quarta-feira, 25 de março de 2009

Dicionário de Folclore (Letra G)



GAGAU. Nome dado a um antigo jogo de dados no qual o dois e o ás eram os pontos maiores. Tomar gagau era como se dizia quando um rapaz ou uma moça estavam perdidamente apaixonados. Gagau também é o mingau das crianças.
GAGUEIRA. É a maneira sincopada de falar, própria de pessoas que têm essa deficiência, isto é, que são gagas. Para a pessoa ficar curada da gagueira, nada como se bater três vezes, na cabeça do gago, com uma colher de pau.
GAITA. 1. Sanfona, gaita-de-fole, realejo, fole, acordeon; 2. Gaita também é dinheiro, porque quem tem dinheiro anda sempre alegre, bem humorado, como quem toca gaita.
GALINHA. 1. É a fêmea do galo; 2. Mulher muito volúvel que se entrega aos homens com facilidade; 3. Pessoa covarde, medrosa; 4. Na linguagem popular a galinha também se faz presente: 1. Dormir-com-as-galinhas é dormir cedo, como as galinhas; 2. Quando-as-galinhas-criarem-dentes, nunca, jamais, porque as galinhas nunca criarão dentes; 3. Galinha-choca é a pessoa irrequieta, que não pára um instante; 4. Galinha-d'água é o descendente de holandês com brasileiro, aloirado, de olhos azuis.
GALINHA-GORDA. É uma brincadeira de meninos durante o banho de mar, de açude, de rio. Um dos meninos pega uma pedra, diz: "Galinha gorda! Gorda é ela! Vamos comê-la? Vamos a ela!" Em seguida atira a pedra dentro d'água e todos vão procurá-la.
GALINHA-MORTA. 1. Diz-se quando uma mercadoria é barata, é uma pechincha; 2. Coisa fácil de aprender, de ser feita; 3. Certa cantiga executada à viola ou ao violão (RS), e a dança que acompanha essa cantiga.
GALINHEIRO. 1. É o lugar onde dormem as galinhas; 2. É também, nos teatros, o poleiro, as torrinhas, onde a pessoa paga ingresso mais barato.
GALO-DA-MADRUGADA. O bloco carnavalesco Galo-da-Madrugada foi fundado por foliões residentes no bairro de São José, da cidade do Recife, em 1978. Todos os anos, acompanhado por uma multidão de milhares de pessoas, o bloco desfila no centro da cidade pela manhã do Sábado Gordo. Este bloco entrou para o livro dos recordes mundiais.
GANZÁ. O ganzá, ou canzá, caracaxá, é um cilindro feito de flandres, fechado, com um cabo. No seu interior são colocados grãos ou pequenos seixos que soam quando o ganzá é agitado, sacudido, movimentado.
GARAPA. 1. É o nome que se dá às diversas bebidas servidas geladas, feitas com água, açúcar e o suco de frutas geralmente como o tamarindo, o limão (limonada), o caju (cajuada); 2. No Sertão, garapa é o caldo de cana tirado das moendas; 3. Garapa é tudo que é fácil de ser adquirido, coisa de pouca importância. Também é uma coisa boa, supimpa; 4. É, também, água misturada com açúcar, que se dá para beber quando uma pessoa está nervosa ou quando leva um susto.
GATO. O gato, o bichano, é o animal doméstico encontrado em quase todas as casas, usado para pegar ratos e baratas. Sobre o gato existem muitas crendices e curiosidades: 1. Gato-preto: para algumas pessoas o gato preto dá sorte e para outras traz infelicidade; 2. Quem pisa no rabo de um gato não casa no ano, só nos anos seguintes; 3. Dizem que o gato não gosta de seus donos e sim da casa onde ele vive. Assim, quando uma pessoa muda de residência, deve levar o gato dentro de um saco e passar azeite no focinho dele para que ele perca o faro e não volte à antiga casa; 4. O melhor couro para se fazer uma tamborim é o couro do gato, segundo os entendidos no assunto; 5. Dizem que o gato é o animal mais difícil de morrer, porque tem sete fôlegos; 6. Quem mata um gato tem sete anos de azar. Os gatos estão nas estórias de Trancoso, como no Gato de botas, e no desenho animado, como no Gato Félix. Os homens aprenderam com os gatos a fazer fossas, vendo-os cavar um pequeno buraco, para fazerem cocô e cobri-lo com terra.
GEMADA. A gemada é uma bebida feita com gema de ovo, açúcar e leite quente, tudo misturado e bem batido, muito boa como fortificante capaz de restaurar as forças perdidas. Algumas pessoas costumam substituir o leite por conhaque ou vinho do Porto.
GÊMEOS. Para que a mulher não tenha filho gêmeos deve evitar comer frutas gêmeas. As crianças gêmeas são dotadas de qualidades singulares e tudo o que fazem têm mais poder, mais valor, até mesmo quando rezam. No Brasil, o gêmeo que atirar farinha para o ar em dia de nevoeiro acabará com a neblina. Dizem que menino gêmeo nunca morre afogado, nem se perde nos caminhos desconhecidos. Na Igreja Católica vamos encontrar alguns santos gêmeos: São Cosme e Damião, São Crispim e São Crispiniano, São Gervásio e São Protásio. O povo diz que quando um dos gêmeos sente uma dor, o outro também sente; quando um adoece, o outro fica triste, quase doente. Os gêmeos são sempre muito unidos.
GILBERTO FREYRE nasceu no dia 15 de março de 1900, na cidade do Recife, PE. Seus estudos iniciais foram feitos com professores particulares, entre os quais o inglês Mr. William, a francesa Madame Meunier, seu próprio pai, que lhe ensinou latim e português, e Telles Júnior que foi seu professor de desenho. Fez o curso secundário no Colégio Americano Gilreath, do Recife, seguindo para os Estados Unidos, onde se bacharelou em Ciências Políticas e Sociais pela Universidade de Baylor, fazendo, em seguida, o mestrado e doutorado de Ciências Políticas, Jurídicas e Sociais na Universidade de Colúmbia onde teve como mestres o antropólogo Franz Boas, o sociólogo Giddings, o economista Selingman, o jurista John Bassett Moore e outros. Em sua tese universitária - Social life in Brasil in the middle of the nineteenth century – publicada em inglês, sustenta que a situação do escravo no Brasil patriarcal fora superior à do operário europeu no começo do século XIX. Teve os graus de Bacharel, Mestre, Doutor em Letras, Doutor e Professor. No governo de Estácio Coimbra, Gilberto Freyre foi Chefe de Gabinete, merecendo daquele Chefe de Estado, extraordinária confiança. Foi fundador da cadeira de Sociologia Educacional na antiga Escola Normal de Pernambuco, inaugurando, pioneiramente, com a colaboração de suas alunas, não só no Brasil como na América Latina, trabalhos de campo cujos resultados de sentido social foram aproveitados pelo então Prefeito do Recife, criando playgrounds com o propósito de afastar as crianças dos perigos da rua. Em 1933 publicou Casa-Grande & Senzala, obra básica da história social brasileira, para, em seguida, publicar Sobrados e Mucambos (1936), Nordeste (1937), Açúcar (1939), Aventura e Rotina (1953), Assombrações do Recife Velho (1955), Sociologia da Medicina (1967) e dezenas de outros trabalhos que honram a cultura brasileira. Preso, por seu profundo amor, ao Recife, daqui nunca se ausentou, a não ser temporariamente, a ponto de recusar ministérios, cátedras em Universidades brasileiras, americanas e européias. Foi uma lei de sua autoria, quando deputado federal – eleito pelos estudantes pernambucanos - que criou o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, hoje Fundação Joaquim Nabuco, nunca deixando de presidir seu Conselho Diretor. Gilberto Freyre colaborou em revistas especializadas em jornais nacionais e internacionais, participou, como membro efetivo, do Conselho Estadual e do Conselho Federal de Cultura. Faleceu, no dia 18 de julho de 1987, na cidade do Recife, PE.
GIRASSOL. O girassol é uma flor de bom tamanho, de cor amarela, que acompanha sempre a direção do sol, razão pela qual tem este nome. Serve para a alimentação dos pássaros e seu óleo está sendo usado na culinária brasileira.
GOGÓ-DE-SOLA. Trata-se de um pequeno animal que vive no Acre e que tem o pescoço da cor de ferrugem. Apesar de seu pequeno tamanho, é muito agressivo.
GONÇALVES FERNANDES nasceu em 1909,na cidade do Recife, PE. Diplomado em Medicina (1937) pela Universidade de Pernambuco, sempre foi conhecido como psiquiatra, antropólogo e folclorista especializado na faixa das superstições e da religiosidade popular. Foi professor da Faculdade de Ciências Médicas do Recife, da Faculdade de Direito do Recife e da Universidade do Brasil. Dedicado ao estudo e à pesquisa dos problemas humanos e sociais, encarados, de modo particular em seus aspectos religiosos e psiquiátricos sob critério e métodos da Antropologia e Folclore, fez vários cursos de especialização antropológica, neuropsiquiátrica e sociológica, estagiando, também, nos principais centros culturais da Bélgica, Holanda, Suíça, Itália, França, Portugal, Espanha e Argentina, especialmente convidado, pronunciando conferências sobre assuntos de interesse luso-brasileiro em diversos institutos científicos. Esteve no exercício de diversos cargos ligados à Medicina, de modo especial à Psiquiatria, à Psicanálise e à Antropologia Cultural. Assumiu, durante algum tempo, a direção do Departamento de Psicologia Social do então Instituto Joaquim Nabuco de Ciências Sociais, hoje Fundação Joaquim Nabuco, onde coordenou várias pesquisas. É autor de diversos livros na especialidade a que se dedicou, entre os quais Xangôs no Nordeste (1937), O folclore mágico do Nordeste (1938), As religiões no Brasil (1939), Seitas afro-brasileiras (1940) e O sincretismo religioso no Brasil (1941). Faleceu em 1986, na cidade do Recife, PE.
GONGUÊ. Também conhecido como chama, porque chama os dançarinos. O gonguê é um pequeno tambor usado no zambê, no bambelô. Seu som é surdo e seco (RN).
GOTEIRA. É o nome que os maçons dão aos que não são maçons. Na linguagem da cantoria, goteira é o cantador que não canta bem.
GRILO. Quando a pessoa está com o problema de retenção de urina, nada como tomar um chá de grilo, que é feito da seguinte maneira: pega-se um grilo e cozinha-se uma terça parte. É um remédio de efeito indiscutível. Pode-se, também, fazer o chá com 1/3 do grilo torrado na chapa do fogão.
GRITADOR. O gritador, também chamado de Zé-Capiongo, é da região do Vale do São Francisco. Tem este nome porque passa a noite gritando. Dizem que o gritador é alma de um vaqueiro que, desrespeitando a Sexta-Feira da Paixão, saiu para trabalhar e ninguém mais deu notícia dele. Ele grita tanto de noite como até mesmo durante o dia. Na Sexta-Feira da Paixão ouve-se até o barulho dos cascos de seu cavalo.
GRUDE. 1. É uma cola feita com goma e água; 2. É um bolo feito com goma ou massa de mandioca, embrulhado em folha de bananeira e, depois, assado, muito conhecido no Nordeste. Diz-se dos namorados que ficam agarrados o tempo todo, como um grude. Grude também é a sujeira dos que não tomam banho.
GUAIAMUM. É um caranguejo terrestre, de cor azulada, também conhecido por outros nomes: guaiamu, goiamum, fumbaba, gaiamum. O guaiamum vive em buracos nos mangues, e deixa sua casa no tempo de trovoada. Quando o povo quer pegar guaiamum fora do tempo de trovoada, aproxima uma lata qualquer da boca do buraco e bate nela com uma pedrinha. O guaiamum pensa que é trovoada e sai da sua toca. Na medicina popular, comer guaiamum é bom para quem tem coqueluche.
GUASCA ou GAÚCHO. Como é conhecida toda pessoa que nasce no Rio Grande do Sul. Gaúcho é a denominação mais conhecida.
GUDE. É um jogo infantil, com bolinhas de vidro, de massa ou com rolimãs de automóveis e que consiste em fazê-las entrar em três buracos, ganhando o jogador que acertar mais vezes. Há várias modalidades de se jogar o gude, entre as quais a barca.
GUERREIROS. Pertencendo ao ciclo do reisado, guerreiros é uma manifestação folclórica muito conhecida em Alagoas. Os guerreiros têm, como figurantes, o rei, a rainha dos guerreiros e rainha das moças, mestre e contramestre, primeiro e segundo embaixadores, o índio Peri, a lira, o general, a sereia, dois palhaços, dois Mateus, num total de 30 a 45 figurantes, incluindo as damas, os guerreiros, etc. Usando chapéus imitando catedrais, coroas, tiaras, mitras, espelhos, aljôfares, miçangas, fitas prateadas, os guerreiros têm uma coreografia (dança) pobre, animada apenas por sanfonas e pandeiros.
GURIATÃ. É uma ave da orla marítima e da zona da mata, de canto imitando outros pássaros. Também é conhecida como gurinhatã, guriatã-de-coqueiro.

Fontes:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
Imagem = http://www.terracapixaba.com.br/

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