu Francisco Carvalho, na ficção de José Alcides Pinto “não há lugar para os devaneios da retórica nem para as quimeras do lirismo cordial.”
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Juarez (Távora) Barroso (de Albuquerque Ferreira) nasceu em Pernambuquinho, Serra de Baturité, no dia 19 de outubro de 1934. Filho de José Carlos Ferreira e Clélia Albuquerque Ferreira. Apesar de se ter formado em Ciências Jurídicas e Sociais, cedo ingressou no radialismo. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou jornalismo e publicidade. Por diversas vezes voltou a residir em Fortaleza, porém em 1966 se radicou na velha capital da República, onde faleceu em agosto de 1976. Premiado num concurso permanente do antigo Boletim Bibliográfico Brasileiro, em 1958, foi incluído no Panorama do Novo Conto Brasileiro (Editora Júpiter, 1964), organizado por Esdras do Nascimento, e em Uma Antologia do Conto Cearense (Imprensa Universitária do Ceará, 1965). Anunciou um estudo intitulado Estácio – Os Professores do Samba, “pretensiosa pesquisa músico-sociológica sobre o samba nos anos de 20”, segundo o próprio Juarez.
Deixou as narrativas de Mundinha Panchico e o Resto do Pessoal (1969), ganhador do Prêmio José Lins do Rêgo, do ano anterior, e Joaquinho Gato (1976). Tem também um romance, Doutora Isa (Editora Civilização Brasileira, 1978), publicação póstuma. Na “Nota Prévia” do livro, Mario Pontes esclareceu: “Na véspera de viajar, em minha companhia, à capital paulista para lá autografar seu livro (Joaquinho Gato), Juarez adoeceu e foi hospitalizado. Uma semana depois estava morto. Recebi, então, das pessoas mais íntimas do escritor, a incumbência de pôr em ordem os seus papéis. Com algumas interrupções, ocupei-me deles de setembro de 1976 até agora. A história de Margô, felizmente, pôde ser reconstituída”. A Nota é de 5 de fevereiro de 1977.
Uma das primeiras críticas à ainda principiante obra de Juarez é de Braga Montenegro, no estudo diversas vezes aqui mencionado. Comparando-o a José Maia, escreveu o crítico: “é mais espontâneo, telúrico, dono de um estilo original, mas nem sempre correto de forma. Suas estórias, engendradas à maneira tradicional de narração, expressam, entretanto, uma dimensão nova, que as isenta à contingência da realidade elementar e as transfigura em arte. É ele, antes de tudo, um impressionista poderoso, mas com um jeito todo próprio de comunicar suas impressões. Ou, antes: seu impressionismo, por assim dizer, nada tem de visual, e se define em motivos quando não imaginados pelo menos recolhidos de uma realidade subjacente que sugere símbolo”.
Com Mundinha Panchico e o Resto do Pessoal, Juarez Barroso ganhou o Prêmio José Lins do Rego, em 1968. A primeira edição deste livro traz nas dobras da capa um texto de avaliação, sem assinatura. Na primeira parte, intitulada “Sagrada Família”, os contos são ambientados na Serra de Baturité e estão voltados para o “erotismo patriarcal”, “o orgulho idem” e “o culto à macheza”. Na segunda, intitulada “Os Hereges”, os personagens são os descendentes dos primeiros e o ambiente é Fortaleza.
João Antônio, em “A Geografia do Homem”, estampado nas dobras do segundo livro, faz o seguinte comentário: “Joaquinho Gato, cujos contos situam-se geograficamente numa área específica do Ceará, sem o clima trágico do Sul do Estado, é um livro marcado pela violência, reflete um estado de humor pesado, carregado de tensões, vida, angústia de um povo vivendo entre a repressão, a rudeza e as necessidades primárias”. Acrescenta: “Dificilmente se poderá destacar, neste seu novo livro, um conto como ponto mais alto. Todos os trabalhos têm força e garra dignos de representar o flagrante de um momento de previsões negras dentro de nossas realidades. Cururu, para dar um exemplo, é página inesquecível, de fôlego e pulso, só encontrável na grande literatura de Graciliano Ramos”.
continua...
Fonte:
http://www.cronopios.com.br/
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